"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



quinta-feira, 13 de junho de 2013

13 DE JUNHO, A COPA E A PAZ



José Antonio Lemos dos Santos

     Reescrevo este artigo na última tentativa antes da Copa de sensibilizar as autoridades para a importância do dia 13 de junho na história de Mato Grosso, não para celebrar a guerra, mas para reverenciar mártires, vítimas do absurdo que é a guerra, nem mocinhos, nem bandidos, nem vencedores ou perdedores. 13 de Junho lembra o maior dos sacrifícios impostos aos cuiabanos e paraguaios. Já foi matéria escolar, mas hoje poucos sabem que o maior conflito das Américas ocorreu aqui na América do Sul, e que Cuiabá pagou caríssimo por ele. A Guerra do Paraguai reuniu Brasil, Argentina, Uruguai e interesses ingleses contra o Paraguai, na época o país mais poderoso na América Latina. E Mato Grosso foi o principal palco dessa tragédia. 
     Na Guerra do Paraguai, um dos momentos épicos protagonizados pelos cuiabanos foi o da Retomada de Corumbá, a 13 de Junho de 1867, cidade então mato-grossense e que havia sido apoderada pelos paraguaios. Organizados pelo presidente do estado Couto Magalhães e comandados pelo então capitão Antônio Maria Coelho os cuiabanos foram lá, desafiaram o maior poder bélico do continente e retomaram para o Brasil a importante cidade, num “fato heroico exclusivamente cuiabano”, conforme nos ensina Pedro Rocha Jucá. Só com forças militares locais, acrescidas de voluntários, sem ajuda de fora. 
     Infelizmente a história não parou na Retomada. As tropas retornaram à Cuiabá contaminadas com varíola. A epidemia tomou conta de Cuiabá, matando mais da metade de sua população. Segundo Francisco Ferreira Mendes, em cada casa havia ao menos um doente, e “a cidade ficou juncada de corpos insepultos, atirados às ruas, cuja putrefação impestava mais a cidade com a exalação produzida pela decomposição. Determinou o governo a abertura de valas e a cremação de cadáveres no campo do Cae-Cae, medida que se tornou ineficaz. Não raro eram vistos cães famintos arrastando membros e vísceras humanas pelas ruas”. 
     13 de Junho deve lembrar sempre a epopeia de bravura e dor de um povo humilde, mas determinado. A história de gente de carne e osso, cujos descendentes andam aí pela cidade em seu dia-a-dia, sem nem lembrarem que nas veias levam o valoroso sangue de seus bisavós, o mesmo que vem bravamente construindo e defendendo Mato Grosso e o país por quase três séculos. Hoje, no Cae-Cae nenhuma homenagem. A cidade cresceu e abraçou o campo santo. Dizem que queimada pelas velas desapareceu a cruz que ainda existia anos atrás. Resta a igrejinha onde as missas dominicais são “pela intenção dos bexiguentos”, embora a maioria dos fiéis desconheça do que se trata.
     Com a Copa do Pantanal ano que vem Cuiabá e Mato Grosso mais uma vez serão palco de um megaevento internacional, agora de paz. A Avenida 8 de Abril é um dos principais acessos à nova Arena e sua interseção com a Ramiro de Noronha e Thogo Pereira é um ponto crítico a ser solucionado. Esse projeto urbanístico poderia abranger a contígua Praça do Cae-Cae, compondo uma nova capela em uma nova praça, e nesta um significativo monumento à paz - à paz platina e à paz mundial - homenageando os heróis e mártires de todas as guerras, de todos os lados, em nome de nossos irmãos e hermanos, da polca e do rasqueado, do guaraná e do tereré, vítimas de uma mesma tragédia que precisa ser lembrada para jamais ser repetida. O assunto já contou com simpatias na Agecopa, do deputado historiador João Malheiros, e da paróquia local. No dia do primeiro jogo da Copa do Pantanal, 13 de junho de 2014, em pleno coração sul-americano, cairia muito bem uma cerimônia internacional pela paz no mundo a ser repetida a cada ano em um belo monumento dedicado a harmonia entre todos os homens. 
(Publicado em 11/06/2013 pelo Diário de Cuiabá, Midianews ...)

2 comentários:

  1. Bom dia, José Antônio!
    Comecei bem o dia com seu emocionante artigo. Você além de ser um excelente profissional é também um escritor de mão cheia que consegue nos sensibilizar com palavras vivas e tocantes sobre um assunto que já faz parte de um passado distante. Um belo projeto, muito atual, é o que você nos oferece:"Esse projeto urbanístico poderia abranger a contígua Praça do Cae-Cae, compondo uma nova capela em uma nova praça, e nesta um significativo monumento à paz - à paz platina e à paz mundial - homenageando os heróis e mártires de todas as guerras, de todos os lados, em nome de nossos irmãos e hermanos, da polca e do rasqueado, do guaraná e do tereré, vítimas de uma mesma tragédia que precisa ser lembrada para jamais ser repetida". Tomara que sua proposta deste projeto seja aplaudida e apoiada por todos, principalmente pelas autoridades cuiabanas, para o bem e a glória do povo cuiabano.
    Abraços
    Maristella

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  2. Muito bem observado o 13 de junho da Rua com o da Fifa! Certamente quem nos escolheu esta data nem sabia que temos uma rua com este nome.

    Confesso ser novidade sobre o que se tratava o 13 de junho, assim como até ontem não saber sobre o 24 de outubro, e ainda hoje o 1º de maio, do Bosque da Saúde, ou 12 de outubro, o Coronel Escolástico, o Gal. Vale e outros tantos que ao ler sobre história regional, vemos tantas ruas bravias.

    Cuiabá já passou pelo período de realizar projetos para a copa, sabemos que o que está sendo executado foi projetado há algum tempo, e a fase é de eliminar alguns projetos básicos e executivos que seriam executados. Assim é para as ciclovias da Av. Pq. do Barbado, a duplicação da Dr. Meirelles e a ligação entre as avenidas Miguel Sutil e Beira Rio no bairro São Mateus.

    Entre os projetos previstos para o "Entorno da Arena Pantanal" (assim eles foram chamados), as interseções com a Av. Oito de Abril vão receber atenção, embora nada tenha sido planejado para a praça. Por essas razões, creio ser impossível que ainda seja planejado e executado um projeto urbanístico na praça do Cae-Cae a tempo para a copa. Este é o lado pessimista.

    Mas, à la Sêneca, quem disse que precisamos de copa para esperarmos por algo que seja de nosso valor? No passo em que estamos, um bonito monumento e um evento que mostre a nós mesmos e aos nossos turistas o que representou essa data no século XIX e no que representará quando o "I" pular para frente do "X" (e já pulou!) pode partir de nós mesmos: os que têm vontade!

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