José Antonio Lemos dos Santos
No artigo passado tratei de uma boa notícia sobre o Aeroporto Marechal Rondon, seu duomilionésimo passageiro anual. Hoje trato de uma ruim, sobre o MOP, Módulo Operacional de Passageiros, o nosso até já simpático “puxadinho”. Sua montagem teria sido suspensa pelo novo superintendente local da Infraero, mas, segundo ele, ainda extra-oficialmente, apenas “uma decisão de suspender”, estranho para uma obra emergencial. Uma decisão dessa teria que ser rápida para se buscar logo a segunda colocada na licitação ou tomar outras medidas. A preocupação ultrapassa a obra em si, pois se estão enrolados com uma estrutura emergencial, pequena, pré-fabricada, como será com a estação definitiva, que precisa estar concluída até fins de 2012?
Tem alguma coisa mal contada nesse novo capítulo da longa e sofrida história de nosso aeroporto. Relembrando, em 16 de julho de 2010 a Infraero declarou a DMDL vencedora da licitação para construção do MOP. Sendo uma obra de emergência, era de se esperar seu início imediato. Mas, os meses foram passando e nenhum sinal da obra. Para minha surpresa, só em 19 de novembro foi dada a Ordem de Serviço para início da obra emergencial, 4 meses após o resultado de sua licitação. 4 meses e nada de obras, só a Ordem de Serviço! Imagine se não fosse emergencial. Aliás, imagine se Cuiabá não fosse uma das sedes do grande projeto nacional da Copa de 2014.
Algo ocorreu para tamanha demora nessa obra emergencial, de tipologia construtiva já usada pela Infraero e pela própria DMDL. Por que o atraso? E por que a firma desistiu depois? Pelo noticiário, a DMDL já executou esse serviço em Brasília, Goiânia, Vitória e Teresina, assim, com experiência de sobra nesse tipo de obra. Por que não faria em Cuiabá? Teriam sido problemas próprios ou externos? Teria alguma razão a pulga instalada atrás de minha orelha desde o dia 5 de novembro quando o site da Infraero noticiou a “conquista” junto a Sema/MT da licença ambiental prévia para as obras no aeroporto? O uso e repetição na matéria da expressão “conquista” me intrigou e fiz até um artigo sobre o assunto, buscando explicações e inclusive elogiando o então superintendente por uma nova postura otimista com as obras do aeroporto, ao manifestar sua alegria com a tal “conquista” e a licitação para o projeto da nova estação. De surpresa, foi substituído na virada do ano. Substituição de rotina? O atraso da Infraero na Ordem de Serviço para o MOP teria algo a ver com essa “conquista” junto à Sema/MT? Será que a Sema precisou de 4 meses para expedir a licença ambiental para uma obra provisória, pequena, no pátio de aeronaves de um dos aeroportos mais movimentados do país? A Infraero, a DMDL e a SEMA devem explicações.
Essa questão precisa ser posta em pratos limpos pela Agecopa, a bem dos prazos de seu programa de obras. Para estas não se deve cobrar menos do que exigem as leis. Nem mais. Nem aceitar eventuais corpos moles. Se o atraso foi da Sema, devem ser apurados os motivos. Faltaria estrutura? Se não foi da Sema, foi mais uma vez da Infraero. Um alerta para se atentar aos projetos da nova estação de passageiros, com licitação homologada em 7 de dezembro, prazo de 6 meses sem poder atrasar. Só no último dia 21 foi dada a Ordem de Serviço. Quase dois meses depois, em um prazo de seis! Os serviços de projeto já começaram? Mais que explicações, cabe ao estado exigir da Infraero o início imediato do MOP e o projeto da nova estação pronto em junho para licitação da obra. Novas surpresas como estas serão irreparáveis. Assunto a ser tratado diretamente com a presidenta Dilma, como prometeu o governador Silval. E já, senão, babau.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 01/02/2011)
José Antonio Lemos dos Santos, arquiteto e urbanista, é professor universitário aposentado . Troféu "João Thimóteo"-1991-IAB/MT/ "Diploma do Mérito IAB 80 Anos"/ Troféu "O Construtor" - Sinduscon MT Ano 2000 / Arquiteto do Ano 2010 pelo CREA-MT/ Comenda do Legislativo Cuiabano 2018/ Ordem do Mérito Cuiabá 300 Anos da Câmara Municipal de Cuiabá 2019.
"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
O DUOMILIONÉSIMO PASSAGEIRO
José Antonio Lemos dos Santos
Antes do fim de 2010, em algum dia de dezembro, o Aeroporto Marechal Rondon recebeu seu duomilionésimo passageiro. Nada foi divulgado sobre ele, aliás, nem sei se a Infraero sabe - ou mesmo se interessou-se em saber - se era homem ou mulher, criança ou adulto, se estava de chegada ou de partida, de noite ou de dia. O que se sabe é que chegou ou partiu sem retrato e sem foguete, como diria Noel, sem tapete vermelho, ou qualquer mínima homenagem. Claro que sem qualquer autoridade, que evitam ter que justificar a situação vexatória pela qual passa, há anos, o principal aeroporto de Mato Grosso.
Em 2010 o Marechal Rondon movimentou 2.134.267 passageiros, como previsto em artigo de agosto último. É um número extraordinário pois significa um aumento de 28% sobre o ano passado e 143% sobre 2005, apenas 5 anos atrás. Esses mesmos percentuais para o total dos aeroportos da Infraero foram de 20% e 60%, respectivamente, bem inferiores ao do Marechal Rondon. Foram 53.805 aeronaves, quase 150 por dia, ou, em média, mais de um avião a cada 10 minutos! Tal desempenho é para ser comemorado pois reflete o extraordinário desenvolvimento de Mato Grosso, que se consolida como o maior produtor agropecuário do país, responsável ao longo dos últimos anos pela maior parte do superavit do país em seu comércio internacional. Um estado que tem em sua grandeza territorial um fator determinante para seu sucesso, um estado a ser imitado e não dividido, tem também na forte demanda de sua logística de transportes uma das expressões de seu desenvolvimento. A lamentável incompetência ou negligência dos poderes públicos no atendimento dessa demanda, em especial da União, não pode empanar o brilho de mais esta marca do progresso estadual.
No caso do aeroporto, nunca é de mais destacar a fantástica visão de futuro daqueles que em fins da década de 40 tiveram a coragem de destinar mais de 700 hectares ao sistema aeroviário que apenas engatinhava em nossa região. Era muita confiança no desenvolvimento da do estado e, principalmente da aviação, numa época em que o máximo que devia chegar por aqui eram alguns hoje primitivos biplanos do Correio Aéreo Nacional, em alguns dias da semana ou do mês. Tiveram a coragem porque tinham a visão correta do futuro. Verdadeiro profetas. Quantos de nós hoje teríamos essa audácia? Certamente para chamar de “elefante branco” teríamos muitos. Ainda mais com a sapiência de colocar o eixo da pista na continuidade do eixo do rio Cuiabá, antevendo uma futura inserção urbana que permite a convivência segura de um dos mais movimentados aeroportos do país em pleno centro da metrópole atual, com mínima impactância urbana do tráfego aéreo.
O desprezo ao simbólico duomilionésimo passageiro, assim como aconteceu com o milionésimo em 2007, expressa o desprezo concreto de todas as autoridades das diversas instâncias, municipais, estaduais e federais, muito especialmente da Infraero, por todos os usuários do Aeroporto Marechal Rondon. Todas elas, ao longo dos anos, deixaram a situação chegar onde chegou no mínimo pela omissão. Quem sabe com a responsabilidade da Copa a situação mude e o trimilionésimo passageiro, previsto para 2012 possa ser melhor tratado, ao menos no “puxadinho”. Mas será preciso a urgente adoção de uma estratégia de guerra, com o estado indo atrás, incisivo, como já prometeu o governador Silval Barbosa. Ainda dá. O ex-presidente Lula assegurou que se fosse necessário o brasileiro trabalharia três turnos, mais sábados e domingos, para dar conta do compromisso internacional com a Copa. A presidenta Dilma cobrará. Brasília foi feita em três anos; uma estação de passageiros poderá ser feita em dois. Se de fato quiserem.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 25/01/2011)
Antes do fim de 2010, em algum dia de dezembro, o Aeroporto Marechal Rondon recebeu seu duomilionésimo passageiro. Nada foi divulgado sobre ele, aliás, nem sei se a Infraero sabe - ou mesmo se interessou-se em saber - se era homem ou mulher, criança ou adulto, se estava de chegada ou de partida, de noite ou de dia. O que se sabe é que chegou ou partiu sem retrato e sem foguete, como diria Noel, sem tapete vermelho, ou qualquer mínima homenagem. Claro que sem qualquer autoridade, que evitam ter que justificar a situação vexatória pela qual passa, há anos, o principal aeroporto de Mato Grosso.
Em 2010 o Marechal Rondon movimentou 2.134.267 passageiros, como previsto em artigo de agosto último. É um número extraordinário pois significa um aumento de 28% sobre o ano passado e 143% sobre 2005, apenas 5 anos atrás. Esses mesmos percentuais para o total dos aeroportos da Infraero foram de 20% e 60%, respectivamente, bem inferiores ao do Marechal Rondon. Foram 53.805 aeronaves, quase 150 por dia, ou, em média, mais de um avião a cada 10 minutos! Tal desempenho é para ser comemorado pois reflete o extraordinário desenvolvimento de Mato Grosso, que se consolida como o maior produtor agropecuário do país, responsável ao longo dos últimos anos pela maior parte do superavit do país em seu comércio internacional. Um estado que tem em sua grandeza territorial um fator determinante para seu sucesso, um estado a ser imitado e não dividido, tem também na forte demanda de sua logística de transportes uma das expressões de seu desenvolvimento. A lamentável incompetência ou negligência dos poderes públicos no atendimento dessa demanda, em especial da União, não pode empanar o brilho de mais esta marca do progresso estadual.
No caso do aeroporto, nunca é de mais destacar a fantástica visão de futuro daqueles que em fins da década de 40 tiveram a coragem de destinar mais de 700 hectares ao sistema aeroviário que apenas engatinhava em nossa região. Era muita confiança no desenvolvimento da do estado e, principalmente da aviação, numa época em que o máximo que devia chegar por aqui eram alguns hoje primitivos biplanos do Correio Aéreo Nacional, em alguns dias da semana ou do mês. Tiveram a coragem porque tinham a visão correta do futuro. Verdadeiro profetas. Quantos de nós hoje teríamos essa audácia? Certamente para chamar de “elefante branco” teríamos muitos. Ainda mais com a sapiência de colocar o eixo da pista na continuidade do eixo do rio Cuiabá, antevendo uma futura inserção urbana que permite a convivência segura de um dos mais movimentados aeroportos do país em pleno centro da metrópole atual, com mínima impactância urbana do tráfego aéreo.
O desprezo ao simbólico duomilionésimo passageiro, assim como aconteceu com o milionésimo em 2007, expressa o desprezo concreto de todas as autoridades das diversas instâncias, municipais, estaduais e federais, muito especialmente da Infraero, por todos os usuários do Aeroporto Marechal Rondon. Todas elas, ao longo dos anos, deixaram a situação chegar onde chegou no mínimo pela omissão. Quem sabe com a responsabilidade da Copa a situação mude e o trimilionésimo passageiro, previsto para 2012 possa ser melhor tratado, ao menos no “puxadinho”. Mas será preciso a urgente adoção de uma estratégia de guerra, com o estado indo atrás, incisivo, como já prometeu o governador Silval Barbosa. Ainda dá. O ex-presidente Lula assegurou que se fosse necessário o brasileiro trabalharia três turnos, mais sábados e domingos, para dar conta do compromisso internacional com a Copa. A presidenta Dilma cobrará. Brasília foi feita em três anos; uma estação de passageiros poderá ser feita em dois. Se de fato quiserem.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 25/01/2011)
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
CIDADES, MARTÍRIO E ESPERANÇA
José Antonio Lemos dos Santos
Ainda abalado renovo o comentário anual sobre as tragédias urbanas brasileiras de cada verão. Em abril do ano passado vislumbrei um “lusco-fusco” de esperança no discurso de algumas autoridades no Morro do Bumba, Niterói, que abandonavam o surrado chororô hipócrita de todos os anos com culpas a São Pedro ou a uma falsa falta de leis e planejamento, começando a falar em uma nova forma de administrar as cidades. Nem passou um ano e o drama se repete em cidades consolidadas, relativamente ricas, nos estados mais desenvolvidos do país, em especial na região serrana do Rio de Janeiro.
Desta vez a lição parece ter sido forte o suficiente para ensinar que a culpa não é de chuvas ou de condições geotécnicas, mas de como administramos a construção e o funcionamento de nossas cidades em seu desenvolvimento cotidiano. Pelo menos este é o teor dos principais discursos e comentários técnicos. Após a catástrofe, é hora de reverenciar os mortos, lamber as feridas, amparar as vítimas e reconstruir. Mas que a reconstrução seja também um “momento de prevenção” evitando as re-ocupações de risco, como disse a presidenta Dilma. É importante que parta da maior autoridade do país a compreensão de que no Brasil a “moradia em zona de risco é regra e não exceção” e que essa situação tem que ser mudada. E para meus olhos de otimista militante, o “lusco-fusco” do ano passado fica agora mais luminoso. Quem sabe uma alvorada de esperança para nossas cidades?
Este salto qualitativo não depende apenas de dinheiro, ciência ou tecnologia, que existem sim, mas, antes de tudo de uma revolução na gestão urbana. Chegar a ela é que é o problema. A origem dos males das cidades brasileiras é político, na sua essência mais primitiva e bárbara, de disputa pelo poder sobre a sociedade, suas coisas e pessoas. Em 1889 o Brasil definiu-se como uma República, isto é, uma res-publica, uma sociedade democrática cujo dono seria o cidadão, orientada e governada pelos interesses do povo e do bem comum. A política só se legitimaria nesse contexto republicano. Mas nas últimas décadas a cidadania foi assaltada nesse seu maior bem e as nossas cidades viraram um butim eleitoral, isto é, um prêmio de conquista a ser desfrutado ao bel prazer de seu conquistador. Longe de ser um bem comum, foram apoderadas por uma parte da sociedade, os políticos, que as tem como objetos de negociação em suas disputas não mais republicanas, em um jogo cada vez mais cruel. Por décadas a “desgraça do populismo”, na expressão do governador Sérgio Cabral, dirigiu a ocupação do solo urbano. E, criminosamente, ainda dirige, acrescento.
O resgate da cidade para o cidadão é o grande desafio e requer muita coragem e determinação, que sobram na biografia da presidenta Dilma. Sem ele o projeto não é executado, o serviço não funciona, o dinheiro não chega para benefício do cidadão, e fica tudo como está. A cada ano, mais choro. Sem essa retomada persistirá o faroeste urbano com suas tragédias inevitáveis, sejam as concentradas em alguns dias, com maior poder de sensibilização, ou as que quase não vemos, diluídas nas pequenas tragédias urbanas de cada dia vindas do caos nas questões da moradia, do trânsito, do saneamento, da segurança, ...
O Urbanismo é a ciência que enxerga a cidade como um todo e não se pode tratar as doenças da cidade sem tratar a cidade doente. Quem sabe tenha chegado a hora do povo brasileiro, tão sofrido e solidário, usufruir enfim dessa ciência que também precisou das trágicas epidemias do século XIX para vir à luz na história. Que o martírio de tantos, tantas vezes repetido, seja desta vez uma lição definitiva, ao menos uma forte luz de esperança de salvação para nossas cidades.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 18/01/2011)
Ainda abalado renovo o comentário anual sobre as tragédias urbanas brasileiras de cada verão. Em abril do ano passado vislumbrei um “lusco-fusco” de esperança no discurso de algumas autoridades no Morro do Bumba, Niterói, que abandonavam o surrado chororô hipócrita de todos os anos com culpas a São Pedro ou a uma falsa falta de leis e planejamento, começando a falar em uma nova forma de administrar as cidades. Nem passou um ano e o drama se repete em cidades consolidadas, relativamente ricas, nos estados mais desenvolvidos do país, em especial na região serrana do Rio de Janeiro.
Desta vez a lição parece ter sido forte o suficiente para ensinar que a culpa não é de chuvas ou de condições geotécnicas, mas de como administramos a construção e o funcionamento de nossas cidades em seu desenvolvimento cotidiano. Pelo menos este é o teor dos principais discursos e comentários técnicos. Após a catástrofe, é hora de reverenciar os mortos, lamber as feridas, amparar as vítimas e reconstruir. Mas que a reconstrução seja também um “momento de prevenção” evitando as re-ocupações de risco, como disse a presidenta Dilma. É importante que parta da maior autoridade do país a compreensão de que no Brasil a “moradia em zona de risco é regra e não exceção” e que essa situação tem que ser mudada. E para meus olhos de otimista militante, o “lusco-fusco” do ano passado fica agora mais luminoso. Quem sabe uma alvorada de esperança para nossas cidades?
Este salto qualitativo não depende apenas de dinheiro, ciência ou tecnologia, que existem sim, mas, antes de tudo de uma revolução na gestão urbana. Chegar a ela é que é o problema. A origem dos males das cidades brasileiras é político, na sua essência mais primitiva e bárbara, de disputa pelo poder sobre a sociedade, suas coisas e pessoas. Em 1889 o Brasil definiu-se como uma República, isto é, uma res-publica, uma sociedade democrática cujo dono seria o cidadão, orientada e governada pelos interesses do povo e do bem comum. A política só se legitimaria nesse contexto republicano. Mas nas últimas décadas a cidadania foi assaltada nesse seu maior bem e as nossas cidades viraram um butim eleitoral, isto é, um prêmio de conquista a ser desfrutado ao bel prazer de seu conquistador. Longe de ser um bem comum, foram apoderadas por uma parte da sociedade, os políticos, que as tem como objetos de negociação em suas disputas não mais republicanas, em um jogo cada vez mais cruel. Por décadas a “desgraça do populismo”, na expressão do governador Sérgio Cabral, dirigiu a ocupação do solo urbano. E, criminosamente, ainda dirige, acrescento.
O resgate da cidade para o cidadão é o grande desafio e requer muita coragem e determinação, que sobram na biografia da presidenta Dilma. Sem ele o projeto não é executado, o serviço não funciona, o dinheiro não chega para benefício do cidadão, e fica tudo como está. A cada ano, mais choro. Sem essa retomada persistirá o faroeste urbano com suas tragédias inevitáveis, sejam as concentradas em alguns dias, com maior poder de sensibilização, ou as que quase não vemos, diluídas nas pequenas tragédias urbanas de cada dia vindas do caos nas questões da moradia, do trânsito, do saneamento, da segurança, ...
O Urbanismo é a ciência que enxerga a cidade como um todo e não se pode tratar as doenças da cidade sem tratar a cidade doente. Quem sabe tenha chegado a hora do povo brasileiro, tão sofrido e solidário, usufruir enfim dessa ciência que também precisou das trágicas epidemias do século XIX para vir à luz na história. Que o martírio de tantos, tantas vezes repetido, seja desta vez uma lição definitiva, ao menos uma forte luz de esperança de salvação para nossas cidades.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 18/01/2011)
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terça-feira, 11 de janeiro de 2011
VINTE ANOS ATRÁS
José Antonio Lemos dos Santos
Nessas arrumações de papelada velha que férias passadas em casa permitem, achei um artigo meu no desaparecido Jornal do Dia de 5 de janeiro de 1991, com um balanço do ano 1990 que findava. 20 anos separam dois mundos e a curiosidade foi inevitável. Aquele amarelecido artigo começava com as pendências deixadas por 89: ferrovia - é claro, Manso e a hoje esquecida saída para o Pacífico, via San Matias.
Sobre a ferrovia era destacada a visita à fazenda Itamaraty do recém empossado presidente Collor. Como a fazenda era do então dono da Ferronorte e o novo ministro de Infra-Estrutura havia batizado o ano de 90 de “ano ferroviário”, havia esperança para a ferrovia com o novo governo. O artigo destacava ainda o compromisso do governador de São Paulo em construir a monumental ponte rodoferroviária sobre o rio Paraná, bem como o dispendioso encarte na revista Veja, patrocinado por Minas, Goiás e Espírito Santo, defendendo a passagem da ferrovia por seus territórios rumo ao porto de Vitória. Puxado pelo senador Vicente Vuolo, o sistema ferroviário da Ferronorte centrado em Cuiabá era então viabilíssimo e havia se transformado em um projeto nacional. Hoje querem fabricar-lhe uma inviabilidade econômica absurda.
Sobre Manso, iniciada em 1988 e depois paralisada, o velho artigo comemorava a sua reinclusão no orçamento da União e cobrava dos políticos e demais lideranças empenho na efetivação desses recursos, o que só viria a acontecer 8 anos após, em 1998, funcionando a primeira unidade geradora no final de 2000. Mas a barragem está sub-aproveitada até hoje. Só funciona como reguladora da vazão do rio e como geradora de energia, sendo desprezados os demais aproveitamentos múltiplos para os quais foi projetada e que a compensam ambientalmente. Por que não aproveitá-la para a aqüicultura, irrigação e abastecimento de água por gravidade para Cuiabá e Várzea Grande? Quanto à saída para o Pacífico, só informava que a estrada avançava tanto no Brasil quanto na Bolívia sem se consolidar como um projeto internacional oficial e comemorava as viagens a San Matias que começavam a ficar comuns em 1990. E assim ficou até hoje. Pior, perdemos essa saída para o Pacífico para o Acre, para Mato Grosso do Sul e para os diversos tipos de tráficos.
Sobre outros assuntos, comemorava a licença ambiental para a fábrica da Antártica, hoje a magnífica AMBEV, depois de uma longa novela que quase tirou a fábrica daqui. E reclamava: “Um estado que precisa de empregos e renda deve preparar-se para respostas mais rápidas e precisas na área do meio ambiente, principalmente a respeito de indústrias alimentícias e outros tipos de agroindústrias de impactos ambientais relativamente baixos. Se não pudermos ter esse tipo de indústria, que outro tipo de industrialização nos restaria?”
Eram destaques as novas Leis Orgânicas de Cuiabá e Várzea Grande e a implantação do IPDU, cuja revitalização é esperada com a reforma administrativa do prefeito Chico Galindo. Saudava também as imagens da TV Educativa emitidas pela UFMT, reclamando o “absurdo” de não termos até então acesso às redes Manchete e SBT. O artigo realçava ainda a segunda vinda da seleção brasileira – só possíveis porque Cuiabá tinha um estádio para mais de 40 mil espectadores, a afirmação do hoje sumido Muxirum Cuiabano como o grande movimento cultural local, e Liu Arruda, com sua arte autêntica, criando tipos extraordinários. Encerra com a notícia da vinda do Papa João Paulo II a Cuiabá no ano seguinte, aquela que considera a mais importante notícia do ano de 1990.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 11/01/2011)
Nessas arrumações de papelada velha que férias passadas em casa permitem, achei um artigo meu no desaparecido Jornal do Dia de 5 de janeiro de 1991, com um balanço do ano 1990 que findava. 20 anos separam dois mundos e a curiosidade foi inevitável. Aquele amarelecido artigo começava com as pendências deixadas por 89: ferrovia - é claro, Manso e a hoje esquecida saída para o Pacífico, via San Matias.
Sobre a ferrovia era destacada a visita à fazenda Itamaraty do recém empossado presidente Collor. Como a fazenda era do então dono da Ferronorte e o novo ministro de Infra-Estrutura havia batizado o ano de 90 de “ano ferroviário”, havia esperança para a ferrovia com o novo governo. O artigo destacava ainda o compromisso do governador de São Paulo em construir a monumental ponte rodoferroviária sobre o rio Paraná, bem como o dispendioso encarte na revista Veja, patrocinado por Minas, Goiás e Espírito Santo, defendendo a passagem da ferrovia por seus territórios rumo ao porto de Vitória. Puxado pelo senador Vicente Vuolo, o sistema ferroviário da Ferronorte centrado em Cuiabá era então viabilíssimo e havia se transformado em um projeto nacional. Hoje querem fabricar-lhe uma inviabilidade econômica absurda.
Sobre Manso, iniciada em 1988 e depois paralisada, o velho artigo comemorava a sua reinclusão no orçamento da União e cobrava dos políticos e demais lideranças empenho na efetivação desses recursos, o que só viria a acontecer 8 anos após, em 1998, funcionando a primeira unidade geradora no final de 2000. Mas a barragem está sub-aproveitada até hoje. Só funciona como reguladora da vazão do rio e como geradora de energia, sendo desprezados os demais aproveitamentos múltiplos para os quais foi projetada e que a compensam ambientalmente. Por que não aproveitá-la para a aqüicultura, irrigação e abastecimento de água por gravidade para Cuiabá e Várzea Grande? Quanto à saída para o Pacífico, só informava que a estrada avançava tanto no Brasil quanto na Bolívia sem se consolidar como um projeto internacional oficial e comemorava as viagens a San Matias que começavam a ficar comuns em 1990. E assim ficou até hoje. Pior, perdemos essa saída para o Pacífico para o Acre, para Mato Grosso do Sul e para os diversos tipos de tráficos.
Sobre outros assuntos, comemorava a licença ambiental para a fábrica da Antártica, hoje a magnífica AMBEV, depois de uma longa novela que quase tirou a fábrica daqui. E reclamava: “Um estado que precisa de empregos e renda deve preparar-se para respostas mais rápidas e precisas na área do meio ambiente, principalmente a respeito de indústrias alimentícias e outros tipos de agroindústrias de impactos ambientais relativamente baixos. Se não pudermos ter esse tipo de indústria, que outro tipo de industrialização nos restaria?”
Eram destaques as novas Leis Orgânicas de Cuiabá e Várzea Grande e a implantação do IPDU, cuja revitalização é esperada com a reforma administrativa do prefeito Chico Galindo. Saudava também as imagens da TV Educativa emitidas pela UFMT, reclamando o “absurdo” de não termos até então acesso às redes Manchete e SBT. O artigo realçava ainda a segunda vinda da seleção brasileira – só possíveis porque Cuiabá tinha um estádio para mais de 40 mil espectadores, a afirmação do hoje sumido Muxirum Cuiabano como o grande movimento cultural local, e Liu Arruda, com sua arte autêntica, criando tipos extraordinários. Encerra com a notícia da vinda do Papa João Paulo II a Cuiabá no ano seguinte, aquela que considera a mais importante notícia do ano de 1990.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 11/01/2011)
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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
NOTA N. 1 DAS ENTIDADES NACIONAIS
As entidades nacionais dos arquitetos: ABAP, ABEA, AsBEA, FNA e IAB, tendo em vista a Lei 12.378/2010 de 31/12/2010 que cria o CAU – Conselho de Arquitetura e Urbanismo – e, considerando a necessidade de informar e orientar a todos, vem a público esclarecer o que segue:
A Lei Federal n. 12.378/2010 que cria o CAU e regulamenta o exercício da profissão de arquiteto e urbanista, foi publicada do Diário Oficial da União no dia 31 de dezembro de 2010;
À exceção dos artigos 56 e 57 que tratam de três ações fundamentais: a transição do CREA para o CAU; o processo eleitoral e a definição da receita a ser repassada ao CAU, os demais entram em vigor quando o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil estiver estruturado;
Ao longo de 2011, os arquitetos e urbanistas inscritos nos diversos CREAs de todo país, continuarão sujeitos às normas do CREA vigentes até a instalação do CAU de seus respectivos Estados. Estando, portanto o profissional submetido às normas do CREA para a fiscalização e registro do exercício profissional;
De acordo com a que regulamenta o CAU (supracitada), cabe às Câmaras de Arquitetura, juntamente com as cinco entidades acima mencionadas, o gerenciamento de todo o processo de transição e de eleição.
Por fim, manifestamos aos profissionais e às entidades do SISTEMA CONFEA CREA, que os arquitetos farão o melhor possível para esta transição, reconhecendo a importância de todos para que o processo seja eficiente e que aconteça de forma rápida e segura, atendendo aos interesses da sociedade.
Informamos a todos que o site do CAU, www.cau.org.br, será atualizado constantemente com novidades a respeito do processo de criação do conselho.
Brasília, 3 de janeiro de 2011
Saide Kahtouni Presidente ABAP
José Antônio Lanchotti Presidente ABEA
Ronaldo Rezende Presidente AsBEA
Jefferson Salazar Presidente FNA
Gilson Paranhos Presidente IAB-DN
( http://www.cau.org.br/noticias.php?cod=28 )
A Lei Federal n. 12.378/2010 que cria o CAU e regulamenta o exercício da profissão de arquiteto e urbanista, foi publicada do Diário Oficial da União no dia 31 de dezembro de 2010;
À exceção dos artigos 56 e 57 que tratam de três ações fundamentais: a transição do CREA para o CAU; o processo eleitoral e a definição da receita a ser repassada ao CAU, os demais entram em vigor quando o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil estiver estruturado;
Ao longo de 2011, os arquitetos e urbanistas inscritos nos diversos CREAs de todo país, continuarão sujeitos às normas do CREA vigentes até a instalação do CAU de seus respectivos Estados. Estando, portanto o profissional submetido às normas do CREA para a fiscalização e registro do exercício profissional;
De acordo com a que regulamenta o CAU (supracitada), cabe às Câmaras de Arquitetura, juntamente com as cinco entidades acima mencionadas, o gerenciamento de todo o processo de transição e de eleição.
Por fim, manifestamos aos profissionais e às entidades do SISTEMA CONFEA CREA, que os arquitetos farão o melhor possível para esta transição, reconhecendo a importância de todos para que o processo seja eficiente e que aconteça de forma rápida e segura, atendendo aos interesses da sociedade.
Informamos a todos que o site do CAU, www.cau.org.br, será atualizado constantemente com novidades a respeito do processo de criação do conselho.
Brasília, 3 de janeiro de 2011
Saide Kahtouni Presidente ABAP
José Antônio Lanchotti Presidente ABEA
Ronaldo Rezende Presidente AsBEA
Jefferson Salazar Presidente FNA
Gilson Paranhos Presidente IAB-DN
( http://www.cau.org.br/noticias.php?cod=28 )
quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
2011 E O POTE DE OURO
José Antonio Lemos dos Santos
A virada do século trouxe para Cuiabá seu melhor momento histórico em termos de potencialidades. Como bastião da brasilidade isolado no centro do continente, Cuiabá ajudou a conquistar, defender e desenvolver o vasto oeste brasileiro que hoje é uma das regiões mais dinâmicas do planeta. A produção regional explodiu em recordes nas últimas décadas e continua tendo em Cuiabá seu principal ponto de apoio urbano, agora em nível superior de demanda, como plataforma múltipla de consumo, em especial no comércio e serviços sofisticados, tipo educação, saúde, e assistência técnica especializada.
A histórica simbiose regional foi renovada, costurando entre as cidades a divisão de trabalho mais útil e produtiva ao conjunto, assim como acontece na vanguarda do mundo globalizado. A ascensão de seu hinterland empurrou Cuiabá para cima. Ao mesmo tempo aconteceu uma série de projetos e investimentos fundamentais, como o gasoduto, a termelétrica, novo aeroporto, Manso, Porto Seco e o avanço da ferrovia rumo a Cuiabá, Santarém, Porto Velho. Reflexo dessa situação positiva, a cidade ainda recebeu o privilégio de ser uma das sedes da Copa do Mundo em 2014, um dos maiores e mais disputados eventos de massa do mundo. No rol de oportunidades o século XXI oferta a Cuiabá um pote de ouro, ou melhor, uma nova lavra aurífera, maior que aquelas de Sutil.
É neste contexto sinérgico que Cuiabá chega a 2011, arrancando para aquele que chamo de seu terceiro salto de desenvolvimento. Tem tudo para ser o salto da qualidade, como muita demanda regional, riqueza e pouca imigração. Só que a cidade já deveria estar em muito melhores condições físicas e institucionais para viver este momento. Infelizmente não está. O processo de institucionalização da gestão urbana, que vinha evoluindo desde meados de 80 com a criação da SMADES, IPDU, Aglomerado Urbano e outras ferramentas, foi abortado nos últimos anos, justo quando devia dar seus mais completos frutos. Pior, os grandes projetos também. Cortaram o gás e pararam a termelétrica, o aeroporto e a ferrovia, para qual querem impingir uma inviabilidade fajuta. Não se fala mais em saída para o Pacífico e a duplicação Rondonópolis-Cuiabá segue a passos de quem não quer fazer. Por outro lado, providenciam a jato a ligação ferroviária de Lucas a Goiás e a ALL devolve à União os trechos da Ferronorte até Cuiabá e após Cuiabá.
O atual salto histórico de Cuiabá vai muito além da Copa com suas 3 ou 4 dezenas de obras importantíssimas e marketing internacional. Mas é preciso saltar. O arranque até já começou pelo empurrão da história, vide o ritmo das construções e os empreendimentos como as fábricas têxtil e de cimento, hipermercados e novos hotéis. Agora é a vez da força da cidadania, com suas autoridades diretamente responsáveis e pagas para isso, e a participação do povo, torcendo, criticando, aplaudindo, reagindo às armações e, sobretudo cobrando seriedade com a cidade. A história não empurra amebas invertebradas e acríticas. O pote de ouro é a cidade dos nossos filhos e netos. Não temos o direito de perdê-lo pela omissão da comodidade ou covardia.
2011 é a hora do cidadão, o dono da cidade, entrar em campo decidido a ganhar, com muita consciência para não fazer o jogo dos que ainda não assimilaram a Copa em Cuiabá, ou daqueles que possam querer se aproveitar das luzes nacionais e internacionais para se promoverem ao menor pretexto ou que queiram encher os bolsos indevidamente. Como seus anos imediatos, 2011 será de muita responsabilidade histórica para as gerações de cuiabanos vivos. Um preço que vale a pena pagar.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 04/01/2011)
A virada do século trouxe para Cuiabá seu melhor momento histórico em termos de potencialidades. Como bastião da brasilidade isolado no centro do continente, Cuiabá ajudou a conquistar, defender e desenvolver o vasto oeste brasileiro que hoje é uma das regiões mais dinâmicas do planeta. A produção regional explodiu em recordes nas últimas décadas e continua tendo em Cuiabá seu principal ponto de apoio urbano, agora em nível superior de demanda, como plataforma múltipla de consumo, em especial no comércio e serviços sofisticados, tipo educação, saúde, e assistência técnica especializada.
A histórica simbiose regional foi renovada, costurando entre as cidades a divisão de trabalho mais útil e produtiva ao conjunto, assim como acontece na vanguarda do mundo globalizado. A ascensão de seu hinterland empurrou Cuiabá para cima. Ao mesmo tempo aconteceu uma série de projetos e investimentos fundamentais, como o gasoduto, a termelétrica, novo aeroporto, Manso, Porto Seco e o avanço da ferrovia rumo a Cuiabá, Santarém, Porto Velho. Reflexo dessa situação positiva, a cidade ainda recebeu o privilégio de ser uma das sedes da Copa do Mundo em 2014, um dos maiores e mais disputados eventos de massa do mundo. No rol de oportunidades o século XXI oferta a Cuiabá um pote de ouro, ou melhor, uma nova lavra aurífera, maior que aquelas de Sutil.
É neste contexto sinérgico que Cuiabá chega a 2011, arrancando para aquele que chamo de seu terceiro salto de desenvolvimento. Tem tudo para ser o salto da qualidade, como muita demanda regional, riqueza e pouca imigração. Só que a cidade já deveria estar em muito melhores condições físicas e institucionais para viver este momento. Infelizmente não está. O processo de institucionalização da gestão urbana, que vinha evoluindo desde meados de 80 com a criação da SMADES, IPDU, Aglomerado Urbano e outras ferramentas, foi abortado nos últimos anos, justo quando devia dar seus mais completos frutos. Pior, os grandes projetos também. Cortaram o gás e pararam a termelétrica, o aeroporto e a ferrovia, para qual querem impingir uma inviabilidade fajuta. Não se fala mais em saída para o Pacífico e a duplicação Rondonópolis-Cuiabá segue a passos de quem não quer fazer. Por outro lado, providenciam a jato a ligação ferroviária de Lucas a Goiás e a ALL devolve à União os trechos da Ferronorte até Cuiabá e após Cuiabá.
O atual salto histórico de Cuiabá vai muito além da Copa com suas 3 ou 4 dezenas de obras importantíssimas e marketing internacional. Mas é preciso saltar. O arranque até já começou pelo empurrão da história, vide o ritmo das construções e os empreendimentos como as fábricas têxtil e de cimento, hipermercados e novos hotéis. Agora é a vez da força da cidadania, com suas autoridades diretamente responsáveis e pagas para isso, e a participação do povo, torcendo, criticando, aplaudindo, reagindo às armações e, sobretudo cobrando seriedade com a cidade. A história não empurra amebas invertebradas e acríticas. O pote de ouro é a cidade dos nossos filhos e netos. Não temos o direito de perdê-lo pela omissão da comodidade ou covardia.
2011 é a hora do cidadão, o dono da cidade, entrar em campo decidido a ganhar, com muita consciência para não fazer o jogo dos que ainda não assimilaram a Copa em Cuiabá, ou daqueles que possam querer se aproveitar das luzes nacionais e internacionais para se promoverem ao menor pretexto ou que queiram encher os bolsos indevidamente. Como seus anos imediatos, 2011 será de muita responsabilidade histórica para as gerações de cuiabanos vivos. Um preço que vale a pena pagar.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 04/01/2011)
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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
UM NOVO DIA DE UM NOVO TEMPO
Um dos últimos atos de Lula como Presidente da República foi a sanção da lei que cria o Conselho Federal de Arquitetura e Urbanismo (CAU) e regulamenta a profissão de arquitetura e urbanismo no Brasil. Eram 17h41 de ontem, em Brasília, quando o Presidente assinou a lei, culminando mais de 50 anos de luta dos arquitetos por seu conselho próprio. O dia 30 de dezembro de 2010 passa a ser uma data histórica para todos os arquitetos e a arquitetura brasileira. O ato de assinatura foi testemunhado pelos integrantes do Colégio Brasileiro de Arquitetos, presentes à solenidade no Palácio do Planalto (foto).
Cada unidade da federação terá de criar o seu CAU estadual no prazo máximo de 360 dias por meio das atuais câmaras de arquitetura e urbanismo dos conselhos regionais do CREA (que serão extintas). Os conselhos estaduais do CAU serão autarquias federais, dotadas de personalidade jurídica no campo do direito público, criadas, fundamentalmente, para defender a sociedade do exercício ilegal e incorreto dos profissionais de arquitetura e urbanista. Serão, deste modo, fiscalizadas pelo Tribunal de Contas da União e auditadas, anualmente, por auditoria independente.
As atribuições do arquiteto e urbanista, agora definidas em lei (antes era por meio de resolução), são as seguintes: concepção e execução de projetos de arquitetura e urbanismo, arquitetura paisagística, arquitetura de interiores, patrimônio histórico cultural e artístico, planejamento urbano e regional, topografia, tecnologia e resistência dos materiais, instalações e equipamentos referentes à arquitetura e urbanismo, sistemas construtivos e estruturais, conforto ambiental, meio ambiente, estudo e avaliação dos impactos ambientais, licenciamento ambiental, utilização racional dos recursos disponíveis e desenvolvimento sustentável.
Todo arquiteto que quiser exercer a profissão terá que se registrar no CAU de seu Estado. Passa a exercer ilegalmente a profissão aquele que não se registrar, não havendo a opção de se registrar no CREA para exercer a profissão. Fica, também, vetado o uso da expressão “arquitetura e urbanismo” em empresas que não possuam profissionais com essa formação. O arquiteto que possuir uma empresa de construção civil não precisará se inscrever no CAU e no CREA. Dentre as habilidades dos arquitetos e urbanistas, encontra-se a de execução de obras civis. Sendo assim e reconhecendo essa habilidade profissional, apenas o registro no CAU de uma empresa de construção de um arquiteto e urbanista ou sociedade de arquitetos e urbanistas é suficiente.
Em resumo, não há a menor dúvida de que ontem foi, antes mesmo do ano terminar, “... um novo dia de um novo tempo que começou" para os arquitetos, a arquitetura nacional e, por extensão, para toda a sociedade brasileira. Tim, tim!
(Do blog http://espiritodegeometria.blogspot.com/2010/12/um-novo-dia-de-um-novo-tempo.html , do arquiteto Antonio Rocha Júnior)
Cada unidade da federação terá de criar o seu CAU estadual no prazo máximo de 360 dias por meio das atuais câmaras de arquitetura e urbanismo dos conselhos regionais do CREA (que serão extintas). Os conselhos estaduais do CAU serão autarquias federais, dotadas de personalidade jurídica no campo do direito público, criadas, fundamentalmente, para defender a sociedade do exercício ilegal e incorreto dos profissionais de arquitetura e urbanista. Serão, deste modo, fiscalizadas pelo Tribunal de Contas da União e auditadas, anualmente, por auditoria independente.
As atribuições do arquiteto e urbanista, agora definidas em lei (antes era por meio de resolução), são as seguintes: concepção e execução de projetos de arquitetura e urbanismo, arquitetura paisagística, arquitetura de interiores, patrimônio histórico cultural e artístico, planejamento urbano e regional, topografia, tecnologia e resistência dos materiais, instalações e equipamentos referentes à arquitetura e urbanismo, sistemas construtivos e estruturais, conforto ambiental, meio ambiente, estudo e avaliação dos impactos ambientais, licenciamento ambiental, utilização racional dos recursos disponíveis e desenvolvimento sustentável.
Todo arquiteto que quiser exercer a profissão terá que se registrar no CAU de seu Estado. Passa a exercer ilegalmente a profissão aquele que não se registrar, não havendo a opção de se registrar no CREA para exercer a profissão. Fica, também, vetado o uso da expressão “arquitetura e urbanismo” em empresas que não possuam profissionais com essa formação. O arquiteto que possuir uma empresa de construção civil não precisará se inscrever no CAU e no CREA. Dentre as habilidades dos arquitetos e urbanistas, encontra-se a de execução de obras civis. Sendo assim e reconhecendo essa habilidade profissional, apenas o registro no CAU de uma empresa de construção de um arquiteto e urbanista ou sociedade de arquitetos e urbanistas é suficiente.
Em resumo, não há a menor dúvida de que ontem foi, antes mesmo do ano terminar, “... um novo dia de um novo tempo que começou" para os arquitetos, a arquitetura nacional e, por extensão, para toda a sociedade brasileira. Tim, tim!
(Do blog http://espiritodegeometria.blogspot.com/2010/12/um-novo-dia-de-um-novo-tempo.html , do arquiteto Antonio Rocha Júnior)
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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
MARCAS DE 2010
José Antonio Lemos dos Santos
A cidade do futuro é a cidade que construímos hoje. Nós com nossa casinha, borracharia, comércio, etc. e os governos com as obras infraestruturais, o planejamento e o controle do grande bem comum. Quanto à qualidade da cidade do futuro, esta depende da qualidade do que se constrói hoje. Assim todos os anos marcam o futuro, porém 2010 terá importância especial para a Grande Cuiabá não só pelo que foi feito, mas principalmente por decisões sobre a gestão da cidade, que foram ou não foram tomadas. Um dos benefícios da Copa do Pantanal é que seus requisitos de qualidade urbanística exigem que a cidade seja tratada de forma séria, cobrando decisões intergovernamentais básicas que nunca foram tomadas no caso da Grande Cuiabá. Se aconteceram agora, ou não, só o futuro dirá. Seria o grande legado de 2010.
Este esforço de lembrança dos fatos marcantes para Cuiabá e Mato Grosso em 2010, começa com as eleições nacionais e estaduais, bem como a troca de prefeito em Cuiabá. As renovações são sempre esperançosas e no caso as expectativas são maiores pois ascendem novas personalidades políticas que certamente querem ficar na história como administradores que corresponderam às necessidades da cidade, do estado e do país, por inteiros. Destaca-se também a descoberta das jazidas de fosfato e ferro em Mirassol d’Oeste, com reservas de ferro 4 vezes maiores que Carajás. Embora comentado como o “pré-sal” mato-grossense, o assunto foi estranhamente esquecido apenas 3 meses após sua divulgação.
No caso Ferronorte oficializou-se a esquisita decisão da diretoria da ALL em devolver os trechos ferroviários Cuiabá-Santarém, Cuiabá-Porto Velho e Cuiabá-Uberaba/Uberlândia. Dos mais de 6 mil quilômetros da concessão, “resolveram” ficar só com o trecho de Rondonópolis a Aparecida do Taboado. Não rejeitaram só Cuiabá, mas todo um sistema ferroviário em uma das regiões mais dinâmicas do planeta. Inviável? Piada. E uma concessionária pode escolher apenas uma parte numa concessão pública a que livre e conscientemente concorreu? À minha vã compreensão, podem, mas devolvendo tudo, dando lugar a outras empresas. O governador falou em grupos chineses interessados. Pois que venham rápido. E o Ministério Público também.
Em 2010 Mato Grosso permanece como o maior produtor agropecuário do país, um dos maiores exportadores e responsável pela maior parcela do superávit comercial brasileiro. Apesar disso o gás boliviano continua cortado, a termelétrica paralisada, a ferrovia não chega, a duplicação Cuiabá-Rondonópolis não sai, nem a Base Aérea de Cáceres apesar de anunciada no ano passado. A insegurança pública aumenta e voltam os apagões e oscilações de energia, que pareciam extintos.
Para Cuiabá, o início da instalação no Aguaçu de uma fábrica de cimento de um dos maiores grupos nacionais do setor, reflete o extraordinário momento da construção civil em todo o estado. Triste mesmo só a eliminação do Mixto do campeonato brasileiro de futebol. No “maracanazo” cuiabano, um gol no finzinho da partida fez chorar o lotado Dutrinha. Em troca o Cuiabá saiu campeão da Copa Mato Grosso e o Cuiabá Arsenal sagrou-se campeão brasileiro de futebol americano.
Lembro ainda a generosa homenagem do CREA-MT distinguindo-me como Arquiteto do Ano 2010, no último dia 10. Ela tem muito a ver com estes artigos que o Diário de Cuiabá me proporciona desenvolver como arquiteto e urbanista, contando com os preciosos comentários dos leitores, colegas, colegas professores, alunos e amigos, com os quais quero compartilhar a envaidecedora homenagem. Feliz Ano Novo!
(Publicado no Diário de Cuiabá em 28/12/2010)
A cidade do futuro é a cidade que construímos hoje. Nós com nossa casinha, borracharia, comércio, etc. e os governos com as obras infraestruturais, o planejamento e o controle do grande bem comum. Quanto à qualidade da cidade do futuro, esta depende da qualidade do que se constrói hoje. Assim todos os anos marcam o futuro, porém 2010 terá importância especial para a Grande Cuiabá não só pelo que foi feito, mas principalmente por decisões sobre a gestão da cidade, que foram ou não foram tomadas. Um dos benefícios da Copa do Pantanal é que seus requisitos de qualidade urbanística exigem que a cidade seja tratada de forma séria, cobrando decisões intergovernamentais básicas que nunca foram tomadas no caso da Grande Cuiabá. Se aconteceram agora, ou não, só o futuro dirá. Seria o grande legado de 2010.
Este esforço de lembrança dos fatos marcantes para Cuiabá e Mato Grosso em 2010, começa com as eleições nacionais e estaduais, bem como a troca de prefeito em Cuiabá. As renovações são sempre esperançosas e no caso as expectativas são maiores pois ascendem novas personalidades políticas que certamente querem ficar na história como administradores que corresponderam às necessidades da cidade, do estado e do país, por inteiros. Destaca-se também a descoberta das jazidas de fosfato e ferro em Mirassol d’Oeste, com reservas de ferro 4 vezes maiores que Carajás. Embora comentado como o “pré-sal” mato-grossense, o assunto foi estranhamente esquecido apenas 3 meses após sua divulgação.
No caso Ferronorte oficializou-se a esquisita decisão da diretoria da ALL em devolver os trechos ferroviários Cuiabá-Santarém, Cuiabá-Porto Velho e Cuiabá-Uberaba/Uberlândia. Dos mais de 6 mil quilômetros da concessão, “resolveram” ficar só com o trecho de Rondonópolis a Aparecida do Taboado. Não rejeitaram só Cuiabá, mas todo um sistema ferroviário em uma das regiões mais dinâmicas do planeta. Inviável? Piada. E uma concessionária pode escolher apenas uma parte numa concessão pública a que livre e conscientemente concorreu? À minha vã compreensão, podem, mas devolvendo tudo, dando lugar a outras empresas. O governador falou em grupos chineses interessados. Pois que venham rápido. E o Ministério Público também.
Em 2010 Mato Grosso permanece como o maior produtor agropecuário do país, um dos maiores exportadores e responsável pela maior parcela do superávit comercial brasileiro. Apesar disso o gás boliviano continua cortado, a termelétrica paralisada, a ferrovia não chega, a duplicação Cuiabá-Rondonópolis não sai, nem a Base Aérea de Cáceres apesar de anunciada no ano passado. A insegurança pública aumenta e voltam os apagões e oscilações de energia, que pareciam extintos.
Para Cuiabá, o início da instalação no Aguaçu de uma fábrica de cimento de um dos maiores grupos nacionais do setor, reflete o extraordinário momento da construção civil em todo o estado. Triste mesmo só a eliminação do Mixto do campeonato brasileiro de futebol. No “maracanazo” cuiabano, um gol no finzinho da partida fez chorar o lotado Dutrinha. Em troca o Cuiabá saiu campeão da Copa Mato Grosso e o Cuiabá Arsenal sagrou-se campeão brasileiro de futebol americano.
Lembro ainda a generosa homenagem do CREA-MT distinguindo-me como Arquiteto do Ano 2010, no último dia 10. Ela tem muito a ver com estes artigos que o Diário de Cuiabá me proporciona desenvolver como arquiteto e urbanista, contando com os preciosos comentários dos leitores, colegas, colegas professores, alunos e amigos, com os quais quero compartilhar a envaidecedora homenagem. Feliz Ano Novo!
(Publicado no Diário de Cuiabá em 28/12/2010)
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quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
CUIABÁ ARSENAL E O AEROPORTO
José Antonio Lemos dos Santos
Não deixaria de homenagear o Cuiabá Arsenal, campeão brasileiro de futebol americano, título conquistado no sábado em São Paulo, superando clubes poderosos como o Corinthians e Fluminense. Certamente que para os mais afetados pela nossa crônica síndrome de capacho, essa conquista só valerá quando o nosso campeão vencer o campeão da Liga Americana, lá nos EUA. Mais uma atração esportiva que poderá fazer uso do novo Verdão, junto com nosso outro campeão nacional, o Joaninha do motociclismo, e com os nossos queridos times de futebol, masculino e feminino. O esporte é a alternativa mais natural para a juventude.
No rastro natalino das boas notícias, afinal começam a aparecer ações concretas da Infraero na preparação do Aeroporto Marechal Rondon para a Copa das Confederações de 2013 e a Copa do Pantanal de 2014. No dia 19 de novembro foi dada ordem de serviço para a construção do módulo operacional de passageiros, o “puxadinho” emergencial que funcionará (é o que se espera) até a conclusão do terminal efetivo, e no último dia 7 foi homologado o resultado da licitação para o projeto da obra. Ótimas notícias, ainda que atrasadas no mínimo 1 ano, e refletem a mobilização da sociedade mato-grossense, em especial do trade turístico com seus fóruns e comitê, bem como da Agecopa que teve que se aproximar da Infraero e dela não pode mais se afastar.
Nesse noticiário chama especialmente atenção a nova postura do superintendente local da empresa, Sérgio Kennedy, agora entusiasmado e positivo, dizendo estar feliz “por mais esta vitória”, quando da homologação da licitação do projeto. Animado, disse ainda ser “plenamente possível” ter “Cuiabá em condições de sediar a Copa das Confederações”, e que o “aeroporto Marechal Rondon estará pronto com toda a certeza”. Esse ânimo faltava à Infraero com relação à Cuiabá e às Copas das Confederações e do Pantanal. Dava até impressão de que estava trabalhando contra, e ainda creio que realmente esteve. Agora não, parece que Cuiabá e Mato Grosso ganharam uma parceira fundamental na epopéia da Copa, pelo menos em nível da superintendência. Esse é o superintendente merecedor de apoio e aplausos. Pode ser, enfim, a aterrisagem em Mato Grosso da grande Infraero que esbanja competência por esse Brasil afora, mas que estava e ainda está devendo por aqui.
Na realidade as providências já deviam ter acontecido a tempo, independente de Copa. No caso do “puxadinho” de emergência, ou do eufemístico módulo provisório, é inaceitável a continuação do atual muquifo de desembarque. Não atenderia sequer uma demanda de 200 mil passageiros por ano, enquanto que o Marechal Rondon chegou a 181 mil passageiros só em novembro passado, com uma previsão da própria Infraero de 210 mil para dezembro. Ao mês! Isto é equivalente a um movimento anual de 2,5 milhões de passageiros por ano! Nestas condições um enorme risco, muito pior que a vergonha do mato-grossense ao receber seus visitantes na principal porta de entrada do estado. Ainda não aconteceu um acidente de graves proporções no local porque Deus é brasileiro e o Senhor Bom Jesus de Cuiabá é poderoso.
Que o sucesso do Cuiabá Arsenal motive outros esportes e os clubes de futebol locais a continuarem buscando desempenhos compatíveis com seus lugares nos corações mato-grossenses, e que o entusiasmo do superintendente contagie logo a direção nacional da Infraero. Não há espaço para mais erros e atrasos. E ainda é preciso muita vigilância da sociedade e muito trabalho da Infraero, que apenas começa. Que assim seja. Amém.
(Publicado no Diário de Cuiabá em 21/12/10)
Não deixaria de homenagear o Cuiabá Arsenal, campeão brasileiro de futebol americano, título conquistado no sábado em São Paulo, superando clubes poderosos como o Corinthians e Fluminense. Certamente que para os mais afetados pela nossa crônica síndrome de capacho, essa conquista só valerá quando o nosso campeão vencer o campeão da Liga Americana, lá nos EUA. Mais uma atração esportiva que poderá fazer uso do novo Verdão, junto com nosso outro campeão nacional, o Joaninha do motociclismo, e com os nossos queridos times de futebol, masculino e feminino. O esporte é a alternativa mais natural para a juventude.
No rastro natalino das boas notícias, afinal começam a aparecer ações concretas da Infraero na preparação do Aeroporto Marechal Rondon para a Copa das Confederações de 2013 e a Copa do Pantanal de 2014. No dia 19 de novembro foi dada ordem de serviço para a construção do módulo operacional de passageiros, o “puxadinho” emergencial que funcionará (é o que se espera) até a conclusão do terminal efetivo, e no último dia 7 foi homologado o resultado da licitação para o projeto da obra. Ótimas notícias, ainda que atrasadas no mínimo 1 ano, e refletem a mobilização da sociedade mato-grossense, em especial do trade turístico com seus fóruns e comitê, bem como da Agecopa que teve que se aproximar da Infraero e dela não pode mais se afastar.
Nesse noticiário chama especialmente atenção a nova postura do superintendente local da empresa, Sérgio Kennedy, agora entusiasmado e positivo, dizendo estar feliz “por mais esta vitória”, quando da homologação da licitação do projeto. Animado, disse ainda ser “plenamente possível” ter “Cuiabá em condições de sediar a Copa das Confederações”, e que o “aeroporto Marechal Rondon estará pronto com toda a certeza”. Esse ânimo faltava à Infraero com relação à Cuiabá e às Copas das Confederações e do Pantanal. Dava até impressão de que estava trabalhando contra, e ainda creio que realmente esteve. Agora não, parece que Cuiabá e Mato Grosso ganharam uma parceira fundamental na epopéia da Copa, pelo menos em nível da superintendência. Esse é o superintendente merecedor de apoio e aplausos. Pode ser, enfim, a aterrisagem em Mato Grosso da grande Infraero que esbanja competência por esse Brasil afora, mas que estava e ainda está devendo por aqui.
Na realidade as providências já deviam ter acontecido a tempo, independente de Copa. No caso do “puxadinho” de emergência, ou do eufemístico módulo provisório, é inaceitável a continuação do atual muquifo de desembarque. Não atenderia sequer uma demanda de 200 mil passageiros por ano, enquanto que o Marechal Rondon chegou a 181 mil passageiros só em novembro passado, com uma previsão da própria Infraero de 210 mil para dezembro. Ao mês! Isto é equivalente a um movimento anual de 2,5 milhões de passageiros por ano! Nestas condições um enorme risco, muito pior que a vergonha do mato-grossense ao receber seus visitantes na principal porta de entrada do estado. Ainda não aconteceu um acidente de graves proporções no local porque Deus é brasileiro e o Senhor Bom Jesus de Cuiabá é poderoso.
Que o sucesso do Cuiabá Arsenal motive outros esportes e os clubes de futebol locais a continuarem buscando desempenhos compatíveis com seus lugares nos corações mato-grossenses, e que o entusiasmo do superintendente contagie logo a direção nacional da Infraero. Não há espaço para mais erros e atrasos. E ainda é preciso muita vigilância da sociedade e muito trabalho da Infraero, que apenas começa. Que assim seja. Amém.
(Publicado no Diário de Cuiabá em 21/12/10)
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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
A SECRETARIA DAS CIDADES
José Antonio Lemos dos Santos
Uma boa surpresa das últimas eleições foi a promessa de criação de uma secretaria para as cidades feita por dois candidatos ao governo do estado, Mauro Mendes e Silval Barbosa. Saudei-as de passagem em alguns artigos, meio desconfiado, pois promessas de campanha na maioria das vezes são apenas promessas de campanha. Mas, reeleito, o governador cumpriu o prometido enviando semana passada seu projeto de reforma administrativa à Assembléia Legislativa, nela incluída a Secretaria das Cidades. Viva! Pena que o projeto foi aprovado no dia seguinte, e na pressa a sociedade ficou sem conhecer seu conteúdo na íntegra.
De extrema complexidade, as cidades são comparáveis a organismos vivos em dimensões imensas, que vão das pequenas vilas até as megalópoles. A cidade é um enorme recipiente articulado regionalmente e em constante transformação, onde acontecem as múltiplas relações urbanas. É exitosa quando tais relações acontecem bem, com sustentabilidade, conforto, segurança e, sobretudo, justiça. Para ajudá-las nesta função é que existe a ciência do Urbanismo. Tal como seu objeto de trabalho é complexa e exigente em equipamentos e recursos humanos capacitados, os quais escapam ao alcance da maioria das cidades brasileiras e mato-grossenses em quantidade e qualidade suficientes. Daí a importância do estado voltar-se ao assunto criando uma secretaria focada nas cidades e no desenvolvimento urbano estadual.
Mato Grosso já teve uma boa experiência desse tipo nos governos Garcia Neto e Frederico Campos, com um departamento de articulação municipal inicialmente instalado na Secretaria de Planejamento e depois na extinta CODEMAT. Contudo, pelas notícias sobre a nova secretaria, parece que sua atribuição vai se limitar ao assessoramento às prefeituras na viabilização e execução de obras de habitação e infra-estrutura viária, bem como nas questões de integração regional, papéis de duas secretarias que se extinguem. Se for assim, entre a expectativa e a proposta aprovada ficou faltando o pedaço mais importante.
Além de um órgão viabilizador e agilizador de obras, uma espécie de “despachante” institucional entre as prefeituras e o Ministério das Cidades, a expectativa técnica era também de um órgão que ajudasse nossas cidades a se pensarem de forma racional e planejada. Em especial as pequenas, pois em Mato Grosso elas ficam grandes rápido, com problemas sérios, muitas vezes decorrentes de soluções equivocadas adotadas quando pequenas. As cidades se constroem através de obras e as obras são fundamentais. Mas tratamos de obras certas - e que elas venham à mãos cheias. As cidades não podem ser um amontoado de obras quaisquer ou um repositório de obras facilitadas por programas governamentais de ocasião. Obras equivocadas são como remédios errados.
As cidades precisam ser capazes de definir técnica e politicamente as obras que realmente necessitam em função de estudos consolidados em planos diretores. Mas elas carecem do apoio estadual em seus processos de planejamento, bem como em seus périplos burocráticos federais e estaduais para viabilização das obras. A Secretaria das Cidades poderia ser também uma secretaria para as cidades. A gestão urbana estadual e o apoio aos municípios no planejamento e controle das cidades seriam os diferenciais da nova secretaria. Sem estes, fica tudo como antes, apenas os mesmos velhos papéis executados por uma nova secretaria.
(Publicado no Diário de Cuiabá em 14/12/10)
Uma boa surpresa das últimas eleições foi a promessa de criação de uma secretaria para as cidades feita por dois candidatos ao governo do estado, Mauro Mendes e Silval Barbosa. Saudei-as de passagem em alguns artigos, meio desconfiado, pois promessas de campanha na maioria das vezes são apenas promessas de campanha. Mas, reeleito, o governador cumpriu o prometido enviando semana passada seu projeto de reforma administrativa à Assembléia Legislativa, nela incluída a Secretaria das Cidades. Viva! Pena que o projeto foi aprovado no dia seguinte, e na pressa a sociedade ficou sem conhecer seu conteúdo na íntegra.
De extrema complexidade, as cidades são comparáveis a organismos vivos em dimensões imensas, que vão das pequenas vilas até as megalópoles. A cidade é um enorme recipiente articulado regionalmente e em constante transformação, onde acontecem as múltiplas relações urbanas. É exitosa quando tais relações acontecem bem, com sustentabilidade, conforto, segurança e, sobretudo, justiça. Para ajudá-las nesta função é que existe a ciência do Urbanismo. Tal como seu objeto de trabalho é complexa e exigente em equipamentos e recursos humanos capacitados, os quais escapam ao alcance da maioria das cidades brasileiras e mato-grossenses em quantidade e qualidade suficientes. Daí a importância do estado voltar-se ao assunto criando uma secretaria focada nas cidades e no desenvolvimento urbano estadual.
Mato Grosso já teve uma boa experiência desse tipo nos governos Garcia Neto e Frederico Campos, com um departamento de articulação municipal inicialmente instalado na Secretaria de Planejamento e depois na extinta CODEMAT. Contudo, pelas notícias sobre a nova secretaria, parece que sua atribuição vai se limitar ao assessoramento às prefeituras na viabilização e execução de obras de habitação e infra-estrutura viária, bem como nas questões de integração regional, papéis de duas secretarias que se extinguem. Se for assim, entre a expectativa e a proposta aprovada ficou faltando o pedaço mais importante.
Além de um órgão viabilizador e agilizador de obras, uma espécie de “despachante” institucional entre as prefeituras e o Ministério das Cidades, a expectativa técnica era também de um órgão que ajudasse nossas cidades a se pensarem de forma racional e planejada. Em especial as pequenas, pois em Mato Grosso elas ficam grandes rápido, com problemas sérios, muitas vezes decorrentes de soluções equivocadas adotadas quando pequenas. As cidades se constroem através de obras e as obras são fundamentais. Mas tratamos de obras certas - e que elas venham à mãos cheias. As cidades não podem ser um amontoado de obras quaisquer ou um repositório de obras facilitadas por programas governamentais de ocasião. Obras equivocadas são como remédios errados.
As cidades precisam ser capazes de definir técnica e politicamente as obras que realmente necessitam em função de estudos consolidados em planos diretores. Mas elas carecem do apoio estadual em seus processos de planejamento, bem como em seus périplos burocráticos federais e estaduais para viabilização das obras. A Secretaria das Cidades poderia ser também uma secretaria para as cidades. A gestão urbana estadual e o apoio aos municípios no planejamento e controle das cidades seriam os diferenciais da nova secretaria. Sem estes, fica tudo como antes, apenas os mesmos velhos papéis executados por uma nova secretaria.
(Publicado no Diário de Cuiabá em 14/12/10)
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terça-feira, 14 de dezembro de 2010
JOAQUIM MURTINHO
José Antonio Lemos dos Santos
A cidade é um imenso e complexo recipiente articulado regionalmente e em constante transformação onde acontecem as relações urbanas gerando bens e serviços, mas, sobretudo gente, que deve ser sempre seu principal produto. Uma forma de cantar as cidades é reverenciar a qualidade de seu povo homenageando suas personalidades exponenciais, especialmente em Cuiabá, onde aos poucos essa memória enfraquece.
7 de dezembro lembra Joaquim Murtinho, nascido em Cuiabá em 1848. Foi engenheiro civil e médico homeopata, professor da Escola Politécnica, Deputado Federal, Senador, Ministro da Viação e da Fazenda. Para Rubens de Mendonça, o maior estadista e financista brasileiro no período republicano. Alguns hoje só o conhecem como nome de escolas ou ruas, aqui, no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campo Grande, ou ainda como nome de cidades em Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.
Seu prestígio era tamanho que certa vez Dom Pedro II, Imperador do Brasil, tido como um dos governantes brasileiros mais cultos, assistindo a uma palestra dele sobre homeopatia, quis questioná-lo e recebeu de volta a sugestão de que quando "tivesse ímpetos de assistir a uma defesa de tese que Sua Majestade não entenda, deixe-se ficar em casa e leia uma página de Spencer".
Pioneiro da homeopatia foi, porém, como Ministro da Fazenda que ficou na história. Bastante atual, lembro Joelmir Betting em artigo de 1984 na Folha de São Paulo: “O saneamento da moeda nacional começou com a presença mágica do ministro Joaquim Murtinho (a partir de 1899). Murtinho só não é apostila nas escolas de economia do mundo ocidental porque nasceu no Brasil, teorizou no Brasil, e não em algum reduto da aristocracia acadêmica nos dois lados do Atlântico Norte.”
Diz mais: “Mal empossado no cargo de chanceler do Tesouro, que ele chamava de “monarca dos entulhos”, Joaquim Murtinho disparou um vigoroso “pacote” econômico, politicamente atrevido: a palavra de ordem era a de acabar, em rito sumário, com a especulação financeira do setor bancário”, e segue, “Murtinho entendia que o Brasil da virada do século não podia tolerar uma economia meramente escritural, era preciso promover o refluxo da poupança nacional do mercado de papéis e de divisas para o mercado de produtos e de serviços.” Para Betting, a inflação foi quase a zero gerando o “pânico bancário” de 1900, com o sistema financeiro “experimentando uma quebradeira em cascata.”
Aprendi com meu pai, que foi bancário, a reconhecer o valor dos bancos, mas, amargando os juros e as taxas bancárias atuais, concluo esta homenagem ainda com Betting: “O “czar” Murtinho lavou as mãos enluvadas: que se quebrem todas as casas bancárias, desde que se salvem todas as fábricas, empórios e fazendas...”
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 07/12/2010)
A cidade é um imenso e complexo recipiente articulado regionalmente e em constante transformação onde acontecem as relações urbanas gerando bens e serviços, mas, sobretudo gente, que deve ser sempre seu principal produto. Uma forma de cantar as cidades é reverenciar a qualidade de seu povo homenageando suas personalidades exponenciais, especialmente em Cuiabá, onde aos poucos essa memória enfraquece.
7 de dezembro lembra Joaquim Murtinho, nascido em Cuiabá em 1848. Foi engenheiro civil e médico homeopata, professor da Escola Politécnica, Deputado Federal, Senador, Ministro da Viação e da Fazenda. Para Rubens de Mendonça, o maior estadista e financista brasileiro no período republicano. Alguns hoje só o conhecem como nome de escolas ou ruas, aqui, no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Campo Grande, ou ainda como nome de cidades em Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.
Seu prestígio era tamanho que certa vez Dom Pedro II, Imperador do Brasil, tido como um dos governantes brasileiros mais cultos, assistindo a uma palestra dele sobre homeopatia, quis questioná-lo e recebeu de volta a sugestão de que quando "tivesse ímpetos de assistir a uma defesa de tese que Sua Majestade não entenda, deixe-se ficar em casa e leia uma página de Spencer".
Pioneiro da homeopatia foi, porém, como Ministro da Fazenda que ficou na história. Bastante atual, lembro Joelmir Betting em artigo de 1984 na Folha de São Paulo: “O saneamento da moeda nacional começou com a presença mágica do ministro Joaquim Murtinho (a partir de 1899). Murtinho só não é apostila nas escolas de economia do mundo ocidental porque nasceu no Brasil, teorizou no Brasil, e não em algum reduto da aristocracia acadêmica nos dois lados do Atlântico Norte.”
Diz mais: “Mal empossado no cargo de chanceler do Tesouro, que ele chamava de “monarca dos entulhos”, Joaquim Murtinho disparou um vigoroso “pacote” econômico, politicamente atrevido: a palavra de ordem era a de acabar, em rito sumário, com a especulação financeira do setor bancário”, e segue, “Murtinho entendia que o Brasil da virada do século não podia tolerar uma economia meramente escritural, era preciso promover o refluxo da poupança nacional do mercado de papéis e de divisas para o mercado de produtos e de serviços.” Para Betting, a inflação foi quase a zero gerando o “pânico bancário” de 1900, com o sistema financeiro “experimentando uma quebradeira em cascata.”
Aprendi com meu pai, que foi bancário, a reconhecer o valor dos bancos, mas, amargando os juros e as taxas bancárias atuais, concluo esta homenagem ainda com Betting: “O “czar” Murtinho lavou as mãos enluvadas: que se quebrem todas as casas bancárias, desde que se salvem todas as fábricas, empórios e fazendas...”
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 07/12/2010)
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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
MEUS CAROS ELEFANTES II
MEUS CAROS ELEFANTES II
José Antonio Lemos dos Santos
O artigo “Meus caros elefantes” da semana passada rendeu comentários simpáticos, a maioria lembrando alguma obra não citada. A satisfação dos leitores comentando aqueles equipamentos que viraram rotina, mostra o risco das condenações precoces e o quanto de fato hoje eles são importantes e queridos. Aliás, um exemplo mundial desse risco é a Torre Eiffel. Quando de sua construção alguns dos maiores intelectuais locais (do porte de um Zola, Maupassant, Gounod) escreveram veemente manifesto contrário à “monstruosa” torre que seria uma “odiosa coluna de ferro cheia de rebites”. Para alguns técnicos a torre cairia pelo “ceder de suas estruturas ou fundações”. Era um monumento comemorativo aos 100 anos da Revolução Francesa, a ser depois desmontada e vendida como sucata. A invenção do rádio e a Primeira Guerra Mundial prorrogaram o desmanche e nesse tempo a Torre Eiffel conquistou o coração dos franceses e do mundo.
Agora baixando a bola, em respeito aos comentários dos leitores registro alguns dos ex-futuros elefantes brancos citados por eles. Como pude me esquecer da Avenida do CPA, ou Rubens de Mendonça como é oficialmente denominada? Lembro do saudoso professor Sátyro Castilho (que ainda não é lembrado em nenhuma rua no CPA) debruçado sobre sua escrivaninha, projetando caprichosamente a lápis e borracha cada ponto da futura avenida, que seria a mais larga de Cuiabá com 50 metros de caixa. Para muitos naquele longínquo 1974 era apenas o delírio de alguns jovens arquitetos sonhadores ligando o Baú a nada. O CPA em si era uma loucura: “Nem no ano 2000 vai ter 60 mil habitantes!”, diziam os críticos. Hoje, já engarrafada, a avenida é um orgulho urbanístico cuiabano e uma das imagens de Cuiabá preferidas na internet.
Foi lembrado o Shopping Popular, no Porto, certamente não tanto por sua plástica. Criado em 1994 numa rua abandonada para ser um espaço provisório descoberto com instalações de apoio, destinado a cerca de 200 barracas dos então ocupantes das praças centrais de Cuiabá que acreditaram no projeto da prefeitura. Após implantado foi crescendo, depois coberto e de puxadinho em puxadinho virou esse querido centro popular de compras. Falavam que os “camelôs” logo voltariam ao centro e o galpão seria abandonado. Um elefantão branco. Mas foi muito bem pensado em um plano coordenado pelo IPDU para o comércio alternativo de Cuiabá. No plano foram criados também os Mini-Shoppings e as Galerias Populares para os que quisessem continuar no centro histórico. Difícil convencer que aquele ponto do Shopping Popular seria economicamente viável ainda sem a implantação do binário da XV de Novembro/Cel. Duarte, mesmo com as juras da prefeitura de que seu plano era sério e que nenhum outro grupo voltaria ao centro com o comércio ilegal (e estão voltando). Acreditaram e deu certo.
Podiam ser citados outros ex-futuros elefantes brancos. O Sesc Arsenal, que maravilha! Para muitos ia além da civilidade cuiabana e logo estaria todo quebrado, rasgado, sujo e abandonado. Qual o que, está lá como uma jóia amada e visitada por todos. Concluo com o belíssimo Terminal Rodoviário de Cuiabá, exemplo de dimensionamento correto, fruto de um prognóstico perfeito e corajoso sobre o futuro de Cuiabá na época. Com mais de três décadas, funciona belo em toda sua elegância tardo-modernista, apropriado ao clima, contrariando aqueles que viam naquela imensa obra apenas mais um lance de irresponsabilidade com o dinheiro público. Uma aula de arquitetura, um patrimônio a ser tombado urgente. Mas isso é outro assunto.
(Publicado no Diário de Cuiabá em 30/11/12)
José Antonio Lemos dos Santos
O artigo “Meus caros elefantes” da semana passada rendeu comentários simpáticos, a maioria lembrando alguma obra não citada. A satisfação dos leitores comentando aqueles equipamentos que viraram rotina, mostra o risco das condenações precoces e o quanto de fato hoje eles são importantes e queridos. Aliás, um exemplo mundial desse risco é a Torre Eiffel. Quando de sua construção alguns dos maiores intelectuais locais (do porte de um Zola, Maupassant, Gounod) escreveram veemente manifesto contrário à “monstruosa” torre que seria uma “odiosa coluna de ferro cheia de rebites”. Para alguns técnicos a torre cairia pelo “ceder de suas estruturas ou fundações”. Era um monumento comemorativo aos 100 anos da Revolução Francesa, a ser depois desmontada e vendida como sucata. A invenção do rádio e a Primeira Guerra Mundial prorrogaram o desmanche e nesse tempo a Torre Eiffel conquistou o coração dos franceses e do mundo.
Agora baixando a bola, em respeito aos comentários dos leitores registro alguns dos ex-futuros elefantes brancos citados por eles. Como pude me esquecer da Avenida do CPA, ou Rubens de Mendonça como é oficialmente denominada? Lembro do saudoso professor Sátyro Castilho (que ainda não é lembrado em nenhuma rua no CPA) debruçado sobre sua escrivaninha, projetando caprichosamente a lápis e borracha cada ponto da futura avenida, que seria a mais larga de Cuiabá com 50 metros de caixa. Para muitos naquele longínquo 1974 era apenas o delírio de alguns jovens arquitetos sonhadores ligando o Baú a nada. O CPA em si era uma loucura: “Nem no ano 2000 vai ter 60 mil habitantes!”, diziam os críticos. Hoje, já engarrafada, a avenida é um orgulho urbanístico cuiabano e uma das imagens de Cuiabá preferidas na internet.
Foi lembrado o Shopping Popular, no Porto, certamente não tanto por sua plástica. Criado em 1994 numa rua abandonada para ser um espaço provisório descoberto com instalações de apoio, destinado a cerca de 200 barracas dos então ocupantes das praças centrais de Cuiabá que acreditaram no projeto da prefeitura. Após implantado foi crescendo, depois coberto e de puxadinho em puxadinho virou esse querido centro popular de compras. Falavam que os “camelôs” logo voltariam ao centro e o galpão seria abandonado. Um elefantão branco. Mas foi muito bem pensado em um plano coordenado pelo IPDU para o comércio alternativo de Cuiabá. No plano foram criados também os Mini-Shoppings e as Galerias Populares para os que quisessem continuar no centro histórico. Difícil convencer que aquele ponto do Shopping Popular seria economicamente viável ainda sem a implantação do binário da XV de Novembro/Cel. Duarte, mesmo com as juras da prefeitura de que seu plano era sério e que nenhum outro grupo voltaria ao centro com o comércio ilegal (e estão voltando). Acreditaram e deu certo.
Podiam ser citados outros ex-futuros elefantes brancos. O Sesc Arsenal, que maravilha! Para muitos ia além da civilidade cuiabana e logo estaria todo quebrado, rasgado, sujo e abandonado. Qual o que, está lá como uma jóia amada e visitada por todos. Concluo com o belíssimo Terminal Rodoviário de Cuiabá, exemplo de dimensionamento correto, fruto de um prognóstico perfeito e corajoso sobre o futuro de Cuiabá na época. Com mais de três décadas, funciona belo em toda sua elegância tardo-modernista, apropriado ao clima, contrariando aqueles que viam naquela imensa obra apenas mais um lance de irresponsabilidade com o dinheiro público. Uma aula de arquitetura, um patrimônio a ser tombado urgente. Mas isso é outro assunto.
(Publicado no Diário de Cuiabá em 30/11/12)
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terça-feira, 30 de novembro de 2010
MEUS CAROS ELEFANTES
MEUS CAROS ELEFANTES
José Antonio Lemos dos Santos
A construção do novo Verdão reavivou a lembrança dos chamados “elefantes brancos”. Para muitos o monumental estádio será um desses paquidermes fabulosos. Alguns movidos por uma justa preocupação com o dinheiro público, outros, geralmente de fora, por ainda não terem deglutido a vitória de Cuiabá como sede da Copa do Pantanal e muitos locais, apenas dando vazão a um renitente complexo de capacho que nos acompanha ou ao espírito “seca-pimenteira” que ainda assola boa parte da população. Os “seca-pimenteira”, que dominaram a torcida de um ex-time local, enxergam a realidade pelo lado negativo e jogam sempre na aposta mais fácil das coisas não darem certo. Conta a lenda que para reconhecer um deles basta aproximá-los de um pé de pimenta.
Brincadeiras a parte, a discussão atual pode ser muito útil, e lembra alguns projetos que eram aguardados como futuros “elefantes brancos”, mas que deram certo. O primeiro é o Centro de Eventos do Pantanal. Pelo caráter inovador na região, audácia no dimensionamento e no programa arquitetônico, logo foi visto com desconfiança. Para alguns só funcionaria na inauguração. O comentário comum era que Cuiabá e o estado não tinham população nem fôlego econômico para manter em funcionamento um equipamento desses. Qual o que. Em agosto passado completou 10 anos de sucesso total, consolidando Cuiabá e Mato Grosso como um dos pólos nacionais para o turismo de negócios.
Outro grande e corajoso projeto foi o Mercado Varejista de Cuiabá, no antigo Campo do Bode. Primeiro, todos duvidavam que a prefeitura conseguisse transferir a antiga feira do Porto, que ocupava a Beira Rio em torno do antigo Mercado do Peixe, hoje Museu do Rio, seguindo grande, insalubre e desorganizada rumo à Ponte Nova. Sem a transferência o novo prédio estava destinado a ser um enorme galpão ocupado sabe-se lá com que, ou abandonado. Outra aposta negativa era que, se conseguisse a transferência, a prefeitura não seria capaz de gerenciar um equipamento daquela dimensão. Mas o projeto foi um sucesso, a transferência feita e o novo mercado, com a colaboração decisiva dos feirantes em sua administração, está entre os equipamentos urbanos mais utilizados e queridos pelo cuiabano.
Outro exemplo é o grandioso Ginásio Aecim Tocantins. Ao que eu me lembre, em seus 3 anos de existência já sediou jogos da Liga Mundial de Volei, a Copa América de Volei masculino, a Copa América de Volei feminino, Copa América de Basquete feminino, Campeonato Panamericano de Karatê e permitiu que Cuiabá este ano tivesse um time representante na Superliga Nacional de Volei. De lambuja, ainda recebeu jogos avulsos das seleções nacionais de vôlei e futebol de salão, grandiosos shows e eventos diversos, dentre os quais um casamento coletivo com 2511 casais que colocou Mato Grosso no Guiness Book. E ainda tem gente tratando o Ginásio como um elefante-branco.
Como não lembrar do Parque Mãe Bonifácia? Diziam que aqueles 77 hectares ao deixarem a proteção do Exército logo se transformariam em mais uma das invasões urbanas que na época eram tão comuns. Dispensáveis quaisquer comentários. Mais recentemente aconteceu a revitalização do Cine-Teatro Cuiabá, com equipamentos caríssimos de última geração. Seria dinheiro jogado fora pois faltaria ao cuiabano apego cultural suficiente à viabilização daquele equipamento. Ainda mais no perigoso centro da cidade. Ninguém iria. Qual o que. O velho Cine-Teatro renovado, funciona maravilhoso de novo no coração cuiabano e hoje é um elemento reanimador do centro histórico de Cuiabá.
(Publicado no Diário de Cuiabá no dia 24/11/2010, excepcionalmente em uma quarta-feira)
José Antonio Lemos dos Santos
A construção do novo Verdão reavivou a lembrança dos chamados “elefantes brancos”. Para muitos o monumental estádio será um desses paquidermes fabulosos. Alguns movidos por uma justa preocupação com o dinheiro público, outros, geralmente de fora, por ainda não terem deglutido a vitória de Cuiabá como sede da Copa do Pantanal e muitos locais, apenas dando vazão a um renitente complexo de capacho que nos acompanha ou ao espírito “seca-pimenteira” que ainda assola boa parte da população. Os “seca-pimenteira”, que dominaram a torcida de um ex-time local, enxergam a realidade pelo lado negativo e jogam sempre na aposta mais fácil das coisas não darem certo. Conta a lenda que para reconhecer um deles basta aproximá-los de um pé de pimenta.
Brincadeiras a parte, a discussão atual pode ser muito útil, e lembra alguns projetos que eram aguardados como futuros “elefantes brancos”, mas que deram certo. O primeiro é o Centro de Eventos do Pantanal. Pelo caráter inovador na região, audácia no dimensionamento e no programa arquitetônico, logo foi visto com desconfiança. Para alguns só funcionaria na inauguração. O comentário comum era que Cuiabá e o estado não tinham população nem fôlego econômico para manter em funcionamento um equipamento desses. Qual o que. Em agosto passado completou 10 anos de sucesso total, consolidando Cuiabá e Mato Grosso como um dos pólos nacionais para o turismo de negócios.
Outro grande e corajoso projeto foi o Mercado Varejista de Cuiabá, no antigo Campo do Bode. Primeiro, todos duvidavam que a prefeitura conseguisse transferir a antiga feira do Porto, que ocupava a Beira Rio em torno do antigo Mercado do Peixe, hoje Museu do Rio, seguindo grande, insalubre e desorganizada rumo à Ponte Nova. Sem a transferência o novo prédio estava destinado a ser um enorme galpão ocupado sabe-se lá com que, ou abandonado. Outra aposta negativa era que, se conseguisse a transferência, a prefeitura não seria capaz de gerenciar um equipamento daquela dimensão. Mas o projeto foi um sucesso, a transferência feita e o novo mercado, com a colaboração decisiva dos feirantes em sua administração, está entre os equipamentos urbanos mais utilizados e queridos pelo cuiabano.
Outro exemplo é o grandioso Ginásio Aecim Tocantins. Ao que eu me lembre, em seus 3 anos de existência já sediou jogos da Liga Mundial de Volei, a Copa América de Volei masculino, a Copa América de Volei feminino, Copa América de Basquete feminino, Campeonato Panamericano de Karatê e permitiu que Cuiabá este ano tivesse um time representante na Superliga Nacional de Volei. De lambuja, ainda recebeu jogos avulsos das seleções nacionais de vôlei e futebol de salão, grandiosos shows e eventos diversos, dentre os quais um casamento coletivo com 2511 casais que colocou Mato Grosso no Guiness Book. E ainda tem gente tratando o Ginásio como um elefante-branco.
Como não lembrar do Parque Mãe Bonifácia? Diziam que aqueles 77 hectares ao deixarem a proteção do Exército logo se transformariam em mais uma das invasões urbanas que na época eram tão comuns. Dispensáveis quaisquer comentários. Mais recentemente aconteceu a revitalização do Cine-Teatro Cuiabá, com equipamentos caríssimos de última geração. Seria dinheiro jogado fora pois faltaria ao cuiabano apego cultural suficiente à viabilização daquele equipamento. Ainda mais no perigoso centro da cidade. Ninguém iria. Qual o que. O velho Cine-Teatro renovado, funciona maravilhoso de novo no coração cuiabano e hoje é um elemento reanimador do centro histórico de Cuiabá.
(Publicado no Diário de Cuiabá no dia 24/11/2010, excepcionalmente em uma quarta-feira)
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terça-feira, 23 de novembro de 2010
A "CONQUISTA" DA INFRAERO
A "CONQUISTA" DA INFRAERO
José Antonio Lemos dos Santos
Tenho acompanhado diariamente o site da Infraero esperando boas notícias a respeito das obras no Aeroporto Marechal Rondon. Não tem sido tarefa agradável, pois as boas notícias restringem-se sempre ao movimento do nosso aeroporto, maior a cada mês, com mais taxas de embarque para a Infraero. Mas, infelizmente, mais dificuldades para os passageiros. Nada referente às obras devidas pela empresa. Para ser justo, no dia 5 passado apareceu notícia da abertura, dois dias antes, da licitação para o projeto da ampliação do aeroporto. Uma grande notícia, mesmo que não tenha merecido destaque específico dentre as notícias do site e ainda que um ano e meio atrasada, no mínimo. Veio escondida em uma outra encabeçada pela estranha manchete: “Infraero conquista licença prévia para obras de ampliação do Aeroporto de Cuiabá”.
O termo “conquista” ficou esquisito e se repete mais duas vezes no corpo da matéria. A impressão que passa é que a Infraero esteve lutando contra dificuldades criadas por Mato Grosso para o reinício das obras do Aeroporto Marechal Rondon, necessárias mesmo sem a Copa e paralisadas há muito tempo, só por culpa da empresa. Pela notícia parece que Mato Grosso estaria atrapalhando a empresa na realização de suas obrigações. Mas a história é clara e se alguém tem culpa nesse atraso absurdo, essa culpa é da negligência da Infraero com um problema que se arrasta desde o final da década passada. Mato Grosso não pode passar de vítima a culpado.
Segundo a empresa, a “conquista” refere-se à licença ambiental prévia para realização de obra de reforma e ampliação do aeroporto, emitida pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente do (sic) Mato Grosso. O que teria a ver o atraso na licitação de projeto com essa licença para obras? Por que essa licitação só sai 1 ano e meio após a definição de Cuiabá como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014? A grande manchete seria: “Infraero licita projeto para o aeroporto de Cuiabá!”. Mas com esse destaque o Brasil veria o grande atraso da empresa em relação à Copa. Misturando os dois assuntos a matéria disfarça o atraso e sugere que a empresa aguardava ansiosamente tal licença para desenvolver o projeto, e que o motivador desse atraso seria o próprio governo do estado através da Sema. A Sema precisa trazer sua versão ao público, inclusive se a falta de licença prévia para obra impediria a realização de projetos arquitetônicos pela empresa.
A insistência no caso do aeroporto é sua imprescindibilidade à realização em Cuiabá da Copa das Confederações em 2013 e da Copa do Mundo em 2014. Esses dois eventos são essenciais como compensação pelo admirável esforço que a cidade e o estado estão fazendo e ainda terão que fazer pela Copa. Não basta a Copa do Pantanal, Mato Grosso não pode abrir mão da Copa das Confederações. Insisto também porque confio na determinação dos governos federal e estadual em cobrir de êxito o grandioso evento internacional que traz para o Brasil e para Mato Grosso as atenções do mundo inteiro. Enfim, por ainda ser tecnicamente possível o aeroporto ficar pronto em tempo hábil. Sempre é bom lembrar que Brasília foi feita em 3 anos e o Empire State em 451 dias. O aeroporto precisa estar pronto em dezembro de 2012 para a Copa das Confederações e faltam 2 anos. Mas é preciso que o empenho político da união e do estado com a realização em Cuiabá da Copa das Confederações e da Copa do Pantanal chegue com urgência à Infraero. A hora de cobrar é agora, depois será tarde.
(Publicado no Diário de Cuiabá em 18/11/2010)
José Antonio Lemos dos Santos
Tenho acompanhado diariamente o site da Infraero esperando boas notícias a respeito das obras no Aeroporto Marechal Rondon. Não tem sido tarefa agradável, pois as boas notícias restringem-se sempre ao movimento do nosso aeroporto, maior a cada mês, com mais taxas de embarque para a Infraero. Mas, infelizmente, mais dificuldades para os passageiros. Nada referente às obras devidas pela empresa. Para ser justo, no dia 5 passado apareceu notícia da abertura, dois dias antes, da licitação para o projeto da ampliação do aeroporto. Uma grande notícia, mesmo que não tenha merecido destaque específico dentre as notícias do site e ainda que um ano e meio atrasada, no mínimo. Veio escondida em uma outra encabeçada pela estranha manchete: “Infraero conquista licença prévia para obras de ampliação do Aeroporto de Cuiabá”.
O termo “conquista” ficou esquisito e se repete mais duas vezes no corpo da matéria. A impressão que passa é que a Infraero esteve lutando contra dificuldades criadas por Mato Grosso para o reinício das obras do Aeroporto Marechal Rondon, necessárias mesmo sem a Copa e paralisadas há muito tempo, só por culpa da empresa. Pela notícia parece que Mato Grosso estaria atrapalhando a empresa na realização de suas obrigações. Mas a história é clara e se alguém tem culpa nesse atraso absurdo, essa culpa é da negligência da Infraero com um problema que se arrasta desde o final da década passada. Mato Grosso não pode passar de vítima a culpado.
Segundo a empresa, a “conquista” refere-se à licença ambiental prévia para realização de obra de reforma e ampliação do aeroporto, emitida pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente do (sic) Mato Grosso. O que teria a ver o atraso na licitação de projeto com essa licença para obras? Por que essa licitação só sai 1 ano e meio após a definição de Cuiabá como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014? A grande manchete seria: “Infraero licita projeto para o aeroporto de Cuiabá!”. Mas com esse destaque o Brasil veria o grande atraso da empresa em relação à Copa. Misturando os dois assuntos a matéria disfarça o atraso e sugere que a empresa aguardava ansiosamente tal licença para desenvolver o projeto, e que o motivador desse atraso seria o próprio governo do estado através da Sema. A Sema precisa trazer sua versão ao público, inclusive se a falta de licença prévia para obra impediria a realização de projetos arquitetônicos pela empresa.
A insistência no caso do aeroporto é sua imprescindibilidade à realização em Cuiabá da Copa das Confederações em 2013 e da Copa do Mundo em 2014. Esses dois eventos são essenciais como compensação pelo admirável esforço que a cidade e o estado estão fazendo e ainda terão que fazer pela Copa. Não basta a Copa do Pantanal, Mato Grosso não pode abrir mão da Copa das Confederações. Insisto também porque confio na determinação dos governos federal e estadual em cobrir de êxito o grandioso evento internacional que traz para o Brasil e para Mato Grosso as atenções do mundo inteiro. Enfim, por ainda ser tecnicamente possível o aeroporto ficar pronto em tempo hábil. Sempre é bom lembrar que Brasília foi feita em 3 anos e o Empire State em 451 dias. O aeroporto precisa estar pronto em dezembro de 2012 para a Copa das Confederações e faltam 2 anos. Mas é preciso que o empenho político da união e do estado com a realização em Cuiabá da Copa das Confederações e da Copa do Pantanal chegue com urgência à Infraero. A hora de cobrar é agora, depois será tarde.
(Publicado no Diário de Cuiabá em 18/11/2010)
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terça-feira, 9 de novembro de 2010
DIA MUNDIAL DO URBANISMO
DIA MUNDIAL DO URBANISMO
José Antonio Lemos dos Santos
Surgida há 5 mil anos a cidade constitui a maior, mais complexa e mais bem sucedida das invenções do homem, transformando o mundo e acelerando a evolução da humanidade. Com ela surge a civilização. De lá para cá o mundo foi se urbanizando e a partir de 2008 a população global urbana supera a população rural, com muitos países com percentuais superiores a 80%, como o Brasil.
Em sua história a grande mudança foi com a Revolução Industrial. Até então a cidade não fora questionada, ainda que tenha enfrentado importantes crises em seu desenvolvimento. Com a industrialização, a urbanização acelera e as cidades se desequilibram gravemente, exigindo controle e intervenções em seu desenvolvimento. Surge então a ciência do Urbanismo, que evolui e supera a etapa do urbanismo modernista da Carta de Atenas, passa pelas experiências pós-modernistas do Novo Urbanismo, e chega a uma nova Revolução, a da informática e da globalização, com os desafios da compatibilidade ambiental, da inclusão e das possibilidades das cidades inteligentes, verdes e sustentáveis.
De extrema complexidade, a cidade é comparável a um organismo vivo, só que em dimensões imensas, que vão das pequenas vilas até as megalópoles, chegando a centenas ou milhares de quilômetros quadrados com dezenas de milhões de habitantes. A cidade é um enorme recipiente, articulado regionalmente, onde acontecem as relações urbanas em toda sua múltipla diversidade. Sua função é permitir que tais relações aconteçam da melhor forma com sustentabilidade, conforto, segurança e, sobretudo, justiça. Ajudá-las no cumprimento desta função é o objetivo do Urbanismo.
Em evolução contínua, o Urbanismo reflete a complexidade de seu objeto de trabalho e necessariamente envolve os diversos campos de conhecimento que a cidade envolve. Assim, o urbanista não é mais um especialista, mas um generalista voltado a entender o organismo urbano com um todo. Não se pode tratar os problemas da cidade sem antes tratar da cidade com problemas. O urbanista precisa saber um pouco de tudo para enxergar o todo, e, em especial, deve saber que seu conhecimento é quase nada e não pode prescindir da companhia das muitas outras especializações técnicas que tratam das múltiplas facetas da cidade.
8 de novembro é o Dia Mundial do Urbanismo, criado em 1949 para uma reflexão global sobre o assunto. As cidades de novo vivem uma revolução com as perspectivas da informática, do ciberespaço, e a eminência do colapso com a água, lixo, transportes, poluição, aquecimento, energia, emprego, uso do solo e segurança. Se as cidades falharem, a civilização explode. O problema maior do século XXI são as cidades. Inaceitável que no Brasil o Urbanismo e o urbanista sejam tão desconsiderados. Como pode uma cidade como Cuiabá ter nos quadros de sua prefeitura apenas seis arquitetos? Um para mais de cem mil habitantes? E quantos dedicados ao Urbanismo? Logo a secularmente conhecida Cidade Verde? A falta do Urbanismo mata as cidades brasileiras, estressando, mutilando e matando seus cidadãos. Mas ainda são os locais da diversidade e da inovação. A existência do Ministério da Cidade e a promessa do governador Silval Barbosa de uma Secretaria das Cidades são alentadores, desde que dedicadas à promoção e apoio aos municípios no efetivo e urgente controle do desenvolvimento urbano em bases técnicas e democráticas. Crise é risco e oportunidade, e o problema urbano é o grande desafio global. E local.
(Publicado no Diário de Cuiabá em 09/11/2010)
José Antonio Lemos dos Santos
Surgida há 5 mil anos a cidade constitui a maior, mais complexa e mais bem sucedida das invenções do homem, transformando o mundo e acelerando a evolução da humanidade. Com ela surge a civilização. De lá para cá o mundo foi se urbanizando e a partir de 2008 a população global urbana supera a população rural, com muitos países com percentuais superiores a 80%, como o Brasil.
Em sua história a grande mudança foi com a Revolução Industrial. Até então a cidade não fora questionada, ainda que tenha enfrentado importantes crises em seu desenvolvimento. Com a industrialização, a urbanização acelera e as cidades se desequilibram gravemente, exigindo controle e intervenções em seu desenvolvimento. Surge então a ciência do Urbanismo, que evolui e supera a etapa do urbanismo modernista da Carta de Atenas, passa pelas experiências pós-modernistas do Novo Urbanismo, e chega a uma nova Revolução, a da informática e da globalização, com os desafios da compatibilidade ambiental, da inclusão e das possibilidades das cidades inteligentes, verdes e sustentáveis.
De extrema complexidade, a cidade é comparável a um organismo vivo, só que em dimensões imensas, que vão das pequenas vilas até as megalópoles, chegando a centenas ou milhares de quilômetros quadrados com dezenas de milhões de habitantes. A cidade é um enorme recipiente, articulado regionalmente, onde acontecem as relações urbanas em toda sua múltipla diversidade. Sua função é permitir que tais relações aconteçam da melhor forma com sustentabilidade, conforto, segurança e, sobretudo, justiça. Ajudá-las no cumprimento desta função é o objetivo do Urbanismo.
Em evolução contínua, o Urbanismo reflete a complexidade de seu objeto de trabalho e necessariamente envolve os diversos campos de conhecimento que a cidade envolve. Assim, o urbanista não é mais um especialista, mas um generalista voltado a entender o organismo urbano com um todo. Não se pode tratar os problemas da cidade sem antes tratar da cidade com problemas. O urbanista precisa saber um pouco de tudo para enxergar o todo, e, em especial, deve saber que seu conhecimento é quase nada e não pode prescindir da companhia das muitas outras especializações técnicas que tratam das múltiplas facetas da cidade.
8 de novembro é o Dia Mundial do Urbanismo, criado em 1949 para uma reflexão global sobre o assunto. As cidades de novo vivem uma revolução com as perspectivas da informática, do ciberespaço, e a eminência do colapso com a água, lixo, transportes, poluição, aquecimento, energia, emprego, uso do solo e segurança. Se as cidades falharem, a civilização explode. O problema maior do século XXI são as cidades. Inaceitável que no Brasil o Urbanismo e o urbanista sejam tão desconsiderados. Como pode uma cidade como Cuiabá ter nos quadros de sua prefeitura apenas seis arquitetos? Um para mais de cem mil habitantes? E quantos dedicados ao Urbanismo? Logo a secularmente conhecida Cidade Verde? A falta do Urbanismo mata as cidades brasileiras, estressando, mutilando e matando seus cidadãos. Mas ainda são os locais da diversidade e da inovação. A existência do Ministério da Cidade e a promessa do governador Silval Barbosa de uma Secretaria das Cidades são alentadores, desde que dedicadas à promoção e apoio aos municípios no efetivo e urgente controle do desenvolvimento urbano em bases técnicas e democráticas. Crise é risco e oportunidade, e o problema urbano é o grande desafio global. E local.
(Publicado no Diário de Cuiabá em 09/11/2010)
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sábado, 6 de novembro de 2010
HABEMUS PRESIDENTA!
HABEMUS PRESIDENTA!
José Antonio Lemos dos Santos
Viva a democracia! Dilma venceu e a partir do ano que vem será a presidenta de todos os brasileiros com o respeito cívico de todos, mesmo daqueles que, como eu, não votaram nela. Que Deus e o Bom Jesus de Cuiabá a abençoe. Venceu por seus méritos e determinação, apoiada pelo presidente brasileiro mais popular, por um partido e uma coordenação eleitoral com comando e agilidade. Amplia o mérito de sua vitória ter vencido um grande candidato, ainda que prejudicado por um partido desorientado e sem uma estrutura de campanha competente.
Creio que a oposição no Brasil deva ser reconstruída. Inexistiu nos últimos oito anos no país e em Mato Grosso. As mortes de Teotônio, Ulysses, Montoro, Covas e Dante, deixaram a oposição sem rumo, reduzida a figuras que se acham muito maiores do que realmente são, preocupadas apenas com o lugar de destaque que acham merecedoras. Nos últimos anos o Brasil e Mato Grosso perderam muito com o silêncio da oposição, que paga por isso com a derrota. Como tirar da campanha Fernando Henrique Cardoso e sua obra? Como esquecer Dante e sua obra?
Apesar de ter tido mais votos em Mato Grosso, nem assim a oposição foi a vitoriosa e nem Dilma a derrotada. Foi o governo Lula que perdeu, punido pelos mato-grossenses por sua calamitosa atuação em Mato Grosso. Contando sempre com o silêncio da oposição, é bom nunca esquecer. Como vencer tendo paralisado a obra da Ferronorte? Se tivesse continuado os trilhos já estariam prá lá de Sinop e o estado seria outro. Como aceitar o pouco caso com a paralisação há mais de três anos do maior investimento privado no estado, o complexo gasoduto/termelétrica de 1 bilhão de dólares, que estaria trazendo matéria prima e energia limpa, confiável e barata para o desenvolvimento estadual? Como vencer com a paralisação das obras do aeroporto Marechal Rondon e o atual descaso da Infraero para com a Copa do Pantanal em Cuiabá? Não foi Dilma quem perdeu aqui, foi Lula.
Um dos coordenadores da campanha de Dilma em Mato Grosso disse sobre os resultados no estado que “quem apanha nunca esquece”, lembrando inúmeros problemas não só de campanha, mas também das ações da policia federal, fechamento de madeireiras e entraves burocráticos. Sinop ganhou de Lula sirenes de madrugada invadindo lares, aterrorizando um povo trabalhador e embaralhando o promissor futuro de muitas cidades mato-grossenses e daquela que era o principal centro regional do norte do estado. E Lula, não Dilma, perdeu em todas elas. Se o povo fazia alguma coisa errada em relação ao meio ambiente, só fazia aquilo para o qual foi atraído pelo próprio governo federal em outras épocas, quando mata em pé significava "terra improdutiva" sujeita à desapropriação. Mais correto uma política inibidora das práticas hoje condenadas do que as sirenes e o terror. Ganhariam todos, o meio ambiente, a região e o estado. Talvez até a candidata.
Do jeito como Mato Grosso foi maltratado o resultado não poderia ter sido outro. O governo Lula, não Dilma, perdeu em 90 dos 141 municípios mato-grossenses. Até mesmo na Sapezal de Maggi, na Matupá do governador Silval e em Lucas do Rio Verde, destino da fantástica ferrovia criada um ano antes da eleição visando os votos daquela gente do norte recém sacrificada em nome do meio-ambiente. Nem com sangue de barata. Mas, em sua vetusta sabedoria, a Grande Cuiabá fez Dilma vitoriosa em suas urnas, crendo que mesmo os melhores podem melhorar e mostrando que Mato Grosso espera e confia na presidenta eleita com os projetos que necessita e tem direito. Afinal, se Mato Grosso tem apenas 1,5% do eleitorado, produz mais da metade do superavit comercial brasileiro e aguarda o respeito federal que merece.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 02/11/2010)
José Antonio Lemos dos Santos
Viva a democracia! Dilma venceu e a partir do ano que vem será a presidenta de todos os brasileiros com o respeito cívico de todos, mesmo daqueles que, como eu, não votaram nela. Que Deus e o Bom Jesus de Cuiabá a abençoe. Venceu por seus méritos e determinação, apoiada pelo presidente brasileiro mais popular, por um partido e uma coordenação eleitoral com comando e agilidade. Amplia o mérito de sua vitória ter vencido um grande candidato, ainda que prejudicado por um partido desorientado e sem uma estrutura de campanha competente.
Creio que a oposição no Brasil deva ser reconstruída. Inexistiu nos últimos oito anos no país e em Mato Grosso. As mortes de Teotônio, Ulysses, Montoro, Covas e Dante, deixaram a oposição sem rumo, reduzida a figuras que se acham muito maiores do que realmente são, preocupadas apenas com o lugar de destaque que acham merecedoras. Nos últimos anos o Brasil e Mato Grosso perderam muito com o silêncio da oposição, que paga por isso com a derrota. Como tirar da campanha Fernando Henrique Cardoso e sua obra? Como esquecer Dante e sua obra?
Apesar de ter tido mais votos em Mato Grosso, nem assim a oposição foi a vitoriosa e nem Dilma a derrotada. Foi o governo Lula que perdeu, punido pelos mato-grossenses por sua calamitosa atuação em Mato Grosso. Contando sempre com o silêncio da oposição, é bom nunca esquecer. Como vencer tendo paralisado a obra da Ferronorte? Se tivesse continuado os trilhos já estariam prá lá de Sinop e o estado seria outro. Como aceitar o pouco caso com a paralisação há mais de três anos do maior investimento privado no estado, o complexo gasoduto/termelétrica de 1 bilhão de dólares, que estaria trazendo matéria prima e energia limpa, confiável e barata para o desenvolvimento estadual? Como vencer com a paralisação das obras do aeroporto Marechal Rondon e o atual descaso da Infraero para com a Copa do Pantanal em Cuiabá? Não foi Dilma quem perdeu aqui, foi Lula.
Um dos coordenadores da campanha de Dilma em Mato Grosso disse sobre os resultados no estado que “quem apanha nunca esquece”, lembrando inúmeros problemas não só de campanha, mas também das ações da policia federal, fechamento de madeireiras e entraves burocráticos. Sinop ganhou de Lula sirenes de madrugada invadindo lares, aterrorizando um povo trabalhador e embaralhando o promissor futuro de muitas cidades mato-grossenses e daquela que era o principal centro regional do norte do estado. E Lula, não Dilma, perdeu em todas elas. Se o povo fazia alguma coisa errada em relação ao meio ambiente, só fazia aquilo para o qual foi atraído pelo próprio governo federal em outras épocas, quando mata em pé significava "terra improdutiva" sujeita à desapropriação. Mais correto uma política inibidora das práticas hoje condenadas do que as sirenes e o terror. Ganhariam todos, o meio ambiente, a região e o estado. Talvez até a candidata.
Do jeito como Mato Grosso foi maltratado o resultado não poderia ter sido outro. O governo Lula, não Dilma, perdeu em 90 dos 141 municípios mato-grossenses. Até mesmo na Sapezal de Maggi, na Matupá do governador Silval e em Lucas do Rio Verde, destino da fantástica ferrovia criada um ano antes da eleição visando os votos daquela gente do norte recém sacrificada em nome do meio-ambiente. Nem com sangue de barata. Mas, em sua vetusta sabedoria, a Grande Cuiabá fez Dilma vitoriosa em suas urnas, crendo que mesmo os melhores podem melhorar e mostrando que Mato Grosso espera e confia na presidenta eleita com os projetos que necessita e tem direito. Afinal, se Mato Grosso tem apenas 1,5% do eleitorado, produz mais da metade do superavit comercial brasileiro e aguarda o respeito federal que merece.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 02/11/2010)
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terça-feira, 26 de outubro de 2010
SERRA, DILMA E MATO GROSSO
SERRA, DILMA E MATO GROSSO
José Antonio Lemos dos Santos
O artigo da semana passada recebeu diversos comentários com avaliações que foram do antológico ao idiota, refletindo a forte disputa entre as duas candidaturas a presidente neste segundo turno. Nele reclamei da ausência de propostas para a logística dos transportes em Mato Grosso na propaganda de José Serra, situação no mínimo estranha já que o assunto fora priorizado pelo próprio candidato ao destacá-lo no seu primeiro discurso em maio passado. A reclamação inclusive deu para alguns a falsa idéia de que eu teria mudado de candidato. Sou Serra por seus méritos, pelas obras estruturais em Mato Grosso concluídas ou deixadas em andamento pelo governo Fernando Henrique - depois paralisadas ou abandonadas - e por crer nos caminhos que aponta para o futuro do Brasil.
Mas o mais importante é a democracia, o direito e o dever do cidadão escolher quem vai presidir a nação a partir do ano que vem, com o respeito de todos os brasileiros, ainda que na oposição democrática. Independente do candidato, o fato é que Mato Grosso tem alguns assuntos pendentes junto ao governo federal que deverão ser resolvidos pela próxima administração federal, alguns já abraçados pelo governador Silval Barbosa, que certamente irá cobrá-los de quem quer que seja eleito. Presidente ou presidenta, estes assuntos exigem a condição de prioridade nacional, afinal, não se trata apenas de questões locais, e sim de uma das regiões mais dinâmicas do mundo e da viabilização ou do colapso da maior produção agro-pecuária do Brasil, hoje responsável pela metade do saldo comercial do país.
O mais premente, o Aeroporto Marechal Rondon exige solução que atenda suas taxas de crescimento e demanda atual, muitas vezes superior a capacidade instalada. A negligência da Infraero já é um gargalo para a economia estadual, e ainda põe em risco a Copa das Confederações em 2013 e a Copa do Pantanal em 2014. A solução implica em firme decisão política e um choque de gestão na Infraero. Ainda dá. Brasília foi feita em três anos. Seja ele ou ela, terá que resolver.
Outro assunto é a questão ferroviária. Mato Grosso não pode mais prescindir das ferrovias, com cargas de ida e volta viabilizadoras de fretes compensadores, não só para o agronegócio, mas para toda a economia. A Ferronorte, já avançada em seu percurso, deve seguir seu trajeto original, passando por Cuiabá e seguindo o eixo da BR-163, reforçando a coluna vertebral do estado e distribuindo o desenvolvimento a leste e oeste do estado. A Ferronorte consolida Mato Grosso, possibilitando-lhe suportar unido o traçado transverso da nova ferrovia Leste-Oeste. Completando, é urgente a duplicação rodoviária de Rondonópolis a Posto Gil, prosseguindo de imediato até Sinop, Lucas e Sorriso, no mínimo. Seja ela ou ele, terá que resolver o assunto.
Por fim a questão do gás boliviano, que é muita energia - e energia limpa - matéria prima e desenvolvimento. É um acinte ver parado há mais de três anos o complexo gasoduto/termelétrica de 1 bilhão de dólares. Situação incompreensível ao leigo pois a Bolívia é um país amigo. Seja ele ou ela, há que enfrentar este desafio, alcançando uma solução permanente e confiável, sem mais lengalengas.
Mas, presidenta ou presidente, é essencial que os aqui já eleitos atuem de fato como propositores, defensores e cobradores ferrenhos dos interesses do estado, justificando o que lhes pagamos. E nós, cobrando sempre, mas também aplaudindo se for o caso. Que a cada dia de seus mandatos, o governador e cada um dos senadores, deputados federais e estaduais, vereadores e prefeitos renovem com realizações e atitudes seus compromissos com tudo o que Mato Grosso precisa e tem direito.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 26/10/10)
José Antonio Lemos dos Santos
O artigo da semana passada recebeu diversos comentários com avaliações que foram do antológico ao idiota, refletindo a forte disputa entre as duas candidaturas a presidente neste segundo turno. Nele reclamei da ausência de propostas para a logística dos transportes em Mato Grosso na propaganda de José Serra, situação no mínimo estranha já que o assunto fora priorizado pelo próprio candidato ao destacá-lo no seu primeiro discurso em maio passado. A reclamação inclusive deu para alguns a falsa idéia de que eu teria mudado de candidato. Sou Serra por seus méritos, pelas obras estruturais em Mato Grosso concluídas ou deixadas em andamento pelo governo Fernando Henrique - depois paralisadas ou abandonadas - e por crer nos caminhos que aponta para o futuro do Brasil.
Mas o mais importante é a democracia, o direito e o dever do cidadão escolher quem vai presidir a nação a partir do ano que vem, com o respeito de todos os brasileiros, ainda que na oposição democrática. Independente do candidato, o fato é que Mato Grosso tem alguns assuntos pendentes junto ao governo federal que deverão ser resolvidos pela próxima administração federal, alguns já abraçados pelo governador Silval Barbosa, que certamente irá cobrá-los de quem quer que seja eleito. Presidente ou presidenta, estes assuntos exigem a condição de prioridade nacional, afinal, não se trata apenas de questões locais, e sim de uma das regiões mais dinâmicas do mundo e da viabilização ou do colapso da maior produção agro-pecuária do Brasil, hoje responsável pela metade do saldo comercial do país.
O mais premente, o Aeroporto Marechal Rondon exige solução que atenda suas taxas de crescimento e demanda atual, muitas vezes superior a capacidade instalada. A negligência da Infraero já é um gargalo para a economia estadual, e ainda põe em risco a Copa das Confederações em 2013 e a Copa do Pantanal em 2014. A solução implica em firme decisão política e um choque de gestão na Infraero. Ainda dá. Brasília foi feita em três anos. Seja ele ou ela, terá que resolver.
Outro assunto é a questão ferroviária. Mato Grosso não pode mais prescindir das ferrovias, com cargas de ida e volta viabilizadoras de fretes compensadores, não só para o agronegócio, mas para toda a economia. A Ferronorte, já avançada em seu percurso, deve seguir seu trajeto original, passando por Cuiabá e seguindo o eixo da BR-163, reforçando a coluna vertebral do estado e distribuindo o desenvolvimento a leste e oeste do estado. A Ferronorte consolida Mato Grosso, possibilitando-lhe suportar unido o traçado transverso da nova ferrovia Leste-Oeste. Completando, é urgente a duplicação rodoviária de Rondonópolis a Posto Gil, prosseguindo de imediato até Sinop, Lucas e Sorriso, no mínimo. Seja ela ou ele, terá que resolver o assunto.
Por fim a questão do gás boliviano, que é muita energia - e energia limpa - matéria prima e desenvolvimento. É um acinte ver parado há mais de três anos o complexo gasoduto/termelétrica de 1 bilhão de dólares. Situação incompreensível ao leigo pois a Bolívia é um país amigo. Seja ele ou ela, há que enfrentar este desafio, alcançando uma solução permanente e confiável, sem mais lengalengas.
Mas, presidenta ou presidente, é essencial que os aqui já eleitos atuem de fato como propositores, defensores e cobradores ferrenhos dos interesses do estado, justificando o que lhes pagamos. E nós, cobrando sempre, mas também aplaudindo se for o caso. Que a cada dia de seus mandatos, o governador e cada um dos senadores, deputados federais e estaduais, vereadores e prefeitos renovem com realizações e atitudes seus compromissos com tudo o que Mato Grosso precisa e tem direito.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 26/10/10)
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terça-feira, 19 de outubro de 2010
SERRA, E MATO GROSSO?
SERRA, E MATO GROSSO?
José Antonio Lemos dos Santos
No início de maio último, em seu primeiro discurso como candidato à Presidência da República, José Serra lembrou o colapso dos transportes em Mato Grosso destacando ser “mais caro transportar uma tonelada de soja de Mato Grosso ao porto de Paranaguá do que levar a mesma soja do porto brasileiro até a China. Um absurdo.” Entusiasmou muitos mato-grossenses ver um dos principais problemas do estado destacado no primeiro discurso de um dos mais fortes candidatos na disputa presidencial que se iniciava. Com ampla divulgação nacional, rendeu-lhe também um artigo meu, modesto, mas com o alto prestígio de sair no mais tradicional jornal de Mato Grosso.
A credibilidade da citação era procedente não só pela seriedade do próprio candidato, ainda uma de suas virtudes, mas também porque a chegada da ferrovia a Mato Grosso foi uma das principais obras do governo Fernando Henrique, que Serra integrou. Aliás, na inauguração do terminal de Alto Taquari, o então presidente prometeu de viva voz a ferrovia em Cuiabá, concluindo sua promessa como um sonoro “palavra de presidente”, que virou out-doors nas principais vias de Cuiabá. Portanto nada mais natural do que a lembrança por Serra em sua proposta de governo daquela importante obra, paralisada nos governos do presidente Lula e só retomada agora às vésperas das eleições.
Eis que, para surpresa de todos, Mato Grosso não aparece nas propagandas de José Serra dedicadas à área de transportes. Será que ainda vai aparecer? Ou deixou de ser “um absurdo” o preço do transporte pago pelos produtores mato-grossenses? Fica a expectativa de que o candidato volte a se referir a Mato Grosso em suas propostas de governo, em especial à continuidade da Ferronorte até Santarém e Porto Velho, em seu trajeto original, aquele que reforça a BR-163 e consolida Mato-Grosso como o maior produtor agro-pecuário do país, e como o estado brasileiro de maior desenvolvimento.
Contudo, além do projeto da Ferronorte - sonho e luta do senador Vuolo - é importante o resgate de todas aquelas outras obras estruturantes do estado, frutos da visão de estadista de Dante de Oliveira, assumidas pelo governo Fernando Henrique. A começar pela reativação do gasoduto e a volta do gás boliviano, matéria-prima e fonte energética para as indústrias, insumo indispensável à reativação da termelétrica de Cuiabá. Destinado a assegurar confiabilidade energética ao estado, o complexo gasoduto/termelétrica de 1 bilhão de dólares encontra-se estupidamente parado há mais de 3 anos.
Da mesma forma, há que se retomar as obras do Aeroporto Marechal Rondon, cujo pouco caso da Infraero já parece intencional contra a Copa do Pantanal em Cuiabá. Também iniciadas na gestão FHC, com a Infraero administrada pelo saudoso cuiabano Orlando Boni, as obras de ampliação do aeroporto estão igualmente paralisadas. Não menos importante é o resgate da multifinalidade da barragem de Manso, também inaugurada no governo FHC, mas até hoje restrita às suas funções de regularização do rio e geração de energia, ela que foi prevista também para atividades diversas da aquicultura, irrigação, turismo e abastecimento de água para os municípios do vale do Cuiabá.
Todos estes projetos são bandeiras abandonadas pelo PSDB local pós-Dante, que está pagando caro por isso, mas, acredito, ainda não foram nem serão desprezadas pelo partido em nível nacional. Ademais, tão logo eleito o governador Silval Barbosa, em gesto de grandeza política, assumiu em atitudes concretas a retomada do gás, da termelétrica, do aeroporto e da Ferronorte. E, assim, tudo pode ficar mais fácil se retomadas por todos, para o bem de Mato Grosso.
José Antonio Lemos dos Santos
No início de maio último, em seu primeiro discurso como candidato à Presidência da República, José Serra lembrou o colapso dos transportes em Mato Grosso destacando ser “mais caro transportar uma tonelada de soja de Mato Grosso ao porto de Paranaguá do que levar a mesma soja do porto brasileiro até a China. Um absurdo.” Entusiasmou muitos mato-grossenses ver um dos principais problemas do estado destacado no primeiro discurso de um dos mais fortes candidatos na disputa presidencial que se iniciava. Com ampla divulgação nacional, rendeu-lhe também um artigo meu, modesto, mas com o alto prestígio de sair no mais tradicional jornal de Mato Grosso.
A credibilidade da citação era procedente não só pela seriedade do próprio candidato, ainda uma de suas virtudes, mas também porque a chegada da ferrovia a Mato Grosso foi uma das principais obras do governo Fernando Henrique, que Serra integrou. Aliás, na inauguração do terminal de Alto Taquari, o então presidente prometeu de viva voz a ferrovia em Cuiabá, concluindo sua promessa como um sonoro “palavra de presidente”, que virou out-doors nas principais vias de Cuiabá. Portanto nada mais natural do que a lembrança por Serra em sua proposta de governo daquela importante obra, paralisada nos governos do presidente Lula e só retomada agora às vésperas das eleições.
Eis que, para surpresa de todos, Mato Grosso não aparece nas propagandas de José Serra dedicadas à área de transportes. Será que ainda vai aparecer? Ou deixou de ser “um absurdo” o preço do transporte pago pelos produtores mato-grossenses? Fica a expectativa de que o candidato volte a se referir a Mato Grosso em suas propostas de governo, em especial à continuidade da Ferronorte até Santarém e Porto Velho, em seu trajeto original, aquele que reforça a BR-163 e consolida Mato-Grosso como o maior produtor agro-pecuário do país, e como o estado brasileiro de maior desenvolvimento.
Contudo, além do projeto da Ferronorte - sonho e luta do senador Vuolo - é importante o resgate de todas aquelas outras obras estruturantes do estado, frutos da visão de estadista de Dante de Oliveira, assumidas pelo governo Fernando Henrique. A começar pela reativação do gasoduto e a volta do gás boliviano, matéria-prima e fonte energética para as indústrias, insumo indispensável à reativação da termelétrica de Cuiabá. Destinado a assegurar confiabilidade energética ao estado, o complexo gasoduto/termelétrica de 1 bilhão de dólares encontra-se estupidamente parado há mais de 3 anos.
Da mesma forma, há que se retomar as obras do Aeroporto Marechal Rondon, cujo pouco caso da Infraero já parece intencional contra a Copa do Pantanal em Cuiabá. Também iniciadas na gestão FHC, com a Infraero administrada pelo saudoso cuiabano Orlando Boni, as obras de ampliação do aeroporto estão igualmente paralisadas. Não menos importante é o resgate da multifinalidade da barragem de Manso, também inaugurada no governo FHC, mas até hoje restrita às suas funções de regularização do rio e geração de energia, ela que foi prevista também para atividades diversas da aquicultura, irrigação, turismo e abastecimento de água para os municípios do vale do Cuiabá.
Todos estes projetos são bandeiras abandonadas pelo PSDB local pós-Dante, que está pagando caro por isso, mas, acredito, ainda não foram nem serão desprezadas pelo partido em nível nacional. Ademais, tão logo eleito o governador Silval Barbosa, em gesto de grandeza política, assumiu em atitudes concretas a retomada do gás, da termelétrica, do aeroporto e da Ferronorte. E, assim, tudo pode ficar mais fácil se retomadas por todos, para o bem de Mato Grosso.
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terça-feira, 12 de outubro de 2010
ARQUITETOS E ENGENHEIROS UNIDOS
ARQUITETOS E ENGENHEIROS UNIDOS
José Antonio Lemos dos Santos
Estarrecedora a notícia trazida pela paralisação dos arquitetos e engenheiros da Prefeitura de Cuiabá: são apenas 34 profissionais da área da Engenharia e a Arquitetura no quadro administrativo municipal! O número é insignificante diante da complexidade técnica de uma cidade com quase 1 milhão de habitantes, se contada, além da população residente, a população flutuante, a estudantil universitária e a de outras cidades de Mato Grosso com uma segunda residência na capital. É muito pouco para uma cidade que polariza a região que mais cresce no Brasil, uma das mais dinâmicas do planeta, e que tem a obrigação de se preparar para sediar a Copa o Pantanal daqui a menos de 4 anos.
No Brasil são raros os casos de união entre arquitetos e engenheiros como no caso atual. Pelo contrário, são duas profissões que apesar de complementares, colocam-se mais em conflito entre si do que somando esforços na defesa de condições mínimas para o desenvolvimento de suas importantes funções sociais. Enquanto isso as nossas cidades beiram o caos e matam cada vez mais – mortes tecnicamente evitáveis - por falta desses profissionais especializados na gestão edilícia e urbanística em número e condições adequadas. E nesse processo as profissões perdem cada vez mais seu antigo prestígio na sociedade. De um modo geral no Brasil assistimos as cidades em degradação pela ausência da técnica disponível no mundo inteiro, em especial do urbanismo, e, abraçadas com elas, definhando socialmente as profissões técnicas diretamente ligadas ao seu desenvolvimento.
A cidade é uma invenção humana, a maior e mais bem-sucedida de todas. Também a mais complexa. É um objeto artificial que tem que ser construído, portanto, com uma dimensão técnica inalienável. Mas, tem também a característica especialíssima de ser uma construção coletiva com muitos donos. Quem constrói uma cidade não é a prefeitura ou quaisquer governos, mas o cidadão com sua casinha, oficina, loja ou borracharia, e o cidadão é o dono coletivo da cidade. Por isso ela tem também uma dimensão política, do mesmo modo, inalienável. Assim, a construção de uma cidade é um processo técnico e político ao mesmo tempo. Não pode ser só técnica, pois cairia nas garras da tecnocracia, nem só política, pois cai no engodo da politicagem e da demagogia.
O embate entre estas duas dimensões não foi devidamente equacionado no Brasil. Os políticos tradicionais ainda veem a cidade como um butim eleitoral, uma conquista a ser negociada ao longo dos mandatos como “recompensa” pelos esforços despendidos em cada eleição. Assim a técnica e os técnicos surgem como um estorvo e não interessam. A visão política prevalece e as cidades vão literalmente para o brejo, com a população pagando o preço do caos urbano, das inundações e desmoronamentos, dos engarrafamentos e mortalidade no trânsito, da demora burocrática, da ausência do planejamento, ou quando existente, da não execução de suas leis e projetos. Os técnicos em número ínfimo e sem condições adequadas de trabalho, não conseguem corresponder às expectativas da cidadania. Aí a justeza do movimento dos engenheiros e arquitetos da prefeitura de Cuiabá em um protesto que deveria ser ouvido muito além dos nossos limites municipais. No caso cuiabano a questão é antiga. Mesmo quando da implantação do Sistema Municipal de Desenvolvimento Urbano, continuado em diversas administrações, não se avançou na estruturação de um quadro técnico compatível com as dimensões da cidade. O atual prefeito que assumiu outro dia, por ser novo na política local pode ser a chance do resgate da visão técnica da problemática urbana. Cuiabá vive agora um dos mais ricos momentos de sua história. Não pode perder está chance.
Publicado em 12/10/2010 pelo Diário de Cuiabá
José Antonio Lemos dos Santos
Estarrecedora a notícia trazida pela paralisação dos arquitetos e engenheiros da Prefeitura de Cuiabá: são apenas 34 profissionais da área da Engenharia e a Arquitetura no quadro administrativo municipal! O número é insignificante diante da complexidade técnica de uma cidade com quase 1 milhão de habitantes, se contada, além da população residente, a população flutuante, a estudantil universitária e a de outras cidades de Mato Grosso com uma segunda residência na capital. É muito pouco para uma cidade que polariza a região que mais cresce no Brasil, uma das mais dinâmicas do planeta, e que tem a obrigação de se preparar para sediar a Copa o Pantanal daqui a menos de 4 anos.
No Brasil são raros os casos de união entre arquitetos e engenheiros como no caso atual. Pelo contrário, são duas profissões que apesar de complementares, colocam-se mais em conflito entre si do que somando esforços na defesa de condições mínimas para o desenvolvimento de suas importantes funções sociais. Enquanto isso as nossas cidades beiram o caos e matam cada vez mais – mortes tecnicamente evitáveis - por falta desses profissionais especializados na gestão edilícia e urbanística em número e condições adequadas. E nesse processo as profissões perdem cada vez mais seu antigo prestígio na sociedade. De um modo geral no Brasil assistimos as cidades em degradação pela ausência da técnica disponível no mundo inteiro, em especial do urbanismo, e, abraçadas com elas, definhando socialmente as profissões técnicas diretamente ligadas ao seu desenvolvimento.
A cidade é uma invenção humana, a maior e mais bem-sucedida de todas. Também a mais complexa. É um objeto artificial que tem que ser construído, portanto, com uma dimensão técnica inalienável. Mas, tem também a característica especialíssima de ser uma construção coletiva com muitos donos. Quem constrói uma cidade não é a prefeitura ou quaisquer governos, mas o cidadão com sua casinha, oficina, loja ou borracharia, e o cidadão é o dono coletivo da cidade. Por isso ela tem também uma dimensão política, do mesmo modo, inalienável. Assim, a construção de uma cidade é um processo técnico e político ao mesmo tempo. Não pode ser só técnica, pois cairia nas garras da tecnocracia, nem só política, pois cai no engodo da politicagem e da demagogia.
O embate entre estas duas dimensões não foi devidamente equacionado no Brasil. Os políticos tradicionais ainda veem a cidade como um butim eleitoral, uma conquista a ser negociada ao longo dos mandatos como “recompensa” pelos esforços despendidos em cada eleição. Assim a técnica e os técnicos surgem como um estorvo e não interessam. A visão política prevalece e as cidades vão literalmente para o brejo, com a população pagando o preço do caos urbano, das inundações e desmoronamentos, dos engarrafamentos e mortalidade no trânsito, da demora burocrática, da ausência do planejamento, ou quando existente, da não execução de suas leis e projetos. Os técnicos em número ínfimo e sem condições adequadas de trabalho, não conseguem corresponder às expectativas da cidadania. Aí a justeza do movimento dos engenheiros e arquitetos da prefeitura de Cuiabá em um protesto que deveria ser ouvido muito além dos nossos limites municipais. No caso cuiabano a questão é antiga. Mesmo quando da implantação do Sistema Municipal de Desenvolvimento Urbano, continuado em diversas administrações, não se avançou na estruturação de um quadro técnico compatível com as dimensões da cidade. O atual prefeito que assumiu outro dia, por ser novo na política local pode ser a chance do resgate da visão técnica da problemática urbana. Cuiabá vive agora um dos mais ricos momentos de sua história. Não pode perder está chance.
Publicado em 12/10/2010 pelo Diário de Cuiabá
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domingo, 3 de outubro de 2010
BOM DESPACHO VIVA
BOM DESPACHO VIVA
José Antonio Lemos dos Santos
A descida da Avenida Isaac Póvoas nos proporciona a visão de um dos mais belos cartões postais de Cuiabá, a igreja Nossa Senhora do Bom Despacho. Iluminada pelo sol ou artificialmente, mesmo nesta fumaceira dos dias atuais o belíssimo edifício se impõe sobranceiro no alto do morro do Seminário sobre o centro histórico da cidade e no coração dos cuiabanos, onde sempre teve reservado um cantinho privilegiado. Chegou a ser eleita pela população em 2004 como a “cara da cidade” em concurso realizado pelo Diário de Cuiabá, ela que teve sua construção iniciada em 1914. Idealizada pelo frei Ambrósio Daydé, foi construída por Leon Mousnier a partir de projeto de seu pai George Mousnier, Conde de Manoir, que projetou também a de Cáceres - esta com duas torres - e que na época já teria sido responsável por outras igrejas em algumas cidades da América do Sul.
Em estilo neogótico, a igreja foi projetada e construída por quem realmente conhecia o gótico original e é visita obrigatória para meus alunos quando tratamos o tema. Lá estão os pináculos, arcobotantes, abóbadas nervuradas, arcos ogivais, gabletes realizados com a maior competência e fidedignidade. Segundo o arquiteto Alex de Matos em seu livro “A Igreja do Bom Despacho – Arquitetura e simbolismo”, citando o padre Pedro Cometti, a construção resultou de uma salutar competição entre os frades de origem francesa e os padres salesianos de origem italiana que haviam iniciado em 1914 as obras da igreja de Nossa Senhora Auxiliadora. Segundo o autor, essa disputa pelos fiéis acabou deixando para Cuiabá duas maravilhas arquitetônicas, autênticas obras de arte, sendo que o projeto da Bom Despacho previa ainda a torre em agulha – não construída - similar a da Nossa Senhora Auxiliadora.
Durante algumas décadas a igreja do Bom Despacho teve uso bastante restrito, que levou a sua deterioração precoce, com infiltrações, rachaduras, queda parcial do telhado, colocando em risco a estrutura do grandioso edifício. Lembro que as obras de restauração, concluídas em 2004, causaram polêmica, como não podia deixar de ser tratando-se de algo tão valioso para a população. Hoje, lá está ela, bela, ornamentando a cidade e envaidecendo o cuiabano cujos antepassados tiveram a força e a capacidade de construí-la. Porém, mais que só bela, a Bom Despacho está viva, reviveu com as missas diárias e outros eventos que lotam suas naves aos domingos. Notável a presença de turistas, alguns assistem às missas, outros apenas apreciam o edifício e tiram fotos. Uma pena que não funcione aos domingos o Museu de Arte Sacra, que fica ao lado no antigo Seminário da Conceição, outro edifício extraordinário, que junto à Bom Despacho, ao Palácio Episcopal e à Santa Casa da Misericórdia forma um dos mais pitorescos conjuntos urbanísticos do oeste brasileiro.
Após restaurado poderia continuar com sua ocupação restrita, e a tendência seria um novo período de decadência e abandono. Mas, por iniciativa de Dom Milton Santos, arcebispo de Cuiabá, a antiga igreja foi promovida a Santuário Eucarístico, agregando funções e significados novos. O milagre da revitalização aconteceu com as paróquias da cidade abraçando o novo Santuário como um projeto coletivo, dividindo entre si as funções de animação e apoio diversos, muito bem coordenados pelo jovem padre Wagner Stephan.
Este assunto nos lembra muito e tem muito a ensinar sobre a falsa questão dos “elefantes brancos”, que busca indevidamente transferir para os edifícios as razões de seus eventuais maus usos ou mesmo abandonos. Mas este é um assunto a ser tratado em outro artigo.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 28/09/10)
José Antonio Lemos dos Santos
A descida da Avenida Isaac Póvoas nos proporciona a visão de um dos mais belos cartões postais de Cuiabá, a igreja Nossa Senhora do Bom Despacho. Iluminada pelo sol ou artificialmente, mesmo nesta fumaceira dos dias atuais o belíssimo edifício se impõe sobranceiro no alto do morro do Seminário sobre o centro histórico da cidade e no coração dos cuiabanos, onde sempre teve reservado um cantinho privilegiado. Chegou a ser eleita pela população em 2004 como a “cara da cidade” em concurso realizado pelo Diário de Cuiabá, ela que teve sua construção iniciada em 1914. Idealizada pelo frei Ambrósio Daydé, foi construída por Leon Mousnier a partir de projeto de seu pai George Mousnier, Conde de Manoir, que projetou também a de Cáceres - esta com duas torres - e que na época já teria sido responsável por outras igrejas em algumas cidades da América do Sul.
Em estilo neogótico, a igreja foi projetada e construída por quem realmente conhecia o gótico original e é visita obrigatória para meus alunos quando tratamos o tema. Lá estão os pináculos, arcobotantes, abóbadas nervuradas, arcos ogivais, gabletes realizados com a maior competência e fidedignidade. Segundo o arquiteto Alex de Matos em seu livro “A Igreja do Bom Despacho – Arquitetura e simbolismo”, citando o padre Pedro Cometti, a construção resultou de uma salutar competição entre os frades de origem francesa e os padres salesianos de origem italiana que haviam iniciado em 1914 as obras da igreja de Nossa Senhora Auxiliadora. Segundo o autor, essa disputa pelos fiéis acabou deixando para Cuiabá duas maravilhas arquitetônicas, autênticas obras de arte, sendo que o projeto da Bom Despacho previa ainda a torre em agulha – não construída - similar a da Nossa Senhora Auxiliadora.
Durante algumas décadas a igreja do Bom Despacho teve uso bastante restrito, que levou a sua deterioração precoce, com infiltrações, rachaduras, queda parcial do telhado, colocando em risco a estrutura do grandioso edifício. Lembro que as obras de restauração, concluídas em 2004, causaram polêmica, como não podia deixar de ser tratando-se de algo tão valioso para a população. Hoje, lá está ela, bela, ornamentando a cidade e envaidecendo o cuiabano cujos antepassados tiveram a força e a capacidade de construí-la. Porém, mais que só bela, a Bom Despacho está viva, reviveu com as missas diárias e outros eventos que lotam suas naves aos domingos. Notável a presença de turistas, alguns assistem às missas, outros apenas apreciam o edifício e tiram fotos. Uma pena que não funcione aos domingos o Museu de Arte Sacra, que fica ao lado no antigo Seminário da Conceição, outro edifício extraordinário, que junto à Bom Despacho, ao Palácio Episcopal e à Santa Casa da Misericórdia forma um dos mais pitorescos conjuntos urbanísticos do oeste brasileiro.
Após restaurado poderia continuar com sua ocupação restrita, e a tendência seria um novo período de decadência e abandono. Mas, por iniciativa de Dom Milton Santos, arcebispo de Cuiabá, a antiga igreja foi promovida a Santuário Eucarístico, agregando funções e significados novos. O milagre da revitalização aconteceu com as paróquias da cidade abraçando o novo Santuário como um projeto coletivo, dividindo entre si as funções de animação e apoio diversos, muito bem coordenados pelo jovem padre Wagner Stephan.
Este assunto nos lembra muito e tem muito a ensinar sobre a falsa questão dos “elefantes brancos”, que busca indevidamente transferir para os edifícios as razões de seus eventuais maus usos ou mesmo abandonos. Mas este é um assunto a ser tratado em outro artigo.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 28/09/10)
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