"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 29 de setembro de 2015

CIDADES E FRONTEIRA

www.fab.mil.br

José Antonio Lemos dos Santos

     Stanley Kubrick em “2001, uma odisseia no espaço” nos mostra numa das mais belas cenas do cinema o alvorecer da humanidade com o homem criando seu primeiro invento, que teria sido uma arma adaptada do osso de uma anta. Desde então o homem não parou de aperfeiçoá-las. Da borduna do osso da anta chegamos aos mísseis nucleares e outras invenções fantásticas destinadas a dobrar o adversário com a violência e a morte. O século XXI, porém, nos reservou a mais poderosa e cruel de todas elas, inimaginável à mais delirante ficção científica. Age sem explodir e sem destruir bens materiais, mas acaba com a vida humana de forma atroz, não sem antes espalhar seus malefícios ao maior número possível de vítimas e ceifando com elas as bases éticas, morais e institucionais de qualquer sociedade. O país fica oco de valores, dignidade e cidadania, pronto para ser dominado.
     A droga é esta mais poderosa arma de destruição e é a maior ameaça a um povo ou país. Ela penetra as estruturas sociais e atua de dentro para fora como um forno micro-ondas. E o Brasil vem sendo sistematicamente bombardeado por essa poderosa arma. Há alguns anos o Fantástico mostrou que o território de Mato Grosso é a principal plataforma de disseminação pelo país dessa arma letal que sangra o Brasil, fato que se confirma com frequência pela imprensa. O tráfico internacional se utiliza da fronteira mato-grossense para o arremesso em propriedades rurais de fardos com drogas, lançados por pequenas aeronaves em voos que escapam aos radares que fazem a segurança do espaço aéreo nacional. Vez por outra temos notícias de apreensões deste tipo. E quantas remessas não são detectadas? Há décadas discute-se o assunto em Mato Grosso, inclusive abordando a ideia da criação de uma Base Aérea em Cáceres utilizando a pista de pouso asfaltada ali existente e ociosa, e na semana passada em Goiânia o governador Pedro Taques cobrou da União medidas efetivas para assegurar a necessária segurança na nossa fronteira. E tem que cobrar mesmo, afinal nossas cidades estão diretamente expostas a este violento bombardeio.
        Jamais será suficientemente enaltecido o trabalho realizado com todas as dificuldades e riscos pelas polícias militar e civil do estado, polícia federal, polícias rodoviárias federal e estadual, e pelo Exército, em ações terrestres. Mas, na questão do controle de nossa fronteira é indispensável considerar a importância do espaço aéreo. Por mais zelosas que sejam as ações em terra, dificilmente alcançarão êxito sem um apoio ostensivo aéreo, com aviões de verdade, portadores do intimidador e vitorioso emblema da gloriosa Força Aérea Brasileira. Mato Grosso é um dos únicos estados brasileiros a não ter uma Base Aérea, apesar de uma complicada fronteira de 1100 quilômetros. Mato Grosso do Sul tem e Rondônia também tem. Fica uma brecha de vulnerabilidade na segurança aérea nacional, justamente na fronteira de Mato Grosso, por onde o país vem sendo bombardeado. Por que Mato Grosso não tem uma Base Aérea até hoje?
     Cáceres tem posição estratégica para uma Base Aérea, a montante do Pantanal, equidistante das bases do Mato Grosso do Sul e de Rondônia, e com uma pista ociosa capaz de receber Boeings. Ao leigo parece bastar alguns helicópteros, alguns Tucanos ou outra aeronave leve baseados na área para se mostrarem presentes e em constante vigilância, rápidas o suficiente para interceptar os teco-tecos que tanto mal vem fazendo ao país, em especial a Cáceres e à Grande Cuiabá. Não se pode pensar em qualidade de vida urbana para os cidadãos brasileiros, para Mato Grosso e para Cuiabá, às vésperas de seu Tricentenário, sem pensar na segurança que começa lá na fronteira.
(Publicado em 28/09/15 pelo Página do Enock, em 29/09/15 pelo Midianews e Jornal Oeste, ...)

sábado, 26 de setembro de 2015

POETA



O artista de bem com a vida consegue enxergar poesia onde nós normais só conseguimos ver fumaça, calor e poeira.
(Ademar Poppi é arquiteto e urbanista, e professor universitário. Poeta na fotografia.)

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

FIM DOS SHOPPINGS?

Randall Park Mall, North Randall, Ohio, EUA - architecturalafterlife.com


Veja no link abaixo interessante matéria da BBC sobre o estágio de evolução dos shoppings centers nos EUA. Seria uma tendência geral ou só uma crise temporária?

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/12/141219_vert_cul_fim_shopping

Rolling Acres Mall, Akron, EUA  -                architecturalafterlife.com

quarta-feira, 24 de junho de 2015

PARA SEMPRE

esportes.terra

Artigo que republico hoje (24/02/2015), um ano após sua primeira publicação no Diário de Cuiabá por ocasião do encerramento da Copa do Pantanal em Cuiabá.

José Antonio Lemos dos Santos

     Está marcado para hoje, no começinho desta noite de São João, o último jogo da Copa do Pantanal entre Colômbia e Japão, assinalando o fim da participação direta de Cuiabá nesta Copa do Mundo de 2014, que até agora tem sido magnífica, surpreendendo de modo favorável a opinião pública nacional e mundial. Em especial, calando aquela parte da grande mídia que, por motivos que serão descobertos um dia, jamais aceitou Cuiabá como uma das sedes da Copa e que continua armada para destacar qualquer deslize, por mínimo que seja e mesmo que falso. Por isso, enquanto o jogo não acabar, não dá para cantar uma vitória completa de Cuiabá na Copa mesmo na certeza de que tudo correrá bem, como vem acontecendo pela graça e proteção do Bom Jesus de Cuiabá, que, como estou cada vez mais convencido, foi quem de fato trouxe a Copa para nós como pretexto para sacudir sua gente e iniciar a preparação digna de sua cidade para o Tricentenário, em 2019. 
     Mas Cuiabá e Mato Grosso já podem cantar muitas vitórias. E quero cantar a fundamental. Não vou me referir à fábrica de cimento, shoppings, torres hoteleiras ou às sempre tão focalizadas, esperadas e agouradas obras públicas que vão sendo incorporadas vorazmente pela cidade à medida em que são liberadas total ou parcialmente, confirmando suas urgências. Com rapidez, facilidade e conforto, outro dia fui do trevo da Rodoviária em Cuiabá até a rótula da Ponte Sérgio Mota em Várzea Grande, passando pelos viadutos do Despraiado e Orlando Chaves, e pelas trincheiras do Santa Isabel e Santa Rosa, esta ainda inconclusa. Sobre a maravilha da Arena Pantanal daria e dará muito para se falar. Como aquele luminoso espaço high-tech conseguiu traduzir tão bem o encantamento da tríade vitruviana, a ponto de transportar cerca de 40 mil pessoas confortavelmente a cada jogo para um mundo de alegria, vibração positiva, flashs, whatsapps, como se fosse de fato aquela nave intergaláctica mágica a que me referi em artigos anteriores? E o espaço do Fan Fest, no qual eu não fazia a menor fé, mas que numa noite recebeu mais pessoas que a própria arena? E a Arena Cultural dando um show diário de cultura local e regional? 
     Mas não é esse tipo de vitória que quero saudar como a fundamental. Essas coisas qualquer cidade pode ter, basta arranjar dinheiro. O que quero saudar é meu povo, minha gente em princípio tão simplória, desconfiada e arredia, mas que é capaz de dar show de alegria, calor humano e receptividade, condição primeira para a realização de um evento de tão grande porte como uma Copa do Mundo. Isso não se compra. O principal Cuiabá já tinha pronto naturalmente e não percebemos. E não podia ser melhor Cuiabá ter recebido primeiro as torcidas do Chile e da Austrália. Juntas com o cuiabano a empatia foi imediata. Jamais imaginei povos tão distantes no espaço e tão afins na simpatia, na alegria e na cordialidade. E depois vieram os russos e coreanos, bósnios e nigerianos e, logo os colombianos e japoneses, todos sem timidez no uso das cores, cantos, gritos pacíficos, mascotes e fantasias referentes aos seus países. Muitos trouxeram a família. 
     Às centenas ou milhares vieram também torcedores de outros países, e brasileiros de muitas cidades de Mato Grosso e do Brasil, todos integrados num grande momento de alegria espontânea e genuína. E o patinho feio na verdade era um belíssimo tuiuiú que serena bonito no alto e assenta mais lindo no chão. E a menor e menos preparada das sedes, com seus rios e o calor sadio, seu sotaque e modo de viver, do tereré e do guaraná, do Siriri e do Cururu, Cuiabá inteira virou uma grande festa internacional de paz e harmonia que ficará para sempre marcada no exato coração sul-americano e na memória do povo cuiabano. 

terça-feira, 19 de maio de 2015

DUTRA, O PRESIDENTE ESQUECIDO

f5dahistoria.wordpress.com

José Antonio Lemos dos Santos

     Neste 18 de maio devíamos ter reverenciado Dutra na lembrança de seu nascimento, o cuiabaninho que vendia bolos no centro de Cuiabá e que chegou a presidente da República. Filho de viúva de veterano da Guerra do Paraguai, pobre, sem qualquer ajuda, negada reiteradas vezes pelas autoridades, saiu daqui lavando pratos nas lanchas e trens que o levaram a um colégio militar, e de lá à presidência da República e à História do país. Foi e venceu, mantendo forte influência na política brasileira até o fim da vida. Um orgulho cujo aniversário, entretanto, passou despercebido, em especial, em sua própria terra, da mesma forma como é todos os anos e como foi ano passado, ano da Copa do Pantanal que devia tê-lo como grande homenageado. Dutra foi quem trouxe para o Brasil a primeira Copa do Mundo, em 1950. Presidente, queria mostrar ao mundo um Brasil novo, que deixava de ser rural e se industrializava. Construiu o Maracanã, o maior investimento até então em um esporte ainda não popular no mundo e que, junto com a Copa trazida por ele foi uma das causas da consolidação do futebol como uma das maiores paixões de massa do país e do mundo. 
     Não fosse pela Copa de 50, mesmo assim o aniversário de Dutra deveria ser lembrado. Injustiçado pela história oficial, sua vida pública inicia como ministro da Guerra, onde ficou por 9 anos, o ministro brasileiro mais duradouro, onde criou a FEB e depois, com o apoio dos oficiais vitoriosos contra as ditaduras nazifascistas, forçou a queda do ditador Getúlio. E de ministro foi a presidente pelo voto do povo, tendo sido um dos mais importantes pelas inovações que trouxe ao Brasil. De imediato convocou a Constituinte redemocratizando o país. Eleito para um mandato de seis anos curvou-se à nova Constituição aceitando os cinco anos que ela estabelecia, mesmo sendo presidente e o militar mais poderoso do país. Aos que temiam a volta de Getúlio e lhe propunham um golpe para ficar mais um ano, respondeu: “nem um minuto a mais, nem um minuto a menos do que manda o livrinho”. Virou “o homem do livrinho”, da Constituição mais democrática que o Brasil já teve, assinada por ele, trazida sempre em seu bolso. 
     Dutra introduziu o planejamento no Brasil com o Plano SALTE e criou o CNPq, cuja Lei de criação é tida com a Lei Áurea da tecnologia brasileira. Implantou o conceito de Produto Interno Bruto e pavimentou a primeira grande estrada no Brasil, a Via Dutra. Criou o Instituto Rio Branco, base da qualidade de nossa diplomacia, e a Chesf. É dele também a criação do Estado Maior das Forças Armadas e da Escola Superior de Guerra, fundamento da inteligência estratégica nacional. Criou ainda os sistemas Sesi, Sesc e Senai, e durante seu governo foi implantada a TV no Brasil. Pagou o pato pelo fechamento do Partido Comunista, na verdade uma decisão do STJ, e por isso, e também por ter fechado os cassinos, desagradou à esquerda formadora da intelectualidade da época, e foi jogado ao ostracismo. 
     Uma das promessas da Copa do Pantanal foi a criação do Memorial Dutra, uma justa e oportuna homenagem a um presidente em sua terra natal. O projeto foi depois abandonado, mas não pode ser abandonado pelos cuiabanos. Quem sabe através de suas criações SESC, SESI, ou SENAI, que tanto já tem dado a Cuiabá e Mato Grosso, ou quem sabe as 3 juntas? Talvez o seu nome em uma via como tem seu adversário derrotado nas eleições presidenciais? Não teria sobrado um viaduto, trincheira ou avenida para ele? Talvez trazer para Cuiabá o Colégio Militar prometido desde a década de 50? Toda cidade é um centro produtor, mas o principal produto de uma cidade é sua gente. Por isso, as cidades lembram e reverenciam seus vultos. Infelizmente, nem todas. 
(Publicado  em 19/05/2015 pelo Diário de Cuiabá, Midianews, FolhaMax, ...)
Comentários:
No Midianews:
Tonzinho  19.05.15 15h14
parabens colega pela brilhante materia. Como dizia minha avò, Santo de Casa não faz milagre.

Robélio Orbe  19.05.15 12h10
O brasileiro por natureza é um povo sem memória... isso se deve porque nas escolas esses heróis não são lembrados. O povo gosta de Funk, carnaval, futebol e bundalele. Na Praça Alencastro temos um busto em memória ao Presidente Dutra.
João  19.05.15 11h08
Construi o estadio Presidente Dutra, o Liceu Cuiabano, etc, etc,
ROBERTO  19.05.15 10h24
REALMENTE O BRASILEIRO, MATOGROSSENSE, CUIABANO, NÃO REVERENCIA SEUS FILHOS ILUSTRES. RECONHEÇO, NÃO SABIA QUE O MARECHAL ERA NASCIDO, NESTA TERRA. PARABÉNS, PELO ARTIGO, NÓS REALMENTE NÃO TEMOS HISTÓRIA, PQ ESQUECEMOS DOS NOSSOS PRÓPRIOS COMPATRIOTAS... POIS É... QUE PAÍS É ESSE ..

Reinaldo Thommen  19.05.15 09h16
Bem lembrado, somos um povo sem memória, sem passado, reverenciamos ídolos estrangeiros, enquanto os nossos são abandonados, ouvi dizer que aqui em Cuiabá temos uma praça Popeye? é brincadeira! Tivemos heróis cuiabanos que foram mortos na segunda guerra mundial, e ninguém diz nada. Povo sem memória.

sábado, 2 de maio de 2015

O DIREITO À BELEZA

Veja foto da Arena Pantanal ontem à noite (01/05/2015) com sua fantástica iluminação cênica começando a ser restaurada. Trata-se de um dos muitos pioneirismos de nossa Arena em termos de Arquitetura no mundo, assim como a fachada bioclimática a qual está agregada (a maior da América Latina deste tipo). Que não seja pela importância como  Arquitetura, pois então que seja uso feliz e saudável que a população tem feito dela ou pelos mais de R$ 600 milhões que ela nos custou.

Foto José Lemos 01/05/15

Parabéns governador, parabéns ao secretário Chiletto por responderem prontamente ao grande e pouco divulgado abraço que o povo deu na Arena em resposta ao risco do governo não poder "bater nenhum prego" na Arena. A Arena Pantanal é um dos cartões postais de Cuiabá mais divulgados no mundo e um espaços mais queridos e visitados diariamente pelos cuiabanos e não pode conviver com o desleixo e o abandono a que estava relegada.

g1.globo.com
Domingo (03/05/15) às 15h inicia a decisão do Campeonato Mato-grossense de 2015 com Operário x Cuiabá. Estar presente na Arena Pantanal é também uma forma de abraçá-la além de expressar o tão necessário apoio que nossos clubes MERECEM e precisam. Vamos lá!

terça-feira, 21 de abril de 2015

TIRADENTES E NÓS

Óleo de Washington Rodrigues - Museu de História Natural, RJ

José Antonio Lemos dos Santos

     Abril, mês em que comemoramos a figura de Tiradentes é também o mês em que encerra o prazo para a declaração do Imposto de Renda e o recolhimento aos cofres públicos do saldo ainda devedor eventualmente apurado. É bem provável que esta coincidência de datas seja apenas mais uma daquelas finas ironias que a história vez em quando oferece desafiando o poder de reflexão das pessoas. Aproveitemos. 
     Tiradentes morreu porque conspirou contra o Quinto cobrado pela Coroa Portuguesa e que significava 20% do que ouro produzido! Por essa causa rebelou-se contra a Coroa, propôs a independência do Brasil, e foi traído, enforcado, com seu corpo esquartejado. Seus restos foram exibidos em diversos pontos bem visíveis pelo povo, e sua cabeça exposta na praça pública de Vila Rica. Em 2014, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), no ano da Copa, o brasileiro arcou com uma carga tributária de 41,37%. Trocando em miúdos isso significa que de tudo o que produzimos, entregamos, em média, mais de 41% para o governo, isto é, para os governos federal, estaduais e municipais somente para manter uma máquina político-administrativa perdulária, improdutiva e que se mostra cada vez mais voraz e cada vez mais corrupta. Traduzindo em dias trabalhados, o brasileiro teve que trabalhar 151 dias em 2014, até o dia 31 de maio, exclusivamente para alimentar a sanha dos governos, inclusos Executivo, Legislativo e Judiciário. Só ficou livre em junho para vibrar com a Copa e com a nossa heptagoleada seleção canarinho. Podemos esperar que neste 2015, vamos invadir o mês de junho “carregando pedras feito penitentes, erguendo estranhas catedrais”, como já cantou um  dia o Chico Buarque dos bons tempos. 
     Não se trata de atacar este ou aquele governo. A voracidade fiscal vem de muito tempo. Em 1947, quando tínhamos o cuiabano Eurico Gaspar Dutra como Presidente, a mordida do governo ficava em 13,8% do PIB e em 1962 era 15,8%, tendo chegado aos “insuportáveis” 18,7% em 1957, quando da construção de Brasília. Em 1992 já girava em torno dos 26% e de lá para cá disparou, chegando em 1994 aos 29,8%, 35,84% em 2002 e para mais de 41% no ano passado. Quanto será este ano? Governar assim é fácil, principalmente quando não se tem a menor preocupação em oferecer a infraestrutura e os serviços públicos de qualidade em troca de tão generosa contribuição. Só que agora a situação é pior. Não bastasse a expropriação voraz do produto do trabalho brasileiro hoje ela vem com o deboche e o escárnio da parte de bandidos, delatores ou não, elevados à condição de “heróis da pátria” que somos obrigados, impotentes e envergonhados, a engolir cotidianamente em nossas salas diante de nossos filhos e netos. Até onde vamos? 
     Tiradentes virou herói nacional com a República. Mas sua imagem também foi sendo pouco a pouco adaptada aos interesses do poder. Virou o herói da Liberdade, da Independência e da Democracia, sem referência à sua principal luta, contra a opressão fiscal a que era submetido o povo brasileiro pelo governo da época. Transformaram-no em um herói aceitável, cooptado com suas barbas longas como as de um profeta e sua túnica angelicalmente alva como se fosse um daqueles doces e meigos santinhos de papel. 
Tiradentes Esquartejado - Pedro Américo, Museu Mariano Procópio, Juiz de Fora, MG

     Tiradentes, patrono dos nossos valorosos policiais militares é um herói atualíssimo que precisa ser resgatado na essência de sua mais importante luta. Quem dera sua figura inspirasse um pouco de bravura aos seus conterrâneos, impelindo-os a exigir que a coisa pública seja um dia tratada, não como um butim apropriado por uma minoria, mas com o devido respeito republicano, em favor de todo o povo brasileiro.
(Publicado em 20/04/2015 pelo site HiperNotícias e em 220415 pelos sites Midianews, JornalOeste, Turma do Epa )

Comentários:
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Roberto Loureiro 210415  Uma ótima abordagem sobre um tema que a maioria dos brasileiros desconhece.Merece ser reverberada em toda mídia destepaiz.Parabéns
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José Afonso Botura Portocarrero

19:52 (Há 17 horas)
para mim
Parabens Jose Antonio, irreparavel e contundente o artigo de hoje sobre Tiradentes e nos!
Abracos,

JoseAfonso

No Blog
Maristella Carvalho21 de abril de 2015 11:49
Caro José Antônio, como sempre é um prazer mental ler um artigo seu e o de hoje, muito bom desde o principio, tem um final pleno de esperança: "Quem dera sua figura (de Tiradentes) inspirasse um pouco de bravura aos seus conterrâneos, impelindo-os a exigir que a coisa pública seja um dia tratada, não como um butim apropriado por uma minoria, mas com o devido respeito republicano, em favor de todo o povo brasileiro". Seus artigos nos ajudam a ligar os nossos "reatores" no rendimento máximo para alterar o que ainda é possível modificar. Usando as velhas palavras de ordem: "Unidos venceremos".
Grande abraço, Maristella

No Midianews:
Hélio Santos  22.04.15 14h13
Professor, desculpe-me, mas gostaria de lhe dizer algumas coisas. O senhor quer passar a ideia de que pagamos muitos impostos, mas não recebemos os serviços que por direito deveríamos receber. Está certo, em parte, porque recebemos sim serviços. Temos uma rede de saúde pública que, se não funciona corretamente, funciona e bem. O senhor já precisou alguma vez do SUS? Se não, deveria utilizar alguma vez para saber que o serviço funciona sim. Há problemas? É claro que há, mas não é com esse tipo de critica que resolveremos, mas com cobrança. Ah sim, demora-se muito para ser atendido. Mas há atendimento. Precisa melhorar, sobretudo com condições mais dignas para os cidadãos que precisam e aqueles que fazem funcionar, sim, precisa melhorar. Na educação, temos um sistema que também precisa melhorar, mas veja uma coisa: se não tivesse esse sistema público de educação, quantos cidadãos como eu teriam condições de estudar o fundamental, o médio, a graduação, o mestrado e ou doutorado? Fiz tudo isso sem pagar diretamente um centavo sequer. Graças a que? Aos impostos pagos. Assim com na saúde pública, na educação pública também há problemas, é claro que há. Mas devemos trabalhar para melhorar e não tratar como se não fosse oferecido nada com nossos impostos. (Continua)

Hélio Santos  22.04.15 14h14
(Continuação) Já que o senhor terminou o texto dizendo que Tiradentes precisa ser resgatado na sua essência, creio que seria bom o senhor mesmo começar esse resgate. Infelizmente, se o senhor procurar corretamente informações sobre o nosso herói, verá que estás um pouco desatualizado sobre o mesmo. Tiradentes não lutou pela independência do Brasil, seu projeto era muito mais restrito. Mas, acho melhor o senhor mesmo procurar informações mais atualizadas. Sugiro que comece com um pequeno texto de José Murilo de Carvalho, intitulado “Tiradentes: um herói para a República”. Depois passe para um texto mais longo, um livro como O manto de Penélope, de João Pinto Furtado. Leia-os e depois confronte sua visão atual sobre o herói. Verás que, realmente, o senhor tem razão: Tiradentes precisa ser resgatado em sua essência, pois até mesmo o senhor o desconhece.

terça-feira, 14 de abril de 2015

BRT, VLT, E PASSE LIVRE UNIVERSAL

Ilustração do prof. José Maria Andrade, especial para o meu livro "Cuiabá e a Copa - A preparação

José Antonio Lemos dos Santos

     BRT ou VLT, a questão que nos azucrinou por algum tempo volta nestes 4 primeiros meses do ano com ares de quem quer ficar. Cheguei a escrever um artigo intitulado “SOU BRT” em março de 2011, época em que se propunha o VLT em lugar do BRT, este já com projeto e financiamento aprovados, uma discussão que me parecia extemporânea, pois o prazo era insuficiente para o caso da preparação de um novo projeto de tamanha complexidade e sua execução até a Copa em 2014. Optou-se enfim pela troca do modal e deu no que deu. 
     Argumentava no artigo que além das vantagens do BRT ser de criação nacional, tinha ainda a conveniência de poder rodar com o biodiesel, combustível praticamente inventado em Cuiabá, onde funcionou sua primeira usina e onde rodaram seus primeiros ônibus em testes. E o principal, sempre entendi que essa questão dependia menos dos tipos de modais envolvidos do que do plano de mobilidade urbana e de gestão intergovernamental que os articularia em um sistema integrado. Passados anos da troca pelo VLT, até hoje não vi qualquer esboço desses planos. Já gastos e parados (quanto custa?) cerca de R$ 1,0 bilhão de reais no VLT, confesso que hoje sou simpático a ele, até porque uma vez quebrados os ovos, temos que ao menos fazer uma boa omelete com eles. Mas a busca da solução para esse problema não é para programas de auditórios, tem que ser em bases técnicas, a mesma técnica que foi desprezada quando da troca de modais. 
     Hoje o transporte público eficiente é condição indispensável à vida das cidades, do banco à borracharia, da fábrica à escola, da mansão ao barraco, do patrão ao operário. Basta ver o colapso geral das cidades nas greves de ônibus. Ou atentar para os custos de sua precariedade. Pesquisa do FIRJAN mostra que em 2013 o custo dos congestionamentos só no Rio e São Paulo atingiu a incrível cifra de R$ 98 bilhões. Cerca de 8% de cada PIB metropolitano por ano, queimados em fumaça, horas de trabalho e de convivência familiar perdidas, sem contar o estresse, acidentes e mortes. Em termos dos PIBs de Cuiabá e Várzea Grande seria algo em torno de R$ 1,2 bilhão por ano. Doze vezes o novo pronto-socorro de Cuiabá, equipado. Por ano!
     Porém, esta grande encrenca forçará a sociedade a rediscutir o sistema de transporte público como um todo, os conceitos em que se baseia e, em especial, sua forma de financiamento. Na verdade o sistema de transporte público está em colapso em todo o Brasil, implicando na falência da mobilidade nas cidades brasileiras. Em Cuiabá a solução passa ainda pela implantação efetiva da Região Metropolitana. Hoje, não só o VLT é inviável, mas o BRT e até o ônibus, que a R$ 3,10 também é caro. A solução passará pela compreensão de que a mobilidade urbana interessa a todos e o transporte coletivo é fundamental para a mobilidade, assim, seus custos devem ser arcados por todos, não só pelos usuários, justo aqueles que deveriam ser premiados. Um mal que veio para o bem?
     Não se trata de instituir um novo imposto, mas uma forma de redistribuir com todos os beneficiários o custo, o “imposto” que já está sendo pago diretamente por apenas uma parte da população e, indiretamente, por todos através das imensas deseconomias e do quase total colapso na qualidade de vida oferecida pelas cidades. A saída parece ser o passe livre universal, aquele que qual o povo saiu às ruas em 2013. Seu modelo de financiamento poderia ser algo como o que se pratica com a iluminação pública? Não sei. Mas esta é uma solução da qual depende o futuro das cidades brasileiras. E de Cuiabá. 

(Publicado em 14/04/2015 pelo Diário de Cuiabá, Midianews, Folhamax)

Comentários:
No Midianews:
Nivio Melhorança  14.04.15 22h18
Simples e contundente! Qualquer que fosse o modal teria que ser subsidiado, fato que levou compreensivelmente o prefeito à ėpoca a reverter do VLT para BRT. Nas atuais circunstâncias o transporte público livre è o ideal como opina o artculista
Noi Scheffer  14.04.15 10h07
Ótima analise, mas por favor, passe livre já tem demais. Só vai provocar outras distorções. Cada um pague pelo que usa. Vamos parar de utopias socialistas meu caro. Todos pagando, todos vão pagar menos.
Robélio Orbe  14.04.15 09h27
Caro Sr. José, o problema não é ser ou não simpático ao VLT, mas sim no que se propunha na época sa escolha do melhor modal de transporte público para a região metropolina em vistas às obras da Copa da FIFA. Está muito claro a real intenção da escolha do modal pelos políticos da época, e nem de longe se pensou no bem estar da populção cuiabana, ou do futuro de Cuiabá. O VLT transformou-senum propinódromo, e na maior BUCHA,uma BOMBA RELÓGIO nas máos do atual governo. Nem precisa ser arquiteto ou engenheiro para saber que não existe qualidade em nenhuma das obras realizadas até o presente momento. Nem quero ver no noticiário o descarrilamento de trem quando descerem a FEB. Esses trilhos possuem nivelamento? DUVIDO!

No FolhaMax:
Jonatad  Terça-Feira  14 de abril de 2015 13h19
Errado. Nao se deve pensar que o VLT é somente um trasporte urbano. Ele é um equipamento da CIDADE. Nai ficou pronto pois a classe politica nao deixou.

sábado, 11 de abril de 2015

COM MERCADO AQUECIDO, CUIABÁ TEM 124 PRÉDIOS EM CONSTRUÇÃO

Foto André Souza/G1

10/04/2015 15h16 - Atualizado em 10/04/2015 16h02

De 2012 até 2014, 11,1 mil apartamentos em 240 prédios foram entregues.
Preço de imóveis tem se mantido após Copa; maioria tem entre 60 e 90 m2.

Pollyana AraújoDo G1 MT
Depois de atingir a projeção feita para os últimos três anos, o mercado imobiliário continua aquecido em Cuiabá. De 2012 até o ano passado, 11.199 apartamentos em 240 prédios foram entregues na capital e, atualmente, 124 obras estão sendo construídas, com previsão de conclusão até 2017. Esses novos prédios têm 6.394 moradias, que custam de R$ 170 mil a valores acima de R$ 800 mil.
Diferente do que o previsto, os preços dos imóveis não caíram após a Copa do Mundo, em junho do ano passado, segundo levantamento do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Residenciais, Comerciais e Condomínios de Cuiabá e Várzea Grande (Secovi).
"Essa informação não tinha fundamento e os imóveis continuam valorizando", afirmou o presidente do sindicato, Marco Pessoz. Segundo ele, os preços dos imóveis quadruplicaram. Contudo, o reajuste ocorreu para corrigir a desafagem acumulada em 10 anos. "O valor foi recuperado, por que já tinha 10 anos que estava parado", pontuou.
(Leia mais em http://g1.globo.com/mato-grosso/noticia/2015/04/com-mercado-aquecido-cuiaba-tem-124-predios-em-construcao.html )

quarta-feira, 8 de abril de 2015

CUIABÁ 300-4

brasilcidade.com.br

José Antonio Lemos dos Santos

     Desde o anúncio da sede da Copa em Cuiabá tenho repetido cada vez mais convicto que esse grande evento foi um artifício do Senhor Bom Jesus para um choque em nós cuiabanos fazendo-nos entender os novos tempos que a cidade vive e, assim, prepará-la condignamente para o seu Tricentenário. Com a Copa Cuiabá voltaria os olhos para o futuro, discutindo projetos e melhorias em seus padrões urbanísticos. Minha grande expectativa de legado da Copa era que uma vez forçada a voltar-se para o futuro e concluídas as obras Cuiabá permanecesse para sempre nessa postura, emendando de imediato com uma nova matriz de projetos, compromissada agora não mais com a FIFA, mas com o tricentenário, compromissos do cuiabano com sua cidade, do mato-grossense com sua capital, do Brasil com a cidade baluarte da expansão ocidental de seu território. Que nada! Passada a Copa, o futuro sumiu de novo de nossa frente atolados que ficamos em obras importantes, mas inconclusas, mal feitas, suspeitas de corrupção, que precisam, é claro, ser concluídas, corrigidas, inclusive, com a punição dos que erraram tecnicamente ou que tenham se aproveitado indevidamente desta oportunidade histórica de investimentos para a cidade. E - por que não? – também aplaudir os que, limpos, conseguiram fazer muita coisa que hoje já ajuda a cidade, apesar das imensas dificuldades técnicas, burocráticas e políticas. 
     Neste 8 de abril de 2015 comemoramos os 296 anos de Cuiabá, a apenas 4 anos de seu tricentésimo aniversário. Aprendemos com a Copa, ou devíamos ter aprendido, que 5 anos é prazo curto para intervenções significativas na cidade, ainda que pontuais. 4 anos é menos ainda. Meu temor é que só na véspera da festa nos preocupemos com ela, sem ter então como fugir da ideia de um bolo de trezentos metros ou quilos lambuzando o Jardim Alencastro e dos indefectíveis concursos para logotipo, garota, samba, rasqueado ou lambadão, para símbolos daquela que deve ser a grande data de Cuiabá no século.
     Comemorar os 296 anos é exaltar uma cidade que nasceu entre as pepitas de um corguinho com muito ouro, tanto que era chamado pelos nativos de Ikuiebo, Córrego das Estrelas, que desembocava em um belo rio em meio a grandes pedras chamadas Ikuiapá, lugar onde se pesca com flecha-arpão em bororo. A cidade floresceu bonita, célula-mater do Oeste brasileiro, raiz de tudo neste “ocidente do imenso Brasil”, mãe de cidades e Estados. Por quase três séculos sobreviveu a duras penas, período heroico que forjou uma gente corajosa e sofrida, mas alegre e hospitaleira, criadora de um dos mais ricos patrimônios culturais do Brasil e com proezas que merecem melhor tratamento da história oficial brasileira. Como um astronauta moderno, vanguarda humana na imensidão do espaço, ligado à nave só por um cordão prateado, assim Cuiabá sobreviveu por séculos, solta na vastidão centro-continental, ligada à civilização apenas pelo cordão platino dos rios Cuiabá e Paraguai. 
     Próxima de completar seus 3 séculos de existência, Cuiabá polariza hoje uma das regiões mais produtivas do planeta que ajudou a ocupar e desenvolver, esta que agora a empurra para cima demandando serviços de sofisticação crescente em sadio processo de simbiose regional. Aos 296 anos, Cuiabá vibra em dinamismo, globalizada e provinciana, festeira e trabalhadora. Com gente nova e competente no assunto na prefeitura e Estado, nos 4 anos restantes talvez ainda dê para ao menos revitalizar seu centro histórico, presenteando a cidade com seu velho coração totalmente remoçado e pulsante na metrópole que se firma cada vez mais bela no coração continental, buscando também ser cada vez mais justa, democrática e sustentável. Mas tem que ser já. Viva Cuiabá! 
(Publicado em 07/04/2015 pelo Diário de Cuiabá e Midianews, informativos CAU/MT e UNIC)
COMENTÁRIOS:
No Midianews:
"Elias Neves  07.04.15 17h48
No apogeu das obras o "nobre" professor José Antônio sempre parabenizava os eficientes projetos e a condução das obras. Resumindo: poupe-me pelos seus cabelos brancos."

"José Maria  07.04.15 16h21
Parabéns ao José Lemos por mais uma bela narrativa. Particularmente, acho que não temos o que comemorar nos 296 anos de aniversário desta cidade que tantos amamos, uma vez que várias oportunidades foram desperdiçadas com a Copa do mundo. Espero que ao menos no aniversário de 300 anos tenhamos muitas coisas a se comemorar, não apenas no aspecto urbanístico, mobilidade urbana, mas principalmente em saúde, segurança, educação."
"marcos  07.04.15 22h43
Prezado amigo.Continue a apresentar sua idéias, as quais considero necessárias na falta de presença de outros articulistas cuiabanos.Na verdade não temos um projeto para Cuiabá, que possamos chamar de nosso.Os críticos de primeira hora são os mesmos.Não tem a visão de futuro que precisamos para nossa cidade.Para que isto aconteça necessitamos de mentes preparadas e motivadas, como a sua. Do amigo Marcos Vinícius"

domingo, 15 de março de 2015

PALÁCIO PAIAGUÁS, 40 ANOS

Hoje, 15 de março de 2015, o Palácio Paiaguás completa 40 anos de sua inauguração. Foi na passagem do Governo José Fragelli para o de José Garcia Neto.



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Foto José Lemos

Foto José Lemos

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sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

SOU BRT

Revendo este meu artigo publicado pelo Diário de Cuiabá em 25 de março de 2011, uma sexta-feira.


José Antonio Lemos dos Santos

     Ainda que extemporânea, o fato é que foi recolocada a discussão sobre o VLT ou BRT, assunto sobre o qual já me posicionei em artigos na época correta, quando o assunto foi discutido pela primeira vez, no tempo hábil. Assim, é oportuno recolocar a posição deste cidadão técnico, arquiteto e urbanista, registrado no CREA, com mais de 30 anos trabalhando com a cidade, posição esta baseada nas informações publicadas e disponíveis ao cidadão comum. Não sou funcionário da Agecopa, não ocupo qualquer cargo público e nem sou vendedor ou representante de BRT ou VLT, portanto, livre para aplaudir ou criticar – sem pretensões a dono da verdade - quando e como eu achar conveniente ao bem da minha terra natal.
   De início lembro que o principal problema no transporte coletivo na Grande Cuiabá é de gestão, e não de tecnologia. Podemos colocar VLTs, BRTs, metrôs, monotrilhos, zepellins, o que tiver de melhor no mundo, e nada funcionará se não for acertado um modelo de gestão adequado, o qual deverá estar legalmente implantado e funcionando antes da entrada em funcionamento da nova tecnologia. O nosso atual sistema de transportes é repartido em três partes, com três “donos”, as prefeituras de Cuiabá e Várzea Grande, e o governo do estado. Cada um se acha dono do seu pedaço, e faz o que quer na atual bagunça da legislação que tem Aglomerado e Região Metropolitana e não tem nem um e nem outro. É como entrar numa corrida com três corredores com as pernas amarradas entre si e cada um correndo como se estivesse só. Se não se organizarem, só conseguirão um belo tombo. Como será gerido o transporte coletivo na Grande Cuiabá? Será uma autarquia ou empresa pública intergovernamental? Será terceirizado ou tentaremos de novo a gestão compartilhada com um conselho (que se reúna desta vez). Este tema é complexo técnica e politicamente e exige urgente e detalhada atenção da Assembléia, para decidir logo, e bem.
Entre as tecnologias disponíveis estou com o BRT por sua comprovada eficiência em diversas cidades do Brasil e do mundo. Através do Youtube podemos conhecer e viajar em suas aplicações pelo mundo afora, em cidades dinâmicas e de grande demanda do transporte de massa. Além disso trata-se de uma solução nacional, com facilidade de manutenção e reposição de peças, podendo utilizar o biodisel, do qual Mato Grosso é o maior produtor e Cuiabá vanguardista nessa tecnologia, sendo a sede de sua primeira fábrica e laboratório urbano para seus primeiros usos e testes. Cheguei a sugerir o desenvolvimento de um modelo de veículo e de gestão com o nome de CuiaBus – para aproveitar a grande vitrine global da Copa divulgando ao mundo essa tecnologia brasileira, geradora de empregos e renda no Brasil e, mais importante para nós, especificamente em Mato Grosso.
    De 2009 para cá o noticiário informa que o projeto técnico de implantação do BRT avançou e está em fase de conclusão, já em preparativos para os processos desapropiatórios, já tendo sido investido muito dinheiro e, em especial, investimento de tempo, o recurso mais escasso nesta altura do campeonato. Quanto às desapropriações, elas são indispensáveis em intervenções desse tipo, qualquer que seja a opção tecnológica, desde a Roma dos Papas no século XVI, passando pela Paris de Haussmann no século XIX, até as demais sedes da Copa de agora. Cumpridas todas as exigências legais, com as devidos ressarcimentos, a desapropriação é um dos principais instrumentos do urbanismo, fundamentais à adaptação das cidades às necessidades impostas pelos seus processos evolutivos.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A PÉROLA MATO-GROSSENSE



José Antonio Lemos dos Santos

     A Arquitetura tem o condão de expressar seu tempo e suas obras são adotadas como marcos civilizatórios das diversas sociedades ao longo da história. Pode ser uma residência, catedral, castelo ou um palácio. Muitas vezes pode até parecer estar à frente de sua época, e nestes casos ela causa surpresa, estranheza, um espanto criativo que empurra a sociedade aos seus novos limites em cada tempo que se vive.
     Aqui em Cuiabá foi construída a Arena Pantanal como ápice das obras preparatórias da cidade para a Copa 2014. Seria o palco global da grande festa, a pérola coroando o conjunto de investimentos especialmente preparado para a Copa. Além de bela e plena em inovações instigantes, deveria ser também uma ferramenta múltipla “linkada” com o planeta para o desenvolvimento de Cuiabá e Mato Grosso em diversos campos, seja no esporte, em especial o futebol, na cultura, na saúde, no turismo, ela própria uma poderosa atração adicional neste centro sul-americano, às bordas do Pantanal, da Chapada, do Cerrado, da Amazônia e das belezas artificiais das grandes criações e plantações high-tech que ajudam a matar a fome no mundo.
     Mas o processo civilizatório não atinge a todos ao mesmo tempo. Enquanto a Arena e a própria Copa expressavam a vanguarda dos tempos atuais de globalização, compartilhamento, smartphone, aviões a jato, computadores e internet, muitos ainda não entenderam seu significado e o quanto ela representa como expressão dos novos patamares de desenvolvimento de Mato Grosso e sua gente. No Brasil e também em Mato Grosso os gestores públicos ficaram para trás, aqui a quilômetros do processo de desenvolvimento estadual. Não estavam e não estão à altura da nossa Arena e do desenvolvimento do estado. Tenho grandes esperanças de que a nova safra estadual de gestores ainda vai evoluir com o trabalho que inicia, colocando-se à altura da Arena Pantanal e deste Mato Grosso campeão. A Arena e o desenvolvimento de Mato Grosso são frutos do trabalho sofrido do mato-grossense que exige respeito com as coisas que lhe são caras e importantes.
     Considerada pelos jornalistas estrangeiros presentes no Brasil como a Arena mais funcional da Copa 2014 e a sétima mais fantástica do mundo por importante jornal espanhol, a Arena nos encheu de orgulho, nós que temíamos ser a vergonha da Copa, como queriam e torciam muitos por este Brasil afora. Hoje o povo aos milhares a abraça diariamente nas manhãs e tardes, frequentando sua ampla praça de entorno para brincar, caminhar, correr, enfim exercitar a vida com qualidade. Porém, ao fim do ano foi abandonada pelos seus gestores, aqueles pagos para cuidar dela. Com transmissão via satélite para o Brasil e o mundo, deixaram faltar água nos jogos do Corinthians e da Seleção Brasileira e eletrocutaram a égua Andrômeda ao final do jogo São Paulo e Santos. Depois deixaram secar o gramado. Agora, às vésperas da abertura do campeonato, com ampla repercussão negativa interditam a Arena para reparos que duram uma semana. Mesmo assim, a pérola da Copa reluz e foi selecionada entre as 32 que concorrem como a melhor do mundo em 2014 pelo mais importante site internacional especializado em estádios. Das 12 da Copa apenas 6 foram selecionadas. Já votei.
     Com os cuidados recebidos durante a interdição e que deveriam ser constantes, a Arena está de novo bela e pronta para neste domingo receber seu povo na festa de abertura do campeonato mato-grossense, com Cuiabá, Dom Bosco, Mixto e Operário em rodada dupla. A Arena Pantanal é para ser um marco de orgulho, qualidade de vida e desenvolvimento. Mas ainda precisamos crescer para estar à sua altura.
(Publicado em 29/01/15 pelo site informativo do CAU-MT, Blog do José Lemos, no dia 31/01/15 pelo Diário de Cuiabá, no dia 02/02/15 pelo Midianews, no dia 03/02 pelo PautaExtra,...)

Comentários fora do Blog:

No Diário de Cuiabá:
"Data:31/01/2015 00:15
Nome:Claudia
Profissão:estudante
Localidade:Cuiabá/MT
ATÉ TU??? FIQUEI DESAPONTADA."
"Data:31/01/2015 14:34
Nome:MARCELO AUGUSTO PORTOCARRERO
Profissão:Engenheiro
Localidade:Cuiabá/MT
Parabéns pelo excelente texto."

No Midianews:

"Elias Neves  02.02.15 08h26
por favor, por favor repito: de onde este comentarista tirou esta conclusão? A obra da Arena está com sérios problemas, um investimento milionário para atender a FIFA enquanto sequer um hospital de qualidade temos. Volto a repetir: por favor, não diga o absurdo!"

"marcos vinícius  02.02.15 12h50
Novamente meu amigo você acertou na veia.A pequenez das ideias e os achismos devem ser expostos para que o nosso estado volte a ser o que sempre deveria ter sido. Um grande abraço."
"marcelo sóter  02.02.15 18h48
Que louco este texto. Nada haver, onde este cara mora".