"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



quarta-feira, 27 de abril de 2011

CIDADE, TÉCNICA E POLÍTICA

José Antonio Lemos dos Santos

     Normalmente pensamos que as cidades são fenômenos naturais como a chuva e os rios. Temos a falsa impressão de que quando o homem surgiu na face da Terra as cidades já existiam esquecendo que na verdade a cidade é uma invenção humana, fruto de seu desenvolvimento. Aliás, a maior e mais bem sucedida das invenções. Com ela surge a Civilização. Como invenção, a cidade é um objeto artificial, isto é, construído pelo homem, e como objetos construídos as cidades guardam uma dimensão técnica que lhes é inalienável, em especial depois do Renascimento e da Revolução Industrial. Hoje as cidades não podem prescindir da técnica, em especial da ciência do Urbanismo. Nela está a chave do desafio maior do século XXI que são as cidades. Sem ela, temos o caos urbano que desafia o mundo e ameaça a Civilização.
     Por outro lado, nas sociedades de fato civilizadas - as democráticas - a cidade é um objeto que não tem só um dono e nem é construída por uma só pessoa. A cidade tem milhares de donos e construtores, seus cidadãos, cada qual com direitos sobre ela, indivíduos que só têm sentido e expressão no exercício do seu coletivo, que é a cidadania. A compatibilização desses direitos ou a solução desse legítimo jogo (ou conflito) de interesses reforça o imperativo das técnicas do planejamento urbano e do urbanismo, mas também determina para as cidades sua segunda dimensão, do mesmo modo inalienável, que é a dimensão política.
     Para a cidade a técnica e a política são como duas pernas imprescindíveis ao seu correto e salutar desenvolvimento como equipamento a favor do bem estar e da evolução de seus cidadãos. Nem a técnica pode determinar sozinha, caso em que cairíamos na tecnocracia de triste lembrança, nem a política pode decidir sozinha, pois assim abrimos mão dos avanços técno-científicos imprescindíveis à construção da cidade, abrindo caminho aos caos. São objetos enormes, de grande complexidade, verdadeiros organismos vivos, extremamente sensíveis para o bem e para o mal, impossíveis de serem controlados empiricamente, pelo “achismo” ou pela força dos mais poderosos ou do berro ou do grito. E o desenvolvimento sem controle resulta no caos, reproduzindo no organismo urbano os processos cancerígenos que podem chegar à metástase, alastrando por todos os setores da cidade. É o que infelizmente assistimos nas cidades dos países atrasados, muito especialmente nas cidades brasileiras e na nossa Grande Cuiabá. As cidades retratam o nível de civilidade de um país. Não adianta fingir.
     As decisões sobre as cidades devem ser políticas, isto é, decididas pelos seus verdadeiros donos, os cidadãos, e para isso existe a democracia. Só que estas decisões devem se dar sobre alternativas técnicas produzidas por profissionais tecnicamente competentes e legalmente habilitados. A política e a técnica ainda serão parceiras na construção cotidiana das cidades, que exige controle técnico rigoroso e constante, com planejamento, gerenciamento e retro-alimentações, sob leis democraticamente estabelecidas. Qual o futuro de uma metrópole de 1 milhão de habitantes que não conta nem com 10 técnicos graduados em urbanismo nos quadros de servidores efetivos de suas prefeituras? Menos de 1 para 100 mil habitantes! A recente criação do Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU é um marco de esperança nesta situação. Em nível local, a audiência pública programada para hoje por iniciativa do CREA-MT também é um sinal da necessidade de mudanças urgentes. São chances históricas para a técnica deixar a atual posição marginal e subserviente, resgatando sua verdadeira importância como protagonista na construção das cidades.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

História da Indústria Automobilística Nacional

Veja na seção "Sites Interessantes" a História da Indústria Automobilística Nacional, com filmes de Jean Manzon que registram a própria história da nossa mobilidade, entre outras precisodidades. Veja na coluna à direita, rolando para baixo na décima seção. Comentários são bem-vindos.


Abs José Antonio

terça-feira, 19 de abril de 2011

CUIABÁ, ONDE A COPA AVANÇA

José Antonio Lemos dos Santos


     O artigo da semana passada acabou abatido pelo “fogo amigo” da Copa do Pantanal. A intenção era escrever sobre os benefícios que a Copa já está trazendo para Cuiabá e região, mas o fogo intenso da artilharia “amiga” na semana atingiu o texto e o artigo descambou para um nível que não estava à altura dos leitores. Resolvi poupá-los e tento refazê-lo agora de uma forma mais objetiva e civilizada.
     Sendo a menor das cidades dentre as sedes da Copa do Mundo de 2014, justamente por isso Cuiabá é uma das cidades que tende a ser mais beneficiada pelo extraordinário evento mundial. Qualquer investimento terá efeito significativo no perfil urbanístico e econômico da cidade. Uma cidade historicamente marginalizada por investimentos do governo federal, vê-se agora como um dos focos do mais importante compromisso internacional do país, cujo descumprimento trará enormes prejuízos à imagem que se quer mostrar ao mundo do Brasil como uma das potências planetárias emergentes. Aos olhos do mundo o Brasil tem que cumprir seus compromissos referentes à Copa.
     Além dos investimentos públicos, a Copa tem o poder de atrair grandes investimentos privados. Ao contrário do que vem acontecendo, ou melhor, do que não vem acontecendo com os compromissos dos poderes públicos federal, estadual e municipais (Cuiabá e Várzea Grande), o evento já vem carreando para Cuiabá empreendimentos privados importantes e é neste campo que a Copa avança. Como não registrar a implantação de duas fábricas de cimento no vale do Cuiabá, uma no próprio município de Cuiabá e outra em Rosário Oeste? Não tenho os números de cabeça, mas os dois empreendimentos juntos devem envolver em curto prazo cerca de R$ 800,0 milhões e mais de 2 mil empregos. É pouco? Pode não ser para São Paulo, Belo Horizonte e outras cidades maiores que a nossa, mas para Cuiabá e região certamente trata-se de benefícios consideráveis e não podem passar despercebidos.
     Como não comemorar a reativação das obras de ampliação do segundo maior shopping do estado, paralisadas há alguns anos e sem perspectivas de reativação? Não tem relação com a Copa? É claro que tem e o mesmo vale para a notícia da instalação de um novo e grande empreendimento do gênero, programado para a avenida Miguel Sutil. Devem ser destacados ainda os empreendimentos do setor hoteleiro. Fora os planejados, só na mesma avenida Miguel Sutil três novos empreendimentos hoteleiros, dois dos quais em fase de conclusão e outro já concluído. Na avenida do CPA, mais dois empreendimentos com obras em pleno andamento, sendo um deles um grandioso projeto que se encontrava paralisado há décadas. Cinco hotéis em uma cidade como São Paulo pode não significar nada, mas para Cuiabá representa muito.
     O grande problema está nos projetos a cargo dos governos, que não avançam, dando a impressão de que tudo está parado e em sério risco de contaminar todo o processo. Não sei se serve como consolo para nós cuiabanos, mas isso vale para o Brasil inteiro. Aliás, a Copa já deu para o Brasil um diagnóstico cruel, mas verdadeiro, mostrando que este país que queremos tão moderno e dinâmico está na verdade enredado em uma poderosa teia nada republicana, trançada com os fortes fios de uma burocracia cada vez mais barroca, corporativa e incompetente, reforçada por uma corrupção epidêmica e um sistema político marcado pela mais nefasta forma de politicagem que se tem notícia na história do país. Este é o verdadeiro quadro que a Copa está expondo ao mundo e a nós brasileiros. A realização da Copa implica em livrar o país desta poderosa teia. Se conseguir será seu maior legado. Se não, nem Copa, nem BRIC, nem nada. Só a conta e a vergonha, vexame globalizado.

domingo, 17 de abril de 2011

FÓRUM DE BRASÍLIA

Veja ao lado, na seção "Projetos de Referência", o Fórum do Meio Ambiente de Brasília, primeiro certificado LEED no Centro Oeste. Projeto de Zanettini Arquitetura e Sandra Henriques. Comentários são bem-vindos.

sábado, 9 de abril de 2011

SOBRE O CONSELHO DE ARQUITETURA E URBANISMO - CAU

COMUNICADO Nº 1  - ABEA - (Enviado em 08/04/2011)

Este documento da ABEA destina-se a informar aos cursos de Arquitetura e Urbanismo do Brasil o andamento das atividades que estão sendo desenvolvidas com a finalidade de implantar o CAU/BR

Antiga aspiração dos arquitetos e urbanistas brasileiros, a Lei Federal nº 12.378/2010, que cria o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil – CAU/BR e os Conselhos Estaduais, em regime federativo, foi sancionada pelo Presidente Lula no dia 30 de dezembro e publicada no Diário oficial da União no último dia do ano de 2010.

A lei definiu o período de um ano como transição para a implantação desta nova autarquia federal e as bases para a desvinculação dos arquitetos e urbanistas junto ao sistema Confea/Creas.

Dentro desta nova autarquia profissional, os artigos 56 e 57 da Lei estabelecem que a Coordenadoria das Câmaras de Arquitetura dos Creas, trabalhando em participação com as entidades nacionais dos arquitetos e urbanistas, deve organizar a primeira eleição para o CAU/BR e os CAUs Estaduais, fixando prazos para a eleição e fixando também que 90% dos valores arrecadados pelos Creas neste ano de 2011 dos profissionais arquitetos e urbanistas sejam depositados em conta especial para fazer frente às despesas com a eleição e com a transição.

Desde início do ano, nossas entidades, que haviam se organizado constituindo o Colégio Brasileiro de Arquitetos – CBA passaram a intensificar suas atividades. São cinco as entidades, por ordem alfabética de suas siglas: a ABAP - Associação Brasileira dos Arquitetos Paisagistas; a ABEA – Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo; a AsBEA – Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura; a Federação Nacional dos Arquitetos – FNA e o Instituto dos Arquitetos do Brasil – IAB.

Simultaneamente, no âmbito do Confea, os Conselhos Regionais elegeram os coordenadores das Câmaras de Arquitetura que, em reunião realizada em Brasília, elegeram seu Coordenador Nacional.Com este evento, ocorrido entre os dias 23 e 25 de fevereiro de 2011, iniciou-se formalmente o período de transição previsto na lei do CAU.

Para agilizar os trabalhos, a Coordenadoria Nacional das Câmaras Especializadas de Arquitetura, em reunião conjunta com o CBA, organizou cinco Grupos de Trabalho que, compostos pelos coordenadores das câmaras estaduais e por representantes das entidades nacionais. Os grupos, assim formados, são: GT1 –Regimento do Processo Eleitoral; GT2 – Recursos Financeiros; GT3 – Regulamentação, Normatização e estrutura administrativa; GT4 – Comunicação e GT5 – Tecnologia da Informação.

Nova reunião foi efetivada, em Brasília, nos dias 17 e 18 de março, quando efetivamente os GTs iniciaram seus trabalhos. A atividade dos GTs segue em andamento, e está convocada nova reunião geral, em Brasília, para a discussão e aprovação dos resultados, nos dias 14 e 15 de abril.

Paralelamente a estas atividades dos Grupos, reuniões tem sido efetuadas entre as entidades, com a Presidência do Confea, com a consultoria jurídica do CBA, visando sempre agilizar os trabalhos de modo a que o CAU/BR e os CAUs estaduais possam estar instalados e iniciar o atendimento aos profissionais no início do próximo ano.

Problemas diversos surgem, com a apresentação de questões de diferentes naturezas e, muito deles infelizmente, com visível propósito de atrasar ou até buscar inviabilizar o funcionamento de nosso conselho. Por esta razão, a ABEA decidiu enviar este comunicado ao conhecimento das escolas e cursos de arquitetura e urbanismo, para que possam acompanhar o esforço que vem sendo desenvolvido no sentido de cumprirmos com nossa missão.

A ABEA tem representantes nos cinco GTs e trabalha junto ao CBA, intensamente, para podermos, todos juntos, iniciar o ano de 2012 com os Conselhos de Arquitetura e Urbanismo funcionando.

Solicita, portanto aos dirigentes dos cursos que levem estas informações a seus professores e estudantes e recomenda que não se deixem influenciar por eventuais notícias ou informações que podem surgir, tumultuando o trabalho em andamento.

A ABEA compromete-se também a continuar informando aos colegas das instituições de ensino a evolução dos trabalhos, agendas e demais informações pertinentes ao CAU para que estejam bem informados e aptos, no devido momento, a participar do processo eleitoral e a se integrar em nosso novo Conselho.


Atenciosamente,

ABEA - Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo.

www.abea-arq.org.br

abea.arq.urb@gmail.com

terça-feira, 5 de abril de 2011

CUIABÁ 300-8

José Antonio Lemos dos Santos


     Comemorar os 292 anos de Cuiabá é festejar uma cidade que brotou entre as pepitas da beira de um corguinho que, de tanto ouro que tinha, era chamado pelos nativos bororos de Ikuiebo, o córrego das estrelas. E o córrego das estrelas desaguava em um belo rio, num lugar de grandes pedras onde se pescava com flecha-arpão, e que por isso se chamava Ikuiapá. E a cidade floresceu bonita e se chamou Cuiabá, transformando-se na célula-mater do oeste brasileiro, mãe original de tudo o que veio a suceder na região, mãe de cidades e de estados.
     No breve tempo que durou o ouro, levado quase todo para a Europa, Cuiabá chegou a ser a mais populosa cidade do Brasil. O ouro acabou rápido e seu destino seria o das cidades-fantasmas garimpeiras não fosse a localização mágica, centro do continente, em terras à época espanholas, cuja expectativa de riqueza interessava Portugal. Então o Papa decide que o limite entre as duas coroas não seria mais definido por Tordesilhas, mas pela posse das terras. E Cuiabá sobrevive ao fim do ouro como bastião português, apoio e defesa dos interesses lusos e dá seu primeiro salto de desenvolvimento, o da sobrevivência.
     Logo Portugal criou a Capitania de Mato Grosso com sua sede instalada em Cuiabá enquanto era construída a futura capital, Vila Bela. Por dois séculos sobreviveu à duras penas, quando voltou a ser capital, período heróico que forjou uma gente brava, sofrida mas alegre e hospitaleira, capaz de produzir um dos mais ricos patrimônios culturais do Brasil, com vultos e proezas que merecem ser melhor tratadas e destacadas na história oficial brasileira. Como um astronauta contemporâneo, vanguarda humana na imensidão do espaço, ligado à nave apenas por um cordão prateado, assim Cuiabá sobreviveu por séculos, solta na vastidão centro-continental, ligada à civilização apenas pelo cordão platino dos rios Cuiabá e Paraguai.
     Até que na década de 60 a cidade vibra novamente, transforma-se no “portal da Amazônia” e em pouco tempo sua população decuplica. Foi o salto da quantidade, a expansão necessária como base à ocupação da Amazônia meridional, a qual se deu sem a menor preparação e sem qualquer apoio da União, que lhe era devido pela importante função estratégica que desempenhava. Sozinha e sem recursos próprios, no centro de uma região que apoiava e promovia, mas que ainda não dispunha de recursos, Cuiabá explodiu em todos os sentidos, em dinamismo, em desenvolvimento, mas também no rompimento de sua estrutura urbana, despreparada para tão grande e súbita demanda.
     No alvorecer do novo milênio, Cuiabá está em seu terceiro salto de desenvolvimento, agora o salto da qualidade. Não é mais o centro de um vazio. Ao contrário, polariza uma das regiões mais dinâmicas do planeta, que ajudou a construir e que hoje não apenas lhe cobra o apoio, mas também a empurra para cima cobrando sempre mais, em um sadio e maduro processo de simbiose regional ascendente.
     A oito anos de sua data mais significativa, o tricentenário, Cuiabá vive o melhor momento de sua história, impulsionada pelo desenvolvimento regional e turbinada como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014. Nos seus 292 anos, mais do que reverenciar o passado e festejar o presente, é forçoso cuidar melhor do futuro. A Copa é um estratagema do Bom Jesus de Cuiabá para forçar nosso olhar para frente, para o positivo e o construtivo, um choque de adrenalina e capacitação, tentando nos colocar, cidadãos, políticos e dirigentes, à altura da cidade que temos. Só assim será possível prepará-la para a Copa e para a festa dos trezentos anos, que também já está bem aí. A cidade deu saltos de desenvolvimento, a cidadania ainda não.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 05/04/2011)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

NOVA SEÇÃO - "LIVROS ON-LINE"

Veja à direita, a nova seção "LIVROS ON-LINE" no link "O FUTURO DAS CIDADES, Júlio Moreno" uma visão sintética da história do urbanismo feita por um jornalista em um livrinho (em tamanho) de pouco mais de 50 páginas.  Eu achei muito legal. Se gostar, aproveite. Pode mandar um comentário.

sábado, 2 de abril de 2011

Viagens pelo mundo.

Veja à direita, na seção "Sites de inteesse" o link "Viagens e Imagens".  As principais cidades do mundo na ponta de seus dedos. Eu achei muito legal. Se gostar, aproveite. Pode mandar um comentário.


Abs José Antonio

sexta-feira, 1 de abril de 2011

MELHORES DA DÉCADA

A revista ARCOWEB  selecionou os melhores projetos da década. Veja na seção "Projetos de referência" (lado direito, rolando para baixo) o Forum de Cuiabá entre os melhores projetos da década. O que voce acha? E as demais escolhas? 

terça-feira, 29 de março de 2011

O NOVO PRESIDENTE DA INFRAERO

José Antonio Lemos dos Santos

     Desde a última quarta-feira (24/03) temos novo presidente na Infraero, Gustavo Matos do Vale, agora o definitivo, aquele que a presidenta Dilma sempre quis para o cargo. Pela convicção presidencial em seu nome, certamente trata-se de um executivo testado e aprovado em outras missões espinhosas, talhado para reconduzir a Infraero à sua antiga condição de respeito e admiração junto ao povo brasileiro. Mais do que uma simples mudança na condução da Infraero, há muito se espera, em especial em Cuiabá e Mato Grosso, uma nova forma de gestão dos aeroportos no Brasil. A mudança na direção da Infraero promete ser apenas a ponta de um iceberg de transformações, envolvendo inclusive a criação de uma Secretaria Nacional de Aviação Civil, com status de ministério e ligada diretamente ao gabinete da presidenta.
     Em seu discurso de posse o novo presidente diz que sabe “o quanto é grande a expectativa por uma Infraero melhor” e de quanto o Brasil “é dependente de um setor aéreo eficiente, competente, responsável.” Diz que aposta que a Infraero trabalhará “incansavelmente, para termos aeroportos melhores e deixá-los prontos para os grandes eventos que o Brasil sediará.” Afirma ainda que o objetivo da empresa “é ganhar ou ganhar” e que “não existe “plano B”. Mais adiante diz que “as ações são nossas, Infraero, e a responsabilidade é rigorosamente nossa.” Um discurso animador e compatível com aquele que o ex-presidente Lula fez em resposta à desconfiança da comunidade internacional quanto a capacidade do Brasil realizar uma Copa do Mundo, quando então disse que o Brasil trabalharia sábados e domingos e em turno dobrado se fosse necessário, mas que o brasileiro mostraria não ser idiota.
     Especialmente para Cuiabá e Várzea Grande é um discurso que reanima em relação à situação do Aeroporto Marechal Rondon, sobre o qual já paira um estado de descrença, principalmente pelo tratamento que vem recebendo da Infraero. O que esperar quando foi necessário quase 2 anos após a definição de Cuiabá como uma das sedes da Copa para a Infraero iniciar a elaboração dos projetos da nova estação de passageiros? E a Copa será em 2014, com a Copa das Confederações em 2013, sem choro nem velas! O que esperar quando depois de 8 meses de sua licitação até hoje não foi iniciada a implantação do MOP – o já simpático “puxadinho” - que seria uma obra emergencial para contornar uma situação caótica que ronda a ala de desembarque do Marechal Rondon? O de Brasília teve início mais ou menos na mesma época em que o nosso deveria ter sido iniciado, está pronto e foi onde se deu a posse do novo presidente. O pior é que não se dá nenhuma satisfação pública. O usuário que se lixe e que leve a pior impressão possível de Cuiabá e de Mato Grosso. A confiança que nos passa o discurso de Gustavo do Vale é que esta situação será mudada de imediato.
     Desejando boa sorte ao novo presidente, lembro que o nosso aeroporto é o menor e o de menor investimento programado entre aqueles que vão atender a Copa em 2014. Talvez por isso seja sempre esquecido nas avaliações gerais da mídia sobre o assunto e pode ser até que passe despercebido nos relatórios que lhe estão sendo apresentados, sem o devido destaque. Para nós é o aeroporto mais importante do mundo e a mais ameaçadora pedrinha na chuteira da Copa do Pantanal. Nesta altura do campeonato pode ser até estrategicamente mais importante priorizar os aeroportos menores, com menores obras, como o de Cuiabá, de conclusão mais rápida, dando tempo para a conclusão dos de maior porte, ajudando a reverter com maior rapidez a desabonadora impressão negativa que envolve o setor aeroportuário nacional.

segunda-feira, 28 de março de 2011

GENTIL MANIFESTO

Robert Venturi 
Abre o livro Complexity and Contradiction in Architecture, do autor, 1966.


"Gosto de complexidade e de contradição em arquitetura. Não gosto da incoerência ou arbritariedade de uma arquitetura incompetente, nem do preciosismo intrincado do pitoresco ou do expressionismo. Pelo contrá­rio, refiro‑me a uma arquitetura complexa e contraditória, baseada na riqueza e na ambigüidade da experiência moderna, inclusive na experiên­cia que é inerente à arte. Em toda parte, exceto em arquitetura, comple­xidade e contradição sempre foram reconhecidas: da comprovação da máxima inconsistência da Matemática, por Güdel, à análise de T. S. Eliot sobre a poesia 'difícil', até à definição de Joseph Albers sobre a qualidade paradoxal da pintura.”

“Mas a arquitetura é necessariamente complexa e contraditória, até no inclusivismo dos tradicionais elementos vitruvianos: comodidade, solidez e encanto. E hoje as necessidades de programa, estrutura, equipamentos mecânicos e expressão, mesmo de edifícios simples em simples contextos, são diversas e conflitantes de modo anteriormente inimaginável. Somam‑se às dificuldades a dimensão e a escala sempre crescentes da arquitetura no planejamento urbano e regional. Acolho os problemas e exploro as incertezas. Ao abraçar contradição e complexidade tenho como objetivos tanto a vitalidade como a validade.”

“Os arquitetos não podem mais aceitar a intimidação da linguagem puritanamente moral da arquitetura moderna ortodoxa. Gosto mais de elementos híbridos do que 'puros', de comprometidos mais do que 'limpos', dos distorcidos mais do que dos 'diretos', ambíguos mais do que 'arti­culados', dos perversos e impessoais, dos convencionais mais do que dos projetados', de acomodações em vez de 'exclusões', dos redundantes em vez dos 'simples', tanto conhecidos quanto inovadores, inconsistentes e equívocos em lugar de 'diretos e claros'. Sou pela vitalidade confusa, contra a 'unidade óbvia'. Incluo o non sequitur e proclamo a dualidade.”

“Prefiro a riqueza de significados à clareza do significado; a função implícita à função explícita. Prefiro 'ambos, um e outro' a 'ou um ou outro'; preto e branco, e às vezes cinza, a preto ou branco. Uma arquite­tura válida evoca muitos níveis de significado e combinações de focos: seu espaço e seus elementos tornam‑se legíveis e trabalháveis de diversas formas simultaneamente.”

“Mas uma arquitetura de complexidade e contradição tem uma obrigação especial para com o todo: sua verdade deve estar em sua totalidade ou em suas implicações de totalidade. Deve incorporar a difícil unidade da inclusão ao invés da fácil unidade da exclusão. More is not less".

(Extraído de ARQUITETURAS & TEORIAS, João Rodolfo Stroeter, Editora Nobel – 1986)

domingo, 27 de março de 2011

Comentários ao artigo "Eu sou BRT"

Artigo do jornalista Mário Marques de Almeida no Diário de Cuiabá e Página Única do dia 27/03/11.



São duas siglas, até então desconhecidas da maioria (e bota maioria nisso!) da população cuiabana e que nos últimos dias passaram a ser alvo de uma queda-de-braço entre pessoas e grupos pertencentes à classe política e dirigente de Mato Grosso. Cada qual com seus prós e contras, e no meio disso tudo, sem saber quem está certo ou errado nessa disputa, fica a sociedade. Como sempre, distante de entreveros, a exemplo deste, onde o interesse público e o econômico se cruzam e se confundem ensejando, no mínimo, dúvidas em torno de tanta querela.

Apenas, a população já está consciente de uma coisa: a contenda não é pelo domínio de siglas partidárias, como, geralmente, acontece em brigas envolvendo pessoas do poder político e estatal. No caso e no momento, é por algo bem mais atraente.

Porém, a mesma população – novamente, em sua esmagadora maioria e disto estou certo – desconhece o significado exato das siglas BRT e VLT (apenas tem alguma informação esparsa de que se trata de coisa relativa a transportes coletivos), o motivo que gerou a celeuma, colocando de um lado o deputado José Riva (e aliados) e do outro, os diretores da Agecopa.

Diante dessa disputa toda, por enquanto mais restrita aos acima citados, os que deveriam estar mais diretamente interessados no assunto, ou seja, os usuários e potenciais usuários desses meios de transportes, ficam perdidos e sem saber qual é o melhor para Cuiabá: BRT ou VLT?

Eu também me incluo entre esses que assistem a briga (não de camarote, mas “ralando” em busca do pão de cada dia), até porque, confesso, não sou expert no assunto, mas apenas, eventualmente, usuário de coletivos como meio de locomoção e como tal, resolvi escarafunchar na internet em busca de subsídios sobre o assunto. Eis o que descobri:

“A sigla BRT são as iniciais da nominação inglesa Bus Rapid Transit, que, literalmente, significa: ônibus que circula rapidamente. Numa tradução mais livre e oportuna, o BRT é um sistema urbano de ônibus espaçosos, bi ou triarticulados, que trafegam em corredores exclusivos e interligados. Trata-se, de fato, de uma moderna modalidade de transporte de massa, em operação em mais de 120 grandes cidades do planeta com resultados mais que satisfatórios e aprovação da população usuária. São veículos de grande capacidade, com 160 a 270 lugares, portas duplas e largas à esquerda e direita. O BRT circula em canaletas e faz paradas em estações com piso elevado, garantindo e facilitando o acesso a todos – inclusive cadeirantes, idosos e crianças.

É o sistema em operação na cidade de Curitiba, tida como uma das mais modernas e bem resolvidas do País. Já funciona em Londres, em oito grandes cidades da China e foi implantado mais recentemente na África do Sul, em função da Copa do Mundo de futebol”.

Por outro lado, e a bem da verdade, com relação ao VLT, defendido pelo deputado José Riva, há pouca referência mais consistente na rede. Apenas que é a sigla para Veículo Leve sobre Trilhos, um trem menor que os ferroviários comuns e, conforme o próprio nome diz, mais leve que os tradicionais das ferrovias, e que também utiliza vias exclusivas com trilhos.

Das duas, uma: ou o lobbie do VLT é apenas forte em Mato Grosso, por conta da própria força política de Riva, ou então seus fabricantes e revendedores não foram competentes o suficiente para subsidiar as milhares de páginas do Google de informações capazes de competir com as disseminadas pelo BRT.
Mas, antes que me deixar levar por quaisquer lobbies, inclusive os por ventura plantados na internet, prefiro acreditar no que disse sobre essa questão o arquiteto, urbanista e professor universitário José Antonio Lemos dos Santos, em artigo publicado neste mesmo espaço, na edição de sexta-feira do Diário de Cuiabá, e onde ele se posiciona a favor do BRT como sistema que considera o mais eficiente para o transporte coletivo da Capital mato-grossense. Cidade onde nasceu Antonio Lemos e com a qual mantém forte vínculo sentimental e de trabalho técnico e de planejamento prestado ao longo de três décadas.
Ao menos para mim, com relação ao imbróglio BRT versus VLT, foi importante saber a opinião de Antonio Lemos, cidadão respeitado entre os profissionais da área em que atua e no meio acadêmico.
Quando a sociedade como um todo fica confundida sem entender a complexidade dessa discussão, é importante saber o que pensa alguém de fora desse contexto das instituições governamentais.

Comentários por e-mails:

Muito bom o seu artigo sobre o BRT, que agrega uma opinião técnica e isenta a uma discussão importantíssima para toda a população.
Confira o artigo postado em nosso site www.cuiaba2014.mt.gov.br como notícia (capa) e no espaço Pensando a Copa.
Valeu!
Abraços
E. R.

Lendo o Diário de Cuiabá de hoje dia 25 de março de 2011, sou levado a fazer uma coisa que não é meu costume.Parabenizo com V.S. pelo artigo " Sou BRT". Sou projetista, dos antigos e culpo exclusivamente à Prefeitura pelo estado anárquico que estão as nossas ruas.
Certo dia, conversando com o Presidente da época do CREA, sobre a situação das construções erradas que abundam em Cuiabá, simplesmente a resposta dele foi que não era atribuição do CREA. Meu Deus, se não for legalmente falando pois a missão do CREA como Conselho é fiscalização do exercício profissional, então não é obrigação fiscalizar as besteiras que se cometem até com placas de "responsáveis" pelas construções?
Para completar basta uma pequena passagem pelas ruas e veremos a quantidade de construções que estão sendo levantadas a bel prazer, sem placas, e sem a mínima verificação de um pretenso " plano diretor" que pelo visto, não existe mais.
Antigamente quando eu projetava, era obrigação na construção, de um recuo do meio fio para calça das de 2,50 e 5,00m para prédio residenciais; e 10m para prédios comerciais e lateralmente para cada lado, 1,50 de afastamento e a obra não pode ser construída na totalidade do terreno.
Agora, na nossa cara, na rua dos Girassóis, Bairro Jardim Cuiabá,em um período record, está sendo construído um aumento de uma clínica para treinar dentistas, com pré moldados e com aberrações técnicas que são inadmissíveis.
Existem bairros que estão sendo construídos que não se fazem mais fossas, mas tbem não existe tratamento para os esgotos e os dejetos estão sendo descarregados diretamente na rede de esgoto.
Bom isso todo mundo sabe, só a Prefeitura que não sabe.
E assim caminha a humanidade, tudo errado quando tem necessidade de se fazer uma obra tipo BRT é o caos, como desapropriar?
Vamos aplaudir Pedro Pedrossian e Jose Fragelli . Na hora de agir, age. E o exemplo aí está. Só que depois entortam tudo. Se não fosse a ação de Fragelli ainda estava tendo enchente no bairro "Terceiro".
Mas e agora? está certo? Quem autorizou?
Você ainda tem o jornal para se manifestar, outros como eu, fico gritando no deserto e me roendo de raiva.
cumprimentos.
N.  B. O. F.
José Antonio,
Concordo plenamente com você que o tipo de veículo a ser utilizado deva ser o ultimo aspecto a ser definido na concepção do sistema de transportes das duas cidades.
Entretanto, a minha opção diverge da sua em relação à essa polêmica do BRT x VLT. Acho que não existe uma alternativa melhor do que a outra, ma sim soluções mais ou menos adequadas para cada região com suas condiçõe específicas.
Acho, por exemplo, que o BRT vai muito bem em cidades como Curitiba, Bogotá ou Buenos Aires aonde a caixa viária disponível é muito mais larga do que as avenidas da FEB, Prainha e Av. do CPA. Essas situações se conformam bem quando o BRT tem um trajeto de acesso à cidade, como em uma Avenida Brasil do Rio de Janeiro, e não de trajeto inserido na região nevrálgica da cidade como no caso de Cuiabá e Várzea Grande ou em Sevilha, Bilbao, etc aonde foi implantado o VLT.
Os aspectos relacionados ao barulho, fumaça, fragmentação das avenidas em lados oposts e impacto visual seriam muito danosos, a meu ver, para a paisagem antiga do nosso Centro Histórico e a da modernidade da avenida do CPA.
Com o tempo avançando rapidamente, fico também preocupado com a adequação dos projetos de estações, dos elementos, passarelas ou passagens para a travessia dos pedestres entre os lados da pista e o BRT e da solução do conflito entre as duas linhas nas proximidades da Igreja do Rosário. Todas essa intervenções gerarão uma nova linguagem e identidade para a nossa cidade e o espaço de tempo para análise e elaboração das soluções pela população, cada vez fica menor.
Abs, C. M.
 
Gostei das ponderações.
Nturalmente não foi v. que expulsou de Cuiabá os projeistas do VLT,né?
Luiz
 
O que faço agora é apenas uma pergunta sem a intenção de levantar polêmica: por ser elétrico o VLT não seria o mais ecológicamente adequado? E quanto ao preço para implantação? VLT e BLT se equivalem?
E para não perder o tom de sempre: isso já não era para estar decidido e EM ANDAMENTO? A Copa é daqui a 3 anos e meio, não?!!!
Té manhão indecisos !!!
T.F.

sexta-feira, 25 de março de 2011

SOU BRT

José Antonio Lemos dos Santos


     Ainda que extemporânea, o fato é que foi recolocada a discussão sobre o VLT ou BRT, assunto sobre o qual já me posicionei em artigos na época correta, quando o assunto foi discutido pela primeira vez, no tempo hábil. Assim, é oportuno recolocar a posição deste cidadão técnico, arquiteto e urbanista, registrado no CREA, com mais de 30 anos trabalhando com a cidade, posição esta baseada nas informações publicadas e disponíveis ao cidadão comum. Não sou funcionário da Agecopa, não ocupo qualquer cargo público e nem sou vendedor ou representante de BRT ou VLT, portanto, livre para aplaudir ou criticar – sem pretensões a dono da verdade - quando e como eu achar conveniente ao bem da minha terra natal.
   De início lembro que o principal problema no transporte coletivo na Grande Cuiabá é de gestão, e não de tecnologia. Podemos colocar VLTs, BRTs, metrôs, monotrilhos, zepellins, o que tiver de melhor no mundo, e nada funcionará se não for acertado um modelo de gestão adequado, o qual deverá estar legalmente implantado e funcionando antes da entrada em funcionamento da nova tecnologia. O nosso atual sistema de transportes é repartido em três partes, com três “donos”, as prefeituras de Cuiabá e Várzea Grande, e o governo do estado. Cada um se acha dono do seu pedaço, e faz o que quer na atual bagunça da legislação que tem Aglomerado e Região Metropolitana e não tem nem um e nem outro. É como entrar numa corrida com três corredores com as pernas amarradas entre si e cada um correndo como se estivesse só. Se não se organizarem, só conseguirão um belo tombo. Como será gerido o transporte coletivo na Grande Cuiabá? Será uma autarquia ou empresa pública intergovernamental? Será terceirizado ou tentaremos de novo a gestão compartilhada com um conselho (que se reúna desta vez). Este tema é complexo técnica e politicamente e exige urgente e detalhada atenção da Assembléia, para decidir logo, e bem.
Entre as tecnologias disponíveis estou com o BRT por sua comprovada eficiência em diversas cidades do Brasil e do mundo. Através do Youtube podemos conhecer e viajar em suas aplicações pelo mundo afora, em cidades dinâmicas e de grande demanda do transporte de massa. Além disso trata-se de uma solução nacional, com facilidade de manutenção e reposição de peças, podendo utilizar o biodisel, do qual Mato Grosso é o maior produtor e Cuiabá vanguardista nessa tecnologia, sendo a sede de sua primeira fábrica e laboratório urbano para seus primeiros usos e testes. Cheguei a sugerir o desenvolvimento de um modelo de veículo e de gestão com o nome de CuiaBus – para aproveitar a grande vitrine global da Copa divulgando ao mundo essa tecnologia brasileira, geradora de empregos e renda no Brasil e, mais importante para nós, especificamente em Mato Grosso.
    De 2009 para cá o noticiário informa que o projeto técnico de implantação do BRT avançou e está em fase de conclusão, já em preparativos para os processos desapropiatórios, já tendo sido investido muito dinheiro e, em especial, investimento de tempo, o recurso mais escasso nesta altura do campeonato. Quanto às desapropriações, elas são indispensáveis em intervenções desse tipo, qualquer que seja a opção tecnológica, desde a Roma dos Papas no século XVI, passando pela Paris de Haussmann no século XIX, até as demais sedes da Copa de agora. Cumpridas todas as exigências legais, com as devidos ressarcimentos, a desapropriação é um dos principais instrumentos do urbanismo, fundamentais à adaptação das cidades às necessidades impostas pelos seus processos evolutivos.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 25/03/2011 - excepcionalmente em uma sexta-feira)

terça-feira, 22 de março de 2011

DUTRA, UM GRANDE PRESIDENTE

José Antonio Lemos dos Santos


     A visita de Barack Obama ao Brasil no último fim de semana foi oportunidade para se relembrar Dutra, ao menos como um dos poucos presidentes que receberam um colega americano e o único presidente brasileiro a desfilar em carro aberto em Nova Iorque, com chuva de papel picado. Também foi chance para a mídia nacional lembrar a piadinha do Dutra recebendo Truman, uma piada como as que correm sobre todos os presidentes, em especial os com algum problema físico, no caso, de dicção, como o Lula e o rei da Inglaterra, que até ganhou Oscar por isso. Aliás, talvez também fosse oscareado um filme sobre esse pequeno cuiabano tatibitate, vendedor dos bolinhos de sua mãe nas ruas de Cuiabá, que pagou lavando pratos suas passagens para ir estudar, chegar à Presidência da República e entrar para a História do país. Foi e venceu, mantendo-se até o fim da vida como uma das maiores influências na política brasileira. Um orgulho nacional, um exemplo.
     Injustiçado pela história e pela mídia, a grandeza de Dutra começa em sua origem humilde. Sua vida pública inicia como Ministro da Guerra, permanecendo nesse cargo por 9 anos - o mais duradouro dos ministros - onde criou a FEB e depois, com o apoio dos oficiais vitoriosos contra as ditaduras nazi-facistas européias, forçou a queda do ditador Getúlio. E de ministro foi a presidente, pelo voto do povo. Se não foi o melhor dos presidentes, foi, seguramente, um dos mais importantes pelas inovações que trouxe ao Brasil. Como presidente logo convocou a Constituinte organizando a volta do país à democracia. Eleito para um mandato de seis anos, e mesmo sendo presidente e o militar mais poderoso do país, curvou-se à nova Constituição aceitando os cinco anos que estabelecia. Aqueles que temiam a volta de Getúlio e queriam que ficasse o ano a mais a que teria direito, respondeu: “nem um minuto a mais, nem um minuto a menos”. Virou “o homem do livrinho”, o homem da nova Constituição Federal assinada por ele, a mais democrática que o Brasil já teve. Essa piadinha é pouco lembrada.
     Dutra introduziu o planejamento no Brasil, com o Plano SALTE (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia) e criou o CNPq, cuja Lei de criação é tida com a Lei Áurea da tecnologia brasileira. Implantou o hoje tão usado conceito de Produto Interno Bruto e pavimentou a primeira grande estrada no Brasil, a Via Dutra. Criou o Instituto Rio Branco, base da qualidade de nossa diplomacia, e a CHESF, e é dele também a criação do Estado Maior das Forças Armadas e da Escola Superior de Guerra, fundamento da inteligência estratégica nacional. É ainda de Dutra a criação do SESI e do SENAI, de onde saiu o Presidente Lula, e no seu governo foi inaugurada a TV no Brasil. Injustamente ficou com a culpa do fechamento do Partido Comunista, na verdade uma decisão do STJ. Por isso e por ter fechado os cassinos desagradou a esquerda, matriz dos historiadores, jornalistas e artistas da época, principais formadores da opinião pública, e foi jogado ao ostracismo.
     Dutra foi também o responsável pela realização em 1950 da primeira Copa do Mundo no Brasil. Queria mostrar ao mundo um Brasil novo, com grandes cidades, que deixava de ser rural e se industrializava. Assim, constrói o Maracanã, o maior estádio de futebol do mundo, uma das razões para a fixação do futebol como paixão nacional. Daí que uma das principais promessas da Agecopa para a Copa do Pantanal é a criação do Memorial Dutra no local onde hoje funciona o Centro de Reabilitação Dom Aquino, no que poderia ter a parceria do SENAI nacional, numa justa e oportuna homenagem ao seu criador em sua terra natal, um presidente tão importante para os industriários brasileiros, para o futebol nacional e para o Brasil.

domingo, 20 de março de 2011

REVENDO A ARQUITETURA EM MILLÔR

14 - Agora que sentei aqui na minha cadeira de madeira, junto à minha mesa de madeira, colocada em cima deste assoalho de madeira, e procuro um livro feito de polpa de madeira para escrever um artigo contra o desmatamento florestal.
13 - Por que é que continuam a chamar de tráfego uma coisa que não trafega? Ou de trânsito, se não transita? Ou de hora de movimento um momento em que todos os carros estão parados?
12 - Clássico é um escitor que não se contentou em chatear apenas os contemporâneos.
11 - A cadeira de balanço é um pouco mais móvel do que os outros móveis.
10 - É evidente que Deus, o supremo arquiteto, projetou o Brasil como uma sala de estar. Mas os proprietários preferiram usá-lo como depósito de lixo.
9 - E como dizem os australianos: o canguru foi a tentativa da natureza fazer um pedestre absolutamente seguro.
8 - A buzinada é uma forma de petrificar o pedestre na frente do carro afim de poder atropelá-lo mais facilmente.
7 - Estou convencido que os animais começaram bípedes e evoluíram até ficar de quatro.
6 - Viver é desenhar sem borracha. (Muito, muito antes do computador, 1971).
5 - Não somos unânimes nem sozinhos.
4 - Se voce tem que segurar a tampa do vaso enquanto faz pipi, está num banheiro de arquitetura pós-moderna.
3 - O que voce acha pior: Átila, que por onde passava deixava deserto eterno, ou o urbanismo moderno?
2 - O fato de uma pessoa ser grande autoridade em algum assunto não elimina a possibilidade de acertar de vez em quando.
1 - Se o homem das cavernas soubesse o que ia acontecer, teria ficado lá dentro.

Extraído do livro "Millor Definitivo - A Bíblia do Caos", Millôr Fernandes, L&PM POCKET, 2002

terça-feira, 15 de março de 2011

OS FRADES DO ANTIGO BOSQUE

José Antonio Lemos dos Santos

      Bem-vindos os sacerdotes diocesanos que após 72 anos retomam a condução da antiga Paróquia da Boa Morte. Nada contra os novos pastores, que por certo seguirão os passos do monsenhor Trebaure, o “padrinho”, padrinho de batismo de minha mãe e de tantos e tantas como ela, crianças da Boa Morte da primeira metade do século passado, pelo qual mantiveram verdadeira devoção por toda a vida. E 72 anos não são 7 dias. Nesse ínterim chegaram os frades franciscanos e conquistaram os corações das gerações que se sucederam, ampliando os limites da Boa Morte para além do Quilombo, Araés e Cae-cae, acompanhando o crescimento da cidade, passando pelos altos do antigo Bosque Municipal, hoje Praça Santos Dumont, onde construíram a atual Igreja Nossa Senhora Mãe dos Homens. Levavam para um local mais amplo e apropriado a antiga capela do Lavapés (tinha uma lagoa na frente onde os viajantes lavavam os pés antes de chegar na cidade), quase que um oratório de tão mínima, criada e mantida por almas caridosas, dentre as quais Mariana de Jajá, minha tia-avó.
      Morador da João Bento, no antigo Bosque, lembro da Mãe dos Homens ainda com as paredes pela metade sob a observação constante e severa do frei Quirino e segui sua construção admirado com a altura que alcançava, participando com a comunidade das quermesses, rifas, leilões, doações de todos os tipos que ajudaram na concretização do querido templo. Como as coisas demoram a acontecer quando a gente é criança. Vendo de hoje foi tudo muito rápido, só 5 anos, desde a primeira missa campal em 1955 até a igreja já praticamente concluída, por volta de 1960. Mas como demoraram a passar. Foi um custo, como diziam. Certamente essa obra tem um pouco ou muito a ver com a minha identificação com a Arquitetura. Não sei, nunca havia pensado nisso.
      No antigo Bosque os frades construíram ainda o Educandário Santo Antonio, o Salão Paroquial, e mais recentemente um anexo comercial com salão de festas. E lá instalaram a caridosa Pia União de Santo Antonio. O velho Bosque se transformou. Certa ou errada a Prefeitura logo transformou o Bosque em uma praça, a atual Praça Santos Dumont, com o sacrifício na época de alguns tarumeiros centenários (diz’que juntava muita mosca) e de algumas outras árvores também antiqüíssimas depois. Mas a Praça ficou simpática, com a igrejinha e os palanques oficiais dos desfiles de 7 de Setembro que nela se instalaram até a uns poucos anos atrás. Hoje recebe uma feira semanal de alimentação e artesanato e é a plataforma de saída da monumental Caminhada da Paz, talvez a última das grandes obras franciscanas no antigo Bosque, tão monumental que seria conhecida no Brasil inteiro se acontecesse em qualquer outro centro melhor aquinhoado com a simpatia da mídia nacional. Mas já é um grande orgulho cuiabano e mato-grossense e não pode deixar de existir, agora maior do que nunca.
      Domingo os frades deixaram o Bosque, o Cae-cae e a Boa Morte e o assunto não pode passar batido, afinal, 72 anos não são 7 dias para uma comunidade que aprendeu a conviver, amar e respeitar os frades, alguns churrasqueiros, corinthianos, outros com forte sotaque estrangeiro, motivos para inocentes piadinhas dominicais consentidas. Sei que muitos de minha geração têm outras tantas e tantas boas lembranças a narrar desse convívio. Pois é, ainda fragilizada por profunda dor recente, a comunidade franciscana de frades e fiéis se vê agora subitamente privada do seu velho relacionamento, como uma replicação maior de um tsunami original já bastante cruel, como se fosse uma pena, certamente imerecida. E La nave vá ... Que o Bom Jesus de Cuiabá abençoe os diocesanos e os frades do antigo Bosque.

quinta-feira, 10 de março de 2011

A HORA É DE FAZER

José Antonio Lemos dos Santos

     Ultimamente a dúvida que parece pairar no ar é se as obras da Copa ficarão prontas a tempo. Pelo menos esta é a pergunta que sempre me fazem, talvez pelo fato de ter trabalhado os assuntos da cidade por muito tempo e os amigos menos próximos pensem que eu ainda seja da Prefeitura, ou do antigo Aglomerado Urbano ou até mesmo que esteja na Agecopa. E a pergunta sempre vem: você acha que vai dar tempo? Será que vamos conseguir? Meio em tom de brincadeira tenho respondido lembrando que o magnífico Empire State, em Nova Iorque, que durante décadas foi o edifício mais alto do mundo, foi construído em 451 dias, e que Brasília, foi inaugurada após três anos de construção. Nem por isso perderam em qualidade. Na década de 40 o Empire State sofreu a colisão de um dos maiores aviões da época e resistiu praticamente ileso. Brasília e suas obras ainda orgulham todo brasileiro.
     Certamente que para conseguir esse resultado foi necessária firmeza de decisão e persistência. Decisão decidida era decisão implantada, sem nhenhenhéns. Teve hora de decidir e hora de realizar. Uma dos episódios mais pitorescos da época da construção de Brasília, conta que o presidente JK um dia chamou todo seu ministério para conhecer a obra de Brasília que se iniciava. Em um dos pares de poltronas do avião sentarem-se Niemeyer e – logo quem? – nada mais nada menos que o ministro da Guerra, o Marechal Lott, aquele que havia garantido a posse do presidente, evitando um golpe de estado. O destino sabe ser cruel ou brincalhão às vezes, como nesta, colocando lado a lado o jovem arquiteto, um comunista convicto e o poderoso Marechal. Viagem longa – ainda não era tempo dos jatos puros de passageiros – o então General querendo talvez quebrar o gelo entre os dois, perguntou ao arquiteto se ele já havia decidido se o novo Quartel General seria em estilo Neoclássico ou Neogótico, e o arquiteto respondeu com uma outra pergunta: “ por que General, vocês vão voltar a guerrear com flechas e catapultas?” E acabou o papo. Não houve mudanças. O arquiteto continuou com seus projetos, o ministro com seu ministério, cada qual na grandeza de suas responsabilidades. Já pensaram se naquele momento fossem discutir a substituição de Niemeyer por um possível melindre do poderoso ministro? E Brasília foi inaugurada na data marcada e hoje um dos mais belos edifício de Brasília é justamente o Quartel General, o chamado Forte Apache, em estilo moderno da época, compatível com os caças a jato e o porta-aviões que o Brasil estava adquirindo.
      É o caso da Copa do Pantanal. Houve o momento de discutir, agora é hora de fazer e cobrar. É hora de focar nas obras e serviços a serem implantados, senão, não haverá tempo. Não cabe agora a discussão de decisões já tomadas. Também não acho a Agecopa o melhor modelo de gestão, nem concordo com o novo aeroporto apenas para 2,8 milhões de passageiros/ano, assim como, preferia o Verdão com as três arenas, aproveitando ao menos em parte o antigo José Fragelli. São decisões já tomadas, assim como a escolha do BRT, que considero a correta por se tratar de uma tecnologia brasileira, com exemplos implantados no Brasil e no mundo, fazendo uso de energia produzida em Mato Grosso. Cheguei até a sugerir o nome de CuiaBus para o BRT cuiabano, com 100% de biodiesel, divulgando nossa tecnologia para o mundo. É executar.
     A Copa do Pantanal para mim é um bem-vindo teste de qualificação e de desqualificação de nossos gestores públicos para o Tricentenário, em 2019, esta a festa mais importante para nossa cidade nos próximos anos. O cuiabano identificará corretamente os que merecerem ficar. A Copa do Pantanal, já mudou Cuiabá e os cuiabanos já não são mais os mesmos. Nem voltarão a ser como antes. A hora é de fazer. Mãos à obra!

(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 10/03/2011)

quarta-feira, 9 de março de 2011

VIADUTO X PRESERVAÇÃO

Controvérsia entre os arquitetos Eduardo Chiletto e José Antonio Lemos dos Santos
Dê sua opinião.
Paticipe!

Sobre a intervenção no Centro Histórico: Viaduto x Preservação


Publicado em março 8, 2011 por Eduardo Chiletto

A globalização foi determinante na principal característica histórica do processo de urbanização em nosso país, a desigualdade, a exclusão territorial e o desrespeito pelo local. Ao longo de décadas foi-se construindo uma democracia interrompida, freqüentemente, por períodos ditatoriais e a poucas décadas atrás por uma política de desrespeito ao nosso patrimônio cultural – material e imaterial – uma verdadeira exclusão patrimônio-social-cultural visivelmente constatada nas cidades brasileiras e principalmente em nossa capital, Cuiabá, claramente observadas no entorno do nosso centro tombado.

Não podemos esquecer que o centro histórico de uma cidade é sua referência, o coração pulsante de uma cultura. Preservá-lo significa valorizar as tradições, as lendas, os mitos, o folclore, a civilização e nossa cidadania. Intervenções em áreas tombadas e em seu entorno podem vir a comprometê-la.

Deduz-se então que a intervenção de um viaduto projetado nesta área para atender as questões de mobilidade urbana comprometerá a visibilidade da área tombada e conseqüentemente nosso patrimônio histórico, principalmente a área remanescente do período da mineração, que compreende a igreja do Rosário e São Benedito, uma das principais referências culturais da nossa cidade.

Violar, macular esse patrimônio histórico artístico nacional tombado seria, no mínimo, um desrespeito aos nossos antepassados, à nossa cultura e à nossa nação. Um desrespeito a nós mesmos, à nossa cidadania.

Cuiabá necessita crescer sem conflitos entre o desenvolvimento urbano e seu patrimônio cultural. Os conceitos que embasam o Planejamento Urbano dão enfoque às questões ambientais concomitantemente, ou melhor expresso, como questões urbano-ambientais.

A problemática socioambiental urbana esteve intimamente ligada ao esgotamento sanitário, aos resíduos sólidos, à qualidade da água e à poluição (inclusive e, sobretudo em nosso caso, à poluição visual), que fazem parte da problemática urbana de Cuiabá e que devem se constituir prioridades da ação municipal.

Na atual abordagem urbano-ambiental a manutenção dos espaços públicos e a preservação do patrimônio histórico – material e imaterial – são objeto da gestão ambiental do território urbano, de modo que ativos históricos são enfrentados como um patrimônio da sociedade e, portanto, preservados em seu todo para serem desfrutados pelas gerações atuais e futuras.

No “projeto de desenvolvimento” apresentado pela AGECOPA a Avenida da Prainha é uma das vias prioritárias e um dos principais eixos de intervenção, mas se-gundo a divisão técnica do IPHAN, não há especificações nem detalhamento no projeto na área que a avenida delimita como área tombada. Isso é projeto de desenvolvimento?

Apesar de carioca da gema, sou com muita deferência cidadão mato-grossense… Como muitos que aqui se encontram. Não sou cidadão amazonense, baiano, paulista e muito menos curitibano… Nada contra sê-lo, pelo contrário. Mas ter o título de cidadania de um estado significa entre outras coisas, ter respeito à cultura de onde escolhi para viver. Respeito não só ao meu estado, mas à minha cidade, aos indivíduos que aqui residem e principalmente aos antepassados desta terra… Pessoas tão queridas que aqui viveram e deram tanto amor por esse local.

Os “paus rodados” que me desculpem, mas amar o lugar onde se vive, respeitar suas tradições, sua história e lutar para preservá-lo é fundamental.

Espero e acredito que o “projeto de desenvolvimento” apresentado pela AGECOPA para a Avenida da Prainha deva ser pensado e priorizado como um projeto de desenvolvimento sustentável, que por sua vez nada mais é que planejar com enfoque holístico e sistêmico um desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações.

É o desenvolvimento que não esgota os recursos naturais, culturais e históricos para o futuro. E nesta nossa questão específica, não compromete, não viola nem macula nosso patrimônio histórico tombado. De modo que os que aqui chegarem como eu e muito de nós, inclusive nossos filhos, netos e bisnetos possam desfrutá-lo e tê-lo como referência.
Sobre Eduardo Chiletto
Arquiteto e Urbanista - Carioca da gema... Doutorando em Arquitetura e Urbanismo EESC-USP... Windsurfista, Skatista, Tenista e Ciclista... Ahhh, jardineiro tb... Diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo-UNIC.

Comentário José Antonio Lemos dos Santos

Meu caro Chiletto,


Concordo com tudo o que você disse, ou quase tudo. O mais importante de tudo é que todas as intervenções humanas, inclusive no patrimônio histórico, tem que ser conscientes e precisam da atenção de toda a sociedade. Batendo duro inclusive como vc já fez quando do episódio do finado viaduto da Isac Póvoas, que nem sequer foi cogitado hoje graças à sua intervenção naquela época. E fazia todo sentido. Mas, do que discordo, primeiro não entendi o “deduz-se” do terceiro parágrafo pois voce traçou umas importantes e verdadeiras considerações gerais e depois fechou concluindo que um viaduto na Avenida da Prainha em Cuiabá “comprometerá a visibilidade da área tombada e principalmente do ...”. Acho que a liberação do Morro da Luz daquelas ocupações horrorosas (e nada históricas) do pé do morro vai valer mais do que tudo que já foi feito pelo patrimônio em Mato Grosso. E quanto ao viaduto, passei hoje por lá novamente depois do seu e-mail e realmente não vi nada de comprometedor em relação ao patrimônio histórico. Hoje, de lá não se vê nada de histórico, a não ser uma loja de baterias ou de pneus Tahiti e um posto de gasolina, nada "históricos". Melhor diria "histéricos". Como já conversamos, preferia ver o IPHAN agilizando recursos e capitaneando um projeto de rebaixamento da fiação no centro histórico. Em segundo lugar no que discordo acho que o desenvolvimento não é incompatível com a história, é parte dela. Precisa ser consciente e responsável para ser sustentável. Mas o mais importante é, como você diz, estarmos sempre atentos ao que se faz em nossa cidade e abertos às idéias divergentes proporcionando debates como este que podem ser até didáticos em um ambiente geral onde a divergência é quase sempre confundida com briga ou desrespeito. Ao contrário, só questiono aquelas opiniões que eu respeito muito, ainda que discorde delas.

Respeitosamente

José Antonio

quarta-feira, 2 de março de 2011

A IMIGRANTES E O CONTORNO OESTE (Comentários)

Comentários fora do blog.

Cartas do leitor do Diário de Cuiabá:
Data: 01/03/2011 06:44
Nome: L. A. C.
Profissão:
Localidade: Cuiabá/MT
Importante contribuição sua ao transito de Mato-Grosso, atendendo a demanda atual e prevendo o futuro ilimitado.


E-mail:
01/03/11
Boa noite, grande profeta Ze Antonio, un dia seras ouvido! FIquei muito contente com o artigo, bastante claro e muito incidente e necessario. FOi bom ter frisado a atuacao do Governo de forma positiva, isso serve de estimulo para continuar na mesma linha e assim tambem soube chamar a atencao do governo federal, que com respeito devido, tambem é chamado a fazer a propria parte, agora que se o povo se conscientizar tambem do proprio importante papel que podemos desempenhar neste andar das coisas, facilitando mais o caotico transito da nossa atual Cuiaba. Valeu...
p. W. S. A.

02/03/11
Totalmente a favor, Zé.
Abraço
J.

terça-feira, 1 de março de 2011

A IMIGRANTES E O CONTORNO OESTE

José Antonio Lemos dos Santos

     A pavimentação ligando o Distrito da Guia a Jangada criou uma alternativa rodoviária para o trecho tristemente conhecido como “rodovia da morte”, na BR-163. Foi mais rápido o estado executar essa obra do que ficar só na espera do governo federal, chorando acidentes trágicos evitáveis. Essa ligação, a Rodovia da Vida, hoje é um dos mais importantes acessos rodoviários de Cuiabá, com movimento crescente de veículos, do automóvel ao bi-trem. Foi planejada então uma forma de evitar a nova sobrecarga ao sistema viário urbano de Cuiabá bem como garantir fluidez ao fluxo rodoviário de passagem. Daí o projeto do DNIT de ligação direta da Estrada da Guia ao Trevo do Lagarto, acessando a Rodovia dos Imigrantes, com uma nova ponte sobre o Cuiabá, próxima ao Sucuri. Constitui hoje um dos projetos mais urgentes para Cuiabá, mesmo sem Copa, ainda mais com ela. Mas parece esquecido.
     Acontece que esse projeto foi englobado em um projeto maior chamado Rodoanel, trazendo na garupa um antigo e no mínimo discutível projeto de um contorno norte para a cidade, que por mais de 20 anos perambulava pelos gabinetes dos sucessivos prefeitos na busca de alguma aprovação. A Rodovia da Vida foi a chance de viabilização desse antigo projeto. Entrou então no Rodoanel o Contorno Norte. Mas ficou de fora a Imigrantes, hoje o principal desvio rodoviário de Cuiabá e Várzea Grande, que deveria protegê-las do tráfego das 3 BR’s mais movimentadas do oeste brasileiro.
     Quando se pensa em um anel rodoviário para a região metropolitana de Cuiabá, há que se pensá-lo inteiro, isto é, fechado, saindo de um ponto e voltando ao início. Assim, quando se fala em Rodoanel para Cuiabá, trata-se de um anel circundando Cuiabá e Várzea Grande, com três segmentos bem definidos: 1 - o Contorno Norte - indo da Estrada da Guia até as BR’s na saída para Rondonópolis, atravessando a Estrada da Chapada, 2 - o Contorno Oeste, que vai do Trevo do Lagarto até a estrada da Guia, passando pelo Sucuri, e 3 – o Contorno Sul – a conhecida Rodovia dos Imigrantes, que vai do Trevo do Lagarto até as BR’s, na saída para Rondonópolis fechando o anel. Nessa ótica não vejo qualquer prioridade no momento para o Contorno Norte, inclusive de questionável conveniência urbanística e ambiental. Por outro lado, são urgentes a conclusão do Contorno Oeste e a requalificação completa da Rodovia dos Imigrantes, não apenas seu recapeamento.
     Agora que o DNIT está revendo o projeto do Rodoanel seria a oportunidade também de rever suas prioridades. O seu projeto de ligação da Estrada da Guia ao Trevo do Lagarto é complemento imprescindível ao sucesso dos viadutos e trincheiras projetadas pela Agecopa na Miguel Sutil e à fluidez do tráfego rodoviário para o norte do país. Sem o Contorno Oeste, como impedir que as carretas e bi-trens se dirijam à Miguel Sutil? Só as importantes fábricas de bebidas da Ambev e de cimento no Aguaçú já justificariam tal prioridade.
     Quanto a Imigrantes, basta o eloqüente grito dos caminhoneiros na semana passada, paralisando-a com milhares de caminhões. Por lei a Imigrantes é o eixo da Zona Especial de Alto Impacto de Cuiabá, destinada a ampliação do Distrito Industrial e a implantação de outras atividades de alto impacto como o terminal ferroviário e centrais de cargas rodoviárias, estas visando também o transbordo das cargas para veículos compatíveis com a circulação urbana. O finado IPDU apresentou em 1994 estudo prevendo até pistas paralelas auxiliares, adequando a Imigrantes à sua função de conexão intermodal e proteção rodoviária da Grande Cuiabá. Hoje, mais necessária que nunca, como denuncia o incorreto tráfego pesado de carretas e bi-trens pela cidade.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Comentários ao artigo Molecagem

Comentários na Página do Enock

Adriano Moraes - 23/02/2011 21:10 - Ip: 200.140.107.249
Cuiabá e Mato Grosso precisam acordar e deixar de votar em políticos corruptos. Todas os recursos que chegam aqui só chegam pela metade, tudo é desviado.

GMARIA - 23/02/2011 16:20 - Ip: 189.59.59.247
ATE QUE ENFIM APARECEU ALGUEM PARA DEFENDER CUIABA.ISSO E MUITO BOM,POIS OS CUIBANOS NAO MERECEM ESSA MOLECAGEM. OBRIGADO POR DEFENDER NOSSA TERRA.

graccia maria - 23/02/2011 16:11 - Ip: 189.59.59.247
AINDA BEM QUE TEMOS UMA PESSOA EM DEFESA DA NOSSA CAPITAL. UFA... ATE QUE ENFIM. OBRIGADO EM NOME DE TODOS OS CUIABANOS.

luciano - 23/02/2011 15:13 - Ip: 189.59.48.141
PUXA SACO DA DILMA E DO LULA. PROFESSOR AI PISA EM OVOS PARA NÃO ATINGIR A PETISTA QUE TANTO AMAM ESSES FALSOS IDEÓLOGOS.
 
Comentários em Cartas do Leitor ao Diário de Cuiabá

Data: 22/02/2011 08:56
Nome: JOÃO GALDINO DE MEDEIROS
Email: jgaldinomedeiros@hotmail.com
Profissão: Tributólogo - Economista
Localidade: Cuiabá/MT

Caro articulista. Longe de ser filósofo - de fato e de direito, já que "desisti" do curso na UFMT - mas, entre outros "Pensamentos", escreví: "Se quizerem me elogiar-me, chamem-me de Professor", isto para mostrar do apreço que tenho - sempre tive - aos professores, quando mestres de verdade. Quanto ao seu artigo, não vejo nenhuma surpresa: Em se tratando de obras públicas nada melhor do que o atrazo, pois, sempre necessárias, acabam por tornarem-se de execuções "urgentes". Percebeu? A "urgência" leva às famosas "Dispensas de Licitações" e é aí onde a bandidagem "nada de braçadas", algo semelhante à "bandidagem" que vem praticando a Sanecap, pelo descaso e abandono, buscando nada mais, nada menos, que "justificar" sua privatização. No mais, um viva aos nossos "dígnos" administradores, de todas as Esferas, eleitos, nomeados e/ou concursados. Ah! o "viva" citado é do verbo "viver", no caso, nas "prefundas". Seríamos extraordinariamente felizes se, milagrosamente, fosse "nas alturas". Vai que a culpa é nossa! E é, quem mandou elegê-los?

Data: 22/02/2011 11:52
Nome: Neide Maria Rodrigues da Silva
Email: neidemariarsilva@hotmail.com
Profissão: Func Pública
Localidade: Cuiabá/MT
Gostei muito do artigo:Molecagem. O autor fala com conhecimento de causa e muita seriedade.

Data: 22/02/2011 14:14
Nome: Jean M. Van Den Haute
Email: aguasemagia@yahoo.com.br
Profissão: Consultor Internacional de Transítica
Localidade: Cuiabá Metrópole/MT
Caro Amigo José Antônio Lemos, nos estamos apenas asistindo á catástrofa anunciada desde a não aplicação da Lei do Aglomerado Urbano de 2001. Ou seja, o resultado de 10 anos de banditismo político. Jean M. Van Den Haute - SNDU, Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano.

Data: 22/02/2011 14:42
Nome: loureiro
Email: loureiro@terra.com.br
Profissão: Engenheiro
Localidade: Cuiabá/MT

O estado de Mato Grosso é o maior produtor de graos do pais (20% do total) possui o maior rebanho bovino do Brasil ,entre outros "mais".
Apesar dessa imensa capacidade de gerar riquezas para o paia recebe um tratamento de indigente por parte dos governos centrais.
Muito oportuno o artigo do Jose Antonio alertando sobre essa situação.wquem sabe com a critica o povo acorda da pasmaceira que permite esse acinte conta MT.
Parbens.Seu texto e daqueles que deixam a alama da gente lavada,no tanque de Bau.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

MOLECAGEM

José Antonio Lemos dos Santos

     O título deste artigo não é dirigido à presidenta Dilma cuja biografia e posse recente não permitem tal injustiça. A ela, todo o respeito e confiança. O título é dedicado a setores de seu governo, ainda em fase de montagem, com muitas peças remanescentes do antigo governo que sempre mostraram má-vontade com Cuiabá e despreparados para o imenso compromisso internacional assumido pelo Brasil que é a Copa do Mundo. Vai também para aqueles que devem representar os interesses de Cuiabá e Mato Grosso em todos os níveis políticos, em especial no federal, que deixaram a situação chegar onde chegou.
     Antes minhas críticas viam o assunto apenas – só? - como sérios casos de negligência pública ou de incompetência técnica, ou os dois juntos. O entendimento segue válido para o projeto nacional da Copa 2014, que exige correções urgentes e radicais, as quais já estariam sendo providenciadas pela presidenta, como na Infraero. As últimas declarações de Pelé e Zico reforçam esta certeza. Entretanto, no caso específico de Cuiabá, uma renitente sucessão de fatos negativos mostra que a coisa extrapola o nível da incompetência ou negligência, e vai até as raias da sabotagem contra a cidade, com intenções regionais e nacionais diversas, cuja discussão não cabe aqui.
     Os fatos da última semana, porém, foram ao máximo e empurram para nível ainda mais baixo o tratamento que o governo federal vem dando a Cuiabá. No caso do aeroporto, a visita do secretário Vuolo à Infraero encontra um presidente interino louquinho para repassar a construção do aeroporto para o estado, isto é, repassar o abacaxi que eles criaram. E tem mais, o projeto prometido para setembro (já muito atrasado) agora tem previsão para março de 2012, ano em que o aeroporto deveria estar pronto. Mais de ano para um projeto de ampliação em um terreno conhecido, sem necessidade de levantamentos demorados! Só depois a licitação da obra. Com o repasse da obra, além dos prejuízos, Mato Grosso arcaria com a culpa da obra não ter sido concluída a tempo. O aeroporto é de responsabilidade federal, e sempre me pareceu no mínimo inábil ou deselegante com a presidenta o estado propor assumir a obra alegando incompetência da Infraero, afinal, é uma empresa federal, dela. Não me surpreendeu o cancelamento da audiência presidencial com o governador. Cabe sim ao estado cobrar e ajudar na obra, agora só viável em um ritmo de guerra, com turno dobrado de trabalho, sábado e domingo, como aventou o ex-presidente Lula, e a redução dos prazos de contratações dentro do autorizado em lei para casos especiais como este mundial, transformado numa guerra nacional pela Copa, com os prazos se exaurindo cada vez mais rápido.
     O lançamento do PAC da Mobilidade foi palco de outra grosseria federal para com os brasileiros de Cuiabá. Será que o Ministério das Cidades não sabe, e sabe, que a cidade de Cuiabá integra uma conurbação com Várzea Grande, com uma população próxima de 1 milhão de habitantes? Como excluí-la de seu maior programa de investimentos urbanos, justo no momento em que os investidores do Brasil e do exterior concluem suas decisões para a Copa? A explicação estadual - que deveria ser federal - é que Cuiabá teria ficado fora da lista por ter se antecipado e contemplada antes. E por que Fortaleza e Salvador que estariam na mesma situação entraram na lista? Mais um desgaste a engolir. Somado ao tratamento dado ao gasoduto, termelétrica, ferrovia, ao “puxadinho urgente” do aeroporto, à duplicação Cuiabá-Rondonópolis e outros, resulta um quadro deplorável, indigno de um país moderno. Triste de constatar, pior de escrever, mas isso é molecagem. Molecagem com Cuiabá, com a presidenta Dilma e com o país. (Publicado pelo Diário de Cuiabá em 22/02/11).

sábado, 19 de fevereiro de 2011

DESIGN SUSTENTÁVEL

Design Sustentável


Seed Bomb

é sem dúvida um dos projetos mais criativos já criados para reflorestar áreas devastadas. Desenvolvido pelos designers Hwang Jin Wook, Jeon You Ho, Han Kuk Il e Kim Ji Myung o Seed Bomb é um conceito de “bombas” feitas em plástico biodegradável que ao serem lançadas soltam cápsulas com sementes para recuperar áreas degradadas.

Cada cápsula possui um solo artificial contendo as sementes. Ao “bombardear” o solo a cápsula se prende ao terreno e mantém a planta viva até que a umidade produzida por ela derreta o plástico e a planta consiga se fixar no solo. Com uma “arma” destas ao nosso alcance, poderíamos transformar grandes áreas devastadas em lindas paisagens.

Aprenda a fazer uma “bomba” de sementes

Por que não utilizar o mesmo conceito em lugares que estão a nossa volta? Terrenos baldios, praças abandonadas e canteiros esquecidos poderiam virar verdadeiras áreas verdes com uma biodiversidade incrível, pensando nisso, o site

Planet Green desenvolveu uma receita que pode ser preparada em casa para fazer a sua bomba de sementes.

Ingredientes:

Argila

Composto orgânico

Sementes de sua escolha.

Preparo

: Para cada 5 partes de argila, deve-se misturar uma de composto orgânico e uma de sementes. Mitsture oss ingredientes e adicione água aos poucos até a mistura ficar homogênea. Por fim, basta apertar bem a massa que se formou, molda-la em pequenas bolinhas e deixar secar no sol por algumas horas até que a argila endureça.

Mais do que admirar projetos inovadores e revolucionários como as bombas ecológicas caseiras, é o espírito sustentável de cada um, aliado a atitude e vontade de transformar o local em que vivemos que conta. Que tal juntar os amigos e familiares e até ensinarmos as crianças a prepararem de maneira divertida, nossas próprias armas de transformação positiva?

Mais:

Planet Green

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

MOBILIDADE NA COPA

José Antonio Lemos dos Santos

     A divulgação pela Agecopa de seus principais projetos de mobilidade urbana impactou fortemente a população, como dá para sentir nos e-mails, conversas de rua e comentários na imprensa. Todos agradavelmente surpreendidos com a possibilidade de Cuiabá um dia ser assim. Parece que essa simples projeção virtual de futuro teve o condão de resgatar de imediato um pouco do orgulho do cidadão para com sua cidade. Ainda que maravilhados, alguns são incrédulos quanto a execução das obras. Será que vão fazer mesmo? Outros perguntam se vai dar para fazer tudo no tempo que resta até a Copa. Outros indagam se as intervenções solucionarão o trânsito de Cuiabá. De qualquer forma, os projetos lançaram os olhos do cuiabano-varzeagrandense para o futuro, construtiva e positivamente de forma quase unânime. Só essa nova postura do cidadão já teria justificado a Copa do Pantanal.
     Existem também os que começam a perceber que para fazer a bonita omelete vai ser preciso quebrar muitos ovos e que durante as obras a cidade ficará intransitável. Também me preocupo com isso e já começo a avaliar alternativas para os trajetos rotineiros, meus e de minha família. A Agecopa assegura que está estudando tecnicamente o assunto e sempre fala em obras de desbloqueio. Acho que algumas destas já podiam ter começado, em especial as que independem de desapropriações e implicam apenas em repaginação das vias que funcionarão como alternativas e que hoje estão precariamente implantadas ou em crítico estado de conservação. Algumas precisam desde o asfalto, como a continuidade da Tereza Lobo até a Miguel Sutil. Não só até a Rodoviária, como foi feito. E também não apenas o asfalto, como foi feito, mas calçada, sinalização, iluminação, em suma, criando todas as condições para uma circulação convidativa, confortável e segura.
     Recebo muitas indagações sobre as obras e até já fiz uns comentários sobre elas em alguns artigos. Como não examinei os projetos em seus detalhes – nem devo fazê-lo - parto da certeza que foram desenvolvidos por profissionais legalmente habilitados e com competência técnica. Assim, de um modo geral entendo que as obras são necessárias e precisam ser construídas. São a solução para os problemas de circulação hoje? Em parte. Já foram há dez anos, quando divulgadas em sua maioria pelo IPDU, então dirigido pelo arquiteto Raul Spinelli, na segunda gestão de Roberto França. De lá para cá a cidade mudou e a solução para hoje e para 2014 vai além delas. São obras necessárias, mas exigem outras soluções trabalhando em conjunto. Nossa cidade decuplicou o número de veículos e não ampliou seu sistema viário. Nessa situação não dá para esperar a solução dos problemas de circulação trabalhando apenas nas vias em colapso, conforme disse em um artigo denominado “Bonitinhas, mas engarrafadas” de 2009. É preciso trabalhar a cidade como um todo, desde a questão do uso do solo, até adequações de vias hoje marginalizadas e a construção de novas. E justo em um momento tão importante como este o IPDU é extinto.
     Também gostei dos projetos apresentados e torço para que tudo corra bem, mesmo sentindo falta do viaduto de acesso ao Cristo-Rei pela FEB, que acho fundamental. Insisto, porém, na necessidade de pelo menos três novas avenidas: 1 - a Avenida do Barbado, ligando o Coxipó ao CPA, 2 - o Contorno Oeste do Rodoanel, com uma nova ponte no Sucuri, ligando direto a estrada da Guia ao Trevo do Lagarto, ambas apoiando a Miguel Sutil, e 3 - a extensão da Beira-Rio ao sul, com nova ponte sobre o Coxipó na altura do São Gonçalo Velho, fazendo a ligação direta de toda a grande região do Parque Cuiabá ao centro de Cuiabá e Várzea Grande, desafogando a Fernando Correia.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 15/02/2011)

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

AEROPORTO, ESPERANÇAS DE NOVO

José Antonio Lemos dos Santos


     O fim de semana trouxe algumas notícias importantes para o futuro do Aeroporto Marechal Rondon e de Cuiabá em relação à Copa 2014. A primeira, fundamental, é que a presidenta Dilma Rousseff vai trocar o comando da Infraero, já tendo inclusive escolhido o nome do novo superintendente e do secretário da aviação civil. A segunda foi a identificação, pelo próprio ministro Orlando Silva em visita a Cuiabá, do aeroporto como o principal problema para a Copa do Pantanal. Sobre o assunto o ministro informou ainda que a questão dos aeroportos será ligada diretamente à presidenta Dilma e ratificou que a preparação do Aeroporto Marechal Rondon é responsabilidade do governo federal, não do estado ou municípios, reforçando o quadro original de competências. Assim é para lá que devem ser dirigidas as cobranças e elogios.
     Especialmente para Cuiabá a intervenção da presidenta é necessária e urgente, diante da maneira como a Infraero vem tocando a preparação do Aeroporto Marechal Rondon, sem nenhum comprometimento com suas responsabilidades perante a Copa do Pantanal, para dizer o mínimo. Essa situação, que para alguns chega mesmo a ser um caso de sabotagem explícita contra a sede da Copa em Cuiabá, evidenciou-se outro dia com a suspensão da montagem do módulo emergencial para atendimento ao desembarque de passageiros, o “puxadinho”. Para essa obra emergencial, a Infraero só emitiu a Ordem de Serviço quatro meses após o resultado da licitação que escolheu a firma para a montagem. Dois meses depois, o contrato foi suspenso por razões não convincentes e até hoje não se sabe como será montada essa estrutura emergencial, pequena, pré-fabricada, de montagem simples e que é de fato urgente.
     Contudo o auge do descompromisso, ou deboche, veio no início da semana passada quando a Infraero divulgou o início da elaboração dos projetos da ampliação da estação de passageiros. Isto é, quase dois anos após Cuiabá ter sido escolhida como uma das sedes da Copa de 2014. Dois anos! A simples Ordem de Serviço para o projeto demorou quase dois meses a partir do resultado da licitação. Pior, estabelece prazo de entrega para setembro, com um andamento normal, como se o Brasil não tivesse se comprometido com uma Copa do Mundo a ser realizada em 2014 e Cuiabá não fosse uma de suas sedes, pleiteando também a Copa das Confederações em 2013. Só depois de pronto o projeto será feita a licitação para a obra. Ou seja, do jeito que ia, não ia.
     Estes fatos podem não ter sido determinantes, mas a intervenção presidencial veio a galope, antes da semana terminar, e com certeza deve marcar uma nova postura do governo federal em relação a infra-estrutura aeroportuária para a Copa. Se fosse para continuar do jeito que está seria desnecessária a bem-vinda intervenção. Aproximando o assunto de seu Gabinete e reforçando a Secretaria Nacional da Aviação Civil, a perspectiva é de que o assunto receba uma prioridade especial, um status de guerra, que de fato é, mas uma guerra construtiva, positiva contra o tempo. Os prazos legais e de execução técnica precisam ser encurtados, dentro da lei, e reforçados os trabalhos de supervisão e controle do grande projeto da Copa para que seus cronogramas sejam cumpridos, ainda que tenha que dobrar os turnos, com trabalho dia e noite, sábados e domingos, como chegou a aventar o ex-presidente Lula. O ministro Orlando certamente levará sua posição extraída in loco de que o principal problema para a Copa do Pantanal é o Aeroporto Marechal Rondon, no que será reforçado pela audiência presidencial do governador Silval Barbosa. Quando a expectativa da Copa estava sendo levada ao seu limite, eis que a esperança é resgatada em apenas um fim de semana de boas notícias.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Entrevistas Jaime Lerner - Comente

Adicionei entrevista de Jaime Lerner ao AlmanaqueBrasil no qual ele diz ente outra coisas que "Se não resolvermos as questões da cidade, não resolveremos o mundo." Entre outras coisas diz ainda que "qualquer cidade pode melhorar sua qualidade de vida, começar um avanço considerável, em menos de três anos. E não há escala de cidade ou condição financeira que impeça isso. Essa visão fatalista das cidades compreende não acreditar no ser humano. Se um dia eu deixar de acreditar no ser humano, prefiro deixar de viver."  Adicionei também uma palestra dele de 2007 em uma universidade americana. Clique ao lado nas Entrevistas e comente, a favor ou contra.
Abs José Antonio

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

INFRAERO: ATRASO NO "PUXADINHO"

José Antonio Lemos dos Santos


     No artigo passado tratei de uma boa notícia sobre o Aeroporto Marechal Rondon, seu duomilionésimo passageiro anual. Hoje trato de uma ruim, sobre o MOP, Módulo Operacional de Passageiros, o nosso até já simpático “puxadinho”. Sua montagem teria sido suspensa pelo novo superintendente local da Infraero, mas, segundo ele, ainda extra-oficialmente, apenas “uma decisão de suspender”, estranho para uma obra emergencial. Uma decisão dessa teria que ser rápida para se buscar logo a segunda colocada na licitação ou tomar outras medidas. A preocupação ultrapassa a obra em si, pois se estão enrolados com uma estrutura emergencial, pequena, pré-fabricada, como será com a estação definitiva, que precisa estar concluída até fins de 2012?
     Tem alguma coisa mal contada nesse novo capítulo da longa e sofrida história de nosso aeroporto. Relembrando, em 16 de julho de 2010 a Infraero declarou a DMDL vencedora da licitação para construção do MOP. Sendo uma obra de emergência, era de se esperar seu início imediato. Mas, os meses foram passando e nenhum sinal da obra. Para minha surpresa, só em 19 de novembro foi dada a Ordem de Serviço para início da obra emergencial, 4 meses após o resultado de sua licitação. 4 meses e nada de obras, só a Ordem de Serviço! Imagine se não fosse emergencial. Aliás, imagine se Cuiabá não fosse uma das sedes do grande projeto nacional da Copa de 2014.
     Algo ocorreu para tamanha demora nessa obra emergencial, de tipologia construtiva já usada pela Infraero e pela própria DMDL. Por que o atraso? E por que a firma desistiu depois? Pelo noticiário, a DMDL já executou esse serviço em Brasília, Goiânia, Vitória e Teresina, assim, com experiência de sobra nesse tipo de obra. Por que não faria em Cuiabá? Teriam sido problemas próprios ou externos? Teria alguma razão a pulga instalada atrás de minha orelha desde o dia 5 de novembro quando o site da Infraero noticiou a “conquista” junto a Sema/MT da licença ambiental prévia para as obras no aeroporto? O uso e repetição na matéria da expressão “conquista” me intrigou e fiz até um artigo sobre o assunto, buscando explicações e inclusive elogiando o então superintendente por uma nova postura otimista com as obras do aeroporto, ao manifestar sua alegria com a tal “conquista” e a licitação para o projeto da nova estação. De surpresa, foi substituído na virada do ano. Substituição de rotina? O atraso da Infraero na Ordem de Serviço para o MOP teria algo a ver com essa “conquista” junto à Sema/MT? Será que a Sema precisou de 4 meses para expedir a licença ambiental para uma obra provisória, pequena, no pátio de aeronaves de um dos aeroportos mais movimentados do país? A Infraero, a DMDL e a SEMA devem explicações.
     Essa questão precisa ser posta em pratos limpos pela Agecopa, a bem dos prazos de seu programa de obras. Para estas não se deve cobrar menos do que exigem as leis. Nem mais. Nem aceitar eventuais corpos moles. Se o atraso foi da Sema, devem ser apurados os motivos. Faltaria estrutura? Se não foi da Sema, foi mais uma vez da Infraero. Um alerta para se atentar aos projetos da nova estação de passageiros, com licitação homologada em 7 de dezembro, prazo de 6 meses sem poder atrasar. Só no último dia 21 foi dada a Ordem de Serviço. Quase dois meses depois, em um prazo de seis! Os serviços de projeto já começaram? Mais que explicações, cabe ao estado exigir da Infraero o início imediato do MOP e o projeto da nova estação pronto em junho para licitação da obra. Novas surpresas como estas serão irreparáveis. Assunto a ser tratado diretamente com a presidenta Dilma, como prometeu o governador Silval. E já, senão, babau.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 01/02/2011)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O DUOMILIONÉSIMO PASSAGEIRO

José Antonio Lemos dos Santos

     Antes do fim de 2010, em algum dia de dezembro, o Aeroporto Marechal Rondon recebeu seu duomilionésimo passageiro. Nada foi divulgado sobre ele, aliás, nem sei se a Infraero sabe - ou mesmo se interessou-se em saber - se era homem ou mulher, criança ou adulto, se estava de chegada ou de partida, de noite ou de dia. O que se sabe é que chegou ou partiu sem retrato e sem foguete, como diria Noel, sem tapete vermelho, ou qualquer mínima homenagem. Claro que sem qualquer autoridade, que evitam ter que justificar a situação vexatória pela qual passa, há anos, o principal aeroporto de Mato Grosso.
     Em 2010 o Marechal Rondon movimentou 2.134.267 passageiros, como previsto em artigo de agosto último. É um número extraordinário pois significa um aumento de 28% sobre o ano passado e 143% sobre 2005, apenas 5 anos atrás. Esses mesmos percentuais para o total dos aeroportos da Infraero foram de 20% e 60%, respectivamente, bem inferiores ao do Marechal Rondon. Foram 53.805 aeronaves, quase 150 por dia, ou, em média, mais de um avião a cada 10 minutos! Tal desempenho é para ser comemorado pois reflete o extraordinário desenvolvimento de Mato Grosso, que se consolida como o maior produtor agropecuário do país, responsável ao longo dos últimos anos pela maior parte do superavit do país em seu comércio internacional. Um estado que tem em sua grandeza territorial um fator determinante para seu sucesso, um estado a ser imitado e não dividido, tem também na forte demanda de sua logística de transportes uma das expressões de seu desenvolvimento. A lamentável incompetência ou negligência dos poderes públicos no atendimento dessa demanda, em especial da União, não pode empanar o brilho de mais esta marca do progresso estadual.
     No caso do aeroporto, nunca é de mais destacar a fantástica visão de futuro daqueles que em fins da década de 40 tiveram a coragem de destinar mais de 700 hectares ao sistema aeroviário que apenas engatinhava em nossa região. Era muita confiança no desenvolvimento da do estado e, principalmente da aviação, numa época em que o máximo que devia chegar por aqui eram alguns hoje primitivos biplanos do Correio Aéreo Nacional, em alguns dias da semana ou do mês. Tiveram a coragem porque tinham a visão correta do futuro. Verdadeiro profetas. Quantos de nós hoje teríamos essa audácia? Certamente para chamar de “elefante branco” teríamos muitos. Ainda mais com a sapiência de colocar o eixo da pista na continuidade do eixo do rio Cuiabá, antevendo uma futura inserção urbana que permite a convivência segura de um dos mais movimentados aeroportos do país em pleno centro da metrópole atual, com mínima impactância urbana do tráfego aéreo.
     O desprezo ao simbólico duomilionésimo passageiro, assim como aconteceu com o milionésimo em 2007, expressa o desprezo concreto de todas as autoridades das diversas instâncias, municipais, estaduais e federais, muito especialmente da Infraero, por todos os usuários do Aeroporto Marechal Rondon. Todas elas, ao longo dos anos, deixaram a situação chegar onde chegou no mínimo pela omissão. Quem sabe com a responsabilidade da Copa a situação mude e o trimilionésimo passageiro, previsto para 2012 possa ser melhor tratado, ao menos no “puxadinho”. Mas será preciso a urgente adoção de uma estratégia de guerra, com o estado indo atrás, incisivo, como já prometeu o governador Silval Barbosa. Ainda dá. O ex-presidente Lula assegurou que se fosse necessário o brasileiro trabalharia três turnos, mais sábados e domingos, para dar conta do compromisso internacional com a Copa. A presidenta Dilma cobrará. Brasília foi feita em três anos; uma estação de passageiros poderá ser feita em dois. Se de fato quiserem.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 25/01/2011)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

CIDADES, MARTÍRIO E ESPERANÇA

José Antonio Lemos dos Santos

     Ainda abalado renovo o comentário anual sobre as tragédias urbanas brasileiras de cada verão. Em abril do ano passado vislumbrei um “lusco-fusco” de esperança no discurso de algumas autoridades no Morro do Bumba, Niterói, que abandonavam o surrado chororô hipócrita de todos os anos com culpas a São Pedro ou a uma falsa falta de leis e planejamento, começando a falar em uma nova forma de administrar as cidades. Nem passou um ano e o drama se repete em cidades consolidadas, relativamente ricas, nos estados mais desenvolvidos do país, em especial na região serrana do Rio de Janeiro.
     Desta vez a lição parece ter sido forte o suficiente para ensinar que a culpa não é de chuvas ou de condições geotécnicas, mas de como administramos a construção e o funcionamento de nossas cidades em seu desenvolvimento cotidiano. Pelo menos este é o teor dos principais discursos e comentários técnicos. Após a catástrofe, é hora de reverenciar os mortos, lamber as feridas, amparar as vítimas e reconstruir. Mas que a reconstrução seja também um “momento de prevenção” evitando as re-ocupações de risco, como disse a presidenta Dilma. É importante que parta da maior autoridade do país a compreensão de que no Brasil a “moradia em zona de risco é regra e não exceção” e que essa situação tem que ser mudada. E para meus olhos de otimista militante, o “lusco-fusco” do ano passado fica agora mais luminoso. Quem sabe uma alvorada de esperança para nossas cidades?
     Este salto qualitativo não depende apenas de dinheiro, ciência ou tecnologia, que existem sim, mas, antes de tudo de uma revolução na gestão urbana. Chegar a ela é que é o problema. A origem dos males das cidades brasileiras é político, na sua essência mais primitiva e bárbara, de disputa pelo poder sobre a sociedade, suas coisas e pessoas. Em 1889 o Brasil definiu-se como uma República, isto é, uma res-publica, uma sociedade democrática cujo dono seria o cidadão, orientada e governada pelos interesses do povo e do bem comum. A política só se legitimaria nesse contexto republicano. Mas nas últimas décadas a cidadania foi assaltada nesse seu maior bem e as nossas cidades viraram um butim eleitoral, isto é, um prêmio de conquista a ser desfrutado ao bel prazer de seu conquistador. Longe de ser um bem comum, foram apoderadas por uma parte da sociedade, os políticos, que as tem como objetos de negociação em suas disputas não mais republicanas, em um jogo cada vez mais cruel. Por décadas a “desgraça do populismo”, na expressão do governador Sérgio Cabral, dirigiu a ocupação do solo urbano. E, criminosamente, ainda dirige, acrescento.
     O resgate da cidade para o cidadão é o grande desafio e requer muita coragem e determinação, que sobram na biografia da presidenta Dilma. Sem ele o projeto não é executado, o serviço não funciona, o dinheiro não chega para benefício do cidadão, e fica tudo como está. A cada ano, mais choro. Sem essa retomada persistirá o faroeste urbano com suas tragédias inevitáveis, sejam as concentradas em alguns dias, com maior poder de sensibilização, ou as que quase não vemos, diluídas nas pequenas tragédias urbanas de cada dia vindas do caos nas questões da moradia, do trânsito, do saneamento, da segurança, ...
     O Urbanismo é a ciência que enxerga a cidade como um todo e não se pode tratar as doenças da cidade sem tratar a cidade doente. Quem sabe tenha chegado a hora do povo brasileiro, tão sofrido e solidário, usufruir enfim dessa ciência que também precisou das trágicas epidemias do século XIX para vir à luz na história. Que o martírio de tantos, tantas vezes repetido, seja desta vez uma lição definitiva, ao menos uma forte luz de esperança de salvação para nossas cidades.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 18/01/2011)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

VINTE ANOS ATRÁS

José Antonio Lemos dos Santos


     Nessas arrumações de papelada velha que férias passadas em casa permitem, achei um artigo meu no desaparecido Jornal do Dia de 5 de janeiro de 1991, com um balanço do ano 1990 que findava. 20 anos separam dois mundos e a curiosidade foi inevitável. Aquele amarelecido artigo começava com as pendências deixadas por 89: ferrovia - é claro, Manso e a hoje esquecida saída para o Pacífico, via San Matias.
     Sobre a ferrovia era destacada a visita à fazenda Itamaraty do recém empossado presidente Collor. Como a fazenda era do então dono da Ferronorte e o novo ministro de Infra-Estrutura havia batizado o ano de 90 de “ano ferroviário”, havia esperança para a ferrovia com o novo governo. O artigo destacava ainda o compromisso do governador de São Paulo em construir a monumental ponte rodoferroviária sobre o rio Paraná, bem como o dispendioso encarte na revista Veja, patrocinado por Minas, Goiás e Espírito Santo, defendendo a passagem da ferrovia por seus territórios rumo ao porto de Vitória. Puxado pelo senador Vicente Vuolo, o sistema ferroviário da Ferronorte centrado em Cuiabá era então viabilíssimo e havia se transformado em um projeto nacional. Hoje querem fabricar-lhe uma inviabilidade econômica absurda.
     Sobre Manso, iniciada em 1988 e depois paralisada, o velho artigo comemorava a sua reinclusão no orçamento da União e cobrava dos políticos e demais lideranças empenho na efetivação desses recursos, o que só viria a acontecer 8 anos após, em 1998, funcionando a primeira unidade geradora no final de 2000. Mas a barragem está sub-aproveitada até hoje. Só funciona como reguladora da vazão do rio e como geradora de energia, sendo desprezados os demais aproveitamentos múltiplos para os quais foi projetada e que a compensam ambientalmente. Por que não aproveitá-la para a aqüicultura, irrigação e abastecimento de água por gravidade para Cuiabá e Várzea Grande? Quanto à saída para o Pacífico, só informava que a estrada avançava tanto no Brasil quanto na Bolívia sem se consolidar como um projeto internacional oficial e comemorava as viagens a San Matias que começavam a ficar comuns em 1990. E assim ficou até hoje. Pior, perdemos essa saída para o Pacífico para o Acre, para Mato Grosso do Sul e para os diversos tipos de tráficos.
     Sobre outros assuntos, comemorava a licença ambiental para a fábrica da Antártica, hoje a magnífica AMBEV, depois de uma longa novela que quase tirou a fábrica daqui. E reclamava: “Um estado que precisa de empregos e renda deve preparar-se para respostas mais rápidas e precisas na área do meio ambiente, principalmente a respeito de indústrias alimentícias e outros tipos de agroindústrias de impactos ambientais relativamente baixos. Se não pudermos ter esse tipo de indústria, que outro tipo de industrialização nos restaria?”
     Eram destaques as novas Leis Orgânicas de Cuiabá e Várzea Grande e a implantação do IPDU, cuja revitalização é esperada com a reforma administrativa do prefeito Chico Galindo. Saudava também as imagens da TV Educativa emitidas pela UFMT, reclamando o “absurdo” de não termos até então acesso às redes Manchete e SBT. O artigo realçava ainda a segunda vinda da seleção brasileira – só possíveis porque Cuiabá tinha um estádio para mais de 40 mil espectadores, a afirmação do hoje sumido Muxirum Cuiabano como o grande movimento cultural local, e Liu Arruda, com sua arte autêntica, criando tipos extraordinários. Encerra com a notícia da vinda do Papa João Paulo II a Cuiabá no ano seguinte, aquela que considera a mais importante notícia do ano de 1990.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 11/01/2011)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

NOTA N. 1 DAS ENTIDADES NACIONAIS

As entidades nacionais dos arquitetos: ABAP, ABEA, AsBEA, FNA e IAB, tendo em vista a Lei 12.378/2010 de 31/12/2010 que cria o CAU – Conselho de Arquitetura e Urbanismo – e, considerando a necessidade de informar e orientar a todos, vem a público esclarecer o que segue:

A Lei Federal n. 12.378/2010 que cria o CAU e regulamenta o exercício da profissão de arquiteto e urbanista, foi publicada do Diário Oficial da União no dia 31 de dezembro de 2010;

À exceção dos artigos 56 e 57 que tratam de três ações fundamentais: a transição do CREA para o CAU; o processo eleitoral e a definição da receita a ser repassada ao CAU, os demais entram em vigor quando o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil estiver estruturado;

Ao longo de 2011, os arquitetos e urbanistas inscritos nos diversos CREAs de todo país, continuarão sujeitos às normas do CREA vigentes até a instalação do CAU de seus respectivos Estados. Estando, portanto o profissional submetido às normas do CREA para a fiscalização e registro do exercício profissional;

De acordo com a que regulamenta o CAU (supracitada), cabe às Câmaras de Arquitetura, juntamente com as cinco entidades acima mencionadas, o gerenciamento de todo o processo de transição e de eleição.

Por fim, manifestamos aos profissionais e às entidades do SISTEMA CONFEA CREA, que os arquitetos farão o melhor possível para esta transição, reconhecendo a importância de todos para que o processo seja eficiente e que aconteça de forma rápida e segura, atendendo aos interesses da sociedade.

Informamos a todos que o site do CAU, www.cau.org.br, será atualizado constantemente com novidades a respeito do processo de criação do conselho.

Brasília, 3 de janeiro de 2011

Saide Kahtouni Presidente ABAP

José Antônio Lanchotti Presidente ABEA

Ronaldo Rezende Presidente AsBEA

Jefferson Salazar Presidente FNA

Gilson Paranhos Presidente IAB-DN

( http://www.cau.org.br/noticias.php?cod=28 )

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

2011 E O POTE DE OURO

José Antonio Lemos dos Santos


     A virada do século trouxe para Cuiabá seu melhor momento histórico em termos de potencialidades. Como bastião da brasilidade isolado no centro do continente, Cuiabá ajudou a conquistar, defender e desenvolver o vasto oeste brasileiro que hoje é uma das regiões mais dinâmicas do planeta. A produção regional explodiu em recordes nas últimas décadas e continua tendo em Cuiabá seu principal ponto de apoio urbano, agora em nível superior de demanda, como plataforma múltipla de consumo, em especial no comércio e serviços sofisticados, tipo educação, saúde, e assistência técnica especializada.
     A histórica simbiose regional foi renovada, costurando entre as cidades a divisão de trabalho mais útil e produtiva ao conjunto, assim como acontece na vanguarda do mundo globalizado. A ascensão de seu hinterland empurrou Cuiabá para cima. Ao mesmo tempo aconteceu uma série de projetos e investimentos fundamentais, como o gasoduto, a termelétrica, novo aeroporto, Manso, Porto Seco e o avanço da ferrovia rumo a Cuiabá, Santarém, Porto Velho. Reflexo dessa situação positiva, a cidade ainda recebeu o privilégio de ser uma das sedes da Copa do Mundo em 2014, um dos maiores e mais disputados eventos de massa do mundo. No rol de oportunidades o século XXI oferta a Cuiabá um pote de ouro, ou melhor, uma nova lavra aurífera, maior que aquelas de Sutil.
     É neste contexto sinérgico que Cuiabá chega a 2011, arrancando para aquele que chamo de seu terceiro salto de desenvolvimento. Tem tudo para ser o salto da qualidade, como muita demanda regional, riqueza e pouca imigração. Só que a cidade já deveria estar em muito melhores condições físicas e institucionais para viver este momento. Infelizmente não está. O processo de institucionalização da gestão urbana, que vinha evoluindo desde meados de 80 com a criação da SMADES, IPDU, Aglomerado Urbano e outras ferramentas, foi abortado nos últimos anos, justo quando devia dar seus mais completos frutos. Pior, os grandes projetos também. Cortaram o gás e pararam a termelétrica, o aeroporto e a ferrovia, para qual querem impingir uma inviabilidade fajuta. Não se fala mais em saída para o Pacífico e a duplicação Rondonópolis-Cuiabá segue a passos de quem não quer fazer. Por outro lado, providenciam a jato a ligação ferroviária de Lucas a Goiás e a ALL devolve à União os trechos da Ferronorte até Cuiabá e após Cuiabá.
     O atual salto histórico de Cuiabá vai muito além da Copa com suas 3 ou 4 dezenas de obras importantíssimas e marketing internacional. Mas é preciso saltar. O arranque até já começou pelo empurrão da história, vide o ritmo das construções e os empreendimentos como as fábricas têxtil e de cimento, hipermercados e novos hotéis. Agora é a vez da força da cidadania, com suas autoridades diretamente responsáveis e pagas para isso, e a participação do povo, torcendo, criticando, aplaudindo, reagindo às armações e, sobretudo cobrando seriedade com a cidade. A história não empurra amebas invertebradas e acríticas. O pote de ouro é a cidade dos nossos filhos e netos. Não temos o direito de perdê-lo pela omissão da comodidade ou covardia.
     2011 é a hora do cidadão, o dono da cidade, entrar em campo decidido a ganhar, com muita consciência para não fazer o jogo dos que ainda não assimilaram a Copa em Cuiabá, ou daqueles que possam querer se aproveitar das luzes nacionais e internacionais para se promoverem ao menor pretexto ou que queiram encher os bolsos indevidamente. Como seus anos imediatos, 2011 será de muita responsabilidade histórica para as gerações de cuiabanos vivos. Um preço que vale a pena pagar.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 04/01/2011)