"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 10 de junho de 2014

A COPA DOS IPÊS

Os primeiros do ano em foto de Ademar Poppi.


 José Antonio Lemos dos Santos

     Que todas as coisas neste ano da Copa pudessem atrasar, mas eles não se atrasariam nunca. De novo, no tempo certo, eles estão aí com suas copas coloridas, embelezando a cidade e o estado. Chegam primeiro em rosa, depois no roxo, branco e amarelo. Algum de nós fica indiferente ante um ipê florido? Imagine os turistas estrangeiros. Até os japoneses que têm nas suas cerejeiras em flor uma das maravilhas do mundo, com certeza também se encantarão com nossos ipês, a flor oficial do Brasil desde o presidente mato-grossense Jânio Quadros. 
     Os ipês floridos, que poderão ser a maior atração da Copa do Pantanal, passou distante dos planejamentos, das verbas e das preocupações de todos. E talvez tenha sido até bom, pois de outra forma haveria o risco de algum luminar projetar substituí-los por novas mudas, que certamente seriam bem caras e não estariam florindo a tempo da Copa. Absurdo? Não nestes tempos pós-modernos que nos surpreendem a toda hora para o bem ou para o mal. Ora, não fecharam com tapumes a paisagem da Chapada a pretexto de salvá-la, privando o povo mato-grossense e brasileiro do orgulho de exibir aos visitantes da Copa um de seus mais preciosos patrimônios naturais? Faz lembrar a história do gênio que matou o cachorro para acabar com as pulgas.
     Mas os ipês estão aí, chegando aos poucos, exibidos, cientes de sua própria beleza, chamando nossa atenção desde longe nas paisagens e ensinando que a graça e a beleza de uma cidade está no carinho e respeito que dedicamos a seus valores naturais, culturais e à vida de sua gente. Que venham os novos edifícios, arenas, fábricas, shoppings avenidas, viadutos, pontes e trincheiras, se necessários, mas não dá para esquecer os ipês, que por isso estão aí a cada ano protestando com sua beleza forte e delicada de cores e formas. Nada mais belo e digno a oferecer aos nossos visitantes. Na Copa do Pantanal cuja principal atração deveria ser a natureza, justamente ela foi deixada em segundo plano. Talvez este tenha sido seu principal equívoco, entre os tantos acertos e erros cometidos. Mas os erros também são absorvidos como legado positivo por aqueles que os aceitam como lição. 
     E a bola da Copa vai rolar nesta quinta próxima. Que bonito ver a cidade também se enfeitar com bandeiras e cores, com operários e máquinas em grande esforço para concluir tudo aquilo que ainda puder ser concluído. Obras em andamento são motivos de orgulho e os visitantes ficarão admirados com uma cidade literalmente em obras públicas e privadas, refletindo uma região que se transforma em uma das mais dinâmicas e produtivas do planeta e todo seu esforço na preparação para recepcionar um dos maiores eventos do mundo. Que alegria acompanhar pela internet uma das caravanas de chilenos com cerca de 800 carros enfeitados atravessando os Andes rumo a Cuiabá, onde apoiarão sua seleção ao lado de outros milhares de conterrâneos e de sua presidente da República. Bom ver que a cidade e o estado começam a receber também os primeiros australianos, russos, coreanos, nigerianos, colombianos, bósnios e japoneses, e que nosso aeroporto já liberou – sem lona e tão pouco noticiado - seus novos saguão principal, estacionamento e área de desembarque para recebê-los. 
     Não dá para errar o foco de novo. Vamos receber os visitantes com aquilo que temos de mais autêntico e original, razão da Copa do Pantanal, que são nossas belezas naturais e nosso modo de viver, em especial a alegria e hospitalidade. E, daí sim - por que não? – receber também com a beleza de nossa cidade e estado, construída por nossas mãos ao longo de quase três séculos e sintetizada na maravilha high-tech da Arena Pantanal. A beleza dos ipês nos apoiará. 
(Publicado em 10/06/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

domingo, 8 de junho de 2014

A ARENA DE MINHA JANELA

A série de postagens com fotos da evolução das obras da ARENA PANTANAL a cada início de mês até sua conclusão inspirou a arquiteta Juliana Demartini ao fotografar a arena da janela do avião. E mandou para o Blog do José Lemos. Destaco o novo equipamento dentro da malha urbana em um bairro que já contava com um equipamento semelhante, o saudoso Verdão. Conforme já argumentei em alguns artigos quando da escolha do local, as vantagens a meu ver são pelo menos duas: a região já estava acostumada com os impactos e os melhoramentos na infraestrutura beneficiam uma região já habitada. O principal problema são os transtornos enquanto acontecem as obras. Vejam:


Fotos Juliana Demartini

quinta-feira, 5 de junho de 2014

DESAFOGO

 - Atualizado em 

Governo inaugura terminal de 




desembarque no aeroporto de 




Cuiabá

Nova ala melhora fluxo de passageiros, que vinham sofrendo com local improvisado. Obras no local seguem até agosto, segundo a Infraero




Fotos Edson Rodrigues - Secopa MT

Ainda inacabado e prestes a receber a Copa do Mundo, o saguão de desembarque do Aeroporto Internacional Marechal Rondon, em Várzea Grande (ao lado de Cuiabá), foi liberado nesta segunda-feira. Com isso, o local que vinha sendo usado para o desembarque fica livre para receber somente o embarque (antes estava dividido para as duas funções). Agora, a capacidade dobrou em relação ao aeroporto antigo e pode chegar a 5,7 milhões de passageiros por ano. A área passou de 5.460 metros quadrados para 13.200 m². A média de passageiros do aeroporto é de 2,5 milhões. 
O novo espaço tem duas esteiras novas, banheiros, um número maior de assentos, e um balcão de informação sobre a Copa do Mundo que está em funcionamento. O estacionamento também teve a área ampliada. O único entrave do que foi prometido para a Copa do Mundo são as duas pontes de embarque/desembarque (fingers), que ainda estão em teste. 

A Infraero promete entregar o aeroporto completo até agosto, quando tudo deve estar finalizado. O investimento total das obras foi de R$ 98 milhões. 
(Por GloboEsporte.com Cuiabá)

http://globoesporte.globo.com/mt/copa-do-mundo/noticia/2014/06/governo-inaugura-terminal-de-desembarque-no-aeroporto-de-cuiaba.html

terça-feira, 3 de junho de 2014

BEM-VINDO

Foto Christian Guimarães em globoesporte.globo.com

José Antonio Lemos dos Santos

     Com a alma 'lavada e enxaguada' nas águas da goleada do Cuiabá Esporte Clube em João Pessoa contra o até então invicto Botafogo local, registro a chegada à Copa do Pantanal na semana passada do primeiro torcedor estrangeiro. Trata-se de um chileno chamado Cristian Guerra que veio de bicicleta de sua terra até Cuiabá em 4 meses de viagem, após um consumo de 5 jogos de pneus, tudo para assistir e dar força à sua “La Roja”, a seleção de seu país cuja formação atual é considerada a melhor de todas já formada no Chile, tanto que conquistou uma das 8 cabeças de chave da Copa 2014, superando poderosas seleções como as da Itália, Inglaterra, Holanda e França.
     Cuiabano de 'tchapa e cruz', dou minhas boas-vindas a todos os torcedores que começam a chegar a Cuiabá em nome do destemido Cristian. Peço, entretanto, que releve a situação em que se encontra a cidade com muitas obras não-concluídas, grande parte delas envolvendo suas principais avenidas e o próprio aeroporto, do qual foi poupado, pois veio de bicicleta e voltará de carro. Acontece que Cuiabá é a menor das sedes da Copa no Brasil e aquela que mais precisava se esforçar para sediar um evento dessa envergadura. Mesmo assim, de forma corajosa, entrou na disputa por uma das sedes e ganhou, comprometendo-se a preparar-se para receber dignamente os torcedores que viessem acompanhar suas seleções. Para tanto, arriscou-se a desenvolver o maior pacote de obras públicas e privadas de sua história e, como você já deve ter percebido, nem tudo foi concluído.
     Aliás, foi uma artimanha do destino escolher um chileno como o primeiro torcedor a chegar a Cuiabá, permitindo que se juntassem duas histórias bastante parecidas em relação às dificuldades em sediar uma Copa. Preparando-se para a Copa do Mundo de 1962, o Chile sofreu em 1960 um dos maiores terremotos da história recente deixando mais de 5 mil mortos e 25% de sua população desabrigada. Para muitos o Chile devia desistir, pois não daria conta de realizar tão grandioso evento ao mesmo tempo em que deveria socorrer tantos de seus filhos vítimas da grande tragédia. “Porque nada tenemos, lo haremos todo”, foi a frase que levantou o moral do Chile. Os chilenos enfrentaram o flagelo, se prepararam para o grande evento e ainda fizeram sua melhor campanha nas Copas. Não foi mais longe, pois teve pela frente o Brasil com Garrincha fazendo mágicas. O Brasil não tem terremotos, em compensação seu sistema político-administrativo vale mil cataclismas.
     Entretanto, para quem se dispôs a vir de tão longe, nada será bastante para ofuscar as belezas da cidade e as maravilhas deste grande estado de Mato Grosso que pelo seu tamanho é impossível conhecê-las em tão pouco tempo. A começar pelo “calor sadio, às vezes melhor, muito melhor que o frio” do poeta Carmindo, que em princípio assusta, mas que logo nos leva aos barzinhos da cerveja estupidamente gelada, em especial aquelas feitas com águas platinas mato-grossenses. Nada impedirá uma foto junto ao obelisco do Centro da América do Sul, de conhecer o sabor do guaraná, do pacu e do matrinxã, o som forte e alegre do Siriri e do Rasqueado ou o gemido cantado e dançado do Cururu. É fácil chegar a Chapada e ao Pantanal. Se quiser, pode ainda ver as fazendas de gado ou plantações high-tech de soja, algodão, milho e girassol, como seus balés de colheitadeiras e plantadeiras, que ajudam Mato Grosso a matar a fome do mundo. O importante é que todos os visitantes sejam felizes em Mato Grosso, levem boas recordações e sintam vontade de voltar aqui de novo. E que cada uma das seleções que pisarem o gramado da Arena Pantanal consiga sempre seu melhor desempenho e avance o máximo na Copa. 
(Publicado em 03/06/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

Link com matéria sobre o assunto:
http://globoesporte.globo.com/mt/copa-do-mundo/noticia/2014/05/chileno-pedala-3800-km-para-ver-estreia-de-la-roja-em-cuiaba.html

terça-feira, 27 de maio de 2014

O CENTRO DA AMÉRICA NA COPA


DevilleStarClub

José Antonio Lemos dos Santos

     Outro dia me perguntaram qual seria o primeiro lugar em Mato Grosso ao qual eu levaria um turista. Respondi de imediato: ao centro da América do Sul. Certo que existem muitos outros lugares para levá-lo, mas este seria o primeiro. A pessoa, surpresa, estranhou dizendo que lá não tem nada, não estaria preparado para receber o turista. Aí foi minha vez de estranhar: como não tem nada? Ali tem o centro geodésico de um continente. Aquele é um lugar especial único no mundo e bastaria por si só, apenas assinalado por de um marco indicativo, como o que existe no local. Não fosse o edifício que hoje serve à Câmara de Vereadores, o ideal seria uma grande praça, livre, só com o obelisco para fotos dos turistas, festas, cantos, danças e outras manifestações espontâneas ou oficiais reverenciando o fato de vivermos no mesmo continente, irmãos e hermanos no mesmo barco continental.
     Locais especiais como esse têm em si mesmo um potencial de emoção que segura o visitante, podendo ser um poderoso atrativo a mais ao turista. Basta que esteja limpo, seguro, bem iluminado e que sua existência seja informada ao turista. Importante, por favor, que as autoridades não permitam a instalação no local de barracas, tendas para venda do que quer que seja, ao menos durante a realização da Copa. Nem banheiros químicos. Outro dia levei um parente visitante, e para minha surpresa, estava lá um galpão escorado no obelisco do centro da América do Sul. Desrespeito. Fiquei sem graça. O local não precisa de mais nada, basta respeitá-lo e promove-lo. As agências de turismo e a rede hoteleira poderiam ter visitas programadas a serem oferecidas a preços módicos aos turistas. Ao menos na Copa. 
     O marco recebeu recentemente de Jaime Lerner um tratamento arquitetônico, que justamente buscou destacá-lo através da limpeza de sua área mais próxima, aliás da mesma forma como já havia proposto o arquiteto Ademar Poppi no finado IPDU da prefeitura municipal. Como o edifício da Câmara não impede a visitação ao centro geodésico e já está lá, ainda tenho esperança de vê-lo gerando emprego, renda e cultura para a população, transformado em um centro de cultura sul-americano, sobre o qual venho escrevendo desde 1982. 
Foto José Lemos

     Segundo o professor Anibal Alencastro a história desse marco começa com Joseph Barbosa de Sá que no século XVIII já afirmava sobre Cuiabá que: “Achace esta Villa assentada na parte mais interior da América Austral, em altura de quatorze graos não completos ao Sul da linha do Equador, quase em igoal paralelo com a Bahia de Todos os Santos, pela parte Occidental com a cidade de Lima, capital da Província do Peru, em distancia igoal de huma e de outra costa setecentos e sincoenta légoas que sam as mil e quinhentas que tem latitude nesta altura deste continente,...”. 
     Em 1909, a Comissão Rondon, responsável pela implantação da Linha Telegráfica ligando o Rio de Janeiro a Mato Grosso e Amazonas, instalou o importante marco como apoio referencial aos seus trabalhos, e que depois também serviu de base para o trabalho de consolidação das fronteiras brasileiras e de “marco zero” para a elaboração do primeiro mapa do Brasil ao milionésimo, duas outras hercúleas tarefas cumpridas por Rondon de forma extraordinária. Posteriormente foi realizado o mapa da América do Sul que adotou como base o mapa do Brasil ao milionésimo elaborado por Rondon e seus técnicos, o qual teve como centro para todas suas medidas o marco geodésico instalado no antigo Campo D’Ourique. Não temos o direito de negar aos visitantes em geral, e aos da Copa em particular, o privilégio de visita-lo e tocá-lo, no coração do continente sul-americano. 
(Publicado em 27/05/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

domingo, 25 de maio de 2014

O SANTO EM CUIABÁ


Em VGNotícias

Por ocasião da visita da relíquia de São João Paulo II à paróquia de Nossa Senhora Mãe dos Homens veja no link abaixo um site com muitas informações e fotos do santo em Cuiabá:

http://www.vgnoticias.com.br/noticia.php?codigo=21898

terça-feira, 20 de maio de 2014

O CUIABANO QUE TROUXE A COPA

José Antonio Lemos dos Santos

     Domingo passado, dia 18, devíamos ter reverenciado Dutra, o cuiabaninho do Mundéu que vendia bolos no centro de Cuiabá e que chegou a presidente da República. Filho de viúva de veterano da Guerra do Paraguai, pobre, sem nenhuma ajuda saiu daqui lavando pratos nas lanchas e trens que o levaram a um colégio militar, e de lá à presidência da República e à História do país. Foi e venceu, mantendo forte influência na política brasileira até o fim da vida. Um motivo de orgulho nacional, cujo aniversário, entretanto, passou despercebido, em especial, em sua própria terra, desprezo agravado por ser o ano da Copa do Mundo, da qual Cuiabá é uma das sedes. Dutra merecia ser homenageado pela Copa do Pantanal, pois foi este cuiabano quem trouxe para o Brasil a primeira Copa do Mundo, em 1950. Presidente, queria mostrar ao mundo um Brasil novo, com grandes cidades, que deixava de ser rural e se industrializava. Construiu o Maracanã, o maior do mundo, que junto com a Copa trazida por ele foi um dos motivos da consolidação do futebol como uma das maiores paixões nacionais.
     Não fosse pela Copa, mesmo assim o aniversário de Dutra tem que ser lembrado. Injustiçado pela história oficial, sua vida pública inicia como ministro da Guerra, onde ficou por 9 anos, o ministro brasileiro mais duradouro, onde criou a FEB e depois, com o apoio dos oficiais vitoriosos contra as ditaduras nazifascistas, forçou a queda do ditador Getúlio. E de  
ministro foi a presidente pelo voto do povo, tendo sido um dos mais importantes pelas inovações que trouxe ao Brasil. De imediato convocou a Constituinte organizando a volta do país à democracia. Eleito para um mandato de seis anos curvou-se à nova Constituição aceitando os cinco anos que estabelecia, mesmo sendo presidente e o militar mais poderoso do país. Aos que temiam a volta de Getúlio e lhe propunham um golpe para ficar mais um ano, respondeu: “nem um minuto a mais, nem um minuto a menos do que manda o livrinho”. Virou “o homem do livrinho”, da Constituição mais democrática que o Brasil já teve, assinada por ele. Como pode ser esquecido?
Dutra, o primeiro a subir a rampa do Maracanã. (jblog)

     Dutra introduziu o planejamento no Brasil com o Plano SALTE e criou o CNPq, cuja Lei de criação é tida com a Lei Áurea da tecnologia brasileira. Implantou o conceito de Produto Interno Bruto e pavimentou a primeira grande estrada no Brasil, a Via Dutra. Criou o Instituto Rio Branco, base da qualidade de nossa diplomacia, e a Chesf. É dele também a criação do Estado Maior das Forças Armadas e da Escola Superior de Guerra, fundamento da inteligência estratégica nacional. Criou ainda os sistemas Sesi, Sesc e Senai, e durante seu governo foi inaugurada a TV no Brasil. Ficou com a culpa do fechamento do Partido Comunista, na verdade uma decisão do STJ, e por isso, e também por ter fechado os cassinos, desagradou à esquerda formadora dos historiadores, jornalistas e artistas da época, e foi jogado ao ostracismo.
 Dutra assina Decreto de criação do Sesi. (sesisp.org.br)

Foto viadutra.com.br

     Uma das promessas iniciais da Copa do Pantanal foi a criação do Memorial Dutra, uma justa e oportuna homenagem a um presidente tão importante para todos os brasileiros em sua terra natal. O projeto foi depois abandonado pela Copa, mas não pode ser abandonado pelos cuiabanos. Talvez até ampliado com o nome em uma rua como já tem o adversário que derrotou nas eleições presidenciais. Não teria sobrado um viaduto, trincheira ou avenida para ele? Talvez trazer para Cuiabá um Colégio Militar, prometido desde a década de 50? Toda cidade é um centro de produção, mas o produto de uma cidade vai muito além da economia. Seu principal produto é sua gente e a qualidade de seu povo deveria ser a melhor medida de seu sucesso. Por isso, as cidades lembram e reverenciam seus vultos. Infelizmente, nem todas. 
(Publicado em 20/05/14 pelo Diário de Cuiabá)

terça-feira, 13 de maio de 2014

HERÓIS E FERROVIA

José Antonio Lemos dos Santos

     A ideia inicial era escrever sobre a importante reunião do último dia 28 em Brasília quando, depois de quase 2 anos de espera, a UFSC apresentou à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) o estudo comprovando a viabilidade da ferrovia no trecho Rondonópolis – Cuiabá, resultado esperado, pois repete estudos semelhantes que vêm desde pelo menos a década de 70, e confirma o que pode ser visto por qualquer cidadão honesto disposto a ficar uns minutinhos ali na Rodovia dos Imigrantes olhando o movimento das carretas e bitrens. Este trabalho se torna importante, pois sepulta uma inviabilidade inventada que justificaria uma absurda interrupção da Ferronorte em Rondonópolis. A continuidade dessa ferrovia por apenas 460 Km até Lucas do Rio Verde passando por Cuiabá constituí hoje o projeto mais importante e urgente para Mato Grosso. Apesar disso, o noticiário não registrou na reunião a presença de qualquer deputado, federal ou estadual, senador, vereador, prefeito ou qualquer autoridade pública, em especial ligados à Cuiabá ou Várzea Grande, a não ser o ex-secretário de logística Francisco Vuolo, de conhecida e histórica ligação familiar com a obra. 
     Aconteceu, porém, na quinta- feira passada a tragédia na Arena Pantanal, com a morte de Mohammed Ali Dom Paolo Nicholas Poseidon Maciel Afonso, um operário cuiabano, morador de Várzea Grande, morto trabalhando aos 32 anos. Por esta indesejada e triste notícia antecipo o texto que faria depois da Copa em homenagem aos seus verdadeiros heróis, os trabalhadores, aqueles que estão construindo suas magníficas obras (algumas nem tanto) ou que se preparam para prestar os serviços de apoio nas diversas áreas indispensáveis a um evento desse porte. Mas esperava escrever sobre heróis vivos, estes verdadeiros heróis que não são lembrados, nem durante nem depois das obras, a não ser para uma mediazinha nas inaugurações de algumas obras mais midiáticas, ou em tragédias como esta. 
     A estes heróis verdadeiros que estão construindo a Arena Pantanal, VLT, viadutos, trincheiras, avenidas e aqueles que farão com seus serviços a Copa do Pantanal funcionar, antecipo em nome de Mohammed Ali esta minha reverência de cuiabano apaixonado e bairrista que gostaria de poder fazer uma parcela mínima de tudo o que estão fazendo pela minha cidade, apesar de todos os problemas. Mas, neste mês que homenageia o Trabalhador e o aniversário de Mato Grosso, amplio a homenagem a todos os heróis trabalhadores mato-grossenses. Na verdade não consigo desvincular a construção da Arena e tudo o que está acontecendo em Cuiabá com a épica construção de Mato Grosso como líder disparado da produção agropecuária no Brasil e grande potência produtora de alimentos em nível de mundo. Graças ao trabalho sofrido e persistente de sua população, este ano Mato Grosso oferecerá para alimentar o Brasil e o mundo uma safra com cerca de 50 milhões de toneladas de grãos e quase 30 milhões de cabeças de gado. Em contrapartida recebe quase nada ou coisa nenhuma. Não fosse o compromisso internacional da Copa... Saiu agora a estatística dos acidentes em rodovias federais em Mato Grosso para o primeiro semestre, com um acréscimo de 14,2% no número de mortes, chegando a 136 óbitos em mais de 6 acidentes diários em média, matando quase 1 herói ou heroína por dia. Heróis que precisam viajar para trabalhar, para estudar, em férias, para tratamentos de saúde, em suma, para continuar construindo este grande estado. E os seus representantes, regiamente pagos, nem sequer comparecem a uma reunião sobre a continuidade da ferrovia. Certamente, têm suas prioridades. Os produtores que percam, o ambiente que degrade, o povo que morra. 
(Publicado em 13/05/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

terça-feira, 6 de maio de 2014

ESTADO UNIDO DE MATO GROSSO

Aprosoja

José Antonio Lemos dos Santos

     Na próxima sexta, 9 de maio, deveríamos comemorar com muita festa e orgulho o 266° aniversário de Mato Grosso, data que lembra o ano de 1748, quando o rei de Portugal, dom João V, através de Carta Régia, determina a criação de duas Capitanias, “uma nas Minas de Goiás e outra nas de Cuiabá”. A Capitania das Minas de Cuiabá virou a Capitania de Mato Grosso e para governá-la foi designado dom Antonio Rolim de Moura, que tomou posse e permaneceu em Cuiabá por cerca de um ano, até que Vila Bela fosse construída. Morou no centro histórico de Cuiabá, próximo à praça que tem o seu nome e que é popularmente conhecida como Largo da Mandioca. Depois chegou a ser o vice-rei do Brasil, o governante maior no país na época, já que El-Rey ficava em Portugal. Que tal pensar na reconstrução da casa de Rolim de Moura na Mandioca, uma nova atração no centro histórico de Cuiabá? 
     Sei que existem aqueles que acham que não temos nada a comemorar, alegando que em Mato Grosso faltam escolas, hospitais, não tem esgoto, não tem rodovias nem ferrovias, não tem, não tem... São os que só enxergam o que falta. E é bom que existam pessoas assim, em especial os que com essa visão produzem uma crítica positiva. Eu já sou da turma que prefere enxergar aquilo que existe, em especial aquilo que foi produzido pelo trabalho do povo, patrões e empregados, apesar de todas as dificuldades, apesar de tudo aquilo que nos falta. Mato Grosso é hoje o maior produtor agropecuário do país, liderando o país em algodão, milho, girassol e soja e também é um dos maiores produtores de ouro, diamante, madeira, álcool, biodiesel, carnes de frango, suíno, peixe e gado, com um rebanho bovino de quase 30 milhões de cabeças. Mato Grosso não produz armas, bombas atômicas, mísseis, aviões de guerra, como muitos daqueles que nos criticam. Ao contrário, é um dos maiores produtores de alimentos do mundo e com muito orgulho ajuda a matar a fome de um planeta cada vez mais carente de alimentos.
     Para chegar a esta posição Mato Grosso conta com a extensão e diversidade produtiva de seu território e, principalmente, com o trabalho determinado e sofrido de sua gente em todos os cantos. Comemorar os 266 anos de Mato Grosso é festejar a grande obra do mato-grossense que ano passado produziu um superávit comercial de US$ 14,4 bilhões para o Brasil que daria para construir vários hospitais, escolas, ferrovias, duplicações rodoviárias e melhorar em muito a qualidade dos serviços públicos. Mato Grosso literalmente vem entupindo o Brasil de grãos, mostrando ao mundo que o país não se preparou para o tanto que este estado produz, num descompasso que já custa muito caro em termos econômicos, ambientais e de vidas humanas aos mato-grossenses em especial. 
     Comemorar os 266 anos de Mato Grosso não é ufanismo idiota nem se deitar em berço esplêndido, é festejar a riqueza construída e, antes de tudo, cobrar tudo aquilo a que o povo que a produz tem direito. É vibrar com as exibições do Mixto, Luverdense e Cuiabá na Arena Pantanal, palco fantástico da Copa. É ver o cuiabano torcendo pelo Luverdense e o Luverdense torcendo pelo Cuiabá. É ver hoje Mato Grosso rico espantando a pobreza que sempre foi o álibi dos maus governantes. A desculpa da pobreza não vale mais. O mato-grossense tem que festejar com alegria, orgulho e muitas cobranças. O sucesso de Mato Grosso é a força do trabalho de seu povo unido na grandeza e diversidade de seu território, nas dimensões exatas exigidas pelo século XXI, o século da internet, da TV a cabo, do asfalto, do avião a jato... Ainda que tenha muito a consertar, Mato Grosso é para ser festejado, imitado e, sobretudo, aplaudido. Viva Mato Grosso, unido e cada vez mais forte! 
(Publicado em 06/05/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

domingo, 4 de maio de 2014

O SHOW DA NAVE

A Arena Pantanal dando um showzinho durante a visita da Taça do Mundo no último fim de semana, em fotos da arquiteta Cassia Abdallah:






terça-feira, 29 de abril de 2014

MATRIZ DO TRICENTENÁRIO

José Antonio Lemos dos Santos

     Desde que Cuiabá foi escolhida como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014 tenho repetido que essa surpreendente e não sonhada regalia foi um artifício do Senhor Bom Jesus de Cuiabá para dar uma sacudida em nós cuiabanos forçando-nos a entrar no ritmo dos novos tempos de sua cidade, condição para compreendê-la e prepará-la para o seu Tricentenário. Da escolha em 2009 até hoje 5 anos se passaram rapidamente, a Copa chegou e já virou passado em termos de planejamento. Para a Copa do Pantanal, resta-nos concluir as obras que ainda possam ser concluídas a tempo e correr para o abraço na recepção aos visitantes, fazendo a festa da melhor maneira possível.
     A Copa nos fez olhar para o futuro, pensar em projetos para a cidade, correr contra o tempo, discutir obras - seus avanços e transtornos - torcer para tudo dar certo, e esse redirecionamento de perspectiva foi bom e precisa ser cultivado como um dos principais legados do grande evento. Cuiabá não pode perder este pique e para não perdê-lo é fundamental o estabelecimento já de um novo objetivo macro, com data fixa, o Tricentenário, escrito com inicial maiúscula como são tratadas as efemérides. Está bem aí a 5 anos, tempo muito curto como nos ensinou duramente a Copa, com relógios e calendários correndo cada vez mais rápidos. É preciso agir desde agora estabelecendo já uma nova matriz de responsabilidade com metas e projetos a serem alcançados em 2019, nos moldes da que foi feita para a Copa, agora a matriz do Tricentenário, pactuada não mais com a Fifa, mas entre os cuiabanos e sua cidade, os mato-grossenses e sua capital, os brasileiros e a cidade que alargou os horizontes ocidentais do Brasil. 
     Arrisco-me a iniciar com algumas propostas óbvias. A primeira seria concluir ainda dentro do atual governo as obras da matriz da Copa que não ficarem prontas para o evento, o máximo que for possível. A permanência do governador Silval Barbosa até o final de seu mandato foi um gesto fundamental de responsabilidade e visão pública. As obras da Copa correm o risco de dependerem da grandeza ou da mesquinhez política do futuro governador, já que temos a tradição canalha dos governantes não darem continuidade às obras dos antecessores no absurdo raciocínio de que favoreceriam o concorrente. Não só param as obras como prejudicam o funcionamento das que foram concluídas e para isso usam de explicações verdadeiras ou não, tais como corrupção ou mudança de prioridades. Param as obras, mas não punem os supostos corruptos. Punem o povo. E estão descobrindo que obras públicas dão muito trabalho e polêmicas e é muito mais confortável não fazê-las. 
     Uma outra proposta para matriz do Tricentenário seria a revitalização do Centro Histórico de Cuiabá, com rebaixamento da fiação, expandido a toda a área central da cidade, trabalhando o passado dentro de uma perspectiva de futuro, como deve ser feito. Este é um projeto que vem rolando há décadas e que parece estar bem avançado em termos de viabilização pela prefeitura, estado e união. Mas para aprontar e funcionar em 2019 é preciso começar já. Assim também o projeto do atual prefeito de um centro administrativo municipal, no qual só ressalvo que o atual Palácio Alencastro seja preservado como gabinete oficial do prefeito e sede simbólica do poder político de Cuiabá, sob pena de matar o centro histórico da cidade. Importante também seria presentear a cidade com um órgão moderno para o planejamento urbano contínuo de longo prazo de forma que a cidade não evolua mais aos saltos de curto prazo. São muitas as alternativas de projetos a serem avaliadas, com os pés no chão. 2019 já começou. Não dá para subestimar o tempo, o único recurso realmente não renovável. 
(Publicado em 29/04/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

sábado, 26 de abril de 2014

PEQUIM EM BOLHAS

BBCBrasil
BBCBrasil


Arquitetos sugerem 'bolhas de ar limpo' para isolar Pequim da poluição

Atualizado em  21 de abril, 2014 - 16:51 (Brasília) 19:51 GMT

A ideia foi lançada pelo escritório de design e arquitetura londrino Orproject. O projeto "Bolhas" prevê instalar enormes estruturas com vegetação em seu interior, que se encarregaria de regenerar o ar.
Ver mais em
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/04/140421_china_domos_rb.shtml

sexta-feira, 25 de abril de 2014

NOVO SHOPPING EM CUIABÁ

Lançado em agosto de 2012 inicialmente com o nome de Royal como mais um grande empreendimento privado estimulado pela Copa, na semana do aniversário de 295 anos de Cuiabá, a cidade ganhou mais um shopping de grande porte, o ESTAÇÃO CUIABÁ com inauguração prevista para novembro de 2015. Mais empregos e mais qualidade de vida..  Veja abaixo matéria do Diário de Cuiabá sobre o assunto. Outras imagens e informações no site  http://shoppingestacaocuiaba.com.br/ .

Imagem http://shoppingestacaocuiaba.com.br/


     "A BRmalls, a maior empresa de shoppings da América Latina, lança na próxima quinta-feira, dia 10, seu primeiro empreendimento no Estado, o shopping Estação Cuiabá, que será edificado na Capital, na região do trevo do Santa Rosa. O projeto, considerado um presente na semana em que Cuiabá comemora 295 anos, tem previsão de inauguração em novembro do ano que vem. 
     Localizado em uma região nobre e em pleno desenvolvimento, o shopping Estação Cuiabá fica na Avenida Miguel Sutil, próximo ao trevo do bairro Santa Rosa. Seu acesso é fácil e fluido, vindo de uma das maiores avenidas da cidade. Serão 46 mil metros quadrados (m²) de área de lojas, 12 âncoras e megalojas, 207 lojas satélites, três pisos, cinema multiplex, praça de alimentação com 26 operações e mais de mil lugares, alameda gourmet com quatro restaurantes, games, alameda de serviço e 2.150 vagas cobertas para estacionamento. No centro da praça de eventos haverá claraboias que permitem a entrada de luz natural. “No cenário atual, com essas características, o shopping Estação Cuiabá será o maior de Mato Grosso”.
     Como explicam os executivos da BRmalls, a concepção preza pela valorização da cultura e da tradição local, tão ricas e com características marcantes, o shopping Estação Cuiabá teve a sua logomarca inspirada na cuiabania. “Buscou no Festival de Cururu e de Siriri, com as suas saias rodadas e coloridas, a inspiração para as cores e o movimento da imagem que representa o empreendimento”.
     Planejado sob medida para oferecer conforto e uma experiência de compras agradável, o lançamento traz o que há de mais moderno no mercado de shoppings. De fácil circulação, o shopping Estação Cuiabá foi concebido de modo que os corredores e lojas sigam um fluxo circular, no qual o visitante não se perde, além de garantir fácil acesso a todos os andares.
     O setor comercial já está trabalhando com a locação de espaços para lojistas e vem colhendo boa aceitação do mercado. Lojas já confirmadas: C&A, Renner, Riachuelo, Avenida, Cinépolis, City Lar Prime, academia Bio Ritmo, Brooksfield, Brooksfield Jr., Brooksfield Donna, Via Veneto, Vivara, Polo Wear, Track&Field e Planet Park. 
     BRMALLS - A BRmalls, maior empresa de shoppings da América Latina, escolheu a cidade pelo seu grande potencial varejista, pois Cuiabá é um polo comercial e de serviços, e pela força econômica que o Mato Grosso vem apresentando nos último anos. O shopping Estação Cuiabá é o 54º empreendimento da empresa, sendo o 4º do Centro-Oeste e o primeiro em Mato Grosso." 
(Publicado em 08/04/2014 pelo Diário de Cuiabá)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

COMENTÁRIO ESPECIAL

Comentário adicional do arquiteto Sérgio Coelho sobre o artigo "BELÍSSIMA!" (postado com autorização dele):

"Caro Prof. José Antonio, farei na seqüência à essa mensagem privada, madrugada à dentro (depois de um longo dia na GCP, espero conseguir vencer o cansaço...) um comentário "mais enxuto" em seu post "Belissima" feito hoje (ontem) em seu Blog, que tanto emocionou os arquitetos aqui da GCP. Prefiro escrever nesse momento uma mensagem privada de "colega para colega" . Muito obrigado pelas suas palavras, que iniciando pela Tríade Vitruviana, me remeteu aos já longínquos anos de escola, assistindo às aulas de mestres como Eduardo de Almeida, Paulo Mendes da Rocha e Zanettini. É sem dúvida nenhuma, uma honra para mim, ler seus posts "Belissima" e "A Nave Pousou" (como esse título me fez lembrar do genial filme "E la nave va" de outro mestre, o Frederico, me fazendo lembrar o quanto a arquitetura é próxima do cinema, mas essa é outra conversa...), posts que fazem uma análise extremamente apropriada desse novo equipamento que Cuiabá recebe. No primeiro, o desafio do legado, de como pilotar essa nave que claramente nos coloca nessa nova interface da arquitetura com as "media", ou a arquitetura como plataforma, também digital. Tive a felicidade de visitar Medellin no ano passado e fiquei "de quatro" com os Parque Biblioteca, como o Espanha, um verdadeiro HUB, que extrapola muito a simples função convencional de biblioteca. requalifica o entrono, lança a cidade e sua orgulhosa comunidade ao futuro. Lá fiquei emocionado com a arquitetura. Assim sonhei, com extrema humildade que poderia ser em Cuiabá, guardadas as proporções e programas. Desde o dia zero do projeto da Arena Pantanal, entendemos esse projeto também como de requalificação urbana, uma pequena cirurgia de revitalização da área do Verdão. Impusemos que o projeto não fosse apenas de um estádio, mas sim de espaço público qualificado, integrado ao Aecim (daí termos deslocado a arena para o sul e termos feitos as rampas que ligam o nível 00 ao Aecim). E voce com enorme sensibilidade arquitetônica+urbanística percebe tudo isso e apresenta com precisão em seu blog. "Ao fim ao cabo", como dizem nossos colegas d'além mar, para mim, a arquitetura só existe se houver uso, ou melhor: usuário. E assim como voce, estimado Zé Antonio (desculpe-me a informalidade), tive a sorte e o prazer de lá estar naquele 02 de Abril. E ainda por cima, eu sou Santista !!! Fiquei arrepiado não de ver meu projeto (quase) pronto, mas sim de ver o povo, o público, a comunidade, a torcida Boca Suja, vibrando, apropriando-se do que desenhamos e com tanto custo acompanhamos, para que saísse o mais próximo do perfeito possível.
Lindo ! Belíssimo ! As famílias, a luz, o grito da torcida... um sonho realizado. Nós da GCP tivemos essa sorte: um projeto para tantos milhares de "donos": o povo de Cuiabá e do Mato Grosso. É lógico que deve haver aqueles que não gostam da arquitetura um tanto única que desenvolvemos, mas nós arquitetos vamos aprendendo que unanimidade é impossível....mas continuo sonhando, porque não fizemos esse projeto para a Copa ou FIFA, como acham alguns, fizemos para o futuro. Com muito cuidado, muito empenho e muita, muita responsabilidade. Infelizmente como nem tudo é perfeito, acabei de saber ontem que o jogo da Luverdense com o Vasco (aposto na vitória da moçada de São Lucas !) ainda não será com a capacidade total e que também ainda nossa "nave" não terá sua iluminação cênica pronta (fachadas e pórticos são iluminados por barras de LED, que dará o toque final da astronave cuiabana)....por isso, acabei re-agendando a ida do fotógrafo Leonardo Finotti e cancelando também minha viagem no sábado. Agora fico no aguardo da confirmação de meus clientes da Secopa da data do jogo em que tudo estará realmente acabado, para me arrepiar de novo. Seria uma honra para mim, encontra-lo nesse dia e assistirmos juntos a festa que mais uma vez os cuiabanos farão. Mais uma vez obrigado em meu nome, da equipe da GCP e demais colaboradores. SAUDAÇÕES ARQUITETÔNICAS !!!"

terça-feira, 22 de abril de 2014

BELÍSSIMA!


 José Antonio Lemos dos Santos

     Arquitetura é a arte de transformar o espaço de acordo com as necessidades do homem. Só que nem todas as transformações deste tipo podem ser consideradas Arquitetura, assim como nem toda escrita é Literatura, nem toda cura é Medicina, nem toda justiça é Direito. Foi Vitrúvio, um arquiteto do primeiro século depois de Cristo, quem complementou nossa definição de Arquitetura dizendo que para alcança-la uma construção deveria necessariamente ter três temperinhos fundamentais, chamados por ele de “Firmitas, Utilitas et Venustas”. Usou o latim que era a sua língua e no caso continuamos a usá-la ainda hoje, não por pernosticismo, mas por absoluta falta de palavras em Português que possam expressar todo o significado de cada um desses elementos que ficaram conhecidos como Tríade Vitruviana. “Firmitas” vai além da firmeza que o termo sugere e envolve também, por exemplo, as noções de estrutura, solidez, segurança e até nossa atual sustentabilidade. Já a “Utilitas” vai além da utilidade envolvendo também a funcionalidade, comodidade e o conforto. “Venustas” ultrapassa a estética e a beleza, e alcança também a zona mágica do encanto, deslumbramento e do fascínio. A utilização de qualquer uma dessas palavras em Português por certo reduziria em muito o verdadeiro significado da Tríade e da verdadeira Arquitetura. 
     Armado só com o conceito de Arquitetura apreciamos a Arena Pantanal na noite de sua pré-inauguração, 2 de abril de 2014, jogando Mixto e Santos pela Copa Brasil. A Arena Pantanal sempre despertou enorme expectativa enquanto Arquitetura, uma vez que seu projeto chegou a ser premiado dentro e fora do país e recebeu alguns elogios na imprensa, em especial, estrangeira. A ideia era observar a reação dos usuários em seu primeiro contato com este novo espaço que surge na cidade, afinal a Arquitetura é feita para o homem e aquela seria uma oportunidade ímpar para se observar as primeiras e mais espontâneas reações. Seriam de segurança, conforto e encantamento? Ou de decepção? 
     E o que vi foi uma autentica festa, desde a caminhada forçada a pé pela área restrita ao trânsito de veículos, com o público fazendo brincadeiras simpáticas disfarçando a forte expectativa pelo que veriam na nova Arena. Chegando pelo lado leste, diante daquela ampla esplanada tendo ao fundo a Arena Pantanal iluminada, pude assistir a um dos maiores espetáculos de encantamento coletivo. Lembrou-me o filme Contatos Imediatos de Spielberg, com o povo em figuras minúsculas diante da nave espacial fantástica vista pela primeira vez. Fotos de grupos, “selfies” apressados diante da ansiedade em chegar logo ao interior da espaçonave, digo, da Arena Pantanal.     
     

Foto José Lemos

     E dentro da Arena, a realização do prazer arquitetônico. Um espaço magnífico transmitindo a todos um sentimento de satisfação e de orgulho. “Firmitas, Utilitas et Venustas” mostravam-se presentes, em especial no espetáculo luminotécnico, na audácia das coberturas suspensas em grandes pórticos e no esplendor verde do gramado, digno de substituir o do saudoso Verdão, tido como o melhor gramado do Brasil. Ouviu-se bastante a expressão “nem parece Cuiabá”, talvez querendo dizer que nem parecia realidade, que tudo parecia um sonho.
     Depois daquela noite mágica voltei algumas vezes à Arena Pantanal pelo lado externo e pude observar que a população já adotou suas grandes praças como áreas de passeio e lazer com um número muito grande de pessoas em caminhadas e corridas, famílias reunidas em pé ou sentadas em cadeiras trazidas de casa, jovens e crianças em patins, skates, pipas e bicicletas usufruindo aquele novo espaço público. Oxalá consigamos mantê-la cada vez mais útil e bela. Belíssima!  
  


Fotos José Lemos
(Publicado em 22/04/2014 pelo Midianews, Página do Enock, RepórterMT,  e excepcionalmente no dia 23/04/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

terça-feira, 15 de abril de 2014

CUIABÁ, CAPITAL

José Antonio Lemos dos Santos

     O artigo do prefeito Mauro Mendes por ocasião do 295º aniversário de Cuiabá foi além das manifestações oficiais comemorativas de praxe e traz uma nova e importante forma oficial de ver a cidade. Desta nova visão fica a boa expectativa de que a atual administração municipal também supere as formas tradicionais de gestão provinciana com que as sucessivas administrações sempre trataram a cidade, adequando-se aos novos tempos que a cidade vive como polo de uma das regiões mais dinâmicas do planeta. Como estudioso das cidades e, em especial, de Cuiabá, tenho esperado este tipo de abordagem há quase três décadas. Ainda no final da década de 80 quando do projeto original de um órgão de planejamento para a cidade, o hoje finado IPDU, foi prevista uma diretoria destinada ao estudo e proposições sobre a dimensão regional da cidade, dimensão que naquela época já começava a cobrar de Cuiabá transformações urbanísticas estruturais, físicas e institucionais, de forma cada vez mais intensa. A diretoria não foi aprovada.
     Infelizmente as autoridades nos anos 80 e subsequentes, até hoje, não chegaram a perceber a preponderância crescente dos impactos regionais positivos e negativos sobre a cidade. Toda cidade tem uma região que gera um excedente produtivo que lhe dá origem e sentido através da demanda dos diversos tipos de serviços urbanos de apoio. As cidades expressam suas regiões no tipo das atividades que essas regiões desenvolvem, na qualidade das demandas urbanas que impõem e, principalmente, nas dimensões do excedente econômico que geram. Quanto maior o excedente, maiores as demandas urbanas, mais complexas, sofisticadas e de maior valor agregado. Cabe às cidades responder com os serviços, produtos e o apoio que suas regiões demandam.
     Historicamente Cuiabá sempre centralizou uma vasta região no oeste brasileiro, que a princípio ia de Mato Grosso do Sul até os limites do Acre. Com o passar dos tempos e a criação de novas centralidades, Cuiabá foi perdendo parte desse seu imenso hinterland, mas ainda assim polariza uma região muito grande, chegando ao Acre e nordeste da Bolívia, além de todo o território mato-grossense. Acontece que enquanto essa região permaneceu como um vazio econômico, isto é, praticamente em nível de subsistência, sem qualquer excedente significativo, Cuiabá permaneceu estagnada cultivando uma visão provinciana, permanecendo assim até as décadas de 60 e 70. Sempre tendo Cuiabá como seu principal polo, cápita, capital, cabeça de apoio e articulação, aquela região antes adormecida começa a ser sacudida e hoje desponta como uma das regiões mais dinâmicas e produtivas do planeta. As demandas regionais sobre Cuiabá são incrementadas ano a ano na medida das sucessivas quebras de recordes nas safras agrícolas e nos rebanhos. A cidade real responde de imediato e todo esse dinamismo é visível no ritmo das incorporações imobiliárias e da construção civil, na constante instalação de serviços complexos e sofisticados de educação, saúde, cultura, lazer, comércio e indústria. 
     Só que a cidade institucional ainda não acordou para esse novo tempo da cidade real e permanece descolada dela. Daí a importância da disposição do prefeito em assumir também institucionalmente Cuiabá como a capital do agronegócio e do turismo, cabeça da cadeia produtiva campeã nacional na produção de alimentos, a capital que sempre foi e continua sendo. É fundamental que a cidade institucional se compatibilize com a cidade real. A nova visão proclamada pelo prefeito pode ser também a indicação de novos e melhores tempos para a cidade. 
(Publicado em 15/04/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

terça-feira, 8 de abril de 2014

CUIABÁ 300-5

José Antonio Lemos dos Santos

     Às vésperas do tricentésimo aniversário, Cuiabá vive seu melhor momento, plena em vitalidade, experimentando seu terceiro salto de desenvolvimento, aquele que poderá ser o salto de qualidade, impondo a seus líderes, administradores e cidadãos desafios crescentes que exigem a compreensão correta de seu atual momento e o atendimento de renovadas e sempre ampliadas demandas por infraestrutura e serviços.
     Aos 295 anos, Cuiabá segue rumo ao Tricentenário, sua efeméride no século. Em termos de planejamento a Copa passou. Agora é preparar a cidade para seus 300 anos, daqui a só 5 anos, pouquíssimo tempo como a experiência da Copa nos tem ensinado. O aniversário de Cuiabá festeja uma cidade que nasceu entre as pepitas de um corguinho com muito ouro, tanto que era chamado pelos nativos de Ikuiebo, Córrego das Estrelas, que desembocava em um belo rio, num lugar de grandes pedras chamado de Ikuiapá, lugar onde se pesca com flecha-arpão em bororo. E a cidade floresceu bonita, célula-mater do oeste brasileiro, mãe de tudo o que sucedeu neste ocidente do imenso Brasil, mãe de cidades e estados.
     No curto ciclo do ouro, Cuiabá chegou a ser a mais populosa cidade do Brasil. O fim do metal teria selado seu destino como o das cidades-fantasmas garimpeiras não fosse a localização mágica, centro do continente, cuja expectativa de riqueza atraía Portugal. Com a rediscussão do Tratado de Tordesilhas, Cuiabá vira o bastião português em terras então espanholas e dá seu primeiro salto de desenvolvimento, o da sobrevivência. Conseguiu continuar viva. E logo Portugal criou a Capitania de Mato Grosso, sediada em Cuiabá enquanto se construía a capital Vila Bela. Mesmo voltando a ser capital, por quase três séculos sobreviveu à duras penas, período heroico que forjou uma gente corajosa e sofrida, mas alegre e hospitaleira, criadora de um dos mais ricos patrimônios culturais do Brasil e com proezas que merecem mais respeito e melhor tratamento pela história oficial brasileira. Como um astronauta contemporâneo, vanguarda humana na imensidão do espaço, ligado à nave só por um cordão, assim Cuiabá sobreviveu por séculos, solta na vastidão centro-continental, ligada à civilização apenas pelo cordão platino dos rios Cuiabá e Paraguai. 
     Até que na década de 60 a cidade vibra de novo, vira o “portal da Amazônia” e sua população decuplica no salto da quantidade, expandindo-se como base de ocupação da Amazônia meridional, sem a menor preparação ou apoio da União. Sozinha e sem recursos, apoiando uma região ainda vazia economicamente, Cuiabá explodiu em todos os sentidos, despreparada para tão grande e súbita demanda. 
     No raiar do novo milênio, Cuiabá vive seu terceiro salto, o salto da qualidade. Não é mais o centro de um vazio. Ao invés, articula e polariza uma das regiões mais dinâmicas do planeta, que ajudou e ainda ajuda a ocupar e construir, e que hoje a empurra para cima demandando serviços cada vez mais especializados e de maior valor agregado, em um sadio processo de simbiose regional ascendente. Aos 295 anos, Cuiabá vibra em desenvolvimento, conectada ao mundo e turbinada pela Copa. É o momento certo para uma nova matriz de responsabilidade, não mais com a FIFA, mas dos cuiabanos com sua cidade, dos mato-grossenses com sua capital e do Brasil com a cidade que ampliou seu território a oeste de Tordesilhas. Mais que reverenciar o passado e festejar o presente é preciso cuidar do futuro, num choque de adrenalina e competência que coloque cidadãos, líderes e dirigentes à altura da cidade que temos para dignamente prepará-la para o Tricentenário com qualidade de vida, ainda mais bela, justa, democrática e sustentável. Viva Cuiabá! 
(Publicado em 08/04/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)

sexta-feira, 4 de abril de 2014

A ARENA DE MINHA JANELA

Após ter sido realizado seu primeiro jogo teste no dia 02/04/2014 passado, entre Mixto e Santos, posto a última foto desta série de acompanhamento da construção da Arena Pantanal a partir da varanda de meu apartamento. Veja:
Foto José Lemos

Compare com a maquete ao final das postagens e mande seu comentário. 


 Dá para comparar com a situação a 1 ano atrás (04/03/13):

Foto José Lemos
                                                                                    

E com 2 anos atrás, dia 4 de março de 2012, momentos de mais dúvidas que certezas.   Veja:
Foto: José Lemos



Era para ficar pronta em outubro de 2013. Foi prorrogado para dezembro, depois para janeiro de 2014, agora para março, com inauguração ainda em março. O primeiro grande jogo Mixto x Santos pela Copa Brasil, no dia 02/04/2014, com meia carga de público por exigência do primeiro teste, mas com metade das cadeiras instaladas. Depois Luverdense x Vasco, pela série C do Campeonato Brasileiro. Confira com a maquete para ver se ficou parecida:


terça-feira, 1 de abril de 2014

PRAÇA DEVOLVIDA, VITÓRIA CIDADÃ

José Antonio Lemos dos Santos

     No início de agosto de 2012 o noticiário local denunciava a aprovação pela Câmara de Cuiabá de projeto de lei do executivo autorizando a venda de 4 áreas públicas localizadas nos bairros Alvorada, Cidade Alta, Jardim Vitória e Jardim Cuiabá. Bem em frente à Arena Pantanal, palco da Copa, em uma delas encontrava-se a Policlínica do Verdão, excluída do pacote pelo prefeito da época após denúncia do fato em alguns de meus artigos. O promotor de Justiça Carlos Eduardo da Silva de imediato investigou o assunto e em outubro ainda de 2012 o Ministério Público Estadual pediu à Justiça que fosse decretada a indisponibilidade dos imóveis colocados à venda, pedido atendido no último dia 25 de março de 2014 pelo juiz Rodrigo Roberto Curvo, com a anulação da Lei Municipal 5574/12, o cancelamento da venda e a determinação da devolução do valor pago pelo terreno do Jardim Cuiabá, o único que chegou a ser vendido. Claro que os demais só não foram vendidos pela repercussão que o caso alcançou.
     Sem dúvida, fatos bem sucedidos como este de defesa e recuperação do patrimônio público contra a sanha daqueles que deveriam protegê-lo, demonstram que ainda podemos ter alguma esperança no pouquinho que ainda resta da República que pensávamos estar construindo. Aqui e ali alguns homens sérios ocupando cargos que sempre deveriam ser ocupados por pessoas desse jaez, aliados a uma pequena parcela de cidadãos ativos e vigilantes que ainda não entregaram a palha e a rapadura de vez, e apoiados por uma parte da imprensa que ainda acredita ser o quarto poder das verdadeiras democracias, formam um conjunto que às vezes chega a resultados como o que acaba de acontecer em Cuiabá. Tem que ser comemorado. Parece tão pouco, mas é muito.
     As áreas públicas que pretendiam sorrateiramente alienar, são áreas que seriam subtraídas daquelas destinadas e indispensáveis à qualidade de vida do cidadão, por isso previstas nas leis de parcelamento a partir de criteriosos parâmetros urbanísticos. As áreas públicas em um loteamento são propriedades em condomínio do cidadão que adquiriu cada lote, e por extensão propriedade de todos os habitantes da cidade, e devem ter na prefeitura um fiel depositário em nome do povo, e não seu dono, com poder de fazer com elas o que bem entender. Infelizmente, as cidades, e Cuiabá em especial, vêm ao longo das décadas perdendo suas áreas destinadas às praças, áreas verdes ou equipamentos urbanos, patrimônio não só dos cidadãos de hoje, mas de seus filhos, netos e todas as gerações de descendentes que pagarão muito caro por nossa atual irresponsabilidade urbana e ambiental.
     Agiu bem o Ministério Público Estadual ao tomar imediata iniciativa no caso e a Justiça dando o justo e correto desfecho que dela se esperava. Grande também o papel da imprensa noticiando o andamento do caso, desde a estranhamente veloz tramitação na Câmara de Vereadores onde teve quem confessasse ter votado sem sequer ter lido o projeto, até agora na decisão judicial. Através da imprensa a cidadania pode expressar toda sua indignação, e teve participação decisiva agindo na cobrança de posições e impulsionando o bom resultado com a anulação da Lei e da venda realizada. Só acredito que vamos ter cidades realmente voltadas para o bem estar e a qualidade de vida de sua população quando a cidadania assumir que a cidade é sua e não de qualquer El-Rey de plantão. Quando a cidadania assumir que as autoridades são funcionários públicos, isto é, seus funcionários, e que não cabe a ninguém mais ficar esperando, mas correr atrás, cobrar, exigir, fiscalizar, propor, criticar e também ter coragem para aplaudir quando for o caso. E este é um destes. Raríssimos.
(Publicado em 01/04/2014 pelo Diário de Cuiabá, ...)