José Antonio Lemos dos Santos
A proposta do presidente da Câmara Municipal de Cuiabá de construção de uma nova sede para o legislativo cuiabano leva ao resgate da antiga idéia de um centro de cultura sul-americana a ser criado no exato centro geodésico da América do Sul, como uma alternativa de ocupação digna daquele espaço e de aproveitamento de um dos mais ricos potenciais geradores de emprego e renda em Cuiabá. Recorda artigos em que tratei do tema, como o publicado em 1986 em “O Estado de Mato Grosso”, capeando caderno especial sobre o assunto no qual expus a preocupação: “Vamos imaginar que a tendência se confirme e a nossa Assembléia Legislativa seja deslocada para outro ponto da cidade. Teríamos a desocupação do prédio onde ela se instala atualmente. E daí? Como vai ser utilizado? Poderia ser a Câmara de Vereadores de Cuiabá, a qual entretanto já está com sua sede em construção. Naturalmente que o prédio vai ser ocupado de alguma forma. Por que não começarmos a pensar numa forma de utilização que esteja à altura da carga simbólica que envolve aquele espaço?”.
A partir desta pergunta o artigo rascunha a idéia do centro cultural sul-americano, e é seguido por opiniões de personalidades locais, quase todas favoráveis. Aparentemente apenas um exercício de futurologia com uma bola de cristal sortuda, mas que as décadas mostraram ser mais que isso. A idéia era, e ainda é, transformar aquele espaço em um centro referencial para a cultura sul-americana. Um lugar onde fossem desenvolvidos estudos, cursos, exposições, congressos, festivais e outras atividades sobre as manifestações populares autênticas do continente como, por exemplo, as diversas línguas (o quíchua, o aimará, o guarani e outras), a gastronomia, danças, oficinas de ensino e fabricação de instrumentos musicais como a belíssima harpa paraguaia, o charango, as flautas andinas, a nossa viola de cocho, etc. Talvez até um local para encontros comerciais e de cúpulas políticas continentais. No mínimo poderia ser promovida uma festa anual comemorando, em um grande abraço continental, a cultura popular do continente com barracas de cada país, musica, dança, comidas típicas, a ser realizada em julho, mês natalício de Simon Bolívar, idealizador pioneiro da integração continental.
Estivesse o centro geodésico em qualquer lugar, há muito estaria rendendo em favor de sua gente como uma atração turística importante, ainda mais nesta época em que a integração do continente avança, a qual o governo federal parece dedicar especial carinho. Cuiabá tem o principal, que nenhuma outra cidade tem, o marco geodésico construído pelo Marechal Rondon, reconhecido mundialmente como um dos mais ilustres personagens da humanidade, e um espaço físico praticamente pronto para ser ocupado. Tem ainda colônias de quase todos os países do continente que, inclusive, em fins dos anos 80 realizaram uma festa, simples, mas animada, em torno do marco geodésico. E tem ainda o interesse do governador Blairo Maggi, manifestado na mudança da Assembléia para o CPA, quando quis dar esta finalidade à antiga sede, impedido pela ocupação do edifício pelos vereadores.
Junto com as belezas do Pantanal e da Chapada, com as termas de São Vicente, e a visibilidade da Copa, a criação de um centro cultural sul-americano no exato centro geodésico da América do Sul transformará Cuiabá em um pacote múltiplo de atrações extremamente vantajoso ao investimento do turista nacional e internacional. Empregos, renda e desenvolvimento, principalmente cultural, é o que Cuiabá e Mato Grosso ganharão com o aproveitamento dessa extraordinária riqueza latente. Um dia acontecerá. E pode ser agora.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 22/10/2009), excepcionalmente numa quinta-feira)
José Antonio Lemos dos Santos, arquiteto e urbanista, é professor universitário aposentado . Troféu "João Thimóteo"-1991-IAB/MT/ "Diploma do Mérito IAB 80 Anos"/ Troféu "O Construtor" - Sinduscon MT Ano 2000 / Arquiteto do Ano 2010 pelo CREA-MT/ Comenda do Legislativo Cuiabano 2018/ Ordem do Mérito Cuiabá 300 Anos da Câmara Municipal de Cuiabá 2019.
"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
CENTRO DE CULTURA SUL-AMERICANA
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terça-feira, 6 de outubro de 2009
A PONTE DO SUCURI
José Antonio Lemos dos Santos
A viabilização de uma nova saída para a região norte do Estado através estrada da Guia (MT-010) como alternativa emergencial ao trecho da BR-163 tristemente conhecido como “rodovia da morte”, trouxe para a cidade o problema de um novo acesso rodoviário com considerável volume de tráfego. Esta situação, com suas perspectivas, deve ser a origem do projeto de ligação direta da estrada da Guia em Cuiabá à BR-163 em Várzea Grande, próximo ao Trevo do Lagarto, através de uma nova ponte sobre o rio Cuiabá nas proximidades da região do Sucuri, permitindo que o novo tráfego rodoviário contorne a cidade, só realizando a conexão urbana na Rodovia dos Imigrantes (VECO-S), construída para isso, ainda que exigindo uma readequação completa às condições atuais de tráfego. Porém, este projeto urgente, a que refiro como “contorno oeste”, foi integrado a um outro, antigo - conhecido como “contorno norte” - e passou a compor o chamado Rodoanel de Cuiabá, desprezando-se o trecho do rio Cuiabá até a BR-163, em Várzea Grande, sem o qual perde seu importante objetivo original.
A ligação da saída da Guia com o Trevo do Lagarto está entre as obras mais urgentes para a Cuiabá de hoje e para o êxito da Copa do Pantanal, em 2014. Sem ela, o novo fluxo de veículos incide diretamente na rótula do antigo posto da Polícia Rodoviária Estadual, na saída para a Chapada, já dentro da cidade, demandando a seguir a Avenida República do Líbano e posteriormente a Miguel Sutil, para chegar enfim à Ponte Mário Andreazza e daí ao Trevo do Lagarto. Todo o percurso em Cuiabá é feito em plena cidade, contornando a região do Verdão onde estará o palco maior da Copa, fazendo uso de vias que hoje já se apresentam em estado crítico de tráfego. A crônica situação de crescentes engarrafamentos na Avenida Miguel Sutil entre a Rodoviária e o Santa Rosa certamente reflete também o aumento de tráfego oriundo do novo – e importante, repito – acesso rodoviário. A situação é preocupante ainda que se pudesse confiar que o novo acesso será restrito a veículos leves, como dizem as autoridades.
Importante é que esta obra, conforme as notícias, já conta com recursos assegurados por emendas federais e independe de novos recursos trazidos pela Copa, estando inclusive próxima a conclusão de seu primeiro trecho, todo em Cuiabá, entre as estradas nova e velha da Guia. Mas, esta obra terá que ser realizada em sua totalidade para cumprir seu objetivo, que é o de levar o tráfego da estrada Guia em Cuiabá até a BR-163 em Várzea Grande, com fluidez e segurança, sem prejudicar a cidade e sem ser prejudicado por ela. A conclusão desse primeiro trecho é a realização de uma etapa de um projeto maior, hoje indispensável para a cidade, que deve ter seqüência imediata com a execução da nova ponte sobre o rio Cuiabá e do trecho até a BR-163, em Várzea Grande. Sem a execução total desse “contorno oeste”, a tendência é de agravamento de uma situação que já é grave, uma vez que, chegando à Avenida Antártica o tráfego rodoviário terá que buscar a Miguel Sutil através da rótula do Santa Rosa, já em colapso.
A preocupação é que, pelo avanço das obras, a prioridade parece ter sido dada ao sentido oposto a aquele que é realmente urgente, isto é, a prioridade hoje parece ser a execução do antigo “contorno norte”, em direção ao Sinuelo, em um percurso que excluí Várzea Grande e o Distrito Industrial de Cuiabá e sua Zona de Alto Impacto, importantes destinos do tráfego rodoviário, ao invés da busca imediata da saída pelo Trevo do Lagarto e Rodovia dos Imigrantes, pela nova ponte do Sucuri. Sem uma reavaliação urbanística dessa priorização o prognóstico é o desastre. Para já e para a Copa.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 06/10/2009)
A viabilização de uma nova saída para a região norte do Estado através estrada da Guia (MT-010) como alternativa emergencial ao trecho da BR-163 tristemente conhecido como “rodovia da morte”, trouxe para a cidade o problema de um novo acesso rodoviário com considerável volume de tráfego. Esta situação, com suas perspectivas, deve ser a origem do projeto de ligação direta da estrada da Guia em Cuiabá à BR-163 em Várzea Grande, próximo ao Trevo do Lagarto, através de uma nova ponte sobre o rio Cuiabá nas proximidades da região do Sucuri, permitindo que o novo tráfego rodoviário contorne a cidade, só realizando a conexão urbana na Rodovia dos Imigrantes (VECO-S), construída para isso, ainda que exigindo uma readequação completa às condições atuais de tráfego. Porém, este projeto urgente, a que refiro como “contorno oeste”, foi integrado a um outro, antigo - conhecido como “contorno norte” - e passou a compor o chamado Rodoanel de Cuiabá, desprezando-se o trecho do rio Cuiabá até a BR-163, em Várzea Grande, sem o qual perde seu importante objetivo original.
A ligação da saída da Guia com o Trevo do Lagarto está entre as obras mais urgentes para a Cuiabá de hoje e para o êxito da Copa do Pantanal, em 2014. Sem ela, o novo fluxo de veículos incide diretamente na rótula do antigo posto da Polícia Rodoviária Estadual, na saída para a Chapada, já dentro da cidade, demandando a seguir a Avenida República do Líbano e posteriormente a Miguel Sutil, para chegar enfim à Ponte Mário Andreazza e daí ao Trevo do Lagarto. Todo o percurso em Cuiabá é feito em plena cidade, contornando a região do Verdão onde estará o palco maior da Copa, fazendo uso de vias que hoje já se apresentam em estado crítico de tráfego. A crônica situação de crescentes engarrafamentos na Avenida Miguel Sutil entre a Rodoviária e o Santa Rosa certamente reflete também o aumento de tráfego oriundo do novo – e importante, repito – acesso rodoviário. A situação é preocupante ainda que se pudesse confiar que o novo acesso será restrito a veículos leves, como dizem as autoridades.
Importante é que esta obra, conforme as notícias, já conta com recursos assegurados por emendas federais e independe de novos recursos trazidos pela Copa, estando inclusive próxima a conclusão de seu primeiro trecho, todo em Cuiabá, entre as estradas nova e velha da Guia. Mas, esta obra terá que ser realizada em sua totalidade para cumprir seu objetivo, que é o de levar o tráfego da estrada Guia em Cuiabá até a BR-163 em Várzea Grande, com fluidez e segurança, sem prejudicar a cidade e sem ser prejudicado por ela. A conclusão desse primeiro trecho é a realização de uma etapa de um projeto maior, hoje indispensável para a cidade, que deve ter seqüência imediata com a execução da nova ponte sobre o rio Cuiabá e do trecho até a BR-163, em Várzea Grande. Sem a execução total desse “contorno oeste”, a tendência é de agravamento de uma situação que já é grave, uma vez que, chegando à Avenida Antártica o tráfego rodoviário terá que buscar a Miguel Sutil através da rótula do Santa Rosa, já em colapso.
A preocupação é que, pelo avanço das obras, a prioridade parece ter sido dada ao sentido oposto a aquele que é realmente urgente, isto é, a prioridade hoje parece ser a execução do antigo “contorno norte”, em direção ao Sinuelo, em um percurso que excluí Várzea Grande e o Distrito Industrial de Cuiabá e sua Zona de Alto Impacto, importantes destinos do tráfego rodoviário, ao invés da busca imediata da saída pelo Trevo do Lagarto e Rodovia dos Imigrantes, pela nova ponte do Sucuri. Sem uma reavaliação urbanística dessa priorização o prognóstico é o desastre. Para já e para a Copa.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 06/10/2009)
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terça-feira, 29 de setembro de 2009
AVENIDA DO BARBADO
José Antonio Lemos dos Santos
A projetada avenida do Barbado destaca-se entre as obras de maior importância para Cuiabá. De acordo com a Lei 3870/99 - aparentemente desconhecida pelas autoridades, mas que há 10 anos define legalmente o sistema viário de Cuiabá - a avenida do Barbado integra a Via Estrutural Circular Norte (Veci-N), projetada para ligar a Avenida Helder Cândia (MT-010) à Ponte Sérgio Mota, atravessando a Avenida Rubens de Mendonça, seguindo pelo córrego do Barbado e pelas avenidas Brasília e Tancredo Neves, atravessando também a Fernando Correia. Após a Ponte Sérgio Mota, segue em Várzea-Grande pela Avenida Dom Orlando Chaves até a Ponte Nova, atravessando ortogonalmente a Avenida da FEB, chegando a Avenida Miguel Sutil de novo em Cuiabá, formando uma grande voluta viária integradora de toda a conurbação. As travessias citadas hoje já exigem viadutos ou trincheiras como alternativa ao iminente colapso viário e a avenida e suas interseções independem da Copa, mas tornam-se muito mais necessárias com ela. A Copa é a chance de tornar realidade essa grande via estrutural, se não totalmente, ao menos no trecho que acompanha o córrego – que chamamos de avenida do Barbado - e que será um poderoso auxílio à Miguel Sutil, em estado crítico de circulação, e linha de chegada da Avenida das Torres, hoje em construção e também projetada na Lei 3870/99.
No segundo governo municipal de Dante de Oliveira, em 92, havia um projeto de canalização do córrego do Barbado no estilo então tradicional, isto é, com retificações e concretagem do canal, e adição de pistas laterais coladas, tal como na atual Avenida 8 de Abril, que no passado já foi um córrego chamado Mané Pinto. Eu estava na superintendência do IPDU e com o então secretário da recém criada SMADES, arquiteto José Afonso Portocarrero e o diretor de Projetos Especiais, arquiteto Ademar Poppi, ponderamos ao prefeito sobre o uso de uma metodologia mais atualizada para a urbanização daquele importante córrego, levando o conceito da “avenida-parque” que começava a ser discutido na literatura especializada e em alguns poucos projetos pioneiros no Brasil. O prefeito se entusiasmou.
O cerne da questão era preservar ao máximo o córrego em seu leito natural, mantendo seus padrões de velocidade das águas e permeabilidade do solo ainda que abaixo da Fernando Correia ele já fosse todo canalizado, e manter também ao máximo sua vegetação ciliar, ainda que em muitos pontos tivesse que ser recomposta. Respeitando suas faixas de preservação permanente, foram colocadas duas pistas laterais com duas faixas de rolamento e uma de estacionamento de cada lado, com iluminação e calçada. Com a mesma verba do projeto original seriam feitas ainda mini-estações de esgoto segundo as micro-bacias, e implantados play-grounds, pista de caminhada e equipamentos esportivos em áreas mais degradadas. Resultaria uma avenida com cerca de 5,6 Km de extensão e, de lambuja, um parque linear urbano com cerca de 34 ha: a “córgo-way” cuiabana, simpático apelido então dado pelos técnicos.
Dante chegou a iniciá-la entre a Archimedes Lima e a Avenida dos Trabalhadores, que hoje tem o seu nome. Mas a obra parou e nada mais foi feito até hoje, mesmo que tenha entrado no discurso da campanha do primeiro mandato do atual prefeito e seja cada vez mais importante para a cidade. Ainda dá para ser feita, bastando olhar nas imagens aéreas para ver que a própria natureza parece pedir pela realização da obra. Por estranho que pareça, ouvi dizer que Wilson Santos teria enfrentado restrições de ordem ambiental para a implantação dessa que poderia ter sido uma das primeiras avenidas-parque no Brasil.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 29/09/09)
A projetada avenida do Barbado destaca-se entre as obras de maior importância para Cuiabá. De acordo com a Lei 3870/99 - aparentemente desconhecida pelas autoridades, mas que há 10 anos define legalmente o sistema viário de Cuiabá - a avenida do Barbado integra a Via Estrutural Circular Norte (Veci-N), projetada para ligar a Avenida Helder Cândia (MT-010) à Ponte Sérgio Mota, atravessando a Avenida Rubens de Mendonça, seguindo pelo córrego do Barbado e pelas avenidas Brasília e Tancredo Neves, atravessando também a Fernando Correia. Após a Ponte Sérgio Mota, segue em Várzea-Grande pela Avenida Dom Orlando Chaves até a Ponte Nova, atravessando ortogonalmente a Avenida da FEB, chegando a Avenida Miguel Sutil de novo em Cuiabá, formando uma grande voluta viária integradora de toda a conurbação. As travessias citadas hoje já exigem viadutos ou trincheiras como alternativa ao iminente colapso viário e a avenida e suas interseções independem da Copa, mas tornam-se muito mais necessárias com ela. A Copa é a chance de tornar realidade essa grande via estrutural, se não totalmente, ao menos no trecho que acompanha o córrego – que chamamos de avenida do Barbado - e que será um poderoso auxílio à Miguel Sutil, em estado crítico de circulação, e linha de chegada da Avenida das Torres, hoje em construção e também projetada na Lei 3870/99.
No segundo governo municipal de Dante de Oliveira, em 92, havia um projeto de canalização do córrego do Barbado no estilo então tradicional, isto é, com retificações e concretagem do canal, e adição de pistas laterais coladas, tal como na atual Avenida 8 de Abril, que no passado já foi um córrego chamado Mané Pinto. Eu estava na superintendência do IPDU e com o então secretário da recém criada SMADES, arquiteto José Afonso Portocarrero e o diretor de Projetos Especiais, arquiteto Ademar Poppi, ponderamos ao prefeito sobre o uso de uma metodologia mais atualizada para a urbanização daquele importante córrego, levando o conceito da “avenida-parque” que começava a ser discutido na literatura especializada e em alguns poucos projetos pioneiros no Brasil. O prefeito se entusiasmou.
O cerne da questão era preservar ao máximo o córrego em seu leito natural, mantendo seus padrões de velocidade das águas e permeabilidade do solo ainda que abaixo da Fernando Correia ele já fosse todo canalizado, e manter também ao máximo sua vegetação ciliar, ainda que em muitos pontos tivesse que ser recomposta. Respeitando suas faixas de preservação permanente, foram colocadas duas pistas laterais com duas faixas de rolamento e uma de estacionamento de cada lado, com iluminação e calçada. Com a mesma verba do projeto original seriam feitas ainda mini-estações de esgoto segundo as micro-bacias, e implantados play-grounds, pista de caminhada e equipamentos esportivos em áreas mais degradadas. Resultaria uma avenida com cerca de 5,6 Km de extensão e, de lambuja, um parque linear urbano com cerca de 34 ha: a “córgo-way” cuiabana, simpático apelido então dado pelos técnicos.
Dante chegou a iniciá-la entre a Archimedes Lima e a Avenida dos Trabalhadores, que hoje tem o seu nome. Mas a obra parou e nada mais foi feito até hoje, mesmo que tenha entrado no discurso da campanha do primeiro mandato do atual prefeito e seja cada vez mais importante para a cidade. Ainda dá para ser feita, bastando olhar nas imagens aéreas para ver que a própria natureza parece pedir pela realização da obra. Por estranho que pareça, ouvi dizer que Wilson Santos teria enfrentado restrições de ordem ambiental para a implantação dessa que poderia ter sido uma das primeiras avenidas-parque no Brasil.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 29/09/09)
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terça-feira, 22 de setembro de 2009
A PONTE DO SÃO GONÇALO
José Antonio Lemos dos Santos
É evidente que a Avenida Fernando Correia é um dos pontos mais críticos no trânsito de Cuiabá, notadamente em seu trecho entre as rótulas do 9° BEC e a do acesso a Santo Antonio. A lei 3870/99 que define a hierarquização viária de Cuiabá e projeta novas avenidas – completou 10 anos outro dia - define a Avenida Fernando Correia como parte de um dos dois eixos viários estruturais da cidade (EET), destacando a importância da referida avenida no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano local. Nem podia ser diferente.
O que não é claro ao leigo é que a trafegabilidade sustentável dessa importante avenida dependa mais de intervenções fora dela do que nela própria. Intervenções locais poderão trazer apenas benefícios paliativos em relação ao tráfego confiável, ainda que sejam necessários e até urgentes em termos de estética urbana – afinal é uma das avenidas estruturais e de entrada da cidade - e de conforto e segurança ao pedestre, que hoje não tem nenhum. Quanto à fluidez permanente, se houver algum benefício será efêmero. Problemas de circulação em cidades antigas, mas em desenvolvimento como Cuiabá e Várzea Grande, com a frota de veículos crescendo além da capacidade de seu sistema viário, só serão equacionados com a ampliação de sua vascularidade viária, a partir de uma visão integral da cidade, indispensável à identificação das causas dos seus estrangulamentos.
No caso da Fernando Correia, além de ser o tradicional acesso rodoviário, é claro que ela sofre as conseqüências do incremento populacional da Região Sul da cidade, com o surgimento de inúmeros bairros, sem que fossem criadas vias alternativas de apoio efetivas. Uma destas poderia ser a Avenida Archimedes Lima, se estivesse concluída, inclusive iluminada, até a rótula do Tijucal, assim como, ligada à Fernando Correa por vias transversais. É bom lembrar que a última ligação tecnicamente confiável entre as duas avenidas antes do rio Coxipó é a Rua 1, lindeira à UFMT. Depois, só na rótula do Tijucal, 6 quilômetros depois. Deveriam ser viabilizadas as outras ligações previstas no plano viário da cidade, como as ruas 13 e 60 do Boa Esperança bem como a ligação da rótula de Santo Antonio, através de uma nova ponte sobre o Coxipó, próxima ao Parque Ohara. A Avenida das Torres também será importante como apoio à Fernando Correia, mas só quando concluída. Há alguns anos foi reurbanizada a rua Arapiraca, para ligar a ponte do Coxipó diretamente a avenida Palmiro Paes de Barros, já quase próximo ao Parque Cuiabá. Seria outra auxiliar importante se não tivesse sido projetada com uma caixa tão reduzida, e – de novo – se tivesse sido concluída até seu destino. Eis um conjunto de obras de importância efetiva para a Fernando Correia.
Mas a intervenção mais importante para a Fernando Correia é a ligação da atual Beira-Rio (VEBR-L) com sua continuidade após o Coxipó (VEBR-S), prevista no plano viário de Cuiabá, através de uma nova ponte próxima ao histórico bairro do São Gonçalo Beira-Rio, conectando a atual Beira-Rio na interseção da General Mello. Esta ligação permitiria a drenagem de todo o fluxo viário da região dos Parques Cuiabá, Geórgia e Atalaia, Cohab São Gonçalo, N. S. Aparecida, Jardim Gramado e Coophema, inclusive dos grandes conjuntos habitacionais programados, diretamente para o centro de Cuiabá e Várzea Grande retirando de forma considerável a atual sobrecarga da Fernando Correia, permitindo-lhe – aí sim – condições sustentáveis de tráfego, com fluidez, conforto e segurança permanentes.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 22/09/09)
É evidente que a Avenida Fernando Correia é um dos pontos mais críticos no trânsito de Cuiabá, notadamente em seu trecho entre as rótulas do 9° BEC e a do acesso a Santo Antonio. A lei 3870/99 que define a hierarquização viária de Cuiabá e projeta novas avenidas – completou 10 anos outro dia - define a Avenida Fernando Correia como parte de um dos dois eixos viários estruturais da cidade (EET), destacando a importância da referida avenida no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano local. Nem podia ser diferente.
O que não é claro ao leigo é que a trafegabilidade sustentável dessa importante avenida dependa mais de intervenções fora dela do que nela própria. Intervenções locais poderão trazer apenas benefícios paliativos em relação ao tráfego confiável, ainda que sejam necessários e até urgentes em termos de estética urbana – afinal é uma das avenidas estruturais e de entrada da cidade - e de conforto e segurança ao pedestre, que hoje não tem nenhum. Quanto à fluidez permanente, se houver algum benefício será efêmero. Problemas de circulação em cidades antigas, mas em desenvolvimento como Cuiabá e Várzea Grande, com a frota de veículos crescendo além da capacidade de seu sistema viário, só serão equacionados com a ampliação de sua vascularidade viária, a partir de uma visão integral da cidade, indispensável à identificação das causas dos seus estrangulamentos.
No caso da Fernando Correia, além de ser o tradicional acesso rodoviário, é claro que ela sofre as conseqüências do incremento populacional da Região Sul da cidade, com o surgimento de inúmeros bairros, sem que fossem criadas vias alternativas de apoio efetivas. Uma destas poderia ser a Avenida Archimedes Lima, se estivesse concluída, inclusive iluminada, até a rótula do Tijucal, assim como, ligada à Fernando Correa por vias transversais. É bom lembrar que a última ligação tecnicamente confiável entre as duas avenidas antes do rio Coxipó é a Rua 1, lindeira à UFMT. Depois, só na rótula do Tijucal, 6 quilômetros depois. Deveriam ser viabilizadas as outras ligações previstas no plano viário da cidade, como as ruas 13 e 60 do Boa Esperança bem como a ligação da rótula de Santo Antonio, através de uma nova ponte sobre o Coxipó, próxima ao Parque Ohara. A Avenida das Torres também será importante como apoio à Fernando Correia, mas só quando concluída. Há alguns anos foi reurbanizada a rua Arapiraca, para ligar a ponte do Coxipó diretamente a avenida Palmiro Paes de Barros, já quase próximo ao Parque Cuiabá. Seria outra auxiliar importante se não tivesse sido projetada com uma caixa tão reduzida, e – de novo – se tivesse sido concluída até seu destino. Eis um conjunto de obras de importância efetiva para a Fernando Correia.
Mas a intervenção mais importante para a Fernando Correia é a ligação da atual Beira-Rio (VEBR-L) com sua continuidade após o Coxipó (VEBR-S), prevista no plano viário de Cuiabá, através de uma nova ponte próxima ao histórico bairro do São Gonçalo Beira-Rio, conectando a atual Beira-Rio na interseção da General Mello. Esta ligação permitiria a drenagem de todo o fluxo viário da região dos Parques Cuiabá, Geórgia e Atalaia, Cohab São Gonçalo, N. S. Aparecida, Jardim Gramado e Coophema, inclusive dos grandes conjuntos habitacionais programados, diretamente para o centro de Cuiabá e Várzea Grande retirando de forma considerável a atual sobrecarga da Fernando Correia, permitindo-lhe – aí sim – condições sustentáveis de tráfego, com fluidez, conforto e segurança permanentes.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 22/09/09)
terça-feira, 15 de setembro de 2009
VIADUTO DO CRISTO-REI
José Antonio Lemos dos Santos
A adequação da Avenida da FEB é uma das obras indispensáveis ao êxito da Copa do Pantanal. Mais importantes só o estádio e o aeroporto. Porém, que serão destes se a ligação entre eles não funcionar? Aliás, a repaginação geral da FEB já é uma urgência hoje para Cuiabá e Várzea Grande. Poucas obras são tão prioritárias. A ampliação no número de faixas de rolamento, a priorização física para o transporte coletivo, a revisão geral na sinalização horizontal e vertical, uma nova iluminação, a criação de calçadas seguras, arborização e paisagismo, são ações necessárias à fluidez do trânsito e à construção no visitante de uma primeira impressão favorável de urbanidade. Considerando que se espera um aeroporto e um estádio em padrões internacionais, não se pode esperar menos para a ligação entre eles. O mesmo tratamento especial vale também para todo o sistema viário nas proximidades do Verdão, palco principal da festa.
Entre os gargalos existentes na Avenida da FEB, há que se destacar as conexões dos acessos à chamada Ponte Nova e à região do Cristo Rei. Para esse local está programado um viaduto, conforme consta da lista das obras para a Copa, apresentada no último dia 25 na audiência pública sobre o novo estádio do Verdão. Aliás, esse viaduto já constava do projeto que duplicou a Avenida Miguel Sutil, na década de 80. Não foi construído e sua ausência é responsável por um dos principais pontos críticos no trânsito da Grande Cuiabá. A grande surpresa no projeto apresentado atualmente é que ele não contempla o acesso ao Cristo-Rei. Só prevê a ligação da FEB com a Ponte Nova.
Quando foi pavimentada a principal avenida do Cristo-Rei, nos tempos do Promat - programa de desenvolvimento criado pela lei da divisão do Estado, a idéia era seguir até a ponte, no traçado original da Avenida Dom Orlando Chaves. Poucos percebem que o trecho que sai da Ponte Nova até a Avenida da FEB é denominado Dom Orlando Chaves, o mesmo nome da avenida principal do Cristo-Rei, mostrando que os dois segmentos compõem uma mesma via. Era necessário um aterro de cerca de 400 metros e como o fluxo viário na época ainda não justificava o investimento, foi pavimentado um desvio que ia em direção ao antigo Mufatão. E o provisório permanece até hoje como o principal acesso do Cristo Rei, mesmo com essa região transformando-se em uma das áreas mais populosas de Mato Grosso. A conexão atual, além de geometricamente incompatível com o movimento existente, não faz justiça a um dos bairros mais importantes de Várzea Grande, e contribui significativamente para seu distanciamento em relação ao centro histórico da cidade. A integração desejada poderá se viabilizar agora com a construção desse indispensável viaduto, que se espera completo, com todas as suas alças e transposições.
Contudo, a importância dessa conexão vai muito além da ligação do Cristo-Rei ao palco da Copa. Primeiro, servirá ao fluxo que vem do centro da Várzea Grande como distribuidor para o Coxipó e região sul, para o centro de Cuiabá, e, à esquerda, para o Verdão e toda a região oeste da cidade, reduzindo a pressão sobre a Ponte Júlio Muller. A passagem direta da Avenida Dom Orlando Chaves pela FEB chegando à Ponte Nova ainda viabilizará um complexo viário integrador em forma de espiral, ligando a Miguel Sutil com a Ponte Sérgio Mota e esta à Fernando Correia, seguindo daí pela projetada Avenida do Barbado até ao CPA nas imediações do Grande Templo. Um viaduto poderá ultrapassar a Avenida Rubens de Mendonça, permitindo que a grande voluta chegue ao trevo da Guia e Chapada dos Guimarães, completando o seu percurso.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 15/09/09)
A adequação da Avenida da FEB é uma das obras indispensáveis ao êxito da Copa do Pantanal. Mais importantes só o estádio e o aeroporto. Porém, que serão destes se a ligação entre eles não funcionar? Aliás, a repaginação geral da FEB já é uma urgência hoje para Cuiabá e Várzea Grande. Poucas obras são tão prioritárias. A ampliação no número de faixas de rolamento, a priorização física para o transporte coletivo, a revisão geral na sinalização horizontal e vertical, uma nova iluminação, a criação de calçadas seguras, arborização e paisagismo, são ações necessárias à fluidez do trânsito e à construção no visitante de uma primeira impressão favorável de urbanidade. Considerando que se espera um aeroporto e um estádio em padrões internacionais, não se pode esperar menos para a ligação entre eles. O mesmo tratamento especial vale também para todo o sistema viário nas proximidades do Verdão, palco principal da festa.
Entre os gargalos existentes na Avenida da FEB, há que se destacar as conexões dos acessos à chamada Ponte Nova e à região do Cristo Rei. Para esse local está programado um viaduto, conforme consta da lista das obras para a Copa, apresentada no último dia 25 na audiência pública sobre o novo estádio do Verdão. Aliás, esse viaduto já constava do projeto que duplicou a Avenida Miguel Sutil, na década de 80. Não foi construído e sua ausência é responsável por um dos principais pontos críticos no trânsito da Grande Cuiabá. A grande surpresa no projeto apresentado atualmente é que ele não contempla o acesso ao Cristo-Rei. Só prevê a ligação da FEB com a Ponte Nova.
Quando foi pavimentada a principal avenida do Cristo-Rei, nos tempos do Promat - programa de desenvolvimento criado pela lei da divisão do Estado, a idéia era seguir até a ponte, no traçado original da Avenida Dom Orlando Chaves. Poucos percebem que o trecho que sai da Ponte Nova até a Avenida da FEB é denominado Dom Orlando Chaves, o mesmo nome da avenida principal do Cristo-Rei, mostrando que os dois segmentos compõem uma mesma via. Era necessário um aterro de cerca de 400 metros e como o fluxo viário na época ainda não justificava o investimento, foi pavimentado um desvio que ia em direção ao antigo Mufatão. E o provisório permanece até hoje como o principal acesso do Cristo Rei, mesmo com essa região transformando-se em uma das áreas mais populosas de Mato Grosso. A conexão atual, além de geometricamente incompatível com o movimento existente, não faz justiça a um dos bairros mais importantes de Várzea Grande, e contribui significativamente para seu distanciamento em relação ao centro histórico da cidade. A integração desejada poderá se viabilizar agora com a construção desse indispensável viaduto, que se espera completo, com todas as suas alças e transposições.
Contudo, a importância dessa conexão vai muito além da ligação do Cristo-Rei ao palco da Copa. Primeiro, servirá ao fluxo que vem do centro da Várzea Grande como distribuidor para o Coxipó e região sul, para o centro de Cuiabá, e, à esquerda, para o Verdão e toda a região oeste da cidade, reduzindo a pressão sobre a Ponte Júlio Muller. A passagem direta da Avenida Dom Orlando Chaves pela FEB chegando à Ponte Nova ainda viabilizará um complexo viário integrador em forma de espiral, ligando a Miguel Sutil com a Ponte Sérgio Mota e esta à Fernando Correia, seguindo daí pela projetada Avenida do Barbado até ao CPA nas imediações do Grande Templo. Um viaduto poderá ultrapassar a Avenida Rubens de Mendonça, permitindo que a grande voluta chegue ao trevo da Guia e Chapada dos Guimarães, completando o seu percurso.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 15/09/09)
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terça-feira, 1 de setembro de 2009
DADOS LANÇADOS
José Antonio Lemos dos Santos
Como escrevi em alguns artigos, sou um entusiasta pela Copa do Pantanal em Cuiabá. Entendo ter sido um lance de grande visão do governador Blairo Maggi e só a iniciativa de concorrer já trouxe para Cuiabá o ganho de uma nova e necessária postura, positiva e confiante, compatível com sua consolidação como centro de uma das regiões mais dinâmicas do planeta. É também uma chance ímpar da cidade receber grandes investimentos e, o melhor, sob atenta vigilância nacional e internacional. Também sou favorável à escolha do Verdão como local do novo estádio por ser uma região que já convive com esse tipo de equipamento e por ficar dentro da atual malha urbana, assegurando que os investimentos para a Copa beneficiem a cidade posteriormente. Assim, torci muito para que Cuiabá fosse a escolhida e sigo torcendo para que ela seja a mais exitosa surpresa dentre as sub-sedes em 2014.
Porém, não sou obrigado a concordar com tudo o que se propõe em relação à Copa, o que, aliás, não fará a menor diferença em relação ao que será ou não será feito, o que me tranqüiliza. Por exemplo, até hoje não assimilei o não aproveitamento, ainda que parcial, do antigo Verdão, o único estádio olímpico de Mato Grosso, ainda mais agora que o Brasil voltou “zerado” do campeonato mundial de atletismo. O novo estádio é exclusivo para o futebol e ao nosso atletismo restarão as quase ruínas do Dom Aquino. Também não assimilei a redução da capacidade do novo estádio de 42 mil para 27 mil espectadores após a Copa, com a desmontagem das arquibancadas norte e sul, com a “possibilidade” de serem remontadas em outras cidades. Dizem alguns que para o futebol local é mais que o suficiente. Não concordo. Para encher o Verdão atual basta baixar o preço da arquibancada descoberta, cobrada hoje ao mesmo preço da coberta. Absurdo. Aliás, um estádio de uma metrópole não pode ser dimensionado apenas para eventos locais. Um estádio de apenas 27 mil lugares viabilizaria novos jogos da seleção brasileira? Que beleza o Ginásio Aecim Tocantins com suas competições internacionais de altíssimo nível, como a próxima Copa América de basquete feminino. Só acontecem pelo seu tamanho, que para alguns também é grande demais, um elefante branco - o que discordo, é claro.
Na lista das intervenções apresentadas na audiência pública do dia 25 último, muitas me parecem ótimas, algumas nem tanto e faltam outras. Parece que está sendo pedido pouco nesta oportunidade de ouro que talvez nunca volte, e que a lista de obras não é fruto de uma visão integrada, estruturadora da cidade. Por exemplo, com o número de veículos superando a capacidade de suas ruas, é evidente que uma das prioridades de Cuiabá é a ampliação de sua vascularidade viária, construindo pelo menos algumas novas avenidas. Era a hora de viabilizar os recursos também para elas. Entendo que a construção do antigo projeto da avenida-parque do Barbado resolveria muito mais o trânsito na Miguel Sutil do que mil viadutos, assim como a construção da ponte do São Gonçalo ligando o Coxipó à Beira-Rio equilibraria a Fernando Correia, e a ligação direta do Sucuri ao Trevo do Lagarto evitará o colapso do programado viaduto do Santa Rosa e da Avenida Miguel Sutil justamente na ocasião da Copa. E por que não ligar a Avenida Dom Orlando Chaves – 400 metros - ao viaduto programado sobre a FEB, criando enfim um acesso digno ao Cristo-Rei?
Enfim, os dados estão lançados. Agora é torcer para que tudo dê certo, cobrando a execução correta das obras, e que Cuiabá atinja novos padrões de qualidade urbana após a Copa, ficando em condições de alçar vôos mais altos rumo ao seu tricentenário, em 2019.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 01/09/2009)
Como escrevi em alguns artigos, sou um entusiasta pela Copa do Pantanal em Cuiabá. Entendo ter sido um lance de grande visão do governador Blairo Maggi e só a iniciativa de concorrer já trouxe para Cuiabá o ganho de uma nova e necessária postura, positiva e confiante, compatível com sua consolidação como centro de uma das regiões mais dinâmicas do planeta. É também uma chance ímpar da cidade receber grandes investimentos e, o melhor, sob atenta vigilância nacional e internacional. Também sou favorável à escolha do Verdão como local do novo estádio por ser uma região que já convive com esse tipo de equipamento e por ficar dentro da atual malha urbana, assegurando que os investimentos para a Copa beneficiem a cidade posteriormente. Assim, torci muito para que Cuiabá fosse a escolhida e sigo torcendo para que ela seja a mais exitosa surpresa dentre as sub-sedes em 2014.
Porém, não sou obrigado a concordar com tudo o que se propõe em relação à Copa, o que, aliás, não fará a menor diferença em relação ao que será ou não será feito, o que me tranqüiliza. Por exemplo, até hoje não assimilei o não aproveitamento, ainda que parcial, do antigo Verdão, o único estádio olímpico de Mato Grosso, ainda mais agora que o Brasil voltou “zerado” do campeonato mundial de atletismo. O novo estádio é exclusivo para o futebol e ao nosso atletismo restarão as quase ruínas do Dom Aquino. Também não assimilei a redução da capacidade do novo estádio de 42 mil para 27 mil espectadores após a Copa, com a desmontagem das arquibancadas norte e sul, com a “possibilidade” de serem remontadas em outras cidades. Dizem alguns que para o futebol local é mais que o suficiente. Não concordo. Para encher o Verdão atual basta baixar o preço da arquibancada descoberta, cobrada hoje ao mesmo preço da coberta. Absurdo. Aliás, um estádio de uma metrópole não pode ser dimensionado apenas para eventos locais. Um estádio de apenas 27 mil lugares viabilizaria novos jogos da seleção brasileira? Que beleza o Ginásio Aecim Tocantins com suas competições internacionais de altíssimo nível, como a próxima Copa América de basquete feminino. Só acontecem pelo seu tamanho, que para alguns também é grande demais, um elefante branco - o que discordo, é claro.
Na lista das intervenções apresentadas na audiência pública do dia 25 último, muitas me parecem ótimas, algumas nem tanto e faltam outras. Parece que está sendo pedido pouco nesta oportunidade de ouro que talvez nunca volte, e que a lista de obras não é fruto de uma visão integrada, estruturadora da cidade. Por exemplo, com o número de veículos superando a capacidade de suas ruas, é evidente que uma das prioridades de Cuiabá é a ampliação de sua vascularidade viária, construindo pelo menos algumas novas avenidas. Era a hora de viabilizar os recursos também para elas. Entendo que a construção do antigo projeto da avenida-parque do Barbado resolveria muito mais o trânsito na Miguel Sutil do que mil viadutos, assim como a construção da ponte do São Gonçalo ligando o Coxipó à Beira-Rio equilibraria a Fernando Correia, e a ligação direta do Sucuri ao Trevo do Lagarto evitará o colapso do programado viaduto do Santa Rosa e da Avenida Miguel Sutil justamente na ocasião da Copa. E por que não ligar a Avenida Dom Orlando Chaves – 400 metros - ao viaduto programado sobre a FEB, criando enfim um acesso digno ao Cristo-Rei?
Enfim, os dados estão lançados. Agora é torcer para que tudo dê certo, cobrando a execução correta das obras, e que Cuiabá atinja novos padrões de qualidade urbana após a Copa, ficando em condições de alçar vôos mais altos rumo ao seu tricentenário, em 2019.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 01/09/2009)
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terça-feira, 25 de agosto de 2009
O FIM DO AGLOMERADO
José Antonio Lemos dos Santos
Uma das satisfações de escrever em um jornal tão lido como o Diário de Cuiabá são os comentários favoráveis ou não dos leitores em encontros ocasionais, e-mails ou na seção Carta do Leitor. Até de fora do Estado, em especial quando o assunto é ferrovia, biocombustível ou meio ambiente. Ao menos para este neo-articulista é uma alegria que se renova sempre, e uma pena não poder aprofundar as questões com todos. Contudo, hoje antecipo o tema Aglomerado Urbano, integrante da lista dos meus futuros artigos, respondendo à Carta do Leitor publicada no domingo passado, vinda de José Cezário M. Aschar, bancário aposentado como meu saudoso pai, e profícuo freqüentador da seção, cujas mensagens também acompanho sempre com interesse.
Indo direto às questões, deixei a Secretaria-Executiva do Aglomerado Urbano em novembro de 2005, após concluir o Plano Integrado de Transporte Coletivo do Aglomerado Cuiabá/Várzea Grande, desenvolvido pela UFMT em conjunto com a UFRJ, uma das instituições de maior prestígio técnico na área, nacional e internacionalmente. Fiquei até a conclusão desta que foi minha principal tarefa ao assumir o cargo, convidado pelo então governador Dante de Oliveira, e depois, quando da minha manutenção pelo governador Blairo Maggi, para a qual certamente foi importante o apoio dos secretários Yênes Magalhães e Carlos Brito, destacados criadores do Aglomerado Urbano, hoje extinto. Apesar de todo o respeito que dedicava e ainda dedico ao governador e aos secretários citados, pedi minha exoneração por não ter conseguido realizar ao longo dos anos de 2004 e 2005, sequer uma das apenas três anuais reuniões do Conselho Deliberativo do Aglomerado Urbano, conforme determinava a Lei Complementar 083/2001. Parece ter dado certo, pois em março de 2006 o Conselho Deliberativo do Aglomerado Urbano se reuniu e o Plano Integrado foi aprovado, permitindo a Ager deslanchar o processo de licitação do intermunicipal, regularizando o serviço em bases técnicas integradas, situação indispensável ao tratamento dos segmentos municipais em Cuiabá e Várzea Grande.
O leitor indaga ainda sobre as Câmaras Setoriais do Aglomerado, que também deixaram de existir com a extinção do órgão. Eram dez, compostas por seis técnicos cada, dois de cada prefeitura e dois do governo do estado. Apesar de não dispor de nenhuma verba própria – como o próprio Aglomerado não dispunha – mostraram-se altamente produtivas. Reunindo-se uma vez por mês, geravam uma sinergia criativa com a solução rápida de problemas comuns, ou, muitas vezes, com os problemas transformados em projetos. As Câmaras Setoriais porém não tinham poder deliberativo, e tudo que propunham devia ser aprovado pelo Conselho Deliberativo do Aglomerado, daí a importância de suas reuniões quadrimestrais. Sem estas, os esforços das câmaras se frustravam pois não podiam ser desenvolvidas como, por exemplo, o projeto de um serviço de fiscalização sanitária integrada para o Aglomerado. Só a Câmara de Transportes reunia-se semanalmente e tinha poder deliberativo ad referendum do Conselho para suas decisões, geralmente de execução imediata, o que permitiu avanços mesmo antes da aprovação do Plano, como a implantação da bilhetagem eletrônica.
O Aglomerado Urbano Cuiabá/Várzea Grande, criado para resolver problemas comuns entre os municípios, não podia funcionar sem que os prefeitos e o governador se reunissem. Foi extinto em 28 de maio de 2009 com a criação da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá - RMVRC, envolvendo Nossa Senhora do Livramento, Santo Antonio do Leverger, Cuiabá e Várzea Grande, sem conselho deliberativo e sem reuniões obrigatórias. Mas aí é uma outra história.
(Publicado em 25/08/09)
Uma das satisfações de escrever em um jornal tão lido como o Diário de Cuiabá são os comentários favoráveis ou não dos leitores em encontros ocasionais, e-mails ou na seção Carta do Leitor. Até de fora do Estado, em especial quando o assunto é ferrovia, biocombustível ou meio ambiente. Ao menos para este neo-articulista é uma alegria que se renova sempre, e uma pena não poder aprofundar as questões com todos. Contudo, hoje antecipo o tema Aglomerado Urbano, integrante da lista dos meus futuros artigos, respondendo à Carta do Leitor publicada no domingo passado, vinda de José Cezário M. Aschar, bancário aposentado como meu saudoso pai, e profícuo freqüentador da seção, cujas mensagens também acompanho sempre com interesse.
Indo direto às questões, deixei a Secretaria-Executiva do Aglomerado Urbano em novembro de 2005, após concluir o Plano Integrado de Transporte Coletivo do Aglomerado Cuiabá/Várzea Grande, desenvolvido pela UFMT em conjunto com a UFRJ, uma das instituições de maior prestígio técnico na área, nacional e internacionalmente. Fiquei até a conclusão desta que foi minha principal tarefa ao assumir o cargo, convidado pelo então governador Dante de Oliveira, e depois, quando da minha manutenção pelo governador Blairo Maggi, para a qual certamente foi importante o apoio dos secretários Yênes Magalhães e Carlos Brito, destacados criadores do Aglomerado Urbano, hoje extinto. Apesar de todo o respeito que dedicava e ainda dedico ao governador e aos secretários citados, pedi minha exoneração por não ter conseguido realizar ao longo dos anos de 2004 e 2005, sequer uma das apenas três anuais reuniões do Conselho Deliberativo do Aglomerado Urbano, conforme determinava a Lei Complementar 083/2001. Parece ter dado certo, pois em março de 2006 o Conselho Deliberativo do Aglomerado Urbano se reuniu e o Plano Integrado foi aprovado, permitindo a Ager deslanchar o processo de licitação do intermunicipal, regularizando o serviço em bases técnicas integradas, situação indispensável ao tratamento dos segmentos municipais em Cuiabá e Várzea Grande.
O leitor indaga ainda sobre as Câmaras Setoriais do Aglomerado, que também deixaram de existir com a extinção do órgão. Eram dez, compostas por seis técnicos cada, dois de cada prefeitura e dois do governo do estado. Apesar de não dispor de nenhuma verba própria – como o próprio Aglomerado não dispunha – mostraram-se altamente produtivas. Reunindo-se uma vez por mês, geravam uma sinergia criativa com a solução rápida de problemas comuns, ou, muitas vezes, com os problemas transformados em projetos. As Câmaras Setoriais porém não tinham poder deliberativo, e tudo que propunham devia ser aprovado pelo Conselho Deliberativo do Aglomerado, daí a importância de suas reuniões quadrimestrais. Sem estas, os esforços das câmaras se frustravam pois não podiam ser desenvolvidas como, por exemplo, o projeto de um serviço de fiscalização sanitária integrada para o Aglomerado. Só a Câmara de Transportes reunia-se semanalmente e tinha poder deliberativo ad referendum do Conselho para suas decisões, geralmente de execução imediata, o que permitiu avanços mesmo antes da aprovação do Plano, como a implantação da bilhetagem eletrônica.
O Aglomerado Urbano Cuiabá/Várzea Grande, criado para resolver problemas comuns entre os municípios, não podia funcionar sem que os prefeitos e o governador se reunissem. Foi extinto em 28 de maio de 2009 com a criação da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá - RMVRC, envolvendo Nossa Senhora do Livramento, Santo Antonio do Leverger, Cuiabá e Várzea Grande, sem conselho deliberativo e sem reuniões obrigatórias. Mas aí é uma outra história.
(Publicado em 25/08/09)
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terça-feira, 18 de agosto de 2009
PEQUENAS GRANDES OBRAS
José Antonio Lemos dos Santos
Há um conjunto de obras que são importantes para a realização da Copa do Pantanal em 2014, mas que também são indispensáveis para a Cuiabá de hoje. Dentre estas são sempre lembradas as obras de maior vulto em detrimento daquelas de pequeno porte, que nem por isso devem ser consideradas menos importantes. Ao contrário, sem a realização destas, é muito provável que as grandes obras não apresentem os resultados esperados e a cidade não funcione adequadamente por ocasião do evento. Talvez sejam sempre adiadas justamente pelo fato de serem obras “mais baratas”, portanto, em tese, mais fáceis de serem viabilizadas a qualquer momento. O fato, entretanto, é que, não sendo realizadas, problemas menores se tornam maiores podendo chegar ao colapso em alguns casos, impondo à população grandes dificuldades em conforto, segurança e qualidade de vida. Das pequenas obras cito algumas que considero as mais importantes para hoje e para a Copa.
A primeira trata de um retorno na Avenida Miguel Sutil, entre as rótulas do Centro de Convenções e a do Santa Rosa, ficando sua localização precisa dependendo de maiores estudos dos órgãos municipais responsáveis pelo planejamento do trânsito e da cidade. Sua geometria pode suprimir em um trecho as faixas de estacionamento, bem como contar com a faixa de domínio da antiga rodovia perimetral, cedida pelo governo federal à responsabilidade da prefeitura municipal. A existência neste trecho de equipamentos residenciais, comerciais e hospitalares fortemente geradores de tráfego, certamente está entre as razões da sobrecarga da rótula do Santa Rosa e do crônico engarrafamento de veículos no sentido Centro de Convenções - Santa Rosa. Independente de pesquisas, pode-se afirmar que grande parte desse fluxo teria como destino as regiões do CPA, do Coxipó e da UFMT/UNIC e só chegam à rotula do Santa Rosa, à contragosto, por absoluta falta de alternativa. O retorno liberaria parte considerável do tráfego engarrafado, permitindo a volta pela própria Miguel Sutil, sem o sacrifício de ter que se chegar à rótula do Santa Rosa, sobrecarregando-a, para só então fazer o retorno e embicar no rumo originalmente desejado. Uma pequena obra como esta poderia tornar novamente viável aquela importante rótula.
De forma semelhante pode ser pensado o trecho entre esta mesma rótula do Santa Rosa e a do Círculo Militar. Entre as duas cabe muito bem uma nova rótula, na interseção da Ramiro de Noronha com a Miguel Sutil. Esta nova rótula funcionaria como uma alternativa de retorno, e também como acesso à Avenida Ramiro de Noronha, via de ótimas dimensões para Cuiabá e praticamente ociosa. Articulada com a Thogo Pereira, 8 de Abril e Estevão de Mendonça, pode se transformar em importante via alternativa de distribuição central, em apoio a Avenida do Lavapés, também aliviando a carga da rótula do Santa Rosa. Com essa rótula se ligariam a Miguel Sutil e a Coronel Duarte, no Porto.
Destaco ainda a pavimentação da via que sai da Rua Marechal Deodoro, bem em frente ao Terminal Rodoviário de Cuiabá, ligando à Rua Tereza Lobo, que também teria sua pavimentação concluída até sua saída na Avenida Miguel Sutil. Funcionaria como um generoso desafogo à Rua Jules Rimet e à chamada rótula da Rodoviária, também em colapso nas horas de pico. Esta obra poderia ser combinada com a construção de um parque urbano histórico-ambiental de 3 hectares, envolvendo a última nascente ainda viva do córrego da Prainha, chamado pelos bororos de Ikuiebô – Córrego das Estrelas, origem de Cuiabá, beneficiando a populosa região do Alvorada e Consil, uma das únicas totalmente desprovidas de área verde na cidade.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 18/08/2009)
Há um conjunto de obras que são importantes para a realização da Copa do Pantanal em 2014, mas que também são indispensáveis para a Cuiabá de hoje. Dentre estas são sempre lembradas as obras de maior vulto em detrimento daquelas de pequeno porte, que nem por isso devem ser consideradas menos importantes. Ao contrário, sem a realização destas, é muito provável que as grandes obras não apresentem os resultados esperados e a cidade não funcione adequadamente por ocasião do evento. Talvez sejam sempre adiadas justamente pelo fato de serem obras “mais baratas”, portanto, em tese, mais fáceis de serem viabilizadas a qualquer momento. O fato, entretanto, é que, não sendo realizadas, problemas menores se tornam maiores podendo chegar ao colapso em alguns casos, impondo à população grandes dificuldades em conforto, segurança e qualidade de vida. Das pequenas obras cito algumas que considero as mais importantes para hoje e para a Copa.
A primeira trata de um retorno na Avenida Miguel Sutil, entre as rótulas do Centro de Convenções e a do Santa Rosa, ficando sua localização precisa dependendo de maiores estudos dos órgãos municipais responsáveis pelo planejamento do trânsito e da cidade. Sua geometria pode suprimir em um trecho as faixas de estacionamento, bem como contar com a faixa de domínio da antiga rodovia perimetral, cedida pelo governo federal à responsabilidade da prefeitura municipal. A existência neste trecho de equipamentos residenciais, comerciais e hospitalares fortemente geradores de tráfego, certamente está entre as razões da sobrecarga da rótula do Santa Rosa e do crônico engarrafamento de veículos no sentido Centro de Convenções - Santa Rosa. Independente de pesquisas, pode-se afirmar que grande parte desse fluxo teria como destino as regiões do CPA, do Coxipó e da UFMT/UNIC e só chegam à rotula do Santa Rosa, à contragosto, por absoluta falta de alternativa. O retorno liberaria parte considerável do tráfego engarrafado, permitindo a volta pela própria Miguel Sutil, sem o sacrifício de ter que se chegar à rótula do Santa Rosa, sobrecarregando-a, para só então fazer o retorno e embicar no rumo originalmente desejado. Uma pequena obra como esta poderia tornar novamente viável aquela importante rótula.
De forma semelhante pode ser pensado o trecho entre esta mesma rótula do Santa Rosa e a do Círculo Militar. Entre as duas cabe muito bem uma nova rótula, na interseção da Ramiro de Noronha com a Miguel Sutil. Esta nova rótula funcionaria como uma alternativa de retorno, e também como acesso à Avenida Ramiro de Noronha, via de ótimas dimensões para Cuiabá e praticamente ociosa. Articulada com a Thogo Pereira, 8 de Abril e Estevão de Mendonça, pode se transformar em importante via alternativa de distribuição central, em apoio a Avenida do Lavapés, também aliviando a carga da rótula do Santa Rosa. Com essa rótula se ligariam a Miguel Sutil e a Coronel Duarte, no Porto.
Destaco ainda a pavimentação da via que sai da Rua Marechal Deodoro, bem em frente ao Terminal Rodoviário de Cuiabá, ligando à Rua Tereza Lobo, que também teria sua pavimentação concluída até sua saída na Avenida Miguel Sutil. Funcionaria como um generoso desafogo à Rua Jules Rimet e à chamada rótula da Rodoviária, também em colapso nas horas de pico. Esta obra poderia ser combinada com a construção de um parque urbano histórico-ambiental de 3 hectares, envolvendo a última nascente ainda viva do córrego da Prainha, chamado pelos bororos de Ikuiebô – Córrego das Estrelas, origem de Cuiabá, beneficiando a populosa região do Alvorada e Consil, uma das únicas totalmente desprovidas de área verde na cidade.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 18/08/2009)
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terça-feira, 11 de agosto de 2009
O CUIABUS
José Antonio Lemos dos Santos
Ao invés de uma reforma “meia-boca” no atual sistema de transporte urbano como pode ter dado a entender, o artigo da semana passada - “A Copa e o biodiesel” - propõe que na Copa do Pantanal Cuiabá seja a vitrine mundial de uma verdadeira revolução nessa área tendo o biocombustível como fonte energética e o ônibus de pneus como base veicular. Cidades como Curitiba e Bogotá comprovam que é possível a solução com pneus e a prefeitura de Cuiabá, através da SMTU, informou ter optado por esse tipo de solução, a meu ver acertadamente. Com base nesse reconhecido know-how nacional, o artigo propõe o uso excepcional em Cuiabá do biodiesel a 100% em 2014 e novos modelos de veículos coletivos, recolocando a cidade na vanguarda de um processo iniciado por ela, sede da primeira fábrica brasileira de biodiesel e da experiência dos primeiros ônibus, bem como capital do Estado que mais produz biodiesel. A Cidade Verde tem handcap para mostrar ao mundo como poderá ser em futuro próximo uma cidade com sua circulação livre do petróleo e de seus males ambientais. E o melhor, utilizando um combustível produzido aqui, gerando emprego e renda aqui.
Na verdade trata-se de uma proposta complexa, como é complexo o problema do transporte urbano em todo o mundo. Ninguém resolveu ou vai resolvê-lo de maneira simples, nem com metrô, VLT, Zepellin ou mesmo com o ônibus que defendo. Atrás da aparente simplicidade proposta no artigo está um conjunto de medidas que formam um sistema novo, organizados em caráter local, que chamo neste artigo de Cuiabus, para destacar seu aspecto inovador. Em sua concepção o Cuiabus reconhece que a base do problema não é tecnológica, mas de gestão pública. E aí nossos problemas começam pois Cuiabá não é só Cuiabá, mas também Várzea Grande e o intermunicipal. O transporte coletivo tem que ser tratado como um só, integrado nos dois municípios, sendo fundamental que os prefeitos e o governador decidam como vão trabalhar em conjunto. Autarquia, empresa ou alguma forma de gestão compartilhada?
O assunto passa também por uma política nacional de desoneração do transporte público, hoje não só indispensável à sobrevivência popular, mas de toda a cidade. Deve ser tratado como o arroz e o feijão, incluído na mesma cesta básica. O prefeito Wilson Santos já desenvolve essa tese junto à Frente Nacional de Prefeitos e creio na sua viabilidade até 2014, por sua procedência e necessidade. As prefeituras e a Ager poderiam também avaliar desde já o uso de uma tarifa especial para as bordas de pico, significativamente reduzida, buscando diminuir a concentração de passageiros nesses horários.
Naturalmente, o Cuiabus implica em uma renovação no pavimento do sistema viário, com a criação de calhas exclusivas e nova sinalização horizontal e vertical, enfatizando a circulação dos pedestres e portadores de necessidades especiais. Este ponto parece bem encaminhado pois o governador assegurou a renovação asfáltica da totalidade da malha viária de Cuiabá e a prefeitura já informou ter optado pelo sistema de calhas exclusivas. E em Várzea Grande?
Por fim, o estado, de preferência com apoio da Fiemt, poderia buscar junto a fornecedores nacionais de ônibus o desenvolvimento de uma nova linha de produtos, abrangendo não só os comuns, mas também os articulados, até os micro-ônibus e vans. A idéia é buscar uma linha completa de modelos realmente novos com base ou não nos já existentes em países do primeiro mundo, adequados à realidade brasileira no século XXI, com design compatível com o imaginário flashgordiano da população e capazes de marcar o advento do novo combustível e uma nova era nos transportes urbanos.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 11/08/2009)
Ao invés de uma reforma “meia-boca” no atual sistema de transporte urbano como pode ter dado a entender, o artigo da semana passada - “A Copa e o biodiesel” - propõe que na Copa do Pantanal Cuiabá seja a vitrine mundial de uma verdadeira revolução nessa área tendo o biocombustível como fonte energética e o ônibus de pneus como base veicular. Cidades como Curitiba e Bogotá comprovam que é possível a solução com pneus e a prefeitura de Cuiabá, através da SMTU, informou ter optado por esse tipo de solução, a meu ver acertadamente. Com base nesse reconhecido know-how nacional, o artigo propõe o uso excepcional em Cuiabá do biodiesel a 100% em 2014 e novos modelos de veículos coletivos, recolocando a cidade na vanguarda de um processo iniciado por ela, sede da primeira fábrica brasileira de biodiesel e da experiência dos primeiros ônibus, bem como capital do Estado que mais produz biodiesel. A Cidade Verde tem handcap para mostrar ao mundo como poderá ser em futuro próximo uma cidade com sua circulação livre do petróleo e de seus males ambientais. E o melhor, utilizando um combustível produzido aqui, gerando emprego e renda aqui.
Na verdade trata-se de uma proposta complexa, como é complexo o problema do transporte urbano em todo o mundo. Ninguém resolveu ou vai resolvê-lo de maneira simples, nem com metrô, VLT, Zepellin ou mesmo com o ônibus que defendo. Atrás da aparente simplicidade proposta no artigo está um conjunto de medidas que formam um sistema novo, organizados em caráter local, que chamo neste artigo de Cuiabus, para destacar seu aspecto inovador. Em sua concepção o Cuiabus reconhece que a base do problema não é tecnológica, mas de gestão pública. E aí nossos problemas começam pois Cuiabá não é só Cuiabá, mas também Várzea Grande e o intermunicipal. O transporte coletivo tem que ser tratado como um só, integrado nos dois municípios, sendo fundamental que os prefeitos e o governador decidam como vão trabalhar em conjunto. Autarquia, empresa ou alguma forma de gestão compartilhada?
O assunto passa também por uma política nacional de desoneração do transporte público, hoje não só indispensável à sobrevivência popular, mas de toda a cidade. Deve ser tratado como o arroz e o feijão, incluído na mesma cesta básica. O prefeito Wilson Santos já desenvolve essa tese junto à Frente Nacional de Prefeitos e creio na sua viabilidade até 2014, por sua procedência e necessidade. As prefeituras e a Ager poderiam também avaliar desde já o uso de uma tarifa especial para as bordas de pico, significativamente reduzida, buscando diminuir a concentração de passageiros nesses horários.
Naturalmente, o Cuiabus implica em uma renovação no pavimento do sistema viário, com a criação de calhas exclusivas e nova sinalização horizontal e vertical, enfatizando a circulação dos pedestres e portadores de necessidades especiais. Este ponto parece bem encaminhado pois o governador assegurou a renovação asfáltica da totalidade da malha viária de Cuiabá e a prefeitura já informou ter optado pelo sistema de calhas exclusivas. E em Várzea Grande?
Por fim, o estado, de preferência com apoio da Fiemt, poderia buscar junto a fornecedores nacionais de ônibus o desenvolvimento de uma nova linha de produtos, abrangendo não só os comuns, mas também os articulados, até os micro-ônibus e vans. A idéia é buscar uma linha completa de modelos realmente novos com base ou não nos já existentes em países do primeiro mundo, adequados à realidade brasileira no século XXI, com design compatível com o imaginário flashgordiano da população e capazes de marcar o advento do novo combustível e uma nova era nos transportes urbanos.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 11/08/2009)
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terça-feira, 4 de agosto de 2009
A COPA E O BIODIESEL
José Antonio Lemos dos Santos
Desde o século XIX os grandes eventos internacionais são showroons comerciais para serviços, produtos e tecnologias em todos as áreas. As Copas do Mundo também são palcos mundiais midiáticos viabilizados pela popularidade do futebol. O presidente Dutra, cuiabano que trouxe a primeira Copa do Mundo ao Brasil, já naquela época aproveitava a visibilidade internacional do futebol para mostrar ao mundo que o Brasil havia deixado o atraso para ser o Brasil moderno da siderurgia, das hidrelétricas, do asfalto, o Brasil urbanizado não só do Rio de Janeiro mas de várias outras grandes e modernas cidades.
O governador Maggi ao trazer a Copa do Pantanal mostra também uma visão que vai muito além das poucas partidas no novo Verdão. Quer oferecer ao mundo todo o potencial turístico do centro continental sul-americano, tendo Cuiabá e Mato Grosso como plataforma. Em troca o mundo vem ao Brasil e a Mato Grosso para também vender tudo aquilo que tem de mais atualizado, não apenas na área esportiva mas em todas as áreas, em especial na dos transportes urbanos de massa, onde já se insinuam eficientes lobbies por metrôs, monotrilhos, VLT´s, etc.. Impressionados por tais maravilhas desde Metropolis de Fritz Lang ou Flash Gordon e os Jetsons das histórias em quadrinhos, passamos a acreditar que todos os nossos problemas de circulação urbana serão resolvidos com a escolha e implantação das alternativas apresentadas nos belíssimos folderes e powers-points. Mas, enredados nessas tecnologias e com um cronograma curto, essa escolha na prática é difícil e perigosa pois não há tempo para estudos e seus resultados serão irreversíveis pelos altos custos em obras e equipamentos.
Extasiados pela visão futurística das propagandas, esquecemos que Mato Grosso e o Brasil encontram-se no centro de uma das maiores e mais importantes revoluções tecnológicas atuais, a dos biocombustíveis, disseminadora de emprego e renda e libertadora do planeta da petrodependência e seus males ambientais. É bom lembrar que Mato Grosso é o maior produtor nacional de biodiesel e o segundo na produção de álcool, que Cuiabá sediou a primeira fábrica de biodiesel no Brasil, e que pelas suas ruas circularam por muito tempo os primeiros ônibus em testes. Hoje o biocombustível se espalha pelo mundo como esperança contra as expectativas ambientais apocalípticas e de geração de renda onde ainda impera a pobreza, estando na UFMT um dos principais laboratórios sobre o assunto. O que o Brasil e Mato Grosso oferecem ao mundo é vida, com alimentos e biocombustíveis, produtos que não podem faltar na grande vitrine da Copa de 2014.
Cidades como Curitiba e Bogotá são referências mundiais na solução do problema do transporte coletivo baseando-se no nosso conhecido ônibus de pneus e provam que o problema do transporte coletivo não é de tecnologia veicular e sim de gestão. Mesmo a eventual implantação de outras tecnologias não dispensaria o ônibus como alimentador. Assim, no caso de uma escolha rápida como esta, o ônibus aparece como a solução mais segura, rápida e de menor custo. O governo federal não negaria autorização para uso do biocombustível a 100% nos ônibus de Cuiabá e, com certeza os fabricantes nacionais se disporiam a trocar os antigos caminhões encarroceirados que circulam pelo Brasil, por novos modelos, revolucionários, com design também futurísticos, adequados aos tempos atuais, para serem vendidos ao mundo junto com o novo combustível na Copa de 2014. Cuiabá, a Cidade Verde do século passado, pode ser a vitrine mundial para o biodiesel e o álcool, as novas fontes de energia para o século XXI. E o melhor: energia produzida aqui, gerando renda aqui, para nossa gente.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 04/08/2009)
Desde o século XIX os grandes eventos internacionais são showroons comerciais para serviços, produtos e tecnologias em todos as áreas. As Copas do Mundo também são palcos mundiais midiáticos viabilizados pela popularidade do futebol. O presidente Dutra, cuiabano que trouxe a primeira Copa do Mundo ao Brasil, já naquela época aproveitava a visibilidade internacional do futebol para mostrar ao mundo que o Brasil havia deixado o atraso para ser o Brasil moderno da siderurgia, das hidrelétricas, do asfalto, o Brasil urbanizado não só do Rio de Janeiro mas de várias outras grandes e modernas cidades.
O governador Maggi ao trazer a Copa do Pantanal mostra também uma visão que vai muito além das poucas partidas no novo Verdão. Quer oferecer ao mundo todo o potencial turístico do centro continental sul-americano, tendo Cuiabá e Mato Grosso como plataforma. Em troca o mundo vem ao Brasil e a Mato Grosso para também vender tudo aquilo que tem de mais atualizado, não apenas na área esportiva mas em todas as áreas, em especial na dos transportes urbanos de massa, onde já se insinuam eficientes lobbies por metrôs, monotrilhos, VLT´s, etc.. Impressionados por tais maravilhas desde Metropolis de Fritz Lang ou Flash Gordon e os Jetsons das histórias em quadrinhos, passamos a acreditar que todos os nossos problemas de circulação urbana serão resolvidos com a escolha e implantação das alternativas apresentadas nos belíssimos folderes e powers-points. Mas, enredados nessas tecnologias e com um cronograma curto, essa escolha na prática é difícil e perigosa pois não há tempo para estudos e seus resultados serão irreversíveis pelos altos custos em obras e equipamentos.
Extasiados pela visão futurística das propagandas, esquecemos que Mato Grosso e o Brasil encontram-se no centro de uma das maiores e mais importantes revoluções tecnológicas atuais, a dos biocombustíveis, disseminadora de emprego e renda e libertadora do planeta da petrodependência e seus males ambientais. É bom lembrar que Mato Grosso é o maior produtor nacional de biodiesel e o segundo na produção de álcool, que Cuiabá sediou a primeira fábrica de biodiesel no Brasil, e que pelas suas ruas circularam por muito tempo os primeiros ônibus em testes. Hoje o biocombustível se espalha pelo mundo como esperança contra as expectativas ambientais apocalípticas e de geração de renda onde ainda impera a pobreza, estando na UFMT um dos principais laboratórios sobre o assunto. O que o Brasil e Mato Grosso oferecem ao mundo é vida, com alimentos e biocombustíveis, produtos que não podem faltar na grande vitrine da Copa de 2014.
Cidades como Curitiba e Bogotá são referências mundiais na solução do problema do transporte coletivo baseando-se no nosso conhecido ônibus de pneus e provam que o problema do transporte coletivo não é de tecnologia veicular e sim de gestão. Mesmo a eventual implantação de outras tecnologias não dispensaria o ônibus como alimentador. Assim, no caso de uma escolha rápida como esta, o ônibus aparece como a solução mais segura, rápida e de menor custo. O governo federal não negaria autorização para uso do biocombustível a 100% nos ônibus de Cuiabá e, com certeza os fabricantes nacionais se disporiam a trocar os antigos caminhões encarroceirados que circulam pelo Brasil, por novos modelos, revolucionários, com design também futurísticos, adequados aos tempos atuais, para serem vendidos ao mundo junto com o novo combustível na Copa de 2014. Cuiabá, a Cidade Verde do século passado, pode ser a vitrine mundial para o biodiesel e o álcool, as novas fontes de energia para o século XXI. E o melhor: energia produzida aqui, gerando renda aqui, para nossa gente.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 04/08/2009)
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terça-feira, 28 de julho de 2009
TRÊS NOVAS AVENIDAS
José Antonio Lemos dos Santos
O trânsito é um dos principais desafios para Cuiabá nos dias atuais, e muito mais em termos do sucesso da realização da Copa do Pantanal em 2014. Dentre seus múltiplos componentes, o sistema viário é um dos que exige investimentos mais significativos e urgentes, mas, sobretudo, articulados e coerentes em função da cidade como um todo. Trato a seguir de três novas avenidas que me parecem fundamentais, projetos que foram ou estão sendo trabalhados pela prefeitura, mas que não constam das listas noticiadas de projetos para a Copa. Acompanham três viadutos complementares às avenidas e já necessários hoje.
A primeira seria a Avenida do Barbado, entre os Shoppings Três Américas e Pantanal, seguindo o percurso do córrego do mesmo nome na ligação entre o Coxipó e o CPA, funcionando como uma paralela à Miguel Sutil, hoje sobrecarregada. Urgentíssima, foi incorporada à Lei 3870/99 que trata das Vias Urbanas de Cuiabá, compondo a Via Estrutural Circular Norte (Veci-N) que prevê a ligação contínua da Ponte Sérgio Mota até a Rodovia Hélder Candia (saída para Guia), atravessando a Fernando Correa e a Avenida Rubens de Mendonça através de viadutos hoje já indispensáveis. O trecho em questão foi pioneiro no uso da metodologia das “avenidas-parque”, combinando interesses viários e ambientais em um parque linear de proteção ao córrego, mantido quase todo em seu leito natural no trecho. Simpaticamente era conhecida pelos técnicos como “córgo-way”.
A citada Via Estrutural Circular Norte é também de grande importância na integração viária Cuiabá-Várzea Grande. Através da Avenida Tancredo Neves (a ser reurbanizada com mais uma pista interna – já necessária) e da ponte Sérgio Mota ela se liga à Avenida Dom Orlando Chaves, no Cristo Rei, a qual poderá cruzar a Avenida da FEB também através de viaduto já hoje indispensável, chegando a Ponte Nova e de novo a Cuiabá pela Miguel Sutil, principal acesso ao Verdão.
A segunda nova avenida prioritária, seria a ligação da Beira-Rio com sua projetada extensão do outro lado do rio Coxipó (VEBR–S), com o trecho partindo das proximidades da Avenida General Mello, passando pelo bairro São Gonçalo Beira-Rio, através de uma nova ponte, e prosseguindo rumo ao sul até a Rua “J” do Parque Atalaia e por esta até a Avenida Palmiro Paes de Barros, no acesso ao Parque Cuiabá. Esta nova avenida chegou a ter sua obra lançada ao final da administração Roberto França e tem como objetivo conectar toda a região de influência da Avenida Palmiro Paes de Barros na Região Sul da cidade com os centros de Cuiabá e Várzea Grande, sem passar pela Fernando Correa, desafogando este importante eixo estrutural viário da cidade.
Por fim, mas não menos importante, a terceira avenida prioritária seria o trecho oeste do chamado Rodoanel, ligando a Rodovia Helder Candia ao Sucuri e ao Trevo do Lagarto em Várzea Grande, através de uma nova ponte sobre o rio Cuiabá. Do trevo do Lagarto prosseguiria até a Avenida Fernando Correa com a duplicação da Rodovia dos Imigrantes preparando esta via como eixo da Zona Especial de Alto Impacto, conforme define a Lei de Uso e Ocupação do Solo Urbano de Cuiabá. O novo e importante acesso rodoviário para o norte do estado através de Acorizal e Jangada somente fluirá sem conflitos se concluída esta sua ligação direta ao Trevo do Lagarto e ao Contorno Sul. Sem ela, o tráfego rodoviário termina sendo despejado nas Avenidas Antártica e Miguel Sutil, bem como no Trevo do Santa Rosa, o que já acontece hoje, ajudando na geração dos engarrafamentos cotidianos, desconfortáveis e desnecessários. Segundo foi noticiado, já existiria recursos para essa obra, bastando apenas priorizá-la.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 28/07/09)
O trânsito é um dos principais desafios para Cuiabá nos dias atuais, e muito mais em termos do sucesso da realização da Copa do Pantanal em 2014. Dentre seus múltiplos componentes, o sistema viário é um dos que exige investimentos mais significativos e urgentes, mas, sobretudo, articulados e coerentes em função da cidade como um todo. Trato a seguir de três novas avenidas que me parecem fundamentais, projetos que foram ou estão sendo trabalhados pela prefeitura, mas que não constam das listas noticiadas de projetos para a Copa. Acompanham três viadutos complementares às avenidas e já necessários hoje.
A primeira seria a Avenida do Barbado, entre os Shoppings Três Américas e Pantanal, seguindo o percurso do córrego do mesmo nome na ligação entre o Coxipó e o CPA, funcionando como uma paralela à Miguel Sutil, hoje sobrecarregada. Urgentíssima, foi incorporada à Lei 3870/99 que trata das Vias Urbanas de Cuiabá, compondo a Via Estrutural Circular Norte (Veci-N) que prevê a ligação contínua da Ponte Sérgio Mota até a Rodovia Hélder Candia (saída para Guia), atravessando a Fernando Correa e a Avenida Rubens de Mendonça através de viadutos hoje já indispensáveis. O trecho em questão foi pioneiro no uso da metodologia das “avenidas-parque”, combinando interesses viários e ambientais em um parque linear de proteção ao córrego, mantido quase todo em seu leito natural no trecho. Simpaticamente era conhecida pelos técnicos como “córgo-way”.
A citada Via Estrutural Circular Norte é também de grande importância na integração viária Cuiabá-Várzea Grande. Através da Avenida Tancredo Neves (a ser reurbanizada com mais uma pista interna – já necessária) e da ponte Sérgio Mota ela se liga à Avenida Dom Orlando Chaves, no Cristo Rei, a qual poderá cruzar a Avenida da FEB também através de viaduto já hoje indispensável, chegando a Ponte Nova e de novo a Cuiabá pela Miguel Sutil, principal acesso ao Verdão.
A segunda nova avenida prioritária, seria a ligação da Beira-Rio com sua projetada extensão do outro lado do rio Coxipó (VEBR–S), com o trecho partindo das proximidades da Avenida General Mello, passando pelo bairro São Gonçalo Beira-Rio, através de uma nova ponte, e prosseguindo rumo ao sul até a Rua “J” do Parque Atalaia e por esta até a Avenida Palmiro Paes de Barros, no acesso ao Parque Cuiabá. Esta nova avenida chegou a ter sua obra lançada ao final da administração Roberto França e tem como objetivo conectar toda a região de influência da Avenida Palmiro Paes de Barros na Região Sul da cidade com os centros de Cuiabá e Várzea Grande, sem passar pela Fernando Correa, desafogando este importante eixo estrutural viário da cidade.
Por fim, mas não menos importante, a terceira avenida prioritária seria o trecho oeste do chamado Rodoanel, ligando a Rodovia Helder Candia ao Sucuri e ao Trevo do Lagarto em Várzea Grande, através de uma nova ponte sobre o rio Cuiabá. Do trevo do Lagarto prosseguiria até a Avenida Fernando Correa com a duplicação da Rodovia dos Imigrantes preparando esta via como eixo da Zona Especial de Alto Impacto, conforme define a Lei de Uso e Ocupação do Solo Urbano de Cuiabá. O novo e importante acesso rodoviário para o norte do estado através de Acorizal e Jangada somente fluirá sem conflitos se concluída esta sua ligação direta ao Trevo do Lagarto e ao Contorno Sul. Sem ela, o tráfego rodoviário termina sendo despejado nas Avenidas Antártica e Miguel Sutil, bem como no Trevo do Santa Rosa, o que já acontece hoje, ajudando na geração dos engarrafamentos cotidianos, desconfortáveis e desnecessários. Segundo foi noticiado, já existiria recursos para essa obra, bastando apenas priorizá-la.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 28/07/09)
terça-feira, 21 de julho de 2009
O TOCO E A GOVERNABILIDADE
José Antonio Lemos dos Santos
As explicações sobre a vexatória situação da entrada de Cuiabá pela Ponte Júlio Muller confirmaram as preocupações do nosso artigo do dia 7 passado. O site Midianews de Cuiabá no dia seguinte ao artigo informou que a prefeitura tem um projeto para aquela área e que o principal entrave à sua execução seriam duas garagens de veículos que “teimam” em permanecer no local. Informa ainda o site que o deputado Roberto França em seu programa Resumo do Dia, na noite do mesmo dia 7 lembrou que também tinha um projeto semelhante quando prefeito, e que também “tentou, sem sucesso, remover as tais garagens”.
Na verdade a prefeitura há muito tempo desenvolve projetos para essa entrada da cidade, sempre com obstáculos aparentemente intransponíveis, mas superados progressivamente por diferentes administrações. Mais recentemente, lembro do prefeito José Meirelles na transferência da antiga feira do chamado Mercado do Peixe, que para ser viabilizada exigiu um dos mais amplos e belos trabalhos de assistência social que já vi, e a construção do novo mercado no chamado Campo do Bode, moderno e simpático, hoje muito querido por toda a cidade. Muitos não acreditavam em tal façanha. Depois de liberada a área, já com Roberto França, dá-se a reurbanização da Beira-Rio, a criação do Museu do Rio e do Aquário Municipal e a implantação do binário da XV com a Ten. Cel. Duarte. A intenção era atravessar de imediato a XV de Novembro chegando ao Cais Flutuante com o projeto de reurbanização. Assim, foi terminada a canalização da Prainha, que parava na Carmindo de Campos, construídas a Estação Elevatória e as pistas de ligação da XV com a Beira-Rio e Cel. Duarte. Mas no meio do caminho, em plena curva apareceu um mourão de arueira. Parou tudo e a cidade espera até hoje numa situação de desconforto e risco, sem falar, no deprimente espetáculo de estética urbana e atraso civilizatório, logo na sua principal entrada.
Problemas desse tipo fizeram surgir no mundo mecanismos de controle urbano para assegurar que as cidades se desenvolvam à luz do interesse público, mecanismos hoje indispensáveis a tudo o que Cuiabá pode e deve projetar para a Copa e o Tricentenário. Mas, se não conseguimos vencer um toco, de que adiantaria sonhar com metrôs, monotrilhos, free-ways? Adianta sim, pois os sonhos é que nos farão superá-lo. Longe de considerar um problema simples, há que reconhece-lo em toda a complexidade de suas dimensões jurídicas, administrativas, políticas e de relacionamento entre poderes. Daí a importância de encará-lo imediatamente, com atenção especial. Não se trata de buscar culpados e nem de rebaixar qualquer instituição perante outra, mas de todos se dobrarem ao interesse público maior que lhes dá origem, focados unicamente na solução de um problema grave que interessa a todos. A partir do projeto urbanístico para a área e definidos os direitos das partes, que sejam então feitas as desapropriações necessárias, com a prefeitura cumprindo sua obrigação exclusiva do exercício do poder de polícia urbanística, sem o qual a cidade fica ingovernável e, sem governabilidade, só lhe resta o caos.
Logo que surgiu esse entrave, ainda na primeira administração Roberto França, lembro-me do prefeito ter pensado em voz alta em um trator D-8 para resolvê-lo, decepcionado com a situação. Responsável, porém, ouviu sua Procuradoria, o IPDU (eu, então superintendente) e até um reconhecido “estopim-curto”, o estimado secretário de Obras da época, todos confiantes nos trâmites legais normais, certos de que logo o problema estaria resolvido, o interesse público vitorioso e as obras em andamento. Já se foi mais de uma década.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 21/07/2009)
As explicações sobre a vexatória situação da entrada de Cuiabá pela Ponte Júlio Muller confirmaram as preocupações do nosso artigo do dia 7 passado. O site Midianews de Cuiabá no dia seguinte ao artigo informou que a prefeitura tem um projeto para aquela área e que o principal entrave à sua execução seriam duas garagens de veículos que “teimam” em permanecer no local. Informa ainda o site que o deputado Roberto França em seu programa Resumo do Dia, na noite do mesmo dia 7 lembrou que também tinha um projeto semelhante quando prefeito, e que também “tentou, sem sucesso, remover as tais garagens”.
Na verdade a prefeitura há muito tempo desenvolve projetos para essa entrada da cidade, sempre com obstáculos aparentemente intransponíveis, mas superados progressivamente por diferentes administrações. Mais recentemente, lembro do prefeito José Meirelles na transferência da antiga feira do chamado Mercado do Peixe, que para ser viabilizada exigiu um dos mais amplos e belos trabalhos de assistência social que já vi, e a construção do novo mercado no chamado Campo do Bode, moderno e simpático, hoje muito querido por toda a cidade. Muitos não acreditavam em tal façanha. Depois de liberada a área, já com Roberto França, dá-se a reurbanização da Beira-Rio, a criação do Museu do Rio e do Aquário Municipal e a implantação do binário da XV com a Ten. Cel. Duarte. A intenção era atravessar de imediato a XV de Novembro chegando ao Cais Flutuante com o projeto de reurbanização. Assim, foi terminada a canalização da Prainha, que parava na Carmindo de Campos, construídas a Estação Elevatória e as pistas de ligação da XV com a Beira-Rio e Cel. Duarte. Mas no meio do caminho, em plena curva apareceu um mourão de arueira. Parou tudo e a cidade espera até hoje numa situação de desconforto e risco, sem falar, no deprimente espetáculo de estética urbana e atraso civilizatório, logo na sua principal entrada.
Problemas desse tipo fizeram surgir no mundo mecanismos de controle urbano para assegurar que as cidades se desenvolvam à luz do interesse público, mecanismos hoje indispensáveis a tudo o que Cuiabá pode e deve projetar para a Copa e o Tricentenário. Mas, se não conseguimos vencer um toco, de que adiantaria sonhar com metrôs, monotrilhos, free-ways? Adianta sim, pois os sonhos é que nos farão superá-lo. Longe de considerar um problema simples, há que reconhece-lo em toda a complexidade de suas dimensões jurídicas, administrativas, políticas e de relacionamento entre poderes. Daí a importância de encará-lo imediatamente, com atenção especial. Não se trata de buscar culpados e nem de rebaixar qualquer instituição perante outra, mas de todos se dobrarem ao interesse público maior que lhes dá origem, focados unicamente na solução de um problema grave que interessa a todos. A partir do projeto urbanístico para a área e definidos os direitos das partes, que sejam então feitas as desapropriações necessárias, com a prefeitura cumprindo sua obrigação exclusiva do exercício do poder de polícia urbanística, sem o qual a cidade fica ingovernável e, sem governabilidade, só lhe resta o caos.
Logo que surgiu esse entrave, ainda na primeira administração Roberto França, lembro-me do prefeito ter pensado em voz alta em um trator D-8 para resolvê-lo, decepcionado com a situação. Responsável, porém, ouviu sua Procuradoria, o IPDU (eu, então superintendente) e até um reconhecido “estopim-curto”, o estimado secretário de Obras da época, todos confiantes nos trâmites legais normais, certos de que logo o problema estaria resolvido, o interesse público vitorioso e as obras em andamento. Já se foi mais de uma década.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 21/07/2009)
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terça-feira, 14 de julho de 2009
A ENTRADA DA CIDADE (II)
José Antonio Lemos dos Santos
Não foi fácil escrever o artigo da semana passada, principalmente por ter que falar mal de minha cidade abordando seu acesso pela Ponte Júlio Muller e a impressão negativa que deixa ao visitante e mesmo ao cidadão comum. O tempo é um recurso não renovável e por isso é sempre escasso, principalmente para Cuiabá tendo em vista a Copa de 2014 e o tricentenário em 2019. Cinco ou dez anos passam voando e é fundamental que sejam usados positivamente na construção da qualidade urbana indispensável à realização dos dois extraordinários eventos. Contudo, muitas vezes é necessário tocar em algumas feridas urbanas pois podem esconder problemas maiores, prejudiciais à construção do futuro.
Arquitetura é a arte de transformar os espaços e assim, por formação, o arquiteto e urbanista é um visionário que sempre vê a realidade na perspectiva de sua transformação para melhor, sonhando utopias e imaginando soluções que originam as maravilhas construídas pelo mundo inteiro. A entrada de Cuiabá apesar dos problemas de gestão urbana descritas no artigo anterior, esconde imensas potencialidades naturais, culturais e paisagísticas que devem ser trabalhadas já e que são um “prato cheio” para os arquitetos, cada qual dando asas à sua imaginação a cada passagem por lá. Cito alguns pontos.
Limite municipal de Cuiabá, mas coração da região metropolitana, centro e borda, a entrada da cidade é uma área rica urbanisticamente, com valores cujo aproveitamento correto pode torná-la um dos pontos mais belos e significativos da cidade. A começar pelo próprio rio que lhe deu origem, com sua beleza natural, sua ponte, e a foz do Prainha – o Ikuie-bo dos Boróros - cujas pedras ainda existentes estão na origem seu nome e do próprio rio, chamadas pelos moradores originais de Ikuia-pá – lugar onde se pesca com flecha-arpão. Deviam estar iluminados, sinalizados, legendados didaticamente e glamourizados turisticamente, com a ponte revista arquitetonicamente, até resgatando seu sentido de monumento urbano com seu antigo e pitoresco arco.
Para a ponte convergem três grandes avenidas que devem ser repaginadas, com ênfase nos objetivos da mobilidade urbana segura, confortável: nova e especial iluminação viária com fiação rebaixada, arborização, nova sinalização horizontal e vertical, padronização de calçadas. De cara, topa-se no contra-fluxo com a XV de Novembro, de largura generosa, cuja perspectiva monumental é fechada pela torre da Igreja de São Gonçalo, com seu magnífico Redentor de 3,4 metros de altura pairando sobre o globo terrestre a 36 metros do solo. A direita o acesso à Beira-Rio (Avenida Manuel José de Arruda) e a Ten. Cel Duarte, que devem ser articuladas por uma rótula paisagisticamente tratada de forma a presentear a cidade com uma nova perspectiva monumental da Avenida Tenente Coronel Duarte, modernizada como uma autentica passarela de boas vindas aos visitante. Mais a frente, o antigo cais flutuante, hoje abandonado mas sempre sugerindo um pedestal a espera de um grande monumento sobre o rio, livre de ocupações em suas proximidades, que bem poderia ser em homenagem aos intrépidos e esquecidos navegantes platinos, os grandes viabilizadores da ocupação deste miolo continental sul-americano.
Não há como deixar de referir a um novo tratamento para o espaço do centro esportivo do Dom Aquino, que pode continuar a sê-lo pela facilidade de acessos, envolvendo em seu complexo inclusive a terceira idade, que hoje encontra-se em um espaço segregado. Por fim, mas não menos importante, um novo edifício para o Shopping Popular, agora projetado em caráter definitivo com diversos pisos, destacando numa arquitetura contemporânea, o tradicional caráter inclusivo da cidade.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 14/07/2009)
Não foi fácil escrever o artigo da semana passada, principalmente por ter que falar mal de minha cidade abordando seu acesso pela Ponte Júlio Muller e a impressão negativa que deixa ao visitante e mesmo ao cidadão comum. O tempo é um recurso não renovável e por isso é sempre escasso, principalmente para Cuiabá tendo em vista a Copa de 2014 e o tricentenário em 2019. Cinco ou dez anos passam voando e é fundamental que sejam usados positivamente na construção da qualidade urbana indispensável à realização dos dois extraordinários eventos. Contudo, muitas vezes é necessário tocar em algumas feridas urbanas pois podem esconder problemas maiores, prejudiciais à construção do futuro.
Arquitetura é a arte de transformar os espaços e assim, por formação, o arquiteto e urbanista é um visionário que sempre vê a realidade na perspectiva de sua transformação para melhor, sonhando utopias e imaginando soluções que originam as maravilhas construídas pelo mundo inteiro. A entrada de Cuiabá apesar dos problemas de gestão urbana descritas no artigo anterior, esconde imensas potencialidades naturais, culturais e paisagísticas que devem ser trabalhadas já e que são um “prato cheio” para os arquitetos, cada qual dando asas à sua imaginação a cada passagem por lá. Cito alguns pontos.
Limite municipal de Cuiabá, mas coração da região metropolitana, centro e borda, a entrada da cidade é uma área rica urbanisticamente, com valores cujo aproveitamento correto pode torná-la um dos pontos mais belos e significativos da cidade. A começar pelo próprio rio que lhe deu origem, com sua beleza natural, sua ponte, e a foz do Prainha – o Ikuie-bo dos Boróros - cujas pedras ainda existentes estão na origem seu nome e do próprio rio, chamadas pelos moradores originais de Ikuia-pá – lugar onde se pesca com flecha-arpão. Deviam estar iluminados, sinalizados, legendados didaticamente e glamourizados turisticamente, com a ponte revista arquitetonicamente, até resgatando seu sentido de monumento urbano com seu antigo e pitoresco arco.
Para a ponte convergem três grandes avenidas que devem ser repaginadas, com ênfase nos objetivos da mobilidade urbana segura, confortável: nova e especial iluminação viária com fiação rebaixada, arborização, nova sinalização horizontal e vertical, padronização de calçadas. De cara, topa-se no contra-fluxo com a XV de Novembro, de largura generosa, cuja perspectiva monumental é fechada pela torre da Igreja de São Gonçalo, com seu magnífico Redentor de 3,4 metros de altura pairando sobre o globo terrestre a 36 metros do solo. A direita o acesso à Beira-Rio (Avenida Manuel José de Arruda) e a Ten. Cel Duarte, que devem ser articuladas por uma rótula paisagisticamente tratada de forma a presentear a cidade com uma nova perspectiva monumental da Avenida Tenente Coronel Duarte, modernizada como uma autentica passarela de boas vindas aos visitante. Mais a frente, o antigo cais flutuante, hoje abandonado mas sempre sugerindo um pedestal a espera de um grande monumento sobre o rio, livre de ocupações em suas proximidades, que bem poderia ser em homenagem aos intrépidos e esquecidos navegantes platinos, os grandes viabilizadores da ocupação deste miolo continental sul-americano.
Não há como deixar de referir a um novo tratamento para o espaço do centro esportivo do Dom Aquino, que pode continuar a sê-lo pela facilidade de acessos, envolvendo em seu complexo inclusive a terceira idade, que hoje encontra-se em um espaço segregado. Por fim, mas não menos importante, um novo edifício para o Shopping Popular, agora projetado em caráter definitivo com diversos pisos, destacando numa arquitetura contemporânea, o tradicional caráter inclusivo da cidade.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 14/07/2009)
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terça-feira, 7 de julho de 2009
A ENTRADA DA CIDADE
José Antonio Lemos dos Santos
Dizem que a primeira impressão é a que fica. Sendo assim, Cuiabá dificilmente deixa uma boa impressão aos seus visitantes quando chegam. Não trato dos acessos rodoviários, nem do muquifo de desembarque da Infraero. Trato da entrada de Cuiabá pela Ponte Júlio Muller, que pode ser considerada seu acesso principal, usado pelos principais formadores de opinião nacionais e internacionais, tais como autoridades, empresários, artistas, grupos turísticos, etc. Limite municipal, na prática, não limita nem divide nada, mas é o centro de uma grande cidade que envolve alguns municípios. De fato, uma das importantes áreas metropolitanas do país como pólo de uma das regiões mais dinâmicas do planeta e por sua posição estratégica continental. Centro e limite, essa entrada de Cuiabá é uma área rica urbanisticamente, com muitos valores cenográficos e culturais cujo aproveitamento correto pode torná-la um dos pontos mais belos e significativos da cidade. Contudo o que se tem hoje é o que há de pior, um faroeste urbanístico logo de cara, na entrada da cidade!
Em grande parte remanescente do antigo “Acampamento Couto Magalhães”, da época da Guerra do Paraguai, nesse local existiram os bairros do Terceiro, Ana Poupino e Barcelos, destruídos pela cheia de 1974. A partir daí surgiram algumas ocupações compatíveis, como o Parque de Exposições e o belo Centro Esportivo Dom Aquino, bem com outras ocupações de regularidade discutíveis e discutidas até hoje. Muitas foram retiradas pela prefeitura, outras permanecem, e o que é pior, algumas outras estão sendo acrescentadas hoje. O símbolo maior de toda essa bagunça urbana bem poderia ser um mourão de arueira cravado além da tangência da curva da principal via de acesso a Cuiabá, para dentro de uma das pistas de rolamento. Todo dia engarrafamentos, acidentes, desconforto e acima de tudo, feiúra e desurbanidade, sinônimo de incivilidade. Ainda não aconteceu um acidente de maiores proporções porque o Senhor Bom Jesus de Cuiabá continua generoso e condescendente com sua terra.
Resumindo, para doer menos: é péssima e vergonhosa a impressão desse primeiro contato. Pior, é uma impressão inescapável, cotidiana, que se renova dolorosa no peito cuiabano, pois se trata do core da grande cidade, passagem obrigatória da maioria da população. Feio, inseguro e incivilizado, expressa a impotência de todos os poderes públicos responsáveis pela construção da civitas, o bem urbano comum, impotência que na verdade envolve uma complexidade de autonomias e competências que se superpõem e se entrechocam por quase duas décadas e que supera a vontade individual dos governantes em resolver um assunto aparentemente tão simples. Como servidor público, participei de grande parte desse processo, e sou testemunha das dificuldades geradas por um barroquismo institucional descabido, incompatível com os tempos atuais e com uma cidade moderna e dinâmica.
Há que se fazer um corte decisório e decisivo, em que todas as instituições envolvidas se re-unam pela solução de um problema comum grave, que vai além da estética urbana, envolve a segurança pública e questiona nossos padrões de civilidade. Que sejam definidos logo os direitos das partes e, segundo critérios técnicos, regularizado o que puder ser regularizado, desapropriado devidamente o que tiver que ser desapropriado, mas que se libere a área para ser urbanizada de acordo com os padrões contemporâneos e com o interesse público prevalecendo. E tem que ser urgente, pois o tempo voa. De outra forma, outras décadas passarão, e a chegada dos turistas de 2014 não será necessária para passarmos a vergonha que já passamos hoje.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 07/07/2009)
Dizem que a primeira impressão é a que fica. Sendo assim, Cuiabá dificilmente deixa uma boa impressão aos seus visitantes quando chegam. Não trato dos acessos rodoviários, nem do muquifo de desembarque da Infraero. Trato da entrada de Cuiabá pela Ponte Júlio Muller, que pode ser considerada seu acesso principal, usado pelos principais formadores de opinião nacionais e internacionais, tais como autoridades, empresários, artistas, grupos turísticos, etc. Limite municipal, na prática, não limita nem divide nada, mas é o centro de uma grande cidade que envolve alguns municípios. De fato, uma das importantes áreas metropolitanas do país como pólo de uma das regiões mais dinâmicas do planeta e por sua posição estratégica continental. Centro e limite, essa entrada de Cuiabá é uma área rica urbanisticamente, com muitos valores cenográficos e culturais cujo aproveitamento correto pode torná-la um dos pontos mais belos e significativos da cidade. Contudo o que se tem hoje é o que há de pior, um faroeste urbanístico logo de cara, na entrada da cidade!
Em grande parte remanescente do antigo “Acampamento Couto Magalhães”, da época da Guerra do Paraguai, nesse local existiram os bairros do Terceiro, Ana Poupino e Barcelos, destruídos pela cheia de 1974. A partir daí surgiram algumas ocupações compatíveis, como o Parque de Exposições e o belo Centro Esportivo Dom Aquino, bem com outras ocupações de regularidade discutíveis e discutidas até hoje. Muitas foram retiradas pela prefeitura, outras permanecem, e o que é pior, algumas outras estão sendo acrescentadas hoje. O símbolo maior de toda essa bagunça urbana bem poderia ser um mourão de arueira cravado além da tangência da curva da principal via de acesso a Cuiabá, para dentro de uma das pistas de rolamento. Todo dia engarrafamentos, acidentes, desconforto e acima de tudo, feiúra e desurbanidade, sinônimo de incivilidade. Ainda não aconteceu um acidente de maiores proporções porque o Senhor Bom Jesus de Cuiabá continua generoso e condescendente com sua terra.
Resumindo, para doer menos: é péssima e vergonhosa a impressão desse primeiro contato. Pior, é uma impressão inescapável, cotidiana, que se renova dolorosa no peito cuiabano, pois se trata do core da grande cidade, passagem obrigatória da maioria da população. Feio, inseguro e incivilizado, expressa a impotência de todos os poderes públicos responsáveis pela construção da civitas, o bem urbano comum, impotência que na verdade envolve uma complexidade de autonomias e competências que se superpõem e se entrechocam por quase duas décadas e que supera a vontade individual dos governantes em resolver um assunto aparentemente tão simples. Como servidor público, participei de grande parte desse processo, e sou testemunha das dificuldades geradas por um barroquismo institucional descabido, incompatível com os tempos atuais e com uma cidade moderna e dinâmica.
Há que se fazer um corte decisório e decisivo, em que todas as instituições envolvidas se re-unam pela solução de um problema comum grave, que vai além da estética urbana, envolve a segurança pública e questiona nossos padrões de civilidade. Que sejam definidos logo os direitos das partes e, segundo critérios técnicos, regularizado o que puder ser regularizado, desapropriado devidamente o que tiver que ser desapropriado, mas que se libere a área para ser urbanizada de acordo com os padrões contemporâneos e com o interesse público prevalecendo. E tem que ser urgente, pois o tempo voa. De outra forma, outras décadas passarão, e a chegada dos turistas de 2014 não será necessária para passarmos a vergonha que já passamos hoje.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 07/07/2009)
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terça-feira, 30 de junho de 2009
FERRONORTE E A CARGA DE RETORNO
José Antonio Lemos dos Santos
Viva! Finalmente surge em volume significativo uma carga de retorno na Ferronorte, muito aguardada por Mato Grosso que espera deixar a insólita condição de uma das únicas regiões do mundo desprovidas de ferrovia, ainda que sendo uma das maiores produtoras no planeta. Matéria de Marianna Peres no Diário de Cuiabá do dia 17 passado, saudada em editorial pelo jornal no dia seguinte, traz notícia que a Esso, em sua volta a Mato Grosso, usará a ferrovia para trazer derivados de petróleo e também para levar o etanol do estado, tendo adquirido um terminal em Alto Taquari, onde construirá tanques para armazenamento com capacidade para 20 milhões de litros.
Parece que a nova direção traz bons ventos à Ferronorte, dando mostras que realmente quer fazer aquilo que tem a obrigação de fazer, ou seja, fazer o que determina a concessão da União, que outro dia completou 20 anos, mas que ainda está distante de ser cumprida. Mostra querer prestar serviços de transporte ferroviário, que parecia ser o que menos interessava às direções anteriores. E a Esso também mostra que retorna ao estado de forma séria e atualizada, buscando a alternativa ferroviária para reduzir custos financeiros e ambientais.
Na longa luta pela ligação ferroviária de Mato Grosso, jamais se pensou numa ferrovia apenas para extrair a produção estadual, mas para levar e trazer o desenvolvimento. Uma ferrovia, como outros meios de transporte, só se sustenta com cargas de ida e volta e só elas viabilizarão a redução de custos esperada com a ferrovia, mesmo em um sistema monopolizado como o da Ferronorte. Se não existirem cargas de retorno, os produtores mato-grossenses continuarão arcando com fretes similares aos rodoviários, contra os quais reclamam com muita razão. Daí as ótimas perspectivas trazidas pela notícia. Espera-se que façam o mesmo outras empresas em todas as áreas, como no transporte de materiais de construção, insumos agrícolas, automóveis e todo o tipo de mercadorias, reduzindo os custos dos produtos, a pressão ambiental, e elevando a qualidade de vida da população mato-grossense.
Para a integridade de Mato Grosso, razão de seu desenvolvimento continuado e firme, é fundamental que os modais de transportes passem por Cuiabá, reforçando sua espinha dorsal geopolítica que coincide com o trajeto da BR-163, como quer a concessão da Ferronorte. Naturalmente as coisas seriam assim, já que por Cuiabá passa toda a imensa produção a oeste da área de influência da BR-163 destinada ao consumo interno nacional e à exportação via portos do sudeste. Entretanto, como querem alguns, essa carga poderá ser desviada de Nova Mutum direto a Rondonópolis, excluindo Cuiabá e todo o Mato Grosso platino do eixo de desenvolvimento do estado ou pior, levada para Goiás através do novo projeto ferroviário ligando Uruaçu (GO) a Lucas do Rio Verde/Sapezal.
Além da lei e da concessão federal, o diferencial a favor de Cuiabá e do projeto original da ferrovia está justamente na carga de retorno. O complexo Cuiabá/Várzea Grande é disparado o maior pólo consumidor, concentrador e distribuidor de cargas do estado, tanto de ida como de volta. De Cuiabá as cargas são distribuídas para toda a Amazônia meridional. Centro do continente, é o mais natural caminho transcontinental até o Pacífico, via Bolívia ou via Peru, além de próxima de Cáceres, portal ecoviário de acesso ao cone sul do continente. O capital é inteligente e objetivo nas coisas de seu interesse, e a nova Ferronorte parece ter vindo com um novo e saudável enfoque no tratamento da nossa ferrovia. Viva! Que assim seja, amém.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 30/06/2009)
Viva! Finalmente surge em volume significativo uma carga de retorno na Ferronorte, muito aguardada por Mato Grosso que espera deixar a insólita condição de uma das únicas regiões do mundo desprovidas de ferrovia, ainda que sendo uma das maiores produtoras no planeta. Matéria de Marianna Peres no Diário de Cuiabá do dia 17 passado, saudada em editorial pelo jornal no dia seguinte, traz notícia que a Esso, em sua volta a Mato Grosso, usará a ferrovia para trazer derivados de petróleo e também para levar o etanol do estado, tendo adquirido um terminal em Alto Taquari, onde construirá tanques para armazenamento com capacidade para 20 milhões de litros.
Parece que a nova direção traz bons ventos à Ferronorte, dando mostras que realmente quer fazer aquilo que tem a obrigação de fazer, ou seja, fazer o que determina a concessão da União, que outro dia completou 20 anos, mas que ainda está distante de ser cumprida. Mostra querer prestar serviços de transporte ferroviário, que parecia ser o que menos interessava às direções anteriores. E a Esso também mostra que retorna ao estado de forma séria e atualizada, buscando a alternativa ferroviária para reduzir custos financeiros e ambientais.
Na longa luta pela ligação ferroviária de Mato Grosso, jamais se pensou numa ferrovia apenas para extrair a produção estadual, mas para levar e trazer o desenvolvimento. Uma ferrovia, como outros meios de transporte, só se sustenta com cargas de ida e volta e só elas viabilizarão a redução de custos esperada com a ferrovia, mesmo em um sistema monopolizado como o da Ferronorte. Se não existirem cargas de retorno, os produtores mato-grossenses continuarão arcando com fretes similares aos rodoviários, contra os quais reclamam com muita razão. Daí as ótimas perspectivas trazidas pela notícia. Espera-se que façam o mesmo outras empresas em todas as áreas, como no transporte de materiais de construção, insumos agrícolas, automóveis e todo o tipo de mercadorias, reduzindo os custos dos produtos, a pressão ambiental, e elevando a qualidade de vida da população mato-grossense.
Para a integridade de Mato Grosso, razão de seu desenvolvimento continuado e firme, é fundamental que os modais de transportes passem por Cuiabá, reforçando sua espinha dorsal geopolítica que coincide com o trajeto da BR-163, como quer a concessão da Ferronorte. Naturalmente as coisas seriam assim, já que por Cuiabá passa toda a imensa produção a oeste da área de influência da BR-163 destinada ao consumo interno nacional e à exportação via portos do sudeste. Entretanto, como querem alguns, essa carga poderá ser desviada de Nova Mutum direto a Rondonópolis, excluindo Cuiabá e todo o Mato Grosso platino do eixo de desenvolvimento do estado ou pior, levada para Goiás através do novo projeto ferroviário ligando Uruaçu (GO) a Lucas do Rio Verde/Sapezal.
Além da lei e da concessão federal, o diferencial a favor de Cuiabá e do projeto original da ferrovia está justamente na carga de retorno. O complexo Cuiabá/Várzea Grande é disparado o maior pólo consumidor, concentrador e distribuidor de cargas do estado, tanto de ida como de volta. De Cuiabá as cargas são distribuídas para toda a Amazônia meridional. Centro do continente, é o mais natural caminho transcontinental até o Pacífico, via Bolívia ou via Peru, além de próxima de Cáceres, portal ecoviário de acesso ao cone sul do continente. O capital é inteligente e objetivo nas coisas de seu interesse, e a nova Ferronorte parece ter vindo com um novo e saudável enfoque no tratamento da nossa ferrovia. Viva! Que assim seja, amém.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 30/06/2009)
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terça-feira, 23 de junho de 2009
O VERDÃO DAS TRÊS ARENAS - II
José Antonio Lemos dos Santos
O projeto da sub-sede do Pantanal da Copa do Mundo de 2014 é o maior pacote de investimentos já previsto para Cuiabá, com a vantagem de que estes investimentos não ficarão sujeitos apenas aos processos locais de fiscalização, mas sob os olhos nacionais e internacionais da CBF, da FIFA, da imprensa e dos amantes do futebol do mundo inteiro, e, em especial, sob a lupa microscópica das cidades e dos interesses contrariados pela vitória cuiabana e mato-grossense. Esta situação ímpar traz a esperança de que a maioria das obras e serviços programados realmente aconteça e, o que é melhor, dentro de padrões de respeito para com os recursos públicos. Sem pisar na bola, ou se faz tudo muito bem, ou coloca-se em risco a galinha de ovos de ouro. Assim, volto ao artigo da semana passada para esclarecer alguns pontos da proposta de reaproveitamento do antigo Verdão, proposta suscitada pela mudança do projeto do novo estádio.
Logo destaco que o reaproveitamento do antigo Verdão não exige qualquer nova alteração no projeto do estádio, que ficaria do jeito que foi aprovado pela CBF e FIFA, para ser concluído em 2012 como exigem o governador e os cronogramas, apenas com um ligeiro deslocamento em sua implantação. Aliás, outra alteração no projeto do estádio, além de desnecessária, certamente seria um desgaste junto ao comitê organizador e deve ser evitada. Portanto, repito, a alteração proposta não é no projeto do novo estádio, mas no projeto do parque urbano que abrigará o novo complexo esportivo, em especial no destino dado ao antigo Verdão, um patrimônio arquitetônico nada desprezível de cerca de R$ 300 milhões, que seria demolido e transformado em lagoa para pedalinho.
O segundo ponto a destacar é a excelência da escolha do local para a instalação da nova arena esportiva, lá mesmo no bairro Verdão, uma decisão fundamental, pois assegura que os investimentos destinados a atender ao grande palco da festa serão posteriormente aproveitados pela cidade hoje existente. Situações como esta geralmente são aproveitadas para valorização especulativa de áreas vazias ou distantes da cidade, sob mil pretextos, deixando ao final os tão falados elefantes brancos, sem utilidade alguma. Felizmente em Cuiabá o projeto começou bem com a escolha correta da localização do estádio.
No caso do Verdão trata-se de um bairro surgido em função da construção do estádio (daí o seu nome), e o novo estádio terá capacidade semelhante ao do antigo, portanto sem agregação significativa de impactância urbana. Ao contrário, os investimentos, por exemplo, no sistema viário, melhorarão a situação atual do tráfego local e além disso deflagrarão uma revolução em todo o sistema viário, pois deverão atender também as vias estruturais e principais de acesso ao bairro, mesmo dos pontos mais distantes da cidade, em Cuiabá e Várzea Grande. Do mesmo modo, esperam-se grandes melhoramentos em todos os demais segmentos da estrutura urbana.
Com custo inferior ao da demolição, a proposta de reaproveitamento integra em um inédito complexo esportivo o ginásio Aecim Tocantins, o novo estádio da Copa e o antigo Verdão, transformado em estádio olímpico de uso ampliado, servindo também ao vôlei de areia, kart, motocross, e outros esportes, com suas sedes de federações e alojamentos para atletas dispostos ao longo do fosso, tudo perfeitamente compatível com área disponível no bairro Verdão e com o novo estádio. Nada a mudar, nada a destruir, só a acrescentar.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 23/06/2009)
O projeto da sub-sede do Pantanal da Copa do Mundo de 2014 é o maior pacote de investimentos já previsto para Cuiabá, com a vantagem de que estes investimentos não ficarão sujeitos apenas aos processos locais de fiscalização, mas sob os olhos nacionais e internacionais da CBF, da FIFA, da imprensa e dos amantes do futebol do mundo inteiro, e, em especial, sob a lupa microscópica das cidades e dos interesses contrariados pela vitória cuiabana e mato-grossense. Esta situação ímpar traz a esperança de que a maioria das obras e serviços programados realmente aconteça e, o que é melhor, dentro de padrões de respeito para com os recursos públicos. Sem pisar na bola, ou se faz tudo muito bem, ou coloca-se em risco a galinha de ovos de ouro. Assim, volto ao artigo da semana passada para esclarecer alguns pontos da proposta de reaproveitamento do antigo Verdão, proposta suscitada pela mudança do projeto do novo estádio.
Logo destaco que o reaproveitamento do antigo Verdão não exige qualquer nova alteração no projeto do estádio, que ficaria do jeito que foi aprovado pela CBF e FIFA, para ser concluído em 2012 como exigem o governador e os cronogramas, apenas com um ligeiro deslocamento em sua implantação. Aliás, outra alteração no projeto do estádio, além de desnecessária, certamente seria um desgaste junto ao comitê organizador e deve ser evitada. Portanto, repito, a alteração proposta não é no projeto do novo estádio, mas no projeto do parque urbano que abrigará o novo complexo esportivo, em especial no destino dado ao antigo Verdão, um patrimônio arquitetônico nada desprezível de cerca de R$ 300 milhões, que seria demolido e transformado em lagoa para pedalinho.
O segundo ponto a destacar é a excelência da escolha do local para a instalação da nova arena esportiva, lá mesmo no bairro Verdão, uma decisão fundamental, pois assegura que os investimentos destinados a atender ao grande palco da festa serão posteriormente aproveitados pela cidade hoje existente. Situações como esta geralmente são aproveitadas para valorização especulativa de áreas vazias ou distantes da cidade, sob mil pretextos, deixando ao final os tão falados elefantes brancos, sem utilidade alguma. Felizmente em Cuiabá o projeto começou bem com a escolha correta da localização do estádio.
No caso do Verdão trata-se de um bairro surgido em função da construção do estádio (daí o seu nome), e o novo estádio terá capacidade semelhante ao do antigo, portanto sem agregação significativa de impactância urbana. Ao contrário, os investimentos, por exemplo, no sistema viário, melhorarão a situação atual do tráfego local e além disso deflagrarão uma revolução em todo o sistema viário, pois deverão atender também as vias estruturais e principais de acesso ao bairro, mesmo dos pontos mais distantes da cidade, em Cuiabá e Várzea Grande. Do mesmo modo, esperam-se grandes melhoramentos em todos os demais segmentos da estrutura urbana.
Com custo inferior ao da demolição, a proposta de reaproveitamento integra em um inédito complexo esportivo o ginásio Aecim Tocantins, o novo estádio da Copa e o antigo Verdão, transformado em estádio olímpico de uso ampliado, servindo também ao vôlei de areia, kart, motocross, e outros esportes, com suas sedes de federações e alojamentos para atletas dispostos ao longo do fosso, tudo perfeitamente compatível com área disponível no bairro Verdão e com o novo estádio. Nada a mudar, nada a destruir, só a acrescentar.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 23/06/2009)
terça-feira, 16 de junho de 2009
O VERDÃO DAS TRÊS ARENAS
José Antonio Lemos dos Santos
Descontando a liderança pessoal do governador Blairo Maggi e o apoio de Agripino Bonilha, construtor do Verdão, duas atitudes me transmitiram confiança na proposta da Copa do Pantanal em Cuiabá. Uma foi a contratação de um dos mais renomados escritórios especializados em arquitetura esportiva no Brasil para o projeto do novo Verdão. Outra foi a escolha do local para a nova arena, lá mesmo no bairro Verdão, assegurando que os investimentos beneficiem a cidade atual.
O atual Verdão é um dos mais belos estádios do Brasil, funcional e adequado à topografia local e ao clima da cidade. Sigo o futebol em Cuiabá desde criança, de Fulepa até Rogério Ceni, Hugo Alcântara, Robinho e Buiú. Normalmente sou um daqueles 200 sempre presentes ao Verdão. Assim, mesmo sentido, aceitei o sacrifício do velho estádio pelo novo, pois a superposição das plantas seria essencial ao uso inteligente da declividade do terreno como redutor de custos.
Porém, ainda na euforia da conquista da sub-sede, tremi nas bases ao saber que o primeiro projeto ia ser mudado e o escritório de arquitetura também. Como muitos, temi pelo futuro da sub-sede recém conquistada e pela seriedade com que o assunto estava sendo tratado. Restaram as figuras do governador e de Bonilha inspirando confiança e a espera pela divulgação do novo projeto com as devidas explicações.
Pelo divulgado, o novo projeto traz boas inovações, tais como a inserção da vegetação entre as arquibancadas e a multifuncionalidade – esta ainda carente de maiores explicações. Mas, o novo estádio foi deslocado, deixando a superposição com o velho estádio, cuja demolição ficou então sem sentido. Se desnecessária, seria a perda de um patrimônio arquitetônico de valor imenso, nada desprezível. Lembrando a antiga Catedral e o velho Palácio Alencastro, duplo remorso que ainda fustiga o fundo da alma cuiabana, repito um leitor orgulhoso com a Copa, mas que me pergunta em mal disfarçado lamento: porque em Cuiabá para fazer o novo sempre se tem que destruir o antigo?
Recordista em desenvolvimento, Mato Grosso logo desenvolverá também o atletismo em suas diversas modalidades, com competições de alto nível e muitos atletas locais, do porte de Jorilda e Nadir Sabino, por exemplo. O antigo Verdão atendia estes esportes – embora nunca usado para esse fim - e o novo não; é exclusivo para o futebol. Vamos ter que construir outra praça de esportes para o atletismo?
As imagens divulgadas sugerem que um pequeno deslocamento na locação do novo estádio, sem alterar seu projeto, permitiria o aproveitamento do antigo Verdão como uma praça multi-esportiva, podendo receber, além do atletismo, a prática permanente de diversos esportes do gosto dos mato-grossenses, tais como as várias formas do motocross do nosso campeão Joaninha, o autocross, o bicicross, o skatismo, o aeromodelismo, o volei de praia e outros, em arenas independentes, de acordo com suas possibilidades de compatibilização no espaço. Com a grande vantagem da instalação de suas respectivas federações, alojamentos de atletas, restaurante, ao longo do fosso do velho estádio, como previsto em seu projeto original e não construído, assegurando também sua multifuncionalidade viabilizadora.
Parecem boas as chances de termos um inédito parque esportivo com três arenas, com o aproveitamento do atual Verdão. Caso ainda não tenham sido devidamente avaliadas, valeria a pena fazê-lo. Se comprovadamente inviável, bola para frente. Logo teremos um novo estádio, talvez com um cantinho para as boas lembranças do Verdão, e, importante, sem um remorso a mais a fustigar a alma cuiabana.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 16/06/09)
Descontando a liderança pessoal do governador Blairo Maggi e o apoio de Agripino Bonilha, construtor do Verdão, duas atitudes me transmitiram confiança na proposta da Copa do Pantanal em Cuiabá. Uma foi a contratação de um dos mais renomados escritórios especializados em arquitetura esportiva no Brasil para o projeto do novo Verdão. Outra foi a escolha do local para a nova arena, lá mesmo no bairro Verdão, assegurando que os investimentos beneficiem a cidade atual.
O atual Verdão é um dos mais belos estádios do Brasil, funcional e adequado à topografia local e ao clima da cidade. Sigo o futebol em Cuiabá desde criança, de Fulepa até Rogério Ceni, Hugo Alcântara, Robinho e Buiú. Normalmente sou um daqueles 200 sempre presentes ao Verdão. Assim, mesmo sentido, aceitei o sacrifício do velho estádio pelo novo, pois a superposição das plantas seria essencial ao uso inteligente da declividade do terreno como redutor de custos.
Porém, ainda na euforia da conquista da sub-sede, tremi nas bases ao saber que o primeiro projeto ia ser mudado e o escritório de arquitetura também. Como muitos, temi pelo futuro da sub-sede recém conquistada e pela seriedade com que o assunto estava sendo tratado. Restaram as figuras do governador e de Bonilha inspirando confiança e a espera pela divulgação do novo projeto com as devidas explicações.
Pelo divulgado, o novo projeto traz boas inovações, tais como a inserção da vegetação entre as arquibancadas e a multifuncionalidade – esta ainda carente de maiores explicações. Mas, o novo estádio foi deslocado, deixando a superposição com o velho estádio, cuja demolição ficou então sem sentido. Se desnecessária, seria a perda de um patrimônio arquitetônico de valor imenso, nada desprezível. Lembrando a antiga Catedral e o velho Palácio Alencastro, duplo remorso que ainda fustiga o fundo da alma cuiabana, repito um leitor orgulhoso com a Copa, mas que me pergunta em mal disfarçado lamento: porque em Cuiabá para fazer o novo sempre se tem que destruir o antigo?
Recordista em desenvolvimento, Mato Grosso logo desenvolverá também o atletismo em suas diversas modalidades, com competições de alto nível e muitos atletas locais, do porte de Jorilda e Nadir Sabino, por exemplo. O antigo Verdão atendia estes esportes – embora nunca usado para esse fim - e o novo não; é exclusivo para o futebol. Vamos ter que construir outra praça de esportes para o atletismo?
As imagens divulgadas sugerem que um pequeno deslocamento na locação do novo estádio, sem alterar seu projeto, permitiria o aproveitamento do antigo Verdão como uma praça multi-esportiva, podendo receber, além do atletismo, a prática permanente de diversos esportes do gosto dos mato-grossenses, tais como as várias formas do motocross do nosso campeão Joaninha, o autocross, o bicicross, o skatismo, o aeromodelismo, o volei de praia e outros, em arenas independentes, de acordo com suas possibilidades de compatibilização no espaço. Com a grande vantagem da instalação de suas respectivas federações, alojamentos de atletas, restaurante, ao longo do fosso do velho estádio, como previsto em seu projeto original e não construído, assegurando também sua multifuncionalidade viabilizadora.
Parecem boas as chances de termos um inédito parque esportivo com três arenas, com o aproveitamento do atual Verdão. Caso ainda não tenham sido devidamente avaliadas, valeria a pena fazê-lo. Se comprovadamente inviável, bola para frente. Logo teremos um novo estádio, talvez com um cantinho para as boas lembranças do Verdão, e, importante, sem um remorso a mais a fustigar a alma cuiabana.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 16/06/09)
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terça-feira, 9 de junho de 2009
13 DE JUNHO, COPA E PAZ NO MUNDO
José Antonio Lemos dos Santos
Não vou celebrar a guerra, nem mocinhos ou bandidos, vencedores ou perdedores, e sim falar de vítimas, mártires e heróis, principais produtos em todos os lados de uma guerra. Lembro 13 de Junho, reverenciando o maior martírio sofrido pela gente cuiabana. Antes, matéria escolar obrigatória, hoje, pouco a pouco esquecemos que o maior conflito das Américas ocorreu aqui, e que Cuiabá pagou muito caro por ela. A Guerra do Paraguai reuniu Brasil, Argentina, Uruguai e interesses ingleses contra o Paraguai, na época o país mais poderoso na América Latina. Mato Grosso foi o trágico palco principal.
Entre os diversos episódios vividos pelos cuiabanos na Guerra do Paraguai, um dos mais épicos foi o da Retomada de Corumbá, a 13 de Junho de 1867, cidade então mato-grossense que havia sido tomada pelos paraguaios. Os cuiabanos foram lá, enfrentaram o mais poderoso exército do continente e retomaram para o Brasil aquela importante cidade, num “fato heróico exclusivamente cuiabano”, como nos ensina Pedro Rocha Jucá, organizados pelo Presidente Couto Magalhães e comandados pelo então Capitão Antônio Maria Coelho. Sem reforços externos, só forças militares locais, acrescidas de voluntários.
Mas a história não para por aí. As tropas voltaram à Cuiabá contaminadas com a varíola, pois havia um surto da doença em Corumbá quando da retomada. A epidemia tomou conta de Cuiabá, matando mais da metade de sua população. Segundo Francisco Ferreira Mendes, em cada casa havia pelo menos um doente, e “a cidade ficou juncada de corpos insepultos, atirados às ruas, cuja putrefação empestava mais a cidade com a exalação produzida pela decomposição. Determinou o governo a abertura de valas e a cremação de cadáveres no campo do Cae-Cae, medida que se tornou ineficaz. Não raro eram visto cães famintos arrastando membros e vísceras humanas pelas ruas.”.
13 de Junho, para sempre deve lembrar a epopéia de bravura e dor de um povo humilde, mas determinado. A história de gente de carne e osso, não de livros, de novelas ou filmes, mas que anda aí na Praça Alencastro, no Porto, no Coxipó ou no CPA, sem mais se lembrar que em suas veias corre o valoroso sangue de seus bisavós, o mesmo que vem bravamente construindo e defendendo nosso país por quase três séculos. Hoje, na pracinha do Cae-Cae, nenhuma homenagem. A própria cidade expandiu abraçando o campo santo, outrora afastado. Ainda resta uma cruz, solene, e uma igrejinha ao lado onde as missas dominicais são “pela intenção dos bexiguentos”, ainda que a maioria dos fiéis não saiba mais do que se trata.
Com a escolha de Cuiabá como sub-sede da Copa de 2014, Mato Grosso mais uma vez será palco de um importante evento internacional, agora festivo e promotor da paz entre os povos. No caminho do Verdão, a interseção da Avenida 8 de Abril, com a Ramiro de Noronha e Thogo Pereira configura-se como um estrangulamento viário a ser solucionado como alternativa de fluidez de tráfego entre a Av. Miguel Sutil e a XV de Novembro. Contígua à essa interseção, a Praça do Cae-Cae poderia integrar esse projeto urbanístico, compondo uma nova capela e uma nova praça, na qual seja projetado um monumento à paz, digno e solene, homenageando os heróis e mártires de todas as guerras, em nome dos nossos irmãos e hermanos, vítimas de uma mesma tragédia que precisa ser lembrada para nunca mais ser repetida. Além de mais uma atração turística, um local que possibilite, no dia 13 de junho de 2014, a realização de uma cerimônia de caráter internacional ajudando o futebol na sua nobre tarefa de promover a paz no mundo.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 09/06/09)
Não vou celebrar a guerra, nem mocinhos ou bandidos, vencedores ou perdedores, e sim falar de vítimas, mártires e heróis, principais produtos em todos os lados de uma guerra. Lembro 13 de Junho, reverenciando o maior martírio sofrido pela gente cuiabana. Antes, matéria escolar obrigatória, hoje, pouco a pouco esquecemos que o maior conflito das Américas ocorreu aqui, e que Cuiabá pagou muito caro por ela. A Guerra do Paraguai reuniu Brasil, Argentina, Uruguai e interesses ingleses contra o Paraguai, na época o país mais poderoso na América Latina. Mato Grosso foi o trágico palco principal.
Entre os diversos episódios vividos pelos cuiabanos na Guerra do Paraguai, um dos mais épicos foi o da Retomada de Corumbá, a 13 de Junho de 1867, cidade então mato-grossense que havia sido tomada pelos paraguaios. Os cuiabanos foram lá, enfrentaram o mais poderoso exército do continente e retomaram para o Brasil aquela importante cidade, num “fato heróico exclusivamente cuiabano”, como nos ensina Pedro Rocha Jucá, organizados pelo Presidente Couto Magalhães e comandados pelo então Capitão Antônio Maria Coelho. Sem reforços externos, só forças militares locais, acrescidas de voluntários.
Mas a história não para por aí. As tropas voltaram à Cuiabá contaminadas com a varíola, pois havia um surto da doença em Corumbá quando da retomada. A epidemia tomou conta de Cuiabá, matando mais da metade de sua população. Segundo Francisco Ferreira Mendes, em cada casa havia pelo menos um doente, e “a cidade ficou juncada de corpos insepultos, atirados às ruas, cuja putrefação empestava mais a cidade com a exalação produzida pela decomposição. Determinou o governo a abertura de valas e a cremação de cadáveres no campo do Cae-Cae, medida que se tornou ineficaz. Não raro eram visto cães famintos arrastando membros e vísceras humanas pelas ruas.”.
13 de Junho, para sempre deve lembrar a epopéia de bravura e dor de um povo humilde, mas determinado. A história de gente de carne e osso, não de livros, de novelas ou filmes, mas que anda aí na Praça Alencastro, no Porto, no Coxipó ou no CPA, sem mais se lembrar que em suas veias corre o valoroso sangue de seus bisavós, o mesmo que vem bravamente construindo e defendendo nosso país por quase três séculos. Hoje, na pracinha do Cae-Cae, nenhuma homenagem. A própria cidade expandiu abraçando o campo santo, outrora afastado. Ainda resta uma cruz, solene, e uma igrejinha ao lado onde as missas dominicais são “pela intenção dos bexiguentos”, ainda que a maioria dos fiéis não saiba mais do que se trata.
Com a escolha de Cuiabá como sub-sede da Copa de 2014, Mato Grosso mais uma vez será palco de um importante evento internacional, agora festivo e promotor da paz entre os povos. No caminho do Verdão, a interseção da Avenida 8 de Abril, com a Ramiro de Noronha e Thogo Pereira configura-se como um estrangulamento viário a ser solucionado como alternativa de fluidez de tráfego entre a Av. Miguel Sutil e a XV de Novembro. Contígua à essa interseção, a Praça do Cae-Cae poderia integrar esse projeto urbanístico, compondo uma nova capela e uma nova praça, na qual seja projetado um monumento à paz, digno e solene, homenageando os heróis e mártires de todas as guerras, em nome dos nossos irmãos e hermanos, vítimas de uma mesma tragédia que precisa ser lembrada para nunca mais ser repetida. Além de mais uma atração turística, um local que possibilite, no dia 13 de junho de 2014, a realização de uma cerimônia de caráter internacional ajudando o futebol na sua nobre tarefa de promover a paz no mundo.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 09/06/09)
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terça-feira, 2 de junho de 2009
GANHAMOS A COPA
José Antonio Lemos dos Santos
Cuiabá ganhou a Copa. Mato Grosso ganhou a Copa. E ganhamos muito mais do que a sub-sede do Pantanal. Por antecipação ganhamos a Copa do Mundo de 2014, independentemente da seleção brasileira sair campeã daqui a cinco anos. O valor desta vitória ultrapassa em muito a luta por um projeto de imenso valor urbano, e marca uma importante mudança de postura na vida de uma cidade quase tricentenária.
Cuiabá começou a ganhar a Copa em 2006, com uma visita do presidente da CBF, quando o governador Blairo Maggi decidiu que a capital mato-grossense podia disputar nacionalmente uma das sub-sedes, então apenas 10, do mais importante evento futebolístico mundial, quando nem o Brasil havia sido escolhido como sede da Copa e muito menos que uma das sub-sedes seria no Pantanal. Uma postura de coragem, que nunca faltou ao cuiabano, mas também de atrevimento e audácia, uma novidade para um povo pacato, que, embora sempre tenha sido grande, sempre se viu apequenado, com receio de se elogiar, valorizar suas coisas e de pleitear suas justas reivindicações. Talvez pelos séculos de isolamento, aprendeu que o novo, o bonito, o que devia ser obedecido, sempre vinha de fora, e que seu destino fosse sempre o de seguir atrás, aproveitando as quireras que sobravam da vida na corte.
Com a decisão do governador, a cidade mudou sua postura, ou na língua do futebol, o time mudou seu posicionamento em campo, deixou de jogar só na defesa, só esperando, liberou os alas, dispensou os volantes e partiu para o ataque. O torcedor prefere assim, com o time buscando a vitória. Essa postura faltava para Cuiabá, sempre tão passiva e de boa fé; e mesmo para Mato Grosso, que apesar de alimentar o mundo, vive acuado, acusado de destruidor justo pelos que constróem armas de destruição e morte e se alimentam de nossa produção.
Bastou a decisão corajosa e acertada de pleitear a sub-sede da Copa para que o povo desse integral apoio, a princípio meio desconfiado, mas logo saindo às ruas, discutindo o assunto, descobrindo que sua cidade é uma senhora naturalmente linda, instalada no exato centro geodésico da América do Sul, com muitos atributos exclusivos que podem interessar ao mundo, como sua rica história, sua cultura, seu calor, seus dois rios, seu sítio urbano emoldurado ao norte pela silhueta da Chapada e coroada ao sul pelo imponente Morro de Santo Antonio, o Toroari bororo. Que sua cidade é o centro de uma das regiões mais dinâmicas do planeta e que só precisa ser melhor tratada para explodir em toda sua beleza e qualidade de vida.
Cuiabá ganhou a Copa de 2014, pois por ela recuperou a auto-estima, a visão positiva e a unanimidade por um interesse comum, situação só vista a quase meio século atrás na vitoriosa luta pela Universidade Federal, tão forte que dobrou as vontades dos governos estadual e federal, em pleno autoritarismo. Ganhando a sub-sede aprende que, como capital de um estado campeão nacional de produção, pode e deve ir em busca de tudo aquilo que interessa ao seu desenvolvimento e ao desenvolvimento do estado. Não apenas esperar.
Agora é hora de fazer, de cobrar e principalmente fiscalizar para que a turma do “olho-grande” não desvirtue a conquista, e a sub-sede do Pantanal seja um dos pontos altos da Copa do Mundo de 2014, na terra do tão esquecido presidente Dutra, o cuiabano que lá no passado também teve a coragem de decidir que o Brasil sediaria uma Copa do Mundo, construiu o Maracanã, e fez do Brasil o país do futebol.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 02/06/2009)
Cuiabá ganhou a Copa. Mato Grosso ganhou a Copa. E ganhamos muito mais do que a sub-sede do Pantanal. Por antecipação ganhamos a Copa do Mundo de 2014, independentemente da seleção brasileira sair campeã daqui a cinco anos. O valor desta vitória ultrapassa em muito a luta por um projeto de imenso valor urbano, e marca uma importante mudança de postura na vida de uma cidade quase tricentenária.
Cuiabá começou a ganhar a Copa em 2006, com uma visita do presidente da CBF, quando o governador Blairo Maggi decidiu que a capital mato-grossense podia disputar nacionalmente uma das sub-sedes, então apenas 10, do mais importante evento futebolístico mundial, quando nem o Brasil havia sido escolhido como sede da Copa e muito menos que uma das sub-sedes seria no Pantanal. Uma postura de coragem, que nunca faltou ao cuiabano, mas também de atrevimento e audácia, uma novidade para um povo pacato, que, embora sempre tenha sido grande, sempre se viu apequenado, com receio de se elogiar, valorizar suas coisas e de pleitear suas justas reivindicações. Talvez pelos séculos de isolamento, aprendeu que o novo, o bonito, o que devia ser obedecido, sempre vinha de fora, e que seu destino fosse sempre o de seguir atrás, aproveitando as quireras que sobravam da vida na corte.
Com a decisão do governador, a cidade mudou sua postura, ou na língua do futebol, o time mudou seu posicionamento em campo, deixou de jogar só na defesa, só esperando, liberou os alas, dispensou os volantes e partiu para o ataque. O torcedor prefere assim, com o time buscando a vitória. Essa postura faltava para Cuiabá, sempre tão passiva e de boa fé; e mesmo para Mato Grosso, que apesar de alimentar o mundo, vive acuado, acusado de destruidor justo pelos que constróem armas de destruição e morte e se alimentam de nossa produção.
Bastou a decisão corajosa e acertada de pleitear a sub-sede da Copa para que o povo desse integral apoio, a princípio meio desconfiado, mas logo saindo às ruas, discutindo o assunto, descobrindo que sua cidade é uma senhora naturalmente linda, instalada no exato centro geodésico da América do Sul, com muitos atributos exclusivos que podem interessar ao mundo, como sua rica história, sua cultura, seu calor, seus dois rios, seu sítio urbano emoldurado ao norte pela silhueta da Chapada e coroada ao sul pelo imponente Morro de Santo Antonio, o Toroari bororo. Que sua cidade é o centro de uma das regiões mais dinâmicas do planeta e que só precisa ser melhor tratada para explodir em toda sua beleza e qualidade de vida.
Cuiabá ganhou a Copa de 2014, pois por ela recuperou a auto-estima, a visão positiva e a unanimidade por um interesse comum, situação só vista a quase meio século atrás na vitoriosa luta pela Universidade Federal, tão forte que dobrou as vontades dos governos estadual e federal, em pleno autoritarismo. Ganhando a sub-sede aprende que, como capital de um estado campeão nacional de produção, pode e deve ir em busca de tudo aquilo que interessa ao seu desenvolvimento e ao desenvolvimento do estado. Não apenas esperar.
Agora é hora de fazer, de cobrar e principalmente fiscalizar para que a turma do “olho-grande” não desvirtue a conquista, e a sub-sede do Pantanal seja um dos pontos altos da Copa do Mundo de 2014, na terra do tão esquecido presidente Dutra, o cuiabano que lá no passado também teve a coragem de decidir que o Brasil sediaria uma Copa do Mundo, construiu o Maracanã, e fez do Brasil o país do futebol.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 02/06/2009)
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terça-feira, 26 de maio de 2009
FERRONORTE: UM GOLPE AOS 20 ANOS
José Antonio Lemos dos Santos
Este mês de maio marca o vigésimo ano da concessão da União á Ferronorte, “para o estabelecimento de um sistema de transporte ferroviário de carga abrangendo a construção, operação, exploração e conservação de estrada de ferro entre Cuiabá (MT) e: a) Uberaba/Uberlândia (MG), b) Santa Fé do Sul (SP), na margem direita do rio Paraná, c) Porto Velho (RO) e d) Santarém (PA)”. Destaca-se o objetivo da concessão que é a criação de um sistema de transporte ferroviário centrado em Cuiabá. Bem mais que uma simples ligação entre dois pontos, trata-se de um macro-projeto para a Amazônia meridional brasileira e Cuiabá é o alfa e o ômega desse grande projeto.
A concessão não deixa ao concessionário a prerrogativa de chegar ou não aos pontos citados, decidindo ao sabor de suas conveniências ou de eventuais pressões e interesses provincianos momentâneos de quaisquer espécies. É para ser cumprida na íntegra. Sua objetividade vem de profundos e competentes estudos técnicos, inclusive de viabilidade econômica, feitos entre 1987 e 1988, dando seqüência a numerosos outros estudos, que vem desde Euclides da Cunha em 1901, passando pelo magnífico trabalho feito pelo GEIPOT em 1974, todos apontando não só a viabilidade, mas a necessidade da ligação de Cuiabá ao sistema ferroviário nacional. De lá para cá o desenvolvimento excepcional de Cuiabá e Mato Grosso, superou em muito todas as expectativas, ratificando todos os estudos de viabilidade precedentes.
Em 1989 imaginava-se que logo o trem chegaria a Rondonópolis, Cuiabá e subiria o norte de Mato Grosso rumo a Santarém e Porto Velho, situação esta ainda muito distante, passados 20 anos, infelizmente. Contudo, apesar do atraso, teríamos hoje muito a comemorar, pois a ferrovia já avançou mais da metade de sua distância original até Cuiabá, e venceu seus maiores obstáculos, dentre os quais a travessia do rio Paraná. Seu traçado técnico até Cuiabá até já foi submetido a uma audiência pública, ficando com uma só pendência: a proximidade da Reserva Tereza Cristina (700 metros fora), sendo recomendado um maior afastamento. Só isso. Esse traçado ficou conhecido como “o traçado original” por ter sido defendido pessoalmente pelo próprio “pai” da ferrovia, senador Vicente Emílio Vuolo. Assim, graças a bravura e abnegação pessoal do senador Vuolo, teríamos sim muito a comemorar pois a ferrovia avançou bastante, ainda que menos que o desejado.
Mas, como comemorar se após esse hercúleo trabalho, o projeto da Ferronorte está por sofrer um bem urdido golpe que lhe poderá ser fatal? O traçado original de 200 Km até Cuiabá está sendo substituído por outro de mais de 400 km(!), subindo a serra em Rondonópolis, sob o pretexto de uma falsa ameaça do traçado original à Reserva Tereza Cristina e, se a ferrovia subir a serra lá, não descerá para Cuiabá nem como um ramal. De lá seguirá direto rumo norte, excluindo o Mato Grosso platino do eixo do desenvolvimento e explodindo o estado.
Os problemas criados pela malícia e ambição humanas são bem mais difíceis do que os obstáculos naturais da distância e dos acidentes geográficos. Após 20 anos de concessão é necessário redobrar a luta, deixar de lado a extrema boa-fé do cuiabano e suas luvas de pelica, para que a ferrovia chegue a Santarém e Porto Velho, levando o progresso para todo Mato Grosso, mas passando por Cuiabá, conforme define a lei e o traçado original deixados pelo senador Vuolo, bem como está fixado na vintenária concessão outorgada à Ferronorte.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 26/05/2009)
Este mês de maio marca o vigésimo ano da concessão da União á Ferronorte, “para o estabelecimento de um sistema de transporte ferroviário de carga abrangendo a construção, operação, exploração e conservação de estrada de ferro entre Cuiabá (MT) e: a) Uberaba/Uberlândia (MG), b) Santa Fé do Sul (SP), na margem direita do rio Paraná, c) Porto Velho (RO) e d) Santarém (PA)”. Destaca-se o objetivo da concessão que é a criação de um sistema de transporte ferroviário centrado em Cuiabá. Bem mais que uma simples ligação entre dois pontos, trata-se de um macro-projeto para a Amazônia meridional brasileira e Cuiabá é o alfa e o ômega desse grande projeto.
A concessão não deixa ao concessionário a prerrogativa de chegar ou não aos pontos citados, decidindo ao sabor de suas conveniências ou de eventuais pressões e interesses provincianos momentâneos de quaisquer espécies. É para ser cumprida na íntegra. Sua objetividade vem de profundos e competentes estudos técnicos, inclusive de viabilidade econômica, feitos entre 1987 e 1988, dando seqüência a numerosos outros estudos, que vem desde Euclides da Cunha em 1901, passando pelo magnífico trabalho feito pelo GEIPOT em 1974, todos apontando não só a viabilidade, mas a necessidade da ligação de Cuiabá ao sistema ferroviário nacional. De lá para cá o desenvolvimento excepcional de Cuiabá e Mato Grosso, superou em muito todas as expectativas, ratificando todos os estudos de viabilidade precedentes.
Em 1989 imaginava-se que logo o trem chegaria a Rondonópolis, Cuiabá e subiria o norte de Mato Grosso rumo a Santarém e Porto Velho, situação esta ainda muito distante, passados 20 anos, infelizmente. Contudo, apesar do atraso, teríamos hoje muito a comemorar, pois a ferrovia já avançou mais da metade de sua distância original até Cuiabá, e venceu seus maiores obstáculos, dentre os quais a travessia do rio Paraná. Seu traçado técnico até Cuiabá até já foi submetido a uma audiência pública, ficando com uma só pendência: a proximidade da Reserva Tereza Cristina (700 metros fora), sendo recomendado um maior afastamento. Só isso. Esse traçado ficou conhecido como “o traçado original” por ter sido defendido pessoalmente pelo próprio “pai” da ferrovia, senador Vicente Emílio Vuolo. Assim, graças a bravura e abnegação pessoal do senador Vuolo, teríamos sim muito a comemorar pois a ferrovia avançou bastante, ainda que menos que o desejado.
Mas, como comemorar se após esse hercúleo trabalho, o projeto da Ferronorte está por sofrer um bem urdido golpe que lhe poderá ser fatal? O traçado original de 200 Km até Cuiabá está sendo substituído por outro de mais de 400 km(!), subindo a serra em Rondonópolis, sob o pretexto de uma falsa ameaça do traçado original à Reserva Tereza Cristina e, se a ferrovia subir a serra lá, não descerá para Cuiabá nem como um ramal. De lá seguirá direto rumo norte, excluindo o Mato Grosso platino do eixo do desenvolvimento e explodindo o estado.
Os problemas criados pela malícia e ambição humanas são bem mais difíceis do que os obstáculos naturais da distância e dos acidentes geográficos. Após 20 anos de concessão é necessário redobrar a luta, deixar de lado a extrema boa-fé do cuiabano e suas luvas de pelica, para que a ferrovia chegue a Santarém e Porto Velho, levando o progresso para todo Mato Grosso, mas passando por Cuiabá, conforme define a lei e o traçado original deixados pelo senador Vuolo, bem como está fixado na vintenária concessão outorgada à Ferronorte.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 26/05/2009)
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terça-feira, 19 de maio de 2009
SEJA BEM VINDA A BASE AÉREA
José Antonio Lemos dos Santos
Na semana passada foi noticiado que o Ministério da Defesa e a FAB instalarão em Cáceres uma Base Aérea do CIOPAER, com apoio do governo do estado. Alvíssaras! Tomara que a realização dessa notícia seja imediata. O Diário de Cuiabá me tem permitido discutir este assunto há quase 10 anos em vários artigos destacando a importância do espaço aéreo mato-grossense para a prática dos diversos tipos de tráfico e sua importância fundamental para o equacionamento dos problemas de segurança pública, não só de Mato Grosso – em especial da região de Cáceres e da Grande Cuiabá, mas de todo o Brasil.
É de ressaltar que jamais será suficientemente enaltecido o trabalho que, com todas as dificuldades e riscos, vem sendo feito pelas polícias militar e civil do estado, Polícia Federal, polícias rodoviárias federal e estadual, e pelo Exército, bem como a importância dos governos continuarem incrementando essas ações terrestres na fronteira. Mas, na questão da nossa fronteira é indispensável lembrar que Mato Grosso é um dos únicos estados do Brasil a não dispor de uma Base Aérea. Mato Grosso do Sul tem, Goiás tem, vizinha a de Brasília, e Rondônia tem duas! Considerando os 1.100 quilômetros de fronteira do estado – dos quais 700 em fronteira seca, e que seu território equivale a mais de 10% do território nacional, o absurdo dessa situação salta aos olhos. O problema se agrava na medida em que toda a fronteira nacional esteja protegida, inclusive por Bases Aéreas, e é previsível que as rotas do crime migrem para o único grande “rombo” ainda existente nas fronteiras brasileiras, que fica justamente na nossa fronteira. Como parece estar acontecendo.
Temo que os esforços corajosos e abnegados de nossos policiais não resultem nos resultados que são capazes se não tiverem uma cobertura aérea sistemática e ostensivamente poderosa, a visão do alto, indispensável para uma vigilância eficiente e eficaz que todos esperam. Por mais determinação política, boa vontade e equipamentos de uma estrutura militar terrestre, é fácil entender a impossibilidade de se querer tomar conta só por terra de uma extensão tão ampla como esta, que além da parte seca – mais de 700 quilômetros - tem as áreas do pantanal, com rios, várzeas, e as grandes lagoas e baías.
Este assunto, há quase 10 anos, motivou a Assembléia Legislativa, através de iniciativa do deputado Carlos Brito, a consultar oficialmente o Ministério da Defesa sobre a possibilidade da instalação de uma Base Aérea em Cáceres, tendo recebido uma resposta animadora dependente de maiores estudos, segundo notícias da época, assunto este continuado de forma bem sucedida pelo deputado João Malheiros, que nos traz agora a boa nova da instalação da base. Lúcida decisão, pois Cáceres tem uma posição estratégica privilegiada, à montante do Pantanal, próxima aos maiores núcleos urbanos do Estado, assim como uma localização central em termos da fronteira a ser vigiada, dispondo de uma pista asfaltada de 1.850 x 30 metros, capaz de descer Boeing 737, prontinho para uso imediato... e ocioso, o qual poderá ser cedido, doado, emprestado, ou até, sei lá, dado como contrapartida ao urgente esforço nacional pela segurança pública.
Pena que uma providência aparentemente tão óbvia tenha demorado tanto quando uma das principais prioridades do povo brasileiro e mato-grossense é a segurança pública nas nossas cidades. Além do que penso ser um absurdo, que um estado das dimensões e importância de Mato Grosso, fronteiriço, ser até hoje um dos únicos a não contar com a presença da Força Aérea Brasileira, através de uma Base Aérea.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 19/05/2009)
Na semana passada foi noticiado que o Ministério da Defesa e a FAB instalarão em Cáceres uma Base Aérea do CIOPAER, com apoio do governo do estado. Alvíssaras! Tomara que a realização dessa notícia seja imediata. O Diário de Cuiabá me tem permitido discutir este assunto há quase 10 anos em vários artigos destacando a importância do espaço aéreo mato-grossense para a prática dos diversos tipos de tráfico e sua importância fundamental para o equacionamento dos problemas de segurança pública, não só de Mato Grosso – em especial da região de Cáceres e da Grande Cuiabá, mas de todo o Brasil.
É de ressaltar que jamais será suficientemente enaltecido o trabalho que, com todas as dificuldades e riscos, vem sendo feito pelas polícias militar e civil do estado, Polícia Federal, polícias rodoviárias federal e estadual, e pelo Exército, bem como a importância dos governos continuarem incrementando essas ações terrestres na fronteira. Mas, na questão da nossa fronteira é indispensável lembrar que Mato Grosso é um dos únicos estados do Brasil a não dispor de uma Base Aérea. Mato Grosso do Sul tem, Goiás tem, vizinha a de Brasília, e Rondônia tem duas! Considerando os 1.100 quilômetros de fronteira do estado – dos quais 700 em fronteira seca, e que seu território equivale a mais de 10% do território nacional, o absurdo dessa situação salta aos olhos. O problema se agrava na medida em que toda a fronteira nacional esteja protegida, inclusive por Bases Aéreas, e é previsível que as rotas do crime migrem para o único grande “rombo” ainda existente nas fronteiras brasileiras, que fica justamente na nossa fronteira. Como parece estar acontecendo.
Temo que os esforços corajosos e abnegados de nossos policiais não resultem nos resultados que são capazes se não tiverem uma cobertura aérea sistemática e ostensivamente poderosa, a visão do alto, indispensável para uma vigilância eficiente e eficaz que todos esperam. Por mais determinação política, boa vontade e equipamentos de uma estrutura militar terrestre, é fácil entender a impossibilidade de se querer tomar conta só por terra de uma extensão tão ampla como esta, que além da parte seca – mais de 700 quilômetros - tem as áreas do pantanal, com rios, várzeas, e as grandes lagoas e baías.
Este assunto, há quase 10 anos, motivou a Assembléia Legislativa, através de iniciativa do deputado Carlos Brito, a consultar oficialmente o Ministério da Defesa sobre a possibilidade da instalação de uma Base Aérea em Cáceres, tendo recebido uma resposta animadora dependente de maiores estudos, segundo notícias da época, assunto este continuado de forma bem sucedida pelo deputado João Malheiros, que nos traz agora a boa nova da instalação da base. Lúcida decisão, pois Cáceres tem uma posição estratégica privilegiada, à montante do Pantanal, próxima aos maiores núcleos urbanos do Estado, assim como uma localização central em termos da fronteira a ser vigiada, dispondo de uma pista asfaltada de 1.850 x 30 metros, capaz de descer Boeing 737, prontinho para uso imediato... e ocioso, o qual poderá ser cedido, doado, emprestado, ou até, sei lá, dado como contrapartida ao urgente esforço nacional pela segurança pública.
Pena que uma providência aparentemente tão óbvia tenha demorado tanto quando uma das principais prioridades do povo brasileiro e mato-grossense é a segurança pública nas nossas cidades. Além do que penso ser um absurdo, que um estado das dimensões e importância de Mato Grosso, fronteiriço, ser até hoje um dos únicos a não contar com a presença da Força Aérea Brasileira, através de uma Base Aérea.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 19/05/2009)
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terça-feira, 12 de maio de 2009
MATO GROSSO 261 ANOS
José Antonio Lemos dos Santos
No último dia 9 de maio comemoramos muito discretamente o 261° aniversário de Mato Grosso, data que lembra o ano de 1748, quando o Rei de Portugal, Dom João V, através de Carta Régia determina a criação de duas Capitanias, “uma nas Minas de Goiás e outra nas de Cuiabá”. A Capitania das Minas de Cuiabá virou Capitania de Mato Grosso e para governá-la foi designado Dom Antonio Rolim de Moura, que tomou posse e permaneceu em Cuiabá por cerca de um ano, até que a cidade de Vila Bela fosse construída. Morou no centro histórico de Cuiabá, próximo à praça que tem o seu nome e que é popularmente conhecida como Largo da Mandioca. Depois chegou a ser o Vice-Rei do Brasil, o governante maior do país na época, já que El-Rey ficava em Portugal. Seria possível pensar na restauração da casa de Rolim de Moura, criando uma nova atração turística no centro histórico?
De lá para cá Mato Grosso fez história. “Limitando, qual novo colosso, o ocidente do imenso Brasil”, nas letras de Dom Aquino, Mato Grosso ia do atual Mato Grosso do Sul até os limites do Acre sendo a vanguarda em terras espanholas do território que atualmente é o Brasil, o qual, além de expandir, conseguiu manter e consolidar a peso de muita bravura, heroísmo e sacrifícios. Hoje é uma das regiões mais dinâmicas do planeta, e o principal pólo irradiador e de apoio ao desenvolvimento na Amazônia Meridional. Da grande produção inicial de ouro, Mato Grosso passou a produzir diamantes, borracha, ipecacuanha, carne e hoje desponta como o maior produtor do Brasil em grãos, algodão, gado e biodiesel, posicionando-se como o sétimo estado exportador do país, sendo que sozinho exporta mais que todas as outras unidades federativas do Centro Oeste juntas. No primeiro trimestre deste ano foi o responsável por 57% do saldo comercial do Brasil com o exterior, no valor de US$ 1,73 bilhão, que daria para fazer a ligação ferroviária de Cuiabá a Alto Araguaia, passando por Rondonópolis, e com o troco ainda duplicar a rodovia Rondonópolis/Cuiabá e concluir a obra do Aeroporto Marechal Rondon.
Porém, mais que produtos comercializáveis, o principal produto de Mato Grosso é sua gente – nascidos ou de adoção - cuja qualidade se expressa em expoentes como Antônio João Ribeiro, Barão de Melgaço, Antônio Maria Coelho, Joaquim Murtinho, Rondon, Roberto Campos e os Presidentes Dutra e Jânio Quadros. Dos mais recentes, lembro da figura de Dante de Oliveira, o “Homem das Diretas”, de Ariosto da Riva, Enio Pepino, Norberto Schwantes e Manoel de Barros, o maior poeta brasileiro vivo, entre tantos. Aliás, Mato Grosso já deu ao Brasil dois Presidentes da República eleitos, o que muitos estados mais destacados na federação não fizeram sequer com um de seus filhos.
O aniversário de Mato Grosso é oportunidade para uma grande festa coletiva, com os mato-grossenses em conjunto comemorando nosso estado, com seus símbolos, suas tradições, história, personagens, cultura, ajudando os cidadãos a se identificarem como conterrâneos, como pessoas que têm muitas coisas em comum, promovendo a amizade, a simpatia e generosidade entre eles.
O sucesso de Mato Grosso está no trabalho de sua gente, na diversidade produtiva oferecida por sua extensão territorial e na integração crescente de todas as suas regiões. Mato Grosso unido é forte e supera todas as crises. A sinergia de uma integração cada vez maior construirá aquele Mato Grosso sonhado por todos os mato-grossenses, com menos desequilíbrios regionais e mais qualidade de vida, respeito ambiental e justiça social.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 12/05/2009)
No último dia 9 de maio comemoramos muito discretamente o 261° aniversário de Mato Grosso, data que lembra o ano de 1748, quando o Rei de Portugal, Dom João V, através de Carta Régia determina a criação de duas Capitanias, “uma nas Minas de Goiás e outra nas de Cuiabá”. A Capitania das Minas de Cuiabá virou Capitania de Mato Grosso e para governá-la foi designado Dom Antonio Rolim de Moura, que tomou posse e permaneceu em Cuiabá por cerca de um ano, até que a cidade de Vila Bela fosse construída. Morou no centro histórico de Cuiabá, próximo à praça que tem o seu nome e que é popularmente conhecida como Largo da Mandioca. Depois chegou a ser o Vice-Rei do Brasil, o governante maior do país na época, já que El-Rey ficava em Portugal. Seria possível pensar na restauração da casa de Rolim de Moura, criando uma nova atração turística no centro histórico?
De lá para cá Mato Grosso fez história. “Limitando, qual novo colosso, o ocidente do imenso Brasil”, nas letras de Dom Aquino, Mato Grosso ia do atual Mato Grosso do Sul até os limites do Acre sendo a vanguarda em terras espanholas do território que atualmente é o Brasil, o qual, além de expandir, conseguiu manter e consolidar a peso de muita bravura, heroísmo e sacrifícios. Hoje é uma das regiões mais dinâmicas do planeta, e o principal pólo irradiador e de apoio ao desenvolvimento na Amazônia Meridional. Da grande produção inicial de ouro, Mato Grosso passou a produzir diamantes, borracha, ipecacuanha, carne e hoje desponta como o maior produtor do Brasil em grãos, algodão, gado e biodiesel, posicionando-se como o sétimo estado exportador do país, sendo que sozinho exporta mais que todas as outras unidades federativas do Centro Oeste juntas. No primeiro trimestre deste ano foi o responsável por 57% do saldo comercial do Brasil com o exterior, no valor de US$ 1,73 bilhão, que daria para fazer a ligação ferroviária de Cuiabá a Alto Araguaia, passando por Rondonópolis, e com o troco ainda duplicar a rodovia Rondonópolis/Cuiabá e concluir a obra do Aeroporto Marechal Rondon.
Porém, mais que produtos comercializáveis, o principal produto de Mato Grosso é sua gente – nascidos ou de adoção - cuja qualidade se expressa em expoentes como Antônio João Ribeiro, Barão de Melgaço, Antônio Maria Coelho, Joaquim Murtinho, Rondon, Roberto Campos e os Presidentes Dutra e Jânio Quadros. Dos mais recentes, lembro da figura de Dante de Oliveira, o “Homem das Diretas”, de Ariosto da Riva, Enio Pepino, Norberto Schwantes e Manoel de Barros, o maior poeta brasileiro vivo, entre tantos. Aliás, Mato Grosso já deu ao Brasil dois Presidentes da República eleitos, o que muitos estados mais destacados na federação não fizeram sequer com um de seus filhos.
O aniversário de Mato Grosso é oportunidade para uma grande festa coletiva, com os mato-grossenses em conjunto comemorando nosso estado, com seus símbolos, suas tradições, história, personagens, cultura, ajudando os cidadãos a se identificarem como conterrâneos, como pessoas que têm muitas coisas em comum, promovendo a amizade, a simpatia e generosidade entre eles.
O sucesso de Mato Grosso está no trabalho de sua gente, na diversidade produtiva oferecida por sua extensão territorial e na integração crescente de todas as suas regiões. Mato Grosso unido é forte e supera todas as crises. A sinergia de uma integração cada vez maior construirá aquele Mato Grosso sonhado por todos os mato-grossenses, com menos desequilíbrios regionais e mais qualidade de vida, respeito ambiental e justiça social.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 12/05/2009)
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terça-feira, 5 de maio de 2009
TÚMULOS REVIRADOS
José Antonio Lemos dos Santos
Não sei se é um costume só daqui, mas ainda hoje em Cuiabá se diz que “fulano está se revirando no túmulo” quando acontece alguma coisa no mundo dos vivos que desagrada a um falecido. Indignado, lembro-me muitas vezes desta expressão em relação a alguns homens públicos que já se foram, pelo tratamento dado ao legado que deixaram.
Um deles é Orlando Boni, cuiabano que nunca esqueceu Cuiabá e que ao assumir a presidência da INFRAERO, recusou a reforminha que estava programada para o Aeroporto Marechal Rondon como adaptação à sua recente internacionalização e determinou a construção de uma estação de passageiros à altura de sua importância como um dos principais aeroportos do país. Com a mudança política no governo federal ele deixou a presidência com a obra inconclusa. E inconclusa ficou. Jovem ainda, faleceu sem vê-la concluída.
Pior é a vergonha dos que gostam de falar que nosso estado é campeão disto e daquilo, progresso, modernidade, etc.. Outro dia recebemos uma senhora amiga da família, culta, viajada pelo mundo. Chegou na “ala de desembarque”, ou melhor, naquele muquifo improvisado, todos felizes pelo reencontro, até que ela indagou sobre o banheiro. Constrangidos, mesmo com uma garoazinha tivemos que levá-la à outra ala, separada quase 100 metros. Como desfazer essa primeira péssima impressão, que é a que fica e que milhares estão levando de Mato Grosso? Conta a lenda que foi preciso a então primeira-dama Maria Tereza Goulart passar pelo mesmo constrangimento para que fosse construída a nossa primeira estação de passageiros digna desse nome.
Outro sempre lembrado é o eterno senador Vuolo. Após colocar em lei federal a ligação ferroviária de Cuiabá, conseguiu também a concessão da União para a execução da obra, concessão que neste mês completa 20 anos de existência e nela Cuiabá é mais que apenas o destino de uma ferrovia, mas o centro de um sistema ferroviário, a ser construído e não discutido, interligando Santarém, Porto Velho, Rubinéia e Uberaba/Uberlândia. Muito além disso isso, continuou a luta a tempo de ver o trem chegar a Mato Grosso, impossível sem a ciclópica ponte de quase 1 bilhão de dólares, sobre o rio Paraná, viabilizada por ele. Agora que a ferrovia se encontra praticamente a 200 Km de Cuiabá, sem himalaias ou outros paranás a transpor, tem que assistir lá de cima à criação de falsas dúvidas sobre a economicidade da chegada a Cuiabá, que na verdade é o trecho que viabiliza toda a ferrovia politicamente e também economicamente com cargas de ida e volta. Pior, ante sua ululante viabilidade, pretendem mudar o traçado original passando de 200 para 400 Km, subindo a serra, para depois descê-la e subir novamente, aí sim, inviabilizando-a definitivamente.
E lembro o saudoso Dante de Oliveira, verdadeiro estadista que lançou as bases do extraordinário Mato Grosso que vivemos hoje, com iniciativas e obras estruturantes para o estado, em geral paralisadas ou relegadas, de grandiosidade não entendida por muita gente importante do estado, em especial, de Cuiabá e Várzea Grande. Agora, a Petrobrás diz que neste mês decidirá a localização da fábrica de fertilizantes de 2 bilhões de dólares e que tecnicamente tem tudo para ser em Cuiabá. Ou tinha, já que nossas autoridades, dos governos e da oposição, deixaram sem gás um gasoduto pronto de 250 milhões de dólares, sendo o gás a matéria prima básica para a fábrica, como para muitas outras da indústria química. E agora? Bom, agora é torcer pela força atrativa da economia mato-grossense, principal mercado consumidor da nova fábrica, confiar na boa vontade do presidente Evo e continuar contando com as bênçãos do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 05/05/2009)
Não sei se é um costume só daqui, mas ainda hoje em Cuiabá se diz que “fulano está se revirando no túmulo” quando acontece alguma coisa no mundo dos vivos que desagrada a um falecido. Indignado, lembro-me muitas vezes desta expressão em relação a alguns homens públicos que já se foram, pelo tratamento dado ao legado que deixaram.
Um deles é Orlando Boni, cuiabano que nunca esqueceu Cuiabá e que ao assumir a presidência da INFRAERO, recusou a reforminha que estava programada para o Aeroporto Marechal Rondon como adaptação à sua recente internacionalização e determinou a construção de uma estação de passageiros à altura de sua importância como um dos principais aeroportos do país. Com a mudança política no governo federal ele deixou a presidência com a obra inconclusa. E inconclusa ficou. Jovem ainda, faleceu sem vê-la concluída.
Pior é a vergonha dos que gostam de falar que nosso estado é campeão disto e daquilo, progresso, modernidade, etc.. Outro dia recebemos uma senhora amiga da família, culta, viajada pelo mundo. Chegou na “ala de desembarque”, ou melhor, naquele muquifo improvisado, todos felizes pelo reencontro, até que ela indagou sobre o banheiro. Constrangidos, mesmo com uma garoazinha tivemos que levá-la à outra ala, separada quase 100 metros. Como desfazer essa primeira péssima impressão, que é a que fica e que milhares estão levando de Mato Grosso? Conta a lenda que foi preciso a então primeira-dama Maria Tereza Goulart passar pelo mesmo constrangimento para que fosse construída a nossa primeira estação de passageiros digna desse nome.
Outro sempre lembrado é o eterno senador Vuolo. Após colocar em lei federal a ligação ferroviária de Cuiabá, conseguiu também a concessão da União para a execução da obra, concessão que neste mês completa 20 anos de existência e nela Cuiabá é mais que apenas o destino de uma ferrovia, mas o centro de um sistema ferroviário, a ser construído e não discutido, interligando Santarém, Porto Velho, Rubinéia e Uberaba/Uberlândia. Muito além disso isso, continuou a luta a tempo de ver o trem chegar a Mato Grosso, impossível sem a ciclópica ponte de quase 1 bilhão de dólares, sobre o rio Paraná, viabilizada por ele. Agora que a ferrovia se encontra praticamente a 200 Km de Cuiabá, sem himalaias ou outros paranás a transpor, tem que assistir lá de cima à criação de falsas dúvidas sobre a economicidade da chegada a Cuiabá, que na verdade é o trecho que viabiliza toda a ferrovia politicamente e também economicamente com cargas de ida e volta. Pior, ante sua ululante viabilidade, pretendem mudar o traçado original passando de 200 para 400 Km, subindo a serra, para depois descê-la e subir novamente, aí sim, inviabilizando-a definitivamente.
E lembro o saudoso Dante de Oliveira, verdadeiro estadista que lançou as bases do extraordinário Mato Grosso que vivemos hoje, com iniciativas e obras estruturantes para o estado, em geral paralisadas ou relegadas, de grandiosidade não entendida por muita gente importante do estado, em especial, de Cuiabá e Várzea Grande. Agora, a Petrobrás diz que neste mês decidirá a localização da fábrica de fertilizantes de 2 bilhões de dólares e que tecnicamente tem tudo para ser em Cuiabá. Ou tinha, já que nossas autoridades, dos governos e da oposição, deixaram sem gás um gasoduto pronto de 250 milhões de dólares, sendo o gás a matéria prima básica para a fábrica, como para muitas outras da indústria química. E agora? Bom, agora é torcer pela força atrativa da economia mato-grossense, principal mercado consumidor da nova fábrica, confiar na boa vontade do presidente Evo e continuar contando com as bênçãos do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 05/05/2009)
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terça-feira, 28 de abril de 2009
INVIABILIZANDO A FERROVIA
José Antonio Lemos dos Santos
No último dia 19 o Diário de Cuiabá trouxe matéria da jornalista Marianna Peres com o amigo Francisco Vuolo, vereador e também presidente do Fórum pela Ferrovia em Cuiabá. Intitulada “Prazo final exige celeridade para o cumprimento do aditivo”, diz um de seus trechos sobre a ferrovia: “Como ao longo dos anos houve interferências políticas sobre o projeto e entraves ambientais, a chegada à Capital sofreu a adição de cerca de mais 200 quilômetros no trecho para se distanciar da reserva indígena Teresa Cristina, como também, da Serra de São Vicente. “Com essas alterações, este outro trecho de Rondonópolis a Cuiabá tem orçamento de R$ 700 milhões também e agora prevê, neste percurso, o transporte de passageiros”. Como explicou Vuolo, esta última alteração ao projeto original, que busca autorização, repercutirá em uma injeção de recursos para cidades como Jaciara, Juscimeira e Barão de Melgaço.”.
Resumindo, querem dobrar a distância e os custos do trecho ferroviário entre Rondonópolis a Cuiabá. Uma proposta absurda que se autodenuncia como tal. No afã de realizar a grande obra para Mato Grosso e sonho do seu pai, o vereador não percebeu a armadilha que lhe prepararam. Esse novo trajeto está sendo proposto justamente para inviabilizar a chegada dos trilhos a Cuiabá/Várzea Grande.
A matéria também confirma a existência das interferências políticas antes tidas apenas como suposições. Que interferências políticas e entraves ambientais foram esses? Por que e quem decidiu abandonar o traçado original? Quando da audiência pública que discutiu o trajeto original até Cuiabá, a que estive presente, o único problema que persistiu foi sua passagem próxima a uma reserva indígena, fora da reserva quase 1 Km, rio abaixo. Seria suficiente para acrescentar mais 200 km ao trajeto, praticamente inviabilizando a ferrovia?
Na verdade um terminal em Cuiabá inviabiliza os planos de alguns grupos de Rondonópolis que querem lá o maior terminal ferroviário de Mato Grosso. Existindo um terminal em Cuiabá, como determina a concessão federal e a lei, esvazia o projeto do maior terminal lá, pois toda a carga originária a oeste da área de influência da BR-163 com destino ao sudeste, para consumo interno ou exportação, será embarcada em Cuiabá, também o maior destino das cargas de retorno.
Especialista em cidades, não em ferrovias, aprendi, porém, alguma coisa sobre elas em mais de 30 anos acompanhando o assunto sob o prisma do desenvolvimento urbano e regional. Uma delas é que se a ferrovia subir a serra, não desce de novo para chegar a Cuiabá, pelos custos desse percurso e pelo Parque Nacional de Chapada. Outro ponto é que a Ferronorte é diferente das antigas marias-fumaças, que passavam em cada vila, cada cidade. Sua lógica prevê terminais a cada 200 a 300 Km, em pontos concentradores de carga. E Cuiabá é o maior pólo concentrador de cargas do estado, de ida e de volta. Assim, a proposta do trem passar em Jaciara e Juscimeira (serra acima) e Barão de Melgaço (serra abaixo), afastando-se também da Serra de São Vicente, é um poço de contradições, incompatível com a seriedade do caso.
Este aberrante “projeto” para o trecho Rondonópolis-Cuiabá revela o desespero daqueles que não querem a ferrovia em Cuiabá ante a iminência do estudo de viabilidade – ainda que desnecessário a meu ver - proposto pelo governador aprovar o traçado original defendido pelo eterno senador Vuolo. Seu aparecimento é apenas mais uma tentativa de inviabilizar a chegada a Cuiabá daquela que é uma das mais modernas ferrovias do mundo e, na atualidade, a mais viável de todas.
(Publicado pelo Diário de Cuiiabá em 28/04/2009)
No último dia 19 o Diário de Cuiabá trouxe matéria da jornalista Marianna Peres com o amigo Francisco Vuolo, vereador e também presidente do Fórum pela Ferrovia em Cuiabá. Intitulada “Prazo final exige celeridade para o cumprimento do aditivo”, diz um de seus trechos sobre a ferrovia: “Como ao longo dos anos houve interferências políticas sobre o projeto e entraves ambientais, a chegada à Capital sofreu a adição de cerca de mais 200 quilômetros no trecho para se distanciar da reserva indígena Teresa Cristina, como também, da Serra de São Vicente. “Com essas alterações, este outro trecho de Rondonópolis a Cuiabá tem orçamento de R$ 700 milhões também e agora prevê, neste percurso, o transporte de passageiros”. Como explicou Vuolo, esta última alteração ao projeto original, que busca autorização, repercutirá em uma injeção de recursos para cidades como Jaciara, Juscimeira e Barão de Melgaço.”.
Resumindo, querem dobrar a distância e os custos do trecho ferroviário entre Rondonópolis a Cuiabá. Uma proposta absurda que se autodenuncia como tal. No afã de realizar a grande obra para Mato Grosso e sonho do seu pai, o vereador não percebeu a armadilha que lhe prepararam. Esse novo trajeto está sendo proposto justamente para inviabilizar a chegada dos trilhos a Cuiabá/Várzea Grande.
A matéria também confirma a existência das interferências políticas antes tidas apenas como suposições. Que interferências políticas e entraves ambientais foram esses? Por que e quem decidiu abandonar o traçado original? Quando da audiência pública que discutiu o trajeto original até Cuiabá, a que estive presente, o único problema que persistiu foi sua passagem próxima a uma reserva indígena, fora da reserva quase 1 Km, rio abaixo. Seria suficiente para acrescentar mais 200 km ao trajeto, praticamente inviabilizando a ferrovia?
Na verdade um terminal em Cuiabá inviabiliza os planos de alguns grupos de Rondonópolis que querem lá o maior terminal ferroviário de Mato Grosso. Existindo um terminal em Cuiabá, como determina a concessão federal e a lei, esvazia o projeto do maior terminal lá, pois toda a carga originária a oeste da área de influência da BR-163 com destino ao sudeste, para consumo interno ou exportação, será embarcada em Cuiabá, também o maior destino das cargas de retorno.
Especialista em cidades, não em ferrovias, aprendi, porém, alguma coisa sobre elas em mais de 30 anos acompanhando o assunto sob o prisma do desenvolvimento urbano e regional. Uma delas é que se a ferrovia subir a serra, não desce de novo para chegar a Cuiabá, pelos custos desse percurso e pelo Parque Nacional de Chapada. Outro ponto é que a Ferronorte é diferente das antigas marias-fumaças, que passavam em cada vila, cada cidade. Sua lógica prevê terminais a cada 200 a 300 Km, em pontos concentradores de carga. E Cuiabá é o maior pólo concentrador de cargas do estado, de ida e de volta. Assim, a proposta do trem passar em Jaciara e Juscimeira (serra acima) e Barão de Melgaço (serra abaixo), afastando-se também da Serra de São Vicente, é um poço de contradições, incompatível com a seriedade do caso.
Este aberrante “projeto” para o trecho Rondonópolis-Cuiabá revela o desespero daqueles que não querem a ferrovia em Cuiabá ante a iminência do estudo de viabilidade – ainda que desnecessário a meu ver - proposto pelo governador aprovar o traçado original defendido pelo eterno senador Vuolo. Seu aparecimento é apenas mais uma tentativa de inviabilizar a chegada a Cuiabá daquela que é uma das mais modernas ferrovias do mundo e, na atualidade, a mais viável de todas.
(Publicado pelo Diário de Cuiiabá em 28/04/2009)
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terça-feira, 21 de abril de 2009
CRESCER PARA DENTRO (II)
José Antonio Lemos dos Santos
A amplitude de um assunto como o controle do desenvolvimento de uma cidade com mais de meio milhão de habitantes, visando o adensamento e a otimização de sua infraestrutura em um horizonte de 10 anos, certamente foge ao escopo de um artigo. O da semana passada recebeu dos leitores bons comentários e questionamentos que ajudam a esclarecer a idéia proposta, e por isso abordo alguns deles.
Primeiro, ao me referir à responsabilidade dos cidadãos, lideranças e autoridades da cidade no processo, referia-me não só ao prefeito, mas também, aos vereadores - co-autores da lei - e mesmo ao Ministério Público, não só o Estadual, mas sobretudo o Federal, pois o respeito ao perímetro urbano é determinado por lei federal.
Outro ponto foi a expressão “crescer para dentro” ter erradamente dado a idéia de trazer toda a futura população adicional da cidade para o seu centro histórico, já congestionado, inviabilizando a qualidade de vida, ao invés de melhorá-la. Diferente disso, a idéia é crescer ocupando os espaços vazios e os milhares de lotes ociosos existentes dentro da macrozona urbana, excessivamente extensa devido a conjuntos oficiais construídos por governos no passado, fora do perímetro urbano da época, forçando sua ampliação para abrangê-los e permitir suas regularizações.
Cuiabá tem uma macrozona urbana com 252 Km² de área, para cerca de 600 mil habitantes, o que dá a baixíssima densidade de 24 habitantes por hectare. Para comparação, a cidade de Nova York, na ilha de Manhattan, tem uma área de 59,5 Km² para 1,6 milhão de habitantes, enquanto que Paris tem 105,4 Km², para 2,2 milhões de habitantes, ambas, portanto, com densidades superiores a 200 hab./ha e, mesmo assim, referências mundiais em qualidade de vida urbana. Uma das razões desse padrão de qualidade é justamente a otimização do espaço urbano, pela qual ambas têm seus custos operacionais per capita 10 vezes menores que os de Cuiabá, por exemplo, podendo oferecer 10 vezes mais benefícios para sua população pelo mesmo preço.
Mesmo que a Carta de Atenas recomende, não dá para chegar a tais padrões, nem se quisesse. Obedecidos os limites do perímetro urbano e mantidas as atuais taxas de crescimento demográfico para os próximos 10 anos, o adicional de população previsto para o período vai girar entre 130 e 150 mil habitantes, ou seja, não chegaríamos nem aos 30 hab/ha. Seria pouco (aparentemente) em termos de redução de custos, porém com a enorme vantagem de evitar seus acréscimos, como os já sofridos por Cuiabá por causa das ampliações urbanas irresponsáveis citadas.
O crescimento demográfico previsto demandaria entre 33 a 38 mil novas moradias e, hoje, Cuiabá conta com 40 a 45 mil lotes ociosos, já com arruamento e alguns serviços urbanos, no mínimo. Então, em tese, toda a população adicional prevista para Cuiabá nos próximos 10 anos poderia ser acomodada em residências unifamiliares sem precisar abrir mais um metro de rua. Se um quadro desse fosse possível, os investimentos a ser feitos em novas áreas seriam aplicados em áreas já ocupadas, melhorando seus padrões de infraestrutura, beneficiando também os moradores atuais, carentes da qualidade urbana.
Distantes dos níveis de Paris ou de Nova York, os 50 hab/ha de São José do Rio Preto são uma boa referência tupiniquim. O respeito aos limites do perímetro urbano é fundamental para que se alcance níveis mínimos de administrabilidade e viabilização urbanas, indispensáveis ao desenvolvimento dos padrões de qualidade da vida que queremos para Cuiabá por ocasião de seu tricentenário.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 21/04/2009)
A amplitude de um assunto como o controle do desenvolvimento de uma cidade com mais de meio milhão de habitantes, visando o adensamento e a otimização de sua infraestrutura em um horizonte de 10 anos, certamente foge ao escopo de um artigo. O da semana passada recebeu dos leitores bons comentários e questionamentos que ajudam a esclarecer a idéia proposta, e por isso abordo alguns deles.
Primeiro, ao me referir à responsabilidade dos cidadãos, lideranças e autoridades da cidade no processo, referia-me não só ao prefeito, mas também, aos vereadores - co-autores da lei - e mesmo ao Ministério Público, não só o Estadual, mas sobretudo o Federal, pois o respeito ao perímetro urbano é determinado por lei federal.
Outro ponto foi a expressão “crescer para dentro” ter erradamente dado a idéia de trazer toda a futura população adicional da cidade para o seu centro histórico, já congestionado, inviabilizando a qualidade de vida, ao invés de melhorá-la. Diferente disso, a idéia é crescer ocupando os espaços vazios e os milhares de lotes ociosos existentes dentro da macrozona urbana, excessivamente extensa devido a conjuntos oficiais construídos por governos no passado, fora do perímetro urbano da época, forçando sua ampliação para abrangê-los e permitir suas regularizações.
Cuiabá tem uma macrozona urbana com 252 Km² de área, para cerca de 600 mil habitantes, o que dá a baixíssima densidade de 24 habitantes por hectare. Para comparação, a cidade de Nova York, na ilha de Manhattan, tem uma área de 59,5 Km² para 1,6 milhão de habitantes, enquanto que Paris tem 105,4 Km², para 2,2 milhões de habitantes, ambas, portanto, com densidades superiores a 200 hab./ha e, mesmo assim, referências mundiais em qualidade de vida urbana. Uma das razões desse padrão de qualidade é justamente a otimização do espaço urbano, pela qual ambas têm seus custos operacionais per capita 10 vezes menores que os de Cuiabá, por exemplo, podendo oferecer 10 vezes mais benefícios para sua população pelo mesmo preço.
Mesmo que a Carta de Atenas recomende, não dá para chegar a tais padrões, nem se quisesse. Obedecidos os limites do perímetro urbano e mantidas as atuais taxas de crescimento demográfico para os próximos 10 anos, o adicional de população previsto para o período vai girar entre 130 e 150 mil habitantes, ou seja, não chegaríamos nem aos 30 hab/ha. Seria pouco (aparentemente) em termos de redução de custos, porém com a enorme vantagem de evitar seus acréscimos, como os já sofridos por Cuiabá por causa das ampliações urbanas irresponsáveis citadas.
O crescimento demográfico previsto demandaria entre 33 a 38 mil novas moradias e, hoje, Cuiabá conta com 40 a 45 mil lotes ociosos, já com arruamento e alguns serviços urbanos, no mínimo. Então, em tese, toda a população adicional prevista para Cuiabá nos próximos 10 anos poderia ser acomodada em residências unifamiliares sem precisar abrir mais um metro de rua. Se um quadro desse fosse possível, os investimentos a ser feitos em novas áreas seriam aplicados em áreas já ocupadas, melhorando seus padrões de infraestrutura, beneficiando também os moradores atuais, carentes da qualidade urbana.
Distantes dos níveis de Paris ou de Nova York, os 50 hab/ha de São José do Rio Preto são uma boa referência tupiniquim. O respeito aos limites do perímetro urbano é fundamental para que se alcance níveis mínimos de administrabilidade e viabilização urbanas, indispensáveis ao desenvolvimento dos padrões de qualidade da vida que queremos para Cuiabá por ocasião de seu tricentenário.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 21/04/2009)
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terça-feira, 14 de abril de 2009
CRESCER PARA DENTRO
José Antonio Lemos dos Santos
A uma década de seu tricentenário e vivendo pela primeira vez em sua história condições locais e regionais impulsionadoras, Cuiabá nesse período pode dar um salto significativo em sua qualidade de vida urbana. As condições existem e esse é o tempo mínimo necessário à construção do que seria o maior e melhor presente na festa de seus 300 anos. Para isso é preciso muito dinheiro, é óbvio. Público e privado. Felizmente, porém o dinheiro é apenas um grande problema que, entretanto, se tornará muito maior se adotado como início de uma empreitada deste tipo. Há outras maneiras mais corretas de iniciar.
Em geral as cidades crescem a partir dos próprios recursos que geram ou que são capazes de atrair. Cuiabá vive um momento positivo, por polarizar uma das regiões mais dinâmicas do planeta, que demanda novos empreendimentos estimuladores do capital local e, principalmente do capital externo. Assim, a cidade hoje tem recursos, notadamente privados, e por isso vem se transformando espontaneamente a olhos vistos. O dinheiro, ou melhor, o capital é atraído pelas suas chances de reprodução e, docilmente, como uma cadelinha amestrada de Nélson Rodrigues, vem lamber as botas das oportunidades que estão surgindo.
Por onde então começar? Uma cidade é antes de tudo uma grande obra, e nela a primeira coisa que temos a fazer é a sua delimitação física. A delimitação de uma cidade é fundamental desde o tempo dos etruscos que tinham na limitatio a primeira das etapas de sua planificação urbana. No nosso urbanismo atual corresponde à definição do perímetro urbano e a conseqüente macrozona urbana, que uma vez estabelecido em lei específica, deve ser obedecido rigidamente.
A delimitação de uma cidade tem a ver diretamente com sua densidade populacional e, daí, com os seus custos operacionais e de construção. Quanto mais espalhada uma cidade, menos densa ela é e mais elevados são os custos de sua infra-estrutura de equipamentos e serviços por habitante. As cidades medievais mantinham densidades acima dos 200 habitantes por hectare para manter principalmente sua muralha, seu principal e mais dispendioso equipamento urbano.
A Carta de Atenas, um dos documentos básicos do urbanismo, recomenda densidades em torno dos 250 habitantes por hectare como o ideal, a expressão do encontro entre as curvas da economicidade e do conforto, ou seja, onde a população pode viver bem com os menores custos urbanos. Cuiabá convive com uma densidade baixíssima, pouco superior a 21 habitantes por hectare, isto é, em tese sua macrozona urbana teria condições de receber 10 vezes mais população do que a que tem hoje, reduzindo 10 vezes seus custos per capita. E quanto menores os custos, evidentemente, maior facilidade para disponibilização dos equipamentos e serviços urbanos. Resumindo, Cuiabá tem hoje, por exemplo, muito mais asfalto, iluminação pública, rede elétrica e de água, escolas, equipamentos de saúde, e seus ônibus e caminhões de lixo rodam muito mais do que seria necessário para atender sua população se estivesse disposta de forma mais compacta.
Fazer a cidade crescer para dentro, evitando a qualquer custo a ampliação de sua macrozona urbana, é fundamental na busca da qualidade de vida urbana. A lei do perímetro já existe, basta cumpri-la nestes 10 anos. Não é preciso dinheiro adicional, só vontade e determinação do poder público e, principalmente, uma população consciente e disposta a cobrar sua execução. O adensamento urbano, otimizando a infra-estrutura e reduzindo os custos operacionais da cidade seria um ótimo começo na preparação da festa do tricentenário de Cuiabá.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 14/04/2009)
A uma década de seu tricentenário e vivendo pela primeira vez em sua história condições locais e regionais impulsionadoras, Cuiabá nesse período pode dar um salto significativo em sua qualidade de vida urbana. As condições existem e esse é o tempo mínimo necessário à construção do que seria o maior e melhor presente na festa de seus 300 anos. Para isso é preciso muito dinheiro, é óbvio. Público e privado. Felizmente, porém o dinheiro é apenas um grande problema que, entretanto, se tornará muito maior se adotado como início de uma empreitada deste tipo. Há outras maneiras mais corretas de iniciar.
Em geral as cidades crescem a partir dos próprios recursos que geram ou que são capazes de atrair. Cuiabá vive um momento positivo, por polarizar uma das regiões mais dinâmicas do planeta, que demanda novos empreendimentos estimuladores do capital local e, principalmente do capital externo. Assim, a cidade hoje tem recursos, notadamente privados, e por isso vem se transformando espontaneamente a olhos vistos. O dinheiro, ou melhor, o capital é atraído pelas suas chances de reprodução e, docilmente, como uma cadelinha amestrada de Nélson Rodrigues, vem lamber as botas das oportunidades que estão surgindo.
Por onde então começar? Uma cidade é antes de tudo uma grande obra, e nela a primeira coisa que temos a fazer é a sua delimitação física. A delimitação de uma cidade é fundamental desde o tempo dos etruscos que tinham na limitatio a primeira das etapas de sua planificação urbana. No nosso urbanismo atual corresponde à definição do perímetro urbano e a conseqüente macrozona urbana, que uma vez estabelecido em lei específica, deve ser obedecido rigidamente.
A delimitação de uma cidade tem a ver diretamente com sua densidade populacional e, daí, com os seus custos operacionais e de construção. Quanto mais espalhada uma cidade, menos densa ela é e mais elevados são os custos de sua infra-estrutura de equipamentos e serviços por habitante. As cidades medievais mantinham densidades acima dos 200 habitantes por hectare para manter principalmente sua muralha, seu principal e mais dispendioso equipamento urbano.
A Carta de Atenas, um dos documentos básicos do urbanismo, recomenda densidades em torno dos 250 habitantes por hectare como o ideal, a expressão do encontro entre as curvas da economicidade e do conforto, ou seja, onde a população pode viver bem com os menores custos urbanos. Cuiabá convive com uma densidade baixíssima, pouco superior a 21 habitantes por hectare, isto é, em tese sua macrozona urbana teria condições de receber 10 vezes mais população do que a que tem hoje, reduzindo 10 vezes seus custos per capita. E quanto menores os custos, evidentemente, maior facilidade para disponibilização dos equipamentos e serviços urbanos. Resumindo, Cuiabá tem hoje, por exemplo, muito mais asfalto, iluminação pública, rede elétrica e de água, escolas, equipamentos de saúde, e seus ônibus e caminhões de lixo rodam muito mais do que seria necessário para atender sua população se estivesse disposta de forma mais compacta.
Fazer a cidade crescer para dentro, evitando a qualquer custo a ampliação de sua macrozona urbana, é fundamental na busca da qualidade de vida urbana. A lei do perímetro já existe, basta cumpri-la nestes 10 anos. Não é preciso dinheiro adicional, só vontade e determinação do poder público e, principalmente, uma população consciente e disposta a cobrar sua execução. O adensamento urbano, otimizando a infra-estrutura e reduzindo os custos operacionais da cidade seria um ótimo começo na preparação da festa do tricentenário de Cuiabá.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 14/04/2009)
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quarta-feira, 8 de abril de 2009
CUIABÁ 300-10
José Antonio Lemos dos Santos
Em um local chamado Ikuiapá, com grandes pedras claras onde se pescava com flecha-arpão e um corguinho desembocava em um belo rio, o ouro fez surgir, corgo acima, uma cidade que floresceu bonita e se chamou Cuiabá. Celula-mater do ocidente brasileiro, gerou muitas outras, inclusive estados. E o pequeno córrego tinha tanto ouro que era chamado Ikuiebo, córrego das estrelas, tantas as pepitas que cintilavam à luz do sol e da lua aos olhos bororos, nativos.
Por breve tempo, Cuiabá foi a mais populosa cidade do Brasil, de onde a Europa levou muito ouro, dinamismo que só durou enquanto durou o ouro. Seu fim seria o das cidades-fantasmas dos garimpos não fosse sua localização mágica, privilegiada, no centro do continente, em terras espanholas na época, cuja perspectiva de riqueza chama a atenção de Portugal. E então o Papa decide que o limite entre as terras dos dois países não seria mais definido pela linha do Tratado de Tordesilhas e sim pelo seu uso. Por ser a vanguarda física da coroa portuguesa nessa disputa, Cuiabá sobrevive ao fim do ouro, dando seu primeiro salto de desenvolvimento – o da sobrevivência, agora baluarte português, apoio e defesa dos interesses lusos.
Logo Portugal criou a Capitania de Mato Grosso cujo primeiro governo foi instalado em Cuiabá, permanecendo como sua sede durante a construção da futura capital, Vila Bela. Por dois séculos sobreviveu à duras penas, com tempos melhores e piores, inclusive, recuperando nesse ínterim o status de capital. Período heróico que forjou uma gente brava, alegre e hospitaleira, capaz de produzir um dos mais ricos patrimônios culturais do Brasil, com vultos e proezas históricas que merecem melhor tratamento da história oficial brasileira. Como um astronauta contemporâneo, vanguarda humana na imensidão do espaço, ligado à nave apenas por um cordão prateado, assim Cuiabá sobreviveu por séculos, solta na imensidão do hinterland continental, ligada à civilização apenas pelo cordão platino dos rios Cuiabá e Paraguai.
Até que na década de 60 a cidade é sacudida novamente, transforma-se no “portal da Amazônia” e em pouco tempo viu sua população decuplicar. Foi o salto da quantidade, era a expansão física necessária como base à ocupação da Amazônia meridional, que se deu sem o preparo adequado nem o devido apoio federal que exigia essa importante função urbana de interesse nacional. Sozinha e sem recursos próprios, no centro de uma região que apoiava e promovia, mas que também não dispunha de recursos, Cuiabá teve que receber seus novos habitantes sem poder oferecer a devida qualidade de vida urbana.
No alvorecer do novo milênio, Cuiabá vive o seu terceiro salto de desenvolvimento, agora o salto da qualidade. Cuiabá não é mais o centro de um vazio. Ao contrário, polariza uma das regiões mais dinâmicas do planeta, que ajudou a construir e que hoje não apenas lhe cobra o apoio, mas também a impulsiona para cima, em um sadio e maduro processo de simbiose regional ascendente.
Formando com Várzea Grande a maior cidade do oeste brasileiro, Cuiabá tem muito a comemorar nos seus 290 anos. Seu maior presente é o próprio presente que vive: dinâmica, moderna, globalizada, sintonizada como o mundo. Mas, mais que um aniversário, 290 anos é o início da última década antes do tricentenário. A responsabilidade da atual geração de cuiabanos, suas autoridades e lideranças, é fazer com que o salto da qualidade do novo tempo se materialize também na qualidade da cidade física em que vivemos, construindo aquele que será o maior presente para os 300 anos. E temos 10 anos para construí-lo.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 08/04/2009, excepcionalmente numa quarta-feira, aniversário da cidade)
Em um local chamado Ikuiapá, com grandes pedras claras onde se pescava com flecha-arpão e um corguinho desembocava em um belo rio, o ouro fez surgir, corgo acima, uma cidade que floresceu bonita e se chamou Cuiabá. Celula-mater do ocidente brasileiro, gerou muitas outras, inclusive estados. E o pequeno córrego tinha tanto ouro que era chamado Ikuiebo, córrego das estrelas, tantas as pepitas que cintilavam à luz do sol e da lua aos olhos bororos, nativos.
Por breve tempo, Cuiabá foi a mais populosa cidade do Brasil, de onde a Europa levou muito ouro, dinamismo que só durou enquanto durou o ouro. Seu fim seria o das cidades-fantasmas dos garimpos não fosse sua localização mágica, privilegiada, no centro do continente, em terras espanholas na época, cuja perspectiva de riqueza chama a atenção de Portugal. E então o Papa decide que o limite entre as terras dos dois países não seria mais definido pela linha do Tratado de Tordesilhas e sim pelo seu uso. Por ser a vanguarda física da coroa portuguesa nessa disputa, Cuiabá sobrevive ao fim do ouro, dando seu primeiro salto de desenvolvimento – o da sobrevivência, agora baluarte português, apoio e defesa dos interesses lusos.
Logo Portugal criou a Capitania de Mato Grosso cujo primeiro governo foi instalado em Cuiabá, permanecendo como sua sede durante a construção da futura capital, Vila Bela. Por dois séculos sobreviveu à duras penas, com tempos melhores e piores, inclusive, recuperando nesse ínterim o status de capital. Período heróico que forjou uma gente brava, alegre e hospitaleira, capaz de produzir um dos mais ricos patrimônios culturais do Brasil, com vultos e proezas históricas que merecem melhor tratamento da história oficial brasileira. Como um astronauta contemporâneo, vanguarda humana na imensidão do espaço, ligado à nave apenas por um cordão prateado, assim Cuiabá sobreviveu por séculos, solta na imensidão do hinterland continental, ligada à civilização apenas pelo cordão platino dos rios Cuiabá e Paraguai.
Até que na década de 60 a cidade é sacudida novamente, transforma-se no “portal da Amazônia” e em pouco tempo viu sua população decuplicar. Foi o salto da quantidade, era a expansão física necessária como base à ocupação da Amazônia meridional, que se deu sem o preparo adequado nem o devido apoio federal que exigia essa importante função urbana de interesse nacional. Sozinha e sem recursos próprios, no centro de uma região que apoiava e promovia, mas que também não dispunha de recursos, Cuiabá teve que receber seus novos habitantes sem poder oferecer a devida qualidade de vida urbana.
No alvorecer do novo milênio, Cuiabá vive o seu terceiro salto de desenvolvimento, agora o salto da qualidade. Cuiabá não é mais o centro de um vazio. Ao contrário, polariza uma das regiões mais dinâmicas do planeta, que ajudou a construir e que hoje não apenas lhe cobra o apoio, mas também a impulsiona para cima, em um sadio e maduro processo de simbiose regional ascendente.
Formando com Várzea Grande a maior cidade do oeste brasileiro, Cuiabá tem muito a comemorar nos seus 290 anos. Seu maior presente é o próprio presente que vive: dinâmica, moderna, globalizada, sintonizada como o mundo. Mas, mais que um aniversário, 290 anos é o início da última década antes do tricentenário. A responsabilidade da atual geração de cuiabanos, suas autoridades e lideranças, é fazer com que o salto da qualidade do novo tempo se materialize também na qualidade da cidade física em que vivemos, construindo aquele que será o maior presente para os 300 anos. E temos 10 anos para construí-lo.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 08/04/2009, excepcionalmente numa quarta-feira, aniversário da cidade)
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