"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



sábado, 12 de janeiro de 2013

O PORTO DESPREZADO DO RIO CUIABÁ


MOACYR FREITAS

Quanta saudade nos traz as partidas de lanchas de passageiros do nosso porto cuiabano.
Verdadeiras tardes festivas no bairro, para onde convergia muita gente para o bota-fora de seus familiares ou amigos.

As fotos desses vapores ainda são vistas por aí (clique aqui e veja), testemunhando esse tempo saudoso. Hoje, não temos mais a visão panorâmica do nosso rio Cuiabá. Somente das pontes sobre ele podemos apreciá-lo. É pena que haja tanto desprezo ao rio que dera o nome a nossa Capital.

Detritos de esgoto “in natura” são despejados nele sem a mínima consideração. Esquecem ou ignoram que tanta alegria esse rio nos dera no passado.

Como cuiabano nato, espero que nosso novo prefeito demonstre seu amor a nossa Cuiabá libertando nosso rio dessa incompreensiva ingratidão que vem sofrendo.

A falta de respeito ao rio, certamente, é daqueles que talvez nunca tenham lido a história da cidade, ou não tenham conhecimento do que vem ocorrendo com ele. Se tivessem conhecimento dos fatos históricos, acredito, não o desprezariam tanto.

Para os que ainda não sabem, o rio Cuiabá foi o caminho da histórica penetração na imensa e rica região de domínio espanhol pelos bravos brasileiros, ainda formados de mamelucos, índios e descendentes de portugueses.

Nesta ousada penetração pelo rio Cuiabá, certamente houve muitos desembarques em terra firme pelos mais variados motivos. Entretanto, neste lugar, muitos desembarcaram cheios de esperanças, porque buscavam o enriquecimento fácil, acima de tudo, o ouro cuiabano.

Em diferentes épocas da história, vários desembarques e embarques nesta margem esquerda de nosso rio Cuiabá registraram-se, fixando para a memória fatos históricos muito significativos para todos os cuiabanos e mato-grossenses que amam esta região.

Vamos lembrar, pela ordem de antiguidade:

- A chegada do Capitão General Rodrigo César de Menezes, em 15 de novembro de 1726. Ele elevou o Arraial de Cuiabá a Vila Real do Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Pertencíamos à Capitania de São Paulo;

- A chegada solene da imagem do Senhor Bom Jesus, em 1729;

- A chegada do primeiro vapor ”Corsa”, procedente do Rio de Janeiro, em 20 de fevereiro de 1857;

- A partida da tropa de Voluntários Cuiabanos para a retomada de Corumbá, no século XIX, sob o comando do Tenente Coronel Antônio Maria Coelho;

- A chegada da imagem de São Gonçalo, em 1781, trazida do Arraial de São Gonçalo Velho, foz do rio Coxipó. Chegou em solene procissão fluvial para sua nova capela próximo do porto;

- A chegada do primeiro automóvel FIAT, em 1919, e também, antes deste, em 1914, o primeiro caminhão ORION, registrado no Álbum Gráfico de Mato Grosso;

- A chegada de passageiros pelo hidroavião da Condor, o primeiro que amerrisava neste rio na década de trinta do século passado, inaugurando a linha aérea comercial para Cuiabá;

- A partida dos “Pracinhas” cuiabanos para compor a Força Expedicionária Brasileira, na 2ª Guerra Mundial, na década de quarenta do século passado;

- Vários outros embarques e desembarques de passageiros e também de cargas importantes aconteciam festivamente neste porto cuiabano. Muitos destes viajantes foram ilustres nomes da nossa história mato-grossense, que não cabe aqui enumerá-los, sem o risco de sermos traídos por nossa memória.

Assim, é tão importante este lugar, uma lembrança, como um marco histórico de nossa Capital.
Portanto, vamos aguardar com ansiedade a recuperação do nosso rio. Que venha logo essa possibilidade de podermos contemplar novamente as águas limpas do nosso querido rio Cuiabá.
 
Arquiteto Moacyr Freitas é membro do Instituto Histórico  e Geográfico de Mato Grosso.

(Publicado pelo ReporterMT em 11/01/2013  08h42)

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