"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



domingo, 8 de maio de 2016

ESTADO UNIDO DE MATO GROSSO


José Antonio Lemos dos Santos

     O dia 9 de maio marca o aniversário de Mato Grosso e ainda não é comemorado com toda a efusividade e orgulho que o homenageado merece. A data lembra 1748 quando o rei de Portugal, dom João V, através de Carta Régia determina a criação de duas Capitanias, “uma nas Minas de Goiás e outra nas de Cuiabá”. A que seria das Minas de Cuiabá virou a Capitania de Mato Grosso e para governá-la foi nomeado dom Antonio Rolim de Moura, futuro Conde de Azambuja, que tomou posse e permaneceu em Cuiabá até Vila Bela ficar pronta. Morou em Cuiabá próximo à pracinha que lhe homenageia, conhecida como Largo da Mandioca. Depois chegou a ser vice-rei, o governante maior no Brasil na época, representante local de El-Rey. Se o presente para Cuiabá em seu Tricentenário pudesse ser a revitalização do seu centro histórico, ao menos com um projeto completo envolvendo os governos federal, estadual e municipal, a reconstrução histórica da casa de Rolim de Moura seria mais uma poderosa atração nesse que poderá ser um novo polo cultural e turístico cuiabano, gerador de emprego e renda.
     Sei que muitos acham que não temos nada a comemorar, alegando que em Mato Grosso faltam escolas, hospitais, esgoto, rodovias, ferrovias, etc. São os que só enxergam o que falta. E é bom que existam pessoas assim, desde que de forma construtiva. Prefiro enxergar aquilo que existe, em especial o que foi produzido pelo trabalho do povo, autônomos, patrões e empregados, apesar de todas as dificuldades e de tudo o que nos falta. Mato Grosso é hoje o maior produtor agropecuário do país, liderando o país em gado, algodão, milho, girassol, milho de pipoca, feijão, soja e também é um dos maiores produtores de ouro, diamante, madeira, álcool, biodiesel, carnes de frango, suíno e peixe. Melhor, Mato Grosso não produz armas, instrumentos da morte, como muitos dos que nos criticam. Ao contrário, com orgulho ajuda a matar a fome do mundo, ainda que sem plena consciência desse importante papel.
     Para chegar a esta posição Mato Grosso conta com a extensão e diversidade produtiva de seu território e, principalmente, com o trabalho sofrido e determinado de sua gente em todos os cantos. Comemorar os 268 anos de Mato Grosso é festejar a grande obra do mato-grossense que ano passado, apesar da crise, produziu um superávit comercial de US$ 13,7 bilhões, mais de 2/3 (66,4%) do saldo comercial brasileiro, o que daria para construir vários hospitais, escolas, ferrovias, duplicações rodoviárias e melhorar a qualidade dos serviços públicos. É o sexto estado maior exportador do Brasil e literalmente vem entupindo o Brasil alimentos, para consumo nacional e mundial, em um país que não se preparou, e não se prepara, para o tanto que este estado gigante produz, descompasso que tem custado caro em termos econômicos, ambientais e de vidas humanas aos mato-grossenses. 
     Comemorar os 268 anos de Mato Grosso não é ufanismo idiota, é festejar a riqueza construída, mas também cobrar tudo o que o povo que a produz tem direito. É ver hoje Mato Grosso rico espantando a pobreza que sempre foi o álibi dos maus governantes. O mato-grossense tem que festejar com alegria, orgulho e muitas cobranças. O sucesso de Mato Grosso é a força do trabalho de seu povo unido na grandeza e diversidade de seu território, e seu maior produto é sua gente, que lembro na figura de Rondon, um dos maiores homens gerados pela a Humanidade, cuja data, 5 de maio, passou despercebida em sua própria terra. Ainda com muito a consertar, Mato Grosso é para ser festejado, imitado e, sobretudo, aplaudido.  Viva Mato Grosso, unido e forte!
brasil.gov.br

(Publicado em 08/05/2016 pelos site Midianews, JornalOeste de áceres, Página do Enock, MatoGrossoNoticias, ...)

Comentários em sites:
No Midianews:

Benedito Carlos Teixeira Seror  08.05.16 12h21
Leio com muita atenção os artigos do Prof. José Antônio Lemos e sempre fico impressionado com seu otimismo, e o admiro pela coragem com que expõe e defende suas ideias. Torço para que em breve Mato Grosso seja definitivamente inserido no mundo das oportunidades para todos, modernizando-se, sem perder suas ricas tradições. O débito de políticas públicas que existe para com os que aqui vivem precisa urgentemente ser quitado. Com educação e cidadania conquistadas, poderemos alavancar as transformações de há muito aguardadas.
Nelson  08.05.16 16h13
Parabéns também para vc professor José Antonio Lemos pelo artigo que registra data de aniversário do nosso poderoso estado de Mato Grosso citando o primeiro governador Dom Rolim de Moura, personagem importante da nossa história relegado ao olvido pelos matogrossenses tal como o prédio que o abrigou.
manoel  09.05.16 09h51
"ALIMENTOS PARA O MUNDO" - Esta é a vocação deste Estado fenomenal. Parabéns Mato Grosso.

Comentários direto no Blog, ver abaixo:

quinta-feira, 21 de abril de 2016

TIRADENTES, UM HERÓI NECESSÁRIO

José Antonio Lemos dos Santos

esquadraodoconhecimento.wordpress.com
Quadro de Pedro Américo - 1893

     Não tivesse existido, seria necessário inventá-lo, Tiradentes um herói absolutamente necessário nos dias de hoje. No mesmo mês em que é homenageado, encerra-se também o prazo para os brasileiros entregarem suas declarações do Imposto de Rende e recolherem aos cofres públicos o saldo ainda devedor eventualmente apurado. Pode ser que esta coincidência seja apenas mais uma daquelas finas ironias com que a história vez por outra desafia nosso poder de reflexão. Aproveitemos. 

     Tiradentes morreu porque conspirou contra o Quinto cobrado pela Coroa Portuguesa e que significava 20% do que ouro produzido! Por essa causa rebelou-se contra a Coroa, propôs a independência do Brasil, e foi traído, enforcado, com seu corpo esquartejado. Seus restos foram exibidos em diversos pontos bem visíveis pelo povo, e sua cabeça exposta na praça pública de Vila Rica. Em 2015, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), o brasileiro arcou com uma carga tributária média de 41,37%. Trocando em miúdos isso significa que de tudo o que produzimos, entregamos, em média, mais de 41% para os governos, isto é, para os governos federal, estaduais e municipais somente para manter uma máquina político-administrativa perdulária, improdutiva e que se mostra cada vez mais voraz e cada vez mais corrupta. Traduzindo em dias trabalhados, o brasileiro teve que trabalhar 151 dias em 2015, até o dia 31 de maio, o mesmo que em 2014 exclusivamente para alimentar a sanha dos governos, inclusos Executivo, Legislativo e Judiciário. Em média! Tem gente que paga muito mais. Durante cinco meses tivemos o povo, patrões, empregados e autônomos “carregando pedras feito penitentes, erguendo estranhas catedrais”, como já cantou um dia o Chico Buarque dos bons tempos. 
     Não se trata de atacar este ou aquele governo. A voracidade fiscal vem de muito tempo. Em 1947, quando tínhamos o cuiabano Eurico Gaspar Dutra como Presidente, a mordida do governo ficava em 13,8% do PIB e em 1962 era 15,8%, tendo chegado aos “insuportáveis” 18,7% em 1957, quando da construção de Brasília. Em 1992 já girava em torno dos 26% e de lá para cá disparou, chegando em 1994 aos 29,8%, 35,84% em 2002 e para mais de 41% no ano passado. Quanto será este ano? Governar assim é fácil, principalmente quando não se tem a menor preocupação em oferecer a infraestrutura e os serviços públicos de qualidade em troca de tão generosa contribuição. Só que agora a situação é pior. Não bastasse a expropriação voraz do produto do trabalho brasileiro hoje ela vem com as confissões cínicas de roubos por parte de bandidos, elevados à condição de “heróis da pátria” que somos obrigados, impotentes e envergonhados, a engolir cotidianamente em nossas salas diante de nossos filhos e netos. Até onde vamos? 
     Tiradentes virou herói nacional com a República. Mas sua imagem também foi sendo pouco a pouco adaptada aos interesses do poder. Virou o herói da Liberdade, da Independência e da Democracia, sem referência à sua principal luta, contra a opressão fiscal a que era submetido o povo brasileiro pelo governo da época. Transformaram-no em um herói aceitável, cooptado com suas marquetadas barbas longas como as de um profeta e sua túnica angelicalmente alva como se fosse um daqueles doces e meigos santinhos de papel. 
     Tiradentes, patrono dos nossos valorosos policiais militares é um herói atualíssimo que precisa ser resgatado na essência de sua mais importante luta. Quem dera sua figura inspirasse um pouco de bravura aos seus conterrâneos, impelindo-os a exigir que a coisa pública seja um dia tratada, não como um butim apropriado por uma minoria, mas com o devido respeito republicano, em favor de todo o povo brasileiro. 

(Publicado em 20/04/16 pelo Jornal Oeste, de Cáceres e pela Página do Enock, e em 21/04/16 pelo Diário de Cuiabá e pelos sites Midianews, Hipernotícias,...)



Comentário por e-mail:
"Parabéns Dr. José Antonio pelo excelente artigo. Bem apropriado pelos dias atuais. Abs 
​Cleber" (Em 21/04/2016).

Comentário no site Hipernotícias:
"Carlos Nunes - 21/04/2016
Na verdade no Brasil só tem um herói nacional, o Tiradentes - quando foi preso assumiu toda a culpa sobre si mesmo, dizendo que os companheiros eram inocentes, só ele era culpado; por causa disso foi enforcado, esquartejado, e seu corpo espalhado em partes pelo Rio de Janeiro; sua casa foi demolida e no terreno foi espalhado uma substância para que nunca nascesse nada. Alguns historiadores dizem que algum tempo depois, chegou uma carta da rainha de Portugal, dando-lhe o perdão, chegou tarde demais. Comparando o Tiradentes com os personagens de hoje, vê-se um tremendo contraste, uma inversão de valores tremenda...os que são pegos, até com dinheiro na cueca, juram que são inocentes, que não sabem de nada, o não fui eu, não tem nenhuma prova contra mim, o nunca roubei nada...são as desculpas de hoje. E todo dia aparece mais um delator premiado que aponta: esse recebeu propina também. Aquela coragem do Tiradentes parece que sumiu do Brasil."

Comentários diretos ao Blog, ver logo abaixo.


sábado, 16 de abril de 2016

1º SEMINÁRIO DE POLÍTICA URBANA E AMBIENTAL DO CAU-BR

Trecho de matéria do site do CAU-BR sobre os resultados do 1º Seminário Nacional de Política Urbana e Ambiental do CAU-BR realizado em Brasília nos dias 12 e 13 de abril.

www.caubr.gov.br

“É urgente o resgate da cidade pela cidadania”, afirmou o arquiteto e urbanista José Antônio Lemos, conselheiro estadual do CAU/MT, um dos palestrantes do segundo e último dia do Seminário. Ele sugeriu a criação de uma “Lei de Responsabilidade Urbanística”, à qual estariam submetidos todos os prefeitos. Pela proposta, os prefeitos a serem eleitos em outubro deveriam assumir o compromisso de, ao deixarem seus cargos, entregarem suas cidades mais adensadas (“crescer para dentro”), com menor número de ocupações irregulares ou de risco, mais áreas de preservação ambiental e novos espaços públicos.

Leia mais em   http://www.caubr.gov.br/?p=54592 

quarta-feira, 6 de abril de 2016

CUIABÁ 300-3!

cuiaba.mt.gov.br

José Antonio Lemos dos Santos

     Desde 8 de abril de 2009 a cada aniversário de Cuiabá escrevo artigos cujos títulos simulam uma contagem regressiva até 2019, ano de seu Tricentenário. Já estamos a apenas 3 anos da grande data. Essa preocupação com os 300 anos de Cuiabá já vinha desde 1989 quando a então nova Lei Orgânica do Município estabelecia um capítulo especial para a Política Urbana adotando entre suas ferramentas o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, cujos horizontes de planejamento vão de 20 a 30 anos, já forçando nosso olhar para o ainda distante 2019.
     Em 1999, a 20 anos do Tricentenário, o IPDU coloca em público a expressão “Cuiabá 300” como meta de trabalho, buscando estruturar o desenvolvimento urbano de forma que a cidade alcançasse padrões urbanísticos e de qualidade de vida mais elevados até 2019. Mas, esse processo foi interrompido e a alternativa que restou foi a preparação em tempo hábil de uma agenda de projetos pontuais para presentear a cidade. Em compensação, de imediato, em 2009 a história surpreende os cuiabanos com o fantástico desafio da Copa do Mundo. Estou cada vez mais convencido de que esse grande evento foi um artifício do Bom Jesus para um choque em nós cuiabanos fazendo-nos entender os novos tempos que a cidade vive e, assim, prepará-la condignamente para o seu Tricentenário. A cidade, enfim, teria que olhar para o futuro. Contudo, finda a Copa, o futuro sumiu de novo à nossa frente.
     Comemorar os 297 anos é exaltar uma cidade surgida entre as pepitas de um corguinho com muito ouro que era chamado pelos nativos de Ikuiebo, Córrego das Estrelas, que desembocava em um belo rio em meio a grandes pedras chamadas Ikuiapá, lugar onde se pesca com flecha-arpão em bororo. E ela floresceu bonita, célula-mater deste “ocidente do imenso Brasil”. Mãe de cidades e Estados, o aniversário de Cuiabá é também o aniversário do Brasil neste vasto Oeste brasileiro. Por quase três séculos sobreviveu a duras penas, tempo heroico que forjou uma gente corajosa e sofrida, mas alegre e hospitaleira, dona de um riquíssimo patrimônio cultural e com proezas que merecem maior carinho da história oficial brasileira. Como um astronauta moderno, vanguarda humana na imensidão do espaço, ligado à nave só por um cordão prateado, assim Cuiabá ficou por séculos, solta na vastidão centro-continental, ligada à civilização só pelo cordão platino dos rios Cuiabá e Paraguai. Cuiabá hoje vibra em dinamismo, globalizada e provinciana, festeira e trabalhadora, centro de uma das regiões mais produtivas do planeta que ajudou a ocupar e desenvolver.
     Agora só estamos a 3 anos do Tricentenário. O que poderia ser feito, para não ficar apenas na simpática mesmice da “Garota Tricentenário” ou de um bolo de 300 metros lambuzando a praça? Concluir as obras da Copa? Os hospitais da UFMT? Talvez, enfim, ao menos um projeto completo para a revitalização do Centro Histórico de Cuiabá envolvendo os governos federal, estadual e municipal, com recursos assegurados para sua execução e abarcando toda amplitude de um projeto como este, desde o rebaixamento da fiação, repaginação urbanística, incentivos tributários, até um modelo de gestão do espaço a ser tratado como um shopping cultural a céu aberto. Nada mais vergonhoso no Tricentenário do que o Centro Histórico como está, sem ao menos um projeto. Para quem já trabalhou e viu tanta gente boa trabalhar por esse projeto a mais de 30 anos, parece impossível crer que vá acontecer em apenas 3 anos. Mas, como a esperança é a última que morre, não custa nada relembrar o assunto, afinal Deus é brasileiro e o Bom Jesus é de Cuiabá. Apesar da não tão recomendável experiência da Copa, quem sabe Ele interceda de novo por sua terra?
(Publicado em 06/04/2016 pela Página do Enock, Site do CAU-MT, Jornal Oeste e em 08/04/2016 no Midianews ...)

Comentários por e-mail;
Em 07/04/16 Archimedes Lima Neto - Assoc. Bras. de Eng. Civis:
"Tão perto... 300 -3 ..."

Em 08/04/16 Cleber Lemes
"Bom Dia Dr. José Antonio ! 
Parabéns pelo excelente artigo, suscinto mas objetivo, uma aula de história. Faço minha as suas palavras em prol da Comemoração dos 300 anos de Cuiabá, não com bolo , mas sim com a revitalização do Centro histórico , bem como uma atenção dos nossos governantes Federal/ Estadual e Municipal para uma SAUDE mais digna. Abs 
​Cleber"

Mais comentários diretos ao Blog, ver abaixo.

quinta-feira, 31 de março de 2016

ZAHA SE FOI!

DEZEEN.COM


                                                  ZAHA HADID   31/10/50 - 31/03/2016


      Zaha Hadid foi aquela arquiteta de vanguarda que não se acomodou ao sucesso de suas            primeiras revoluções. Prêmio Pritzker 2004 continuou sempre evoluindo e do desconstrutivismo original chegou às  atuais formas "líquidas" que tão bem expressam a sociedade contemporânea em que vivemos.




Imagens bbc.com

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

MATO GROSSO EM SAMBAS-ENREDO

youtube.com

Para conhecer ou não esquecer. Tereza de Benguela com Vila Bela e Joãozinho Trinta na Sapucaí em 1994. Cuiabá com a Mangueira em 2013. Sorriso com a Unidos da Tijuca em 2016 e Mato Grosso sendo homenageado pela Mancha Verde também em 2016. Está bem aí ao lado na seção Mato Grosso, no canto esquerdo do Blog. Basta clicar.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

PASSE LIVRE UNIVERSAL

José Antonio Lemos dos Santos
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 05/08/2014)


     Final do mês passado a Firjan divulgou pesquisa mostrando que os custos dos congestionamentos viários geraram em 2013 um prejuízo de R$ 98,0 bilhões, apenas nas Regiões Metropolitanas do Rio e São Paulo, considerando apenas a produção não-concretizada e o gasto extra de combustíveis. Isso só em um ano e sem contar a perda do tempo da população, vidas ceifadas ou mutiladas, poluição, estresse, etc. E reclamamos dos gastos totais com a Copa, estimados em R$ 25,0 bilhões. 
     Vale recordar que mesmo com as superações trazidas pelos novos tempos, a velha Carta de Atenas segue como um documento básico do Urbanismo. Uma de suas principais interpretações confere às cidades 4 funções básicas, moradia, trabalho, lazer e circulação, com a “quarta função” tendo como objetivo “só” estabelecer uma “comunicação proveitosa” entre as outras 3 funções. Embora última na descrição das funções urbanas e sem um objetivo em si própria, a Carta chega, contudo, a tratá-la como “primordial” à vida urbana, pois a ela cabe conectar as demais 3 funções que não funcionam desconectadas entre si. Ou seja: sem circulação, as cidades param. Isso a Carta de Atenas já dizia. 
     Com o tempo os conceitos avançaram e a circulação chegou ao âmbito da mobilidade urbana, na qual as várias modalidades de transporte se integram, desde os pés, para articular as funções urbanas de forma segura, justa, sustentável e - por que não? – até prazerosa. As cidades cresceram em dimensões físicas, população, complexidade e dinamismo. Fazê-las caber no ciclo solar de 24 horas torna-se cada vez mais difícil. Hoje a circulação ultrapassa sua formulação original de função urbana, e chega a caracterizar-se como condição indispensável à vida das cidades, do banco à borracharia, da fábrica à escola, da mansão ao barraco, do patrão ao operário. Basta ver o colapso geral das cidades quando das paralisações no transporte coletivo, tronco principal da mobilidade urbana. Ou se atentar para os custos de seu mau funcionamento citadas no início deste artigo. 
     Ano passado o Brasil viveu grandes manifestações populares contra o desrespeito com que as coisas públicas são tratadas pelas autoridades no país, e um movimento pelo passe livre para todos – não só para estudantes - foi o deflagrador de toda essa saudável e democrática convulsão pública. De imediato muitas prefeituras reduziram as tarifas em alguns centavos, mas não foram a fundo na questão, e tudo parece ter ficado por isso mesmo. Mas não dá mais para esconder, a solução da mobilidade urbana hoje é fundamental para todos e não pode mais ser imputada apenas ao usuário de ônibus. 
     A solução exige uma revisão de conceitos sobre a cidade e nela a mobilidade urbana. O transporte público é um serviço de custo muito elevado que serve a todos, mas quem paga é só o usuário, justo aquele em piores condições para fazê-lo, mas que, além de pagar na tarifa, paga também na carne e na cuca as mazelas de um transporte de péssima qualidade. Distribuir seus custos e sua acessibilidade a todos através de uma política de passe livre universal é a solução a ser pensada como o eixo da necessária revolução na mobilidade urbana e, por consequência, nos padrões da vida urbana no Brasil. Tratá-la como já se faz com a iluminação pública? Não se trata da criação de um novo imposto, e sim de redistribuir entre todos aquele imposto em forma de tarifa que é pago só por uma parte da população. A baixa qualidade e o alto custo do transporte coletivo expulsam os usuários para outros modos de transportes, como a moto. Menos usuários, maior a tarifa, numa espiral negativa acelerada. Só o passe livre universal, numa nova visão de cidade e de mobilidade urbana, pode reverter essa tendência. 

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

DEFINIÇÕES PORENQUÂNTICAS IV

José Antonio Lemos dos Santos

Fui aprendendo por aí na vida, na escola, no trabalho e, enquanto não aprender diferente, sigo pensando assim. Vou listando aos poucos por ordem alfabética, conforme a lembrança. Pode ser que interesse a alguém, ao menos para provocar:


EMPRESTADAS:

TENDÊNCIA
não é
DESTINO.

Quanto mais
CANTO
minha
ALDEIA
mais UNIVERSAL
é meu
CANTO.


SONHO
que se sonha
é um  
SONHO 
que se sonha SÓ 
Mas
SONHO 
que se sonha JUNTO
é
REALIDADE.


 
Uma das maravilhas
do
CALOR CUIABANO
é o
AR CONDICIONADO.

Depois do
UÁTEZAPE
até sala de espera
ficou
AGRADÁVEL.


INVERTIDAS:

Deixe para AMANHÃ
O que não podes
fazer
HOJE.

DIVERTIDAS:

De tando TROTAR no Parque
podes não alcançar a SAÚDE que desejas
mas um dia
RELINCHARÁS
direitinho.

Nada é mais
UNIVERSAL
Que a bolacha
De ÁGUA E SAL.

Nada mais
SECO e INSOSSO 
Que a bolacha
De ÁGUA E SAL.


Só numa perspectiva correta de
CONSTRUÇÃO DO FUTURO
É que
Podemos corrigir os
ERROS DO PASSADO.



ARQUITETURA
é a arte - ou seu produto - de transformar o ESPAÇO
de acordo com a as necessidades de ABRIGO do homem,
seguindo a Tríade Vitruviana:
FIRMITAS, 
UTILITAS 
et
VENUSTAS.

Nem toda construção é ARQUITETURA,
assim como
nem toda escrita é LITERATURA,
nem toda
cura é MEDICINA,
nem toda
justiça é DIREITO.

Projetando o futuro,
ARQUITETO tem sempre que ser
o profissional do
OTIMISMO
e da
ESPERANÇA.

BELO
é tudo aquilo
que funciona bem,
por completo.

O
BOM uso
afasta
o
MAU uso.

E vice-versa.

Corolário:
O espaço marginalizado
atrai
a marginalidade.

E vice-versa:

A marginalidade
marginaliza
o espaço.

O COMPLEXO DE VIRA-LATAS
tão bem identificado no brasileiro por Nélson Rodrigues
é amplificado em nós cuiabanos
pelo nosso renitente
COMPLEXO DE PEQUI-ROÍDO.

DEUS 
escreve certo
por linhas certas,
NÓS 
é que somos tortos
pela vida.

ESTILO
é um artifício criado para  o estudo do passado,
e não para ser
reproduzido no presente.

O
ESTILO de hoje
certamente já está sendo praticado,
mas ainda não foi
identificado

PRESENTE
é o futuro
que acabou de passar
e virou
passado.

SUSTENTABILIDADE
é pensar no nosso bem,
pensando também
no bem
de quem vem
depois.
Amém!

O TEMPO 
é o único recurso
realmente
não-renovável.

VOCÊ está ficando velho
quando já não tem mais certeza
se sobreviverá
ao seu próximo
par de sapatos.

VOCÊ está ficando velho
quando pensa a JOGADA,
toca a BOLA,
e não consegue
mais
correr atrás
DELA.

VIDA
A VIDA
é tudo
e nada.
É brilho de luz de vela
que o sopro
da brisa



apaga.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

A FALA DO ARQUITETO

OlharDireto   11/11/2015 - 09:35

Arquiteto defende projetos para pessoas de baixa renda e afirma que arquitetura traz sentimentos à casa

Da Redação - Isabela Mercuri

Foto:  Reprodução do site OlharDireto

Fazer projetos arquitetônicos para famílias de baixa renda pode se tornar realidade para muitos arquitetos do Brasil. Com a tentativa do Conselho de Arquitetura de regulamentar a lei que prevê assistência técnica gratuita para pessoas de baixa renda, elas, que não teriam acesso a isso anteriormente, passariam a ter mais conforto. Quem defende a ideia é o arquiteto Luiz Claudio Bassam, formado pela Universidade de Londrina (UEL) e atualmente professor da Universidade de Cuiabá (UNIC). 
Para ele, a arquitetura e o urbanismo são instrumentos de mudança social. De acordo com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU/BR), mais de 80% da população faz obras sem um projeto técnico nesta área. A falta de recursos é principal motivo apontado. Bassam ainda afirma que a diferença que um projeto faz numa casa vai além da praticidade e da organização, ele traz sentimentos e sensações à casa das pessoas.

Junto a essa iniciativa do Conselho, no entanto, está outra em pauta, que pede a revisão da Lei das Licitações pelo Congresso. Nesta revisão, seria retirada a exigência do projeto para a licitação pública, sendo necessário apenas o anteprojeto. “É um retrocesso muito grande pra um país que quer ser desenvolvido. Boa parte dos brasileiros não é profissional, e isso reflete lá em cima (no congresso). Fazemos tudo de hoje pra amanhã”, afirma Bassam. Ele explica que o projeto é um planejamento minucioso que facilita o trabalho quando a obra é levantada: “Na Europa, em países desenvolvidos, um projeto de arquitetura dura dois, três anos, ele não dura uma semana. Só que a obra ela se faz em seis meses, e ninguém pensa em mais nada, porque já está tudo planejado. Não têm aditivos, está resolvido. Isso é profissional”. 

E é por esta importância que o arquiteto dá aos projetos que ele concorda com a ideia de planejar para pessoas que ganham até três salários mínimos, “É um novo tipo de cliente. Tem que acabar com isso do arquiteto ficar sentado no escritório esperando o cliente aparecer. Agora ele pode ir na comunidade, ver as necessidades das pessoas, pega o financiamento, o recurso do governo e vamos trabalhar. Eu vou projetar, as pessoas que não teriam acesso a isso terão conforto, e eu vou receber por isso”, afirma. Com uma obra mais pensada, seria possível até mesmo conseguir economia posteriormente: “O principal exemplo é a economia energética. Se você fizer uma casa pra Cuiabá, com sombra, evitando que o sol entre no ambiente, você vai ter uma redução da carga térmica. Se precisar usar o ar condicionado, será numa potencia menor. Então gera uma economia violenta. Ventilação pode fazer até com que não precise de ar condicionado”. 

E essa ideia de projetar de acordo com o local, Bassam também tenta passar para seus alunos: “Eles precisam de referências arquitetônicas. Não é que eles vão copiar, eles vão perceber, por exemplo, que lá no Chile se constrói assim, por causa do clima, do relevo, no Marrocos se constrói assim. E aqui, em Cuiabá, como eu construo? Fazemos construções como nos grandes centros, tem a ver com o cuiabano? Em Marrocos, as casas são feiras para o deserto, árido, na Amazônia a arquitetura é leve, a casa é ventilada”, explica. 

“E eu acredito que o projeto de arquitetura é a síntese de tudo. O urbanismo trabalha cidade, então o arquiteto não pode pensar no um edifício isolado dentro de um terreno, o local onde ele está, conhecer o local, o entorno de onde aquele terreno está localizado é fundamental. Não se pensa dentro de quatro muros”, finaliza. 

Ler o original em
 http://www.olhardireto.com.br/conceito/noticias/exibir.asp?noticia=Arquiteto_defende_projetos_para_pessoas_de_baixa_renda_e_afirma_que_arquitetura_traz_sentimentos_a_casa&id=9638

sábado, 7 de novembro de 2015

QUEM PÔS FOGO NA ARENA?

copadomundo.uol.com.br

José Antonio Lemos dos Santos

     Acompanho pelo noticiário a CPI da Copa na Assembleia Legislativa de Mato Grosso. Desde quando aventada ainda como uma possibilidade distante e incrível sempre fui entusiasta da Copa do Mundo em Cuiabá por vários motivos, dentre eles a oportunidade de investimentos públicos e privados concentrados no tempo em montante que de outra forma jamais se veria pelas próximas décadas ou gerações, a oportunidade de divulgação da cidade e do Estado em uma vitrine global de massa e pela chance de elevação da autoestima do cuiabano, sempre pacato e descrente de sua força e de seus valores. Passada a Copa sigo entusiasmado, as oportunidades apareceram, muitas foram aproveitadas, embora nem todas e nem da melhor maneira, deixando um legado positivo e ao menos um grande desafio a ser viabilizado: o VLT. O evento em si foi um êxito grandioso, como mostram os arquivos dos sites noticiosos locais, nacionais e estrangeiros, contrariando os que torceram, jogaram contra e até apostaram em Cuiabá como a vergonha da Copa. 
     Não sou de ficar olhando para o passado, principalmente em busca de coisas negativas. O arquiteto trabalha sempre com a construção do futuro e o passado só lhe interessa como ingrediente indispensável nessa construção. Buscamos no dinamismo do presente as potencialidades do futuro, imaginando transformá-las em qualidade de vida. Debruçados sobre o passado ficamos de costas para o futuro. Os problemas do passado precisam ser consertados sim, mas para isso tem bastante gente especializada e bem paga, inclusive para denunciar e punir quem mereça ser punido. Daí a importância de ferramentas como as CPIs.
     A Copa, porém, me deixou uma pulga atrás da orelha: quem pôs fogo na Arena Pantanal no dia 25 de outubro de 2013? Não fosse a destreza do nosso valoroso Corpo de Bombeiros a Copa do Pantanal não se realizaria. Se aquele incêndio fosse um pouco mais prolongado comprometeria a estrutura de seu principal palco, já quase pronto e na qual o povo mato-grossense estava investindo mais de R$ 600,0 milhões. Não haveria tempo para reparos. O inquérito policial concluiu que o incêndio foi criminoso. Mas ficou por isso. Esquecido. Quem foi?
     Era esperado que Cuiabá por ser a menor e a menos preparada das sedes fosse enfrentar muitas dificuldades, a começar pela grandeza da empreitada em obras, envolvendo complexidades técnicas, burocráticas e até da oposição política local que não aceita “azeitona na empada dos adversários”. Mas jamais se poderia imaginar que fossem tantas, muitas ancoradas em grandes órgãos nacionais de notícias e defendidas por alguns comentaristas esportivos de prestígio. É certo que a escolha de Cuiabá entre as 12 sedes da Copa do Mundo contrariou poderosos interesses que por algum tempo ainda acreditaram e trabalharam na possibilidade de sua reversão. Até que ponto esses interesses poderiam ir? O fogo tem algo a ver com o ardil montado em nível nacional com a grosseira comparação entre preços de cadeiras diferentes anunciada com estardalhaço a 2 meses do último prazo para a entrega da Arena à FIFA? Também seria para inviabilizar a Copa do Pantanal? 
     O desenvolvimento extraordinário de Mato Grosso nas últimas décadas vem lhe permitindo avançar em projetos e reivindicações inimagináveis há pouco tempo, comparecendo como novo e incômodo protagonista no jogo de forças do tradicional equilíbrio federativo. A Copa do Pantanal pode ter sido uma dessas vitórias diante de outros estados mais tradicionais. Outras legítimas disputas e novas vitórias virão com certeza para Mato Grosso, agora em novos níveis enfrentando interesses sempre mais poderosos. O esclarecimento do incêndio na Arena Pantanal pode ajudar o Estado nesses seus novos tempos. 
(Publicado em 06/11/2015 pelo Midianews, Página do Enock, CAU-MT e no dia o7/11/2015 pelo Diário de Cuiabá ...)


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A NOIVA DO SOL

Foto José Lemos

José Antonio Lemos dos Santos

     No Hino de Mato Grosso quando Dom Aquino fala em “terra noiva do sol” por certo se refere a Cuiabá, em especial às suas condições de convivência prazerosa com elevadas temperaturas. Hoje quando os automóveis e a demência humana esparramam asfalto e concreto ao léu, ninguém escapa aos efeitos do calor intenso em que vive a cidade. Todos sofrem, reclamam dele, transforma-se até em assunto obrigatório para quando não se tem por onde iniciar uma conversa. Assim, pouca gente se lembra ou percebe que nossa cidade é a Cidade Verde – ainda – pois a natureza, sempre sábia, ao nos abraçar com seu calor intenso, ofereceu em troca um sítio urbano densamente drenado com córregos e inclusive dois rios, bem como uma invejável cobertura vegetal. 
     Essa contrapartida jamais pode ser esquecida ou confundida com “mato”, “lixo” para ser imolada à sanha de algum tipo pervertido de progresso. Ao contrário, é essa “mixagem”, essa mistura de calor com muito verde e muita água que produz aquela condição climática gostosa tão lindamente definida por Carmindo de Campos como um “calor sadio que às vezes é melhor, bem melhor que o frio”. Daí também a imagem genial da “noiva do sol”, cujo vestuário natural lhe cobre de verde, ornado com fios de água corrente, brilhantes e cristalinos, traje mais que apropriado, indispensável à uma convivência ensolarada saudável. 
     Nas últimas seis décadas nossa cidade revitalizou-se, voltou a crescer de forma intensa, envolvendo as duas margens do rio que lhe deu origem, com um dinamismo extraordinário. Esse processo nada mais é que a realização da vocação de uma cidade fincada no coração de um continente, encontro de caminhos, divisor das águas amazônicas e platinas e hoje, às vésperas de seu Tricentenário, centro de uma das regiões mais produtivas do planeta. Não foi à toa que nossa gente ficou por aqui por séculos mesmo quando todas as condições lhe eram desfavoráveis. A cidade vai continuar dinâmica, e é bom que seja assim. Mas o que desafia e exige a intervenção do interesse público é a qualidade desse dinamismo. O progresso da cidade tem que se dar a favor de seus cidadãos e do planeta, e não contra. É possível isso? É. Para tanto existem as técnicas do planejamento urbano e suas leis urbanísticas; para isso a Constituição instituiu o Plano Diretor Urbano e os Poderes Públicos têm seu poder de polícia. Entretanto para que essas coisas funcionem é preciso uma indubitável decisão política no sentido do controle da cidade, em clima de colaboração civilizada e de mútua confiança democrática, envolvendo não apenas as autoridades executivas e legislativas, mas a comunidade como um todo. 
     Podíamos ter feito e podemos fazer muito mais por nossos rios, córregos, parques, áreas verdes e ZIAs, afinal, muito antes da grande onda das preocupações verdes envolverem o mundo, nossos antepassados já haviam escolhido para nossa cidade o título de “Cidade Verde” como o único modelo viável a ser seguido para a qualificação ambiental de nossa Cuiabá, a Ikuiapá dos bororos, onde pescavam com flecha-arpão.


Foto José Lemos

     Reescrevo este artigo publicado em 1991 no saudoso Jornal do Dia, a quase um quarto de século. O calor aumenta e não é mais assunto apenas para puxar conversa. É pauta de todas as conversas, do barzinho à porta da igreja. Talvez enfim o paradigma da “Cidade Verde” seja compreendido em toda sua sabedoria e abraçado com determinação por um povo que superou muitas provações. A natureza deu para nossa cidade um clima especial e as condições naturais de adequação a ele. Cabe a nós decidirmos o que fazer delas, por ação ou omissão. Infelizmente, não seremos nós a pagar pela eventual escolha errada ou tardia. Serão nossos filhos. Idos 25 anos, nossos netos, toda nossa descendência. 
(Publicado em 27/10/15 pela Página do Enock, em 28/10/15 pela FolhaMax e HíperNotícias, e em 29/10/15 pelo Diário de Cuiabá ...)



quinta-feira, 22 de outubro de 2015

ARENA ESPETACULAR

     Recebi esta foto da Arena Pantanal feita pela arquiteta Cássia Abdallah, para mim uma das melhores fotos da praça esportiva multiuso, mostrando sua integração com a cidade física e com as pessoas da cidade.

Foto Cássia Abdallah Out/15

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

VIVAS!

Foto José Lemos 10/10/15

José Antonio Lemos dos Santos

     Como um milagre, de repente só boas notícias. Impressão minha ou os tempos estão dando sinais de mudanças positivas, para frente, ao menos em Mato Grosso? Claro que ajudou muito esta visão mais otimista do mundo a estada de meus quatro netos em minha casa neste fim de semana prolongado dedicado às crianças e à Nossa Senhora Aparecida. É importante o passado e as investigações oficiais sobre seus acertos e erros, mas sem prejuízo da construção positiva do futuro. 
     Pois bem, a sexta feira, dia 9, amanhece com a notícia do governo do estado ter assinado ordem de serviço para retomada das obras do Aeroporto Marechal Rondon, paradas há no mínimo 10 meses. Nestes tempos globalizados o privilégio de um aeroporto de porte internacional é uma vantagem comparativa excepcional que não pode ser desprezada, mas trabalhada como poderosa ferramenta de desenvolvimento local e regional dado seu poder atrativo de investimentos como diferencial gerencial e logístico. Ainda mais, Mato Grosso, hoje uma das regiões mais dinâmicas e produtivas do planeta, com interesses pelo mundo todo. Trata-se de sua principal porta de entrada que deve estar sempre bonita, confortável, segura, moderna e compatível com as projeções de desenvolvimento regional. No caso do Marechal Rondon, trata-se ainda de um hub aeroviário continental em potencial por sua localização estratégica única no centro do continente sul-americano. Aliás, jamais será demais lembrar a fantástica visão de futuro dos que na década de 40 tiveram a coragem de destinar na Cuiabá de então mais de 700 hectares à ainda incipiente aviação comercial. Era muita confiança no desenvolvimento do estado e da aviação. Tinham a visão correta do futuro. Hoje entre os 14 mais movimentados do país. Este ano passou os de Manaus e Goiânia. Profetas. Quantos deles teríamos hoje? Para chamar de “elefante branco” sim, aliás, muitos.
     Outra ótima do fim de semana foi a proposta do governador Pedro Taques de criar um espaço cultural multiuso para a população na área do 44º BIM. Sensacional! Lembra Dante de Oliveira e a parceria similar com o Exército, que resultou no fantástico Parque Mãe Bonifácia. O 44º sempre me lembra o presidente Dutra, seu construtor ainda quando ministro. Cuiabaninho vendedor de bolos feitos por sua mãe no centro de Cuiabá, pobre, saiu daqui sem qualquer ajuda, negada reiteradas vezes, em busca dos estudos em um colégio militar a que tinha direito como órfão de veterano da Guerra do Paraguai. E foi lavando pratos nas lanchas e trens que alcançou seu destino como presidente da República eleito e conquistou seu lugar na História. Cuiabá, Mato Grosso e o Brasil têm uma imensa dívida com Dutra, um grande presidente que entre outras coisas convocou a Constituinte que produziu a Constituição mais democrática que o Brasil já teve, e ficou conhecido como “o homem do livrinho” por obedecê-la e pelo exemplar que levava sempre em seu bolso. Tudo a ver com nosso governador, também defensor incondicional da Constituição. A bela proposta do governo estadual comportaria um Memorial Dutra, nele incluso um Colégio Militar para ajudar nossas crianças a sonhar serem novos Dutra, novos Rondon? É bom lembrar que em 1957 a prefeitura doou a área hoje ocupada pelo Círculo Militar para ser o Colégio Militar de Cuiabá. Até hoje... 
     Ainda apareceu ouro em Pontes e Lacerda, mas é bom esperar mais notícias. Prefiro lembrar a alegria de rever a Arena Pantanal com sua espetacular fachada cênica iluminada como espero que permaneça sempre como um elemento a mais de atração turística em Mato Grosso. Levava uns amigos de Mato Grosso do Sul para conhecer a Arena e para minha surpresa estava iluminada. Também surpresos, ficaram maravilhados! 
(Publicado em 14/10/15 pela Pàgina do Enock, em 15/10/15 pelo Diário de Cuiabá, Midianews, ...)

terça-feira, 6 de outubro de 2015

FICO E VLT

Colisão de VLT e BRT em charge do Professor José Maria Andrade, especial para o meu livro "Cuiabá e a Copa- A preparação."


José Antonio Lemos dos Santos

     Cerca de um mês atrás, o prefeito de Lucas do Rio Verde, Otaviano Pivetta, atacou em entrevista o projeto do VLT em Cuiabá, dizendo entre outras coisas tratar-se de um “crime” e “um dinheiro que foi tirado das necessidades prioritárias do Estado, para fazer esse sonho louco, que eu não sei de quem foi”. Pena que o sr. Pivetta não tenha usado do seu indiscutível prestígio empresarial e político quando do momento da intempestiva troca do BRT pelo VLT, para tentar impedi-la. Também considerei absurda a troca em artigo intitulado “Sou BRT”, mas, em março de 2011, época da discussão. Hoje, depois gastos mais de R$ 1,0 bilhão, já acho que um absurdo seria o abandono de suas obras.
     Contudo, ao trazer à baila o VLT, o sr. Pivetta nos faz lembrar a tão prometida ferrovia de Integração do Centro Oeste – a Fico, da qual, por coincidência, é um dos principais idealizadores, de 1.200 km, surgida também de uma hora para outra em troca da paralização do projeto da Ferronorte em Rondonópolis, a 460 km de Nova Mutum. Assim, lado a lado, a Fico e o VLT lembram o caso do sujo e do mal lavado.    
     Não sou contra o VLT nem contra a Fico. Sou contra a oportunidade de ambos. O VLT é um modal usado no mundo inteiro e que muito bem pode ser utilizado em qualquer cidade do mundo, em sistemas de modais integrados conforme recomenda a moderna técnica da mobilidade urbana. Mas, considerando que a demanda na época da troca era atender a Copa em um prazo exíguo de 3 anos, era claro que não dava para ser executado. Deveria então ser mantida a opção pelo BRT, já com projeto e financiamento aprovados, de execução mais rápida e a um custo 3 vezes inferior ao do VLT, este sem projeto e ainda em um processo de discussão de financiamento que enfim se desenrolou de forma tumultuada, com denúncia de troca de pareceres técnicos no Ministério das Cidades e, inclusive, com queda de ministro. Um escândalo.    
     Também não sou contra a Fico. Mato Grosso é um gigante produtivo centro-continental e sua redenção é a abertura de caminhos, em todos os modais e direções. Quanto mais, melhor.
Assim, penso que em breve chegará o momento para a Fico. Mas nosso problema hoje é atender a questão da logística de transportes que vem travando nossa potencialidade produtiva, com imensos prejuízos aos nossos bravos produtores, prejudicando o meio ambiente e matando muita gente querida nas estradas. Aliás, este artigo foi provocado pelos dados divulgados pelo Ipea, na semana passada, dando conta que em 2014 ocorreram 4.460 acidentes nas rodovias federais em Mato Grosso, com 283 mortes, mais que a tragédia da boate Kiss que nos faz chorar até hoje a morte de 242 jovens. Nossas estradas tornaram-se trágicas graças, em grande parte, ao dinamismo mato-grossense ter extrapolado em muito a capacidade do modal rodoviário, exigindo ferrovias e hidrovias complementares. Em 2014, esses acidentes em nossas estradas custaram R$ 486,7 milhões, e na produção 18 milhões de toneladas de grãos ficam ao relento aguardando transporte e, quando transportados, cerca de 2 milhões de toneladas de soja e milho por ano são perdidos, “vazando” pelas rodovias. Triste. Puro desrespeito a um povo trabalhador.    
     Nesse quadro emergencial e dramático é incompreensível a paralização do projeto da Ferronorte em Rondonópolis com o maior terminal ferroviário da América Latina em total funcionamento a apenas 460 km de Nova Mutum, em plena área de produção de grãos, a 230 km de Cuiabá, maior polo consumidor, distribuidor e concentrador de mão de obra do estado. 
Projeto paralisado em troca da Fico com 1.200 km em direção à ferrovia Norte-Sul, inacabada em Goiás. Enquanto isso a natureza sofre, a economia perde e o povo morre nas estradas.   

(Publicado em 06/10/2015 pelo Midianews, Jornal Oeste, ....)

Comentários:
No Midianews:
Jorge Luiz  06.10.15 08h56
É bom que os eleitores de MT, principalmente do Vale Cuibá, tenham consciência política e saibam escolher representantes para o Estado, não apoiando políticos bairristas como o Sr. Otaviano Piveta. MT se entende como 141 municípios, não apenas Lucas do Rio Verde.

Lopes  06.10.15 08h26
O que o sr. Piveta queria a época daquele comentário fora de tempo, era isso: REFLETORES

sábado, 3 de outubro de 2015

E A NOSSA FERROVIA?

constran.com.br

Jandira Maria Pedrollo, arquiteta e urbanista.

     Por décadas a fio o povo mato-grossense esperou a conclusão da tão sonhada ferrovia Senador Vicente Vuolo. Agora, quando essa se aproxima do Centro Geodésico da América Latina, na capital do Estado, novos fatos se apresentam com a priorização de outras possibilidades até então não cogitadas, deixando a população da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá apreensiva. 

     “O trem chegará a Cuiabá?” 

     Novos rumos foram traçados sem que a população mato-grossense tivesse a oportunidade de se manifestar. 
     Conforme noticiado no site do Ministério do Planejamento em junho de 2015, referente às obras do PAC, para a ferrovia entre Lucas do Rio Verde (MT) e Miritituba (PA) serão destinados R$ 9,9 bilhões; consta também a projeção de R$ 40 bilhões para o trecho brasileiro da Ferrovia Bioceânica (também chamada transoceânica ou transcontinental), que interligará o Centro-Oeste e o Norte do país ao Peru. Trata a nova ferrovia como sendo um investimento estratégico para o escoamento de produção agrícola via Oceano Pacífico até os mercados asiáticos. 
     Apesar de no site anunciar a ligação do Centro-Oeste do país e Norte ao Peru, o que tem sido noticiado na imprensa é que a ferrovia atravessará o continente, ligará o oceano Atlântico ao Pacífico. Trata também da ligação de Lucas do Rio Verde ao Pará como fato isolado, e não como uma complementação da malha ferroviária federal. 
     É de estranhar, há um ano a ferrovia planejada para Mato Grosso era a Senador Vicente Vuolo. Tanto que a matéria veiculada em 4 de maio de 2014, no site Portos S.A., Revista de Logística e Comércio Exterior, com o título: “Sai o traçado da ferrovia entre Rondonópolis e Cuiabá” noticiava a conclusão do estudo de viabilidade dessa Ferrovia e estimativa em R$ 1,4 bilhão o custo do trecho. E ainda que técnicos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) haviam entregado à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) o modelo do traçado ideal para a ligação ferroviária entre Rondonópolis e Cuiabá. 
     Porém, pelas notícias atuais, a prioridade do momento deixou de ser a continuidade da Ferrovia Senador Vicente Vuolo até Cuiabá e sua continuidade até o Norte do Estado e em sequência a região Norte do País. Ferrovia que serviria ao abastecimento da região mais populosa de Mato Grosso, ao transporte de insumos, combustíveis e ao mesmo tempo o escoamento da safra e dos produtos aqui industrializados. A facilidade no transporte favoreceria a industrialização de Mato Grosso e o beneficiamento da matéria prima aqui produzida. Um ano após a entrega dos estudos, pelo qual o governo mato-grossense aguardava ansioso, surge nova prioridade, fora do até então planejado. Pensando apenas em “escoamento da safra”, exportação de minérios e não mais na produção ou recepção de produtos industrializados para o abastecimento do consumo interno ou mesmo combustíveis e insumos para a produção agrícola. 
     Vemos que o Brasil, na contramão da economia, está se desindustrializando. Estamos enviando matéria-prima bruta para o exterior e produzindo empregos na China. Grande número de indústrias brasileiras se transferiu para lá enquanto dispomos de mão de obra ociosa. 
     No sentido inverso importamos diversos produtos chineses até então desnecessários ou mesmo inconvenientes, como sacos plásticos para lixo produzidos com resíduos sólidos reciclados. Em resumo, o lixo chinês já está sendo depositado no Brasil, na forma de produto industrializado. 
     Entendemos a ligação ferroviária Leste – Oeste como benéfica ao país, a Mato Grosso, ao governo chinês e aos empreendedores do norte mato-grossense, porém devemos ter o cuidado com as condições impostas pelo governo chinês para a implantação do empreendimento. Assim como não podemos descartar a continuidade de um planejamento viário iniciado há décadas e onde já foram investidos muitos recursos, que é a continuidade da implantação da Ferrovia Senador Vicente Vuolo. Tais ferrovias somente farão sentido se interligadas entre si e a outros modais de transporte. 
     Referente à posição da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá, estando localizada no “Centro Geodésico da América do Sul” não pode ficar desconexa das principais vias de transporte nacional, tanto ferroviárias, rodoviárias, aeroviárias e mesmo hidroviárias sob o risco de ser excluída do processo produtivo mato-grossense. 

(Publicado em 01/10/15 pelo RDNews e em 03/10/15 pelo Diário de Cuiabá)


terça-feira, 29 de setembro de 2015

CIDADES E FRONTEIRA

www.fab.mil.br

José Antonio Lemos dos Santos

     Stanley Kubrick em “2001, uma odisseia no espaço” nos mostra numa das mais belas cenas do cinema o alvorecer da humanidade com o homem criando seu primeiro invento, que teria sido uma arma adaptada do osso de uma anta. Desde então o homem não parou de aperfeiçoá-las. Da borduna do osso da anta chegamos aos mísseis nucleares e outras invenções fantásticas destinadas a dobrar o adversário com a violência e a morte. O século XXI, porém, nos reservou a mais poderosa e cruel de todas elas, inimaginável à mais delirante ficção científica. Age sem explodir e sem destruir bens materiais, mas acaba com a vida humana de forma atroz, não sem antes espalhar seus malefícios ao maior número possível de vítimas e ceifando com elas as bases éticas, morais e institucionais de qualquer sociedade. O país fica oco de valores, dignidade e cidadania, pronto para ser dominado.
     A droga é esta mais poderosa arma de destruição e é a maior ameaça a um povo ou país. Ela penetra as estruturas sociais e atua de dentro para fora como um forno micro-ondas. E o Brasil vem sendo sistematicamente bombardeado por essa poderosa arma. Há alguns anos o Fantástico mostrou que o território de Mato Grosso é a principal plataforma de disseminação pelo país dessa arma letal que sangra o Brasil, fato que se confirma com frequência pela imprensa. O tráfico internacional se utiliza da fronteira mato-grossense para o arremesso em propriedades rurais de fardos com drogas, lançados por pequenas aeronaves em voos que escapam aos radares que fazem a segurança do espaço aéreo nacional. Vez por outra temos notícias de apreensões deste tipo. E quantas remessas não são detectadas? Há décadas discute-se o assunto em Mato Grosso, inclusive abordando a ideia da criação de uma Base Aérea em Cáceres utilizando a pista de pouso asfaltada ali existente e ociosa, e na semana passada em Goiânia o governador Pedro Taques cobrou da União medidas efetivas para assegurar a necessária segurança na nossa fronteira. E tem que cobrar mesmo, afinal nossas cidades estão diretamente expostas a este violento bombardeio.
        Jamais será suficientemente enaltecido o trabalho realizado com todas as dificuldades e riscos pelas polícias militar e civil do estado, polícia federal, polícias rodoviárias federal e estadual, e pelo Exército, em ações terrestres. Mas, na questão do controle de nossa fronteira é indispensável considerar a importância do espaço aéreo. Por mais zelosas que sejam as ações em terra, dificilmente alcançarão êxito sem um apoio ostensivo aéreo, com aviões de verdade, portadores do intimidador e vitorioso emblema da gloriosa Força Aérea Brasileira. Mato Grosso é um dos únicos estados brasileiros a não ter uma Base Aérea, apesar de uma complicada fronteira de 1100 quilômetros. Mato Grosso do Sul tem e Rondônia também tem. Fica uma brecha de vulnerabilidade na segurança aérea nacional, justamente na fronteira de Mato Grosso, por onde o país vem sendo bombardeado. Por que Mato Grosso não tem uma Base Aérea até hoje?
     Cáceres tem posição estratégica para uma Base Aérea, a montante do Pantanal, equidistante das bases do Mato Grosso do Sul e de Rondônia, e com uma pista ociosa capaz de receber Boeings. Ao leigo parece bastar alguns helicópteros, alguns Tucanos ou outra aeronave leve baseados na área para se mostrarem presentes e em constante vigilância, rápidas o suficiente para interceptar os teco-tecos que tanto mal vem fazendo ao país, em especial a Cáceres e à Grande Cuiabá. Não se pode pensar em qualidade de vida urbana para os cidadãos brasileiros, para Mato Grosso e para Cuiabá, às vésperas de seu Tricentenário, sem pensar na segurança que começa lá na fronteira.
(Publicado em 28/09/15 pelo Página do Enock, em 29/09/15 pelo Midianews e Jornal Oeste, ...)

sábado, 26 de setembro de 2015

POETA



O artista de bem com a vida consegue enxergar poesia onde nós normais só conseguimos ver fumaça, calor e poeira.
(Ademar Poppi é arquiteto e urbanista, e professor universitário. Poeta na fotografia.)