José Antonio Lemos dos Santos
Não foi fácil escrever o artigo da semana passada, principalmente por ter que falar mal de minha cidade abordando seu acesso pela Ponte Júlio Muller e a impressão negativa que deixa ao visitante e mesmo ao cidadão comum. O tempo é um recurso não renovável e por isso é sempre escasso, principalmente para Cuiabá tendo em vista a Copa de 2014 e o tricentenário em 2019. Cinco ou dez anos passam voando e é fundamental que sejam usados positivamente na construção da qualidade urbana indispensável à realização dos dois extraordinários eventos. Contudo, muitas vezes é necessário tocar em algumas feridas urbanas pois podem esconder problemas maiores, prejudiciais à construção do futuro.
Arquitetura é a arte de transformar os espaços e assim, por formação, o arquiteto e urbanista é um visionário que sempre vê a realidade na perspectiva de sua transformação para melhor, sonhando utopias e imaginando soluções que originam as maravilhas construídas pelo mundo inteiro. A entrada de Cuiabá apesar dos problemas de gestão urbana descritas no artigo anterior, esconde imensas potencialidades naturais, culturais e paisagísticas que devem ser trabalhadas já e que são um “prato cheio” para os arquitetos, cada qual dando asas à sua imaginação a cada passagem por lá. Cito alguns pontos.
Limite municipal de Cuiabá, mas coração da região metropolitana, centro e borda, a entrada da cidade é uma área rica urbanisticamente, com valores cujo aproveitamento correto pode torná-la um dos pontos mais belos e significativos da cidade. A começar pelo próprio rio que lhe deu origem, com sua beleza natural, sua ponte, e a foz do Prainha – o Ikuie-bo dos Boróros - cujas pedras ainda existentes estão na origem seu nome e do próprio rio, chamadas pelos moradores originais de Ikuia-pá – lugar onde se pesca com flecha-arpão. Deviam estar iluminados, sinalizados, legendados didaticamente e glamourizados turisticamente, com a ponte revista arquitetonicamente, até resgatando seu sentido de monumento urbano com seu antigo e pitoresco arco.
Para a ponte convergem três grandes avenidas que devem ser repaginadas, com ênfase nos objetivos da mobilidade urbana segura, confortável: nova e especial iluminação viária com fiação rebaixada, arborização, nova sinalização horizontal e vertical, padronização de calçadas. De cara, topa-se no contra-fluxo com a XV de Novembro, de largura generosa, cuja perspectiva monumental é fechada pela torre da Igreja de São Gonçalo, com seu magnífico Redentor de 3,4 metros de altura pairando sobre o globo terrestre a 36 metros do solo. A direita o acesso à Beira-Rio (Avenida Manuel José de Arruda) e a Ten. Cel Duarte, que devem ser articuladas por uma rótula paisagisticamente tratada de forma a presentear a cidade com uma nova perspectiva monumental da Avenida Tenente Coronel Duarte, modernizada como uma autentica passarela de boas vindas aos visitante. Mais a frente, o antigo cais flutuante, hoje abandonado mas sempre sugerindo um pedestal a espera de um grande monumento sobre o rio, livre de ocupações em suas proximidades, que bem poderia ser em homenagem aos intrépidos e esquecidos navegantes platinos, os grandes viabilizadores da ocupação deste miolo continental sul-americano.
Não há como deixar de referir a um novo tratamento para o espaço do centro esportivo do Dom Aquino, que pode continuar a sê-lo pela facilidade de acessos, envolvendo em seu complexo inclusive a terceira idade, que hoje encontra-se em um espaço segregado. Por fim, mas não menos importante, um novo edifício para o Shopping Popular, agora projetado em caráter definitivo com diversos pisos, destacando numa arquitetura contemporânea, o tradicional caráter inclusivo da cidade.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 14/07/2009)
José Antonio Lemos dos Santos, arquiteto e urbanista, é professor universitário aposentado . Troféu "João Thimóteo"-1991-IAB/MT/ "Diploma do Mérito IAB 80 Anos"/ Troféu "O Construtor" - Sinduscon MT Ano 2000 / Arquiteto do Ano 2010 pelo CREA-MT/ Comenda do Legislativo Cuiabano 2018/ Ordem do Mérito Cuiabá 300 Anos da Câmara Municipal de Cuiabá 2019.
"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)
terça-feira, 14 de julho de 2009
A ENTRADA DA CIDADE (II)
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terça-feira, 7 de julho de 2009
A ENTRADA DA CIDADE
José Antonio Lemos dos Santos
Dizem que a primeira impressão é a que fica. Sendo assim, Cuiabá dificilmente deixa uma boa impressão aos seus visitantes quando chegam. Não trato dos acessos rodoviários, nem do muquifo de desembarque da Infraero. Trato da entrada de Cuiabá pela Ponte Júlio Muller, que pode ser considerada seu acesso principal, usado pelos principais formadores de opinião nacionais e internacionais, tais como autoridades, empresários, artistas, grupos turísticos, etc. Limite municipal, na prática, não limita nem divide nada, mas é o centro de uma grande cidade que envolve alguns municípios. De fato, uma das importantes áreas metropolitanas do país como pólo de uma das regiões mais dinâmicas do planeta e por sua posição estratégica continental. Centro e limite, essa entrada de Cuiabá é uma área rica urbanisticamente, com muitos valores cenográficos e culturais cujo aproveitamento correto pode torná-la um dos pontos mais belos e significativos da cidade. Contudo o que se tem hoje é o que há de pior, um faroeste urbanístico logo de cara, na entrada da cidade!
Em grande parte remanescente do antigo “Acampamento Couto Magalhães”, da época da Guerra do Paraguai, nesse local existiram os bairros do Terceiro, Ana Poupino e Barcelos, destruídos pela cheia de 1974. A partir daí surgiram algumas ocupações compatíveis, como o Parque de Exposições e o belo Centro Esportivo Dom Aquino, bem com outras ocupações de regularidade discutíveis e discutidas até hoje. Muitas foram retiradas pela prefeitura, outras permanecem, e o que é pior, algumas outras estão sendo acrescentadas hoje. O símbolo maior de toda essa bagunça urbana bem poderia ser um mourão de arueira cravado além da tangência da curva da principal via de acesso a Cuiabá, para dentro de uma das pistas de rolamento. Todo dia engarrafamentos, acidentes, desconforto e acima de tudo, feiúra e desurbanidade, sinônimo de incivilidade. Ainda não aconteceu um acidente de maiores proporções porque o Senhor Bom Jesus de Cuiabá continua generoso e condescendente com sua terra.
Resumindo, para doer menos: é péssima e vergonhosa a impressão desse primeiro contato. Pior, é uma impressão inescapável, cotidiana, que se renova dolorosa no peito cuiabano, pois se trata do core da grande cidade, passagem obrigatória da maioria da população. Feio, inseguro e incivilizado, expressa a impotência de todos os poderes públicos responsáveis pela construção da civitas, o bem urbano comum, impotência que na verdade envolve uma complexidade de autonomias e competências que se superpõem e se entrechocam por quase duas décadas e que supera a vontade individual dos governantes em resolver um assunto aparentemente tão simples. Como servidor público, participei de grande parte desse processo, e sou testemunha das dificuldades geradas por um barroquismo institucional descabido, incompatível com os tempos atuais e com uma cidade moderna e dinâmica.
Há que se fazer um corte decisório e decisivo, em que todas as instituições envolvidas se re-unam pela solução de um problema comum grave, que vai além da estética urbana, envolve a segurança pública e questiona nossos padrões de civilidade. Que sejam definidos logo os direitos das partes e, segundo critérios técnicos, regularizado o que puder ser regularizado, desapropriado devidamente o que tiver que ser desapropriado, mas que se libere a área para ser urbanizada de acordo com os padrões contemporâneos e com o interesse público prevalecendo. E tem que ser urgente, pois o tempo voa. De outra forma, outras décadas passarão, e a chegada dos turistas de 2014 não será necessária para passarmos a vergonha que já passamos hoje.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 07/07/2009)
Dizem que a primeira impressão é a que fica. Sendo assim, Cuiabá dificilmente deixa uma boa impressão aos seus visitantes quando chegam. Não trato dos acessos rodoviários, nem do muquifo de desembarque da Infraero. Trato da entrada de Cuiabá pela Ponte Júlio Muller, que pode ser considerada seu acesso principal, usado pelos principais formadores de opinião nacionais e internacionais, tais como autoridades, empresários, artistas, grupos turísticos, etc. Limite municipal, na prática, não limita nem divide nada, mas é o centro de uma grande cidade que envolve alguns municípios. De fato, uma das importantes áreas metropolitanas do país como pólo de uma das regiões mais dinâmicas do planeta e por sua posição estratégica continental. Centro e limite, essa entrada de Cuiabá é uma área rica urbanisticamente, com muitos valores cenográficos e culturais cujo aproveitamento correto pode torná-la um dos pontos mais belos e significativos da cidade. Contudo o que se tem hoje é o que há de pior, um faroeste urbanístico logo de cara, na entrada da cidade!
Em grande parte remanescente do antigo “Acampamento Couto Magalhães”, da época da Guerra do Paraguai, nesse local existiram os bairros do Terceiro, Ana Poupino e Barcelos, destruídos pela cheia de 1974. A partir daí surgiram algumas ocupações compatíveis, como o Parque de Exposições e o belo Centro Esportivo Dom Aquino, bem com outras ocupações de regularidade discutíveis e discutidas até hoje. Muitas foram retiradas pela prefeitura, outras permanecem, e o que é pior, algumas outras estão sendo acrescentadas hoje. O símbolo maior de toda essa bagunça urbana bem poderia ser um mourão de arueira cravado além da tangência da curva da principal via de acesso a Cuiabá, para dentro de uma das pistas de rolamento. Todo dia engarrafamentos, acidentes, desconforto e acima de tudo, feiúra e desurbanidade, sinônimo de incivilidade. Ainda não aconteceu um acidente de maiores proporções porque o Senhor Bom Jesus de Cuiabá continua generoso e condescendente com sua terra.
Resumindo, para doer menos: é péssima e vergonhosa a impressão desse primeiro contato. Pior, é uma impressão inescapável, cotidiana, que se renova dolorosa no peito cuiabano, pois se trata do core da grande cidade, passagem obrigatória da maioria da população. Feio, inseguro e incivilizado, expressa a impotência de todos os poderes públicos responsáveis pela construção da civitas, o bem urbano comum, impotência que na verdade envolve uma complexidade de autonomias e competências que se superpõem e se entrechocam por quase duas décadas e que supera a vontade individual dos governantes em resolver um assunto aparentemente tão simples. Como servidor público, participei de grande parte desse processo, e sou testemunha das dificuldades geradas por um barroquismo institucional descabido, incompatível com os tempos atuais e com uma cidade moderna e dinâmica.
Há que se fazer um corte decisório e decisivo, em que todas as instituições envolvidas se re-unam pela solução de um problema comum grave, que vai além da estética urbana, envolve a segurança pública e questiona nossos padrões de civilidade. Que sejam definidos logo os direitos das partes e, segundo critérios técnicos, regularizado o que puder ser regularizado, desapropriado devidamente o que tiver que ser desapropriado, mas que se libere a área para ser urbanizada de acordo com os padrões contemporâneos e com o interesse público prevalecendo. E tem que ser urgente, pois o tempo voa. De outra forma, outras décadas passarão, e a chegada dos turistas de 2014 não será necessária para passarmos a vergonha que já passamos hoje.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 07/07/2009)
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terça-feira, 30 de junho de 2009
FERRONORTE E A CARGA DE RETORNO
José Antonio Lemos dos Santos
Viva! Finalmente surge em volume significativo uma carga de retorno na Ferronorte, muito aguardada por Mato Grosso que espera deixar a insólita condição de uma das únicas regiões do mundo desprovidas de ferrovia, ainda que sendo uma das maiores produtoras no planeta. Matéria de Marianna Peres no Diário de Cuiabá do dia 17 passado, saudada em editorial pelo jornal no dia seguinte, traz notícia que a Esso, em sua volta a Mato Grosso, usará a ferrovia para trazer derivados de petróleo e também para levar o etanol do estado, tendo adquirido um terminal em Alto Taquari, onde construirá tanques para armazenamento com capacidade para 20 milhões de litros.
Parece que a nova direção traz bons ventos à Ferronorte, dando mostras que realmente quer fazer aquilo que tem a obrigação de fazer, ou seja, fazer o que determina a concessão da União, que outro dia completou 20 anos, mas que ainda está distante de ser cumprida. Mostra querer prestar serviços de transporte ferroviário, que parecia ser o que menos interessava às direções anteriores. E a Esso também mostra que retorna ao estado de forma séria e atualizada, buscando a alternativa ferroviária para reduzir custos financeiros e ambientais.
Na longa luta pela ligação ferroviária de Mato Grosso, jamais se pensou numa ferrovia apenas para extrair a produção estadual, mas para levar e trazer o desenvolvimento. Uma ferrovia, como outros meios de transporte, só se sustenta com cargas de ida e volta e só elas viabilizarão a redução de custos esperada com a ferrovia, mesmo em um sistema monopolizado como o da Ferronorte. Se não existirem cargas de retorno, os produtores mato-grossenses continuarão arcando com fretes similares aos rodoviários, contra os quais reclamam com muita razão. Daí as ótimas perspectivas trazidas pela notícia. Espera-se que façam o mesmo outras empresas em todas as áreas, como no transporte de materiais de construção, insumos agrícolas, automóveis e todo o tipo de mercadorias, reduzindo os custos dos produtos, a pressão ambiental, e elevando a qualidade de vida da população mato-grossense.
Para a integridade de Mato Grosso, razão de seu desenvolvimento continuado e firme, é fundamental que os modais de transportes passem por Cuiabá, reforçando sua espinha dorsal geopolítica que coincide com o trajeto da BR-163, como quer a concessão da Ferronorte. Naturalmente as coisas seriam assim, já que por Cuiabá passa toda a imensa produção a oeste da área de influência da BR-163 destinada ao consumo interno nacional e à exportação via portos do sudeste. Entretanto, como querem alguns, essa carga poderá ser desviada de Nova Mutum direto a Rondonópolis, excluindo Cuiabá e todo o Mato Grosso platino do eixo de desenvolvimento do estado ou pior, levada para Goiás através do novo projeto ferroviário ligando Uruaçu (GO) a Lucas do Rio Verde/Sapezal.
Além da lei e da concessão federal, o diferencial a favor de Cuiabá e do projeto original da ferrovia está justamente na carga de retorno. O complexo Cuiabá/Várzea Grande é disparado o maior pólo consumidor, concentrador e distribuidor de cargas do estado, tanto de ida como de volta. De Cuiabá as cargas são distribuídas para toda a Amazônia meridional. Centro do continente, é o mais natural caminho transcontinental até o Pacífico, via Bolívia ou via Peru, além de próxima de Cáceres, portal ecoviário de acesso ao cone sul do continente. O capital é inteligente e objetivo nas coisas de seu interesse, e a nova Ferronorte parece ter vindo com um novo e saudável enfoque no tratamento da nossa ferrovia. Viva! Que assim seja, amém.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 30/06/2009)
Viva! Finalmente surge em volume significativo uma carga de retorno na Ferronorte, muito aguardada por Mato Grosso que espera deixar a insólita condição de uma das únicas regiões do mundo desprovidas de ferrovia, ainda que sendo uma das maiores produtoras no planeta. Matéria de Marianna Peres no Diário de Cuiabá do dia 17 passado, saudada em editorial pelo jornal no dia seguinte, traz notícia que a Esso, em sua volta a Mato Grosso, usará a ferrovia para trazer derivados de petróleo e também para levar o etanol do estado, tendo adquirido um terminal em Alto Taquari, onde construirá tanques para armazenamento com capacidade para 20 milhões de litros.
Parece que a nova direção traz bons ventos à Ferronorte, dando mostras que realmente quer fazer aquilo que tem a obrigação de fazer, ou seja, fazer o que determina a concessão da União, que outro dia completou 20 anos, mas que ainda está distante de ser cumprida. Mostra querer prestar serviços de transporte ferroviário, que parecia ser o que menos interessava às direções anteriores. E a Esso também mostra que retorna ao estado de forma séria e atualizada, buscando a alternativa ferroviária para reduzir custos financeiros e ambientais.
Na longa luta pela ligação ferroviária de Mato Grosso, jamais se pensou numa ferrovia apenas para extrair a produção estadual, mas para levar e trazer o desenvolvimento. Uma ferrovia, como outros meios de transporte, só se sustenta com cargas de ida e volta e só elas viabilizarão a redução de custos esperada com a ferrovia, mesmo em um sistema monopolizado como o da Ferronorte. Se não existirem cargas de retorno, os produtores mato-grossenses continuarão arcando com fretes similares aos rodoviários, contra os quais reclamam com muita razão. Daí as ótimas perspectivas trazidas pela notícia. Espera-se que façam o mesmo outras empresas em todas as áreas, como no transporte de materiais de construção, insumos agrícolas, automóveis e todo o tipo de mercadorias, reduzindo os custos dos produtos, a pressão ambiental, e elevando a qualidade de vida da população mato-grossense.
Para a integridade de Mato Grosso, razão de seu desenvolvimento continuado e firme, é fundamental que os modais de transportes passem por Cuiabá, reforçando sua espinha dorsal geopolítica que coincide com o trajeto da BR-163, como quer a concessão da Ferronorte. Naturalmente as coisas seriam assim, já que por Cuiabá passa toda a imensa produção a oeste da área de influência da BR-163 destinada ao consumo interno nacional e à exportação via portos do sudeste. Entretanto, como querem alguns, essa carga poderá ser desviada de Nova Mutum direto a Rondonópolis, excluindo Cuiabá e todo o Mato Grosso platino do eixo de desenvolvimento do estado ou pior, levada para Goiás através do novo projeto ferroviário ligando Uruaçu (GO) a Lucas do Rio Verde/Sapezal.
Além da lei e da concessão federal, o diferencial a favor de Cuiabá e do projeto original da ferrovia está justamente na carga de retorno. O complexo Cuiabá/Várzea Grande é disparado o maior pólo consumidor, concentrador e distribuidor de cargas do estado, tanto de ida como de volta. De Cuiabá as cargas são distribuídas para toda a Amazônia meridional. Centro do continente, é o mais natural caminho transcontinental até o Pacífico, via Bolívia ou via Peru, além de próxima de Cáceres, portal ecoviário de acesso ao cone sul do continente. O capital é inteligente e objetivo nas coisas de seu interesse, e a nova Ferronorte parece ter vindo com um novo e saudável enfoque no tratamento da nossa ferrovia. Viva! Que assim seja, amém.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 30/06/2009)
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terça-feira, 23 de junho de 2009
O VERDÃO DAS TRÊS ARENAS - II
José Antonio Lemos dos Santos
O projeto da sub-sede do Pantanal da Copa do Mundo de 2014 é o maior pacote de investimentos já previsto para Cuiabá, com a vantagem de que estes investimentos não ficarão sujeitos apenas aos processos locais de fiscalização, mas sob os olhos nacionais e internacionais da CBF, da FIFA, da imprensa e dos amantes do futebol do mundo inteiro, e, em especial, sob a lupa microscópica das cidades e dos interesses contrariados pela vitória cuiabana e mato-grossense. Esta situação ímpar traz a esperança de que a maioria das obras e serviços programados realmente aconteça e, o que é melhor, dentro de padrões de respeito para com os recursos públicos. Sem pisar na bola, ou se faz tudo muito bem, ou coloca-se em risco a galinha de ovos de ouro. Assim, volto ao artigo da semana passada para esclarecer alguns pontos da proposta de reaproveitamento do antigo Verdão, proposta suscitada pela mudança do projeto do novo estádio.
Logo destaco que o reaproveitamento do antigo Verdão não exige qualquer nova alteração no projeto do estádio, que ficaria do jeito que foi aprovado pela CBF e FIFA, para ser concluído em 2012 como exigem o governador e os cronogramas, apenas com um ligeiro deslocamento em sua implantação. Aliás, outra alteração no projeto do estádio, além de desnecessária, certamente seria um desgaste junto ao comitê organizador e deve ser evitada. Portanto, repito, a alteração proposta não é no projeto do novo estádio, mas no projeto do parque urbano que abrigará o novo complexo esportivo, em especial no destino dado ao antigo Verdão, um patrimônio arquitetônico nada desprezível de cerca de R$ 300 milhões, que seria demolido e transformado em lagoa para pedalinho.
O segundo ponto a destacar é a excelência da escolha do local para a instalação da nova arena esportiva, lá mesmo no bairro Verdão, uma decisão fundamental, pois assegura que os investimentos destinados a atender ao grande palco da festa serão posteriormente aproveitados pela cidade hoje existente. Situações como esta geralmente são aproveitadas para valorização especulativa de áreas vazias ou distantes da cidade, sob mil pretextos, deixando ao final os tão falados elefantes brancos, sem utilidade alguma. Felizmente em Cuiabá o projeto começou bem com a escolha correta da localização do estádio.
No caso do Verdão trata-se de um bairro surgido em função da construção do estádio (daí o seu nome), e o novo estádio terá capacidade semelhante ao do antigo, portanto sem agregação significativa de impactância urbana. Ao contrário, os investimentos, por exemplo, no sistema viário, melhorarão a situação atual do tráfego local e além disso deflagrarão uma revolução em todo o sistema viário, pois deverão atender também as vias estruturais e principais de acesso ao bairro, mesmo dos pontos mais distantes da cidade, em Cuiabá e Várzea Grande. Do mesmo modo, esperam-se grandes melhoramentos em todos os demais segmentos da estrutura urbana.
Com custo inferior ao da demolição, a proposta de reaproveitamento integra em um inédito complexo esportivo o ginásio Aecim Tocantins, o novo estádio da Copa e o antigo Verdão, transformado em estádio olímpico de uso ampliado, servindo também ao vôlei de areia, kart, motocross, e outros esportes, com suas sedes de federações e alojamentos para atletas dispostos ao longo do fosso, tudo perfeitamente compatível com área disponível no bairro Verdão e com o novo estádio. Nada a mudar, nada a destruir, só a acrescentar.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 23/06/2009)
O projeto da sub-sede do Pantanal da Copa do Mundo de 2014 é o maior pacote de investimentos já previsto para Cuiabá, com a vantagem de que estes investimentos não ficarão sujeitos apenas aos processos locais de fiscalização, mas sob os olhos nacionais e internacionais da CBF, da FIFA, da imprensa e dos amantes do futebol do mundo inteiro, e, em especial, sob a lupa microscópica das cidades e dos interesses contrariados pela vitória cuiabana e mato-grossense. Esta situação ímpar traz a esperança de que a maioria das obras e serviços programados realmente aconteça e, o que é melhor, dentro de padrões de respeito para com os recursos públicos. Sem pisar na bola, ou se faz tudo muito bem, ou coloca-se em risco a galinha de ovos de ouro. Assim, volto ao artigo da semana passada para esclarecer alguns pontos da proposta de reaproveitamento do antigo Verdão, proposta suscitada pela mudança do projeto do novo estádio.
Logo destaco que o reaproveitamento do antigo Verdão não exige qualquer nova alteração no projeto do estádio, que ficaria do jeito que foi aprovado pela CBF e FIFA, para ser concluído em 2012 como exigem o governador e os cronogramas, apenas com um ligeiro deslocamento em sua implantação. Aliás, outra alteração no projeto do estádio, além de desnecessária, certamente seria um desgaste junto ao comitê organizador e deve ser evitada. Portanto, repito, a alteração proposta não é no projeto do novo estádio, mas no projeto do parque urbano que abrigará o novo complexo esportivo, em especial no destino dado ao antigo Verdão, um patrimônio arquitetônico nada desprezível de cerca de R$ 300 milhões, que seria demolido e transformado em lagoa para pedalinho.
O segundo ponto a destacar é a excelência da escolha do local para a instalação da nova arena esportiva, lá mesmo no bairro Verdão, uma decisão fundamental, pois assegura que os investimentos destinados a atender ao grande palco da festa serão posteriormente aproveitados pela cidade hoje existente. Situações como esta geralmente são aproveitadas para valorização especulativa de áreas vazias ou distantes da cidade, sob mil pretextos, deixando ao final os tão falados elefantes brancos, sem utilidade alguma. Felizmente em Cuiabá o projeto começou bem com a escolha correta da localização do estádio.
No caso do Verdão trata-se de um bairro surgido em função da construção do estádio (daí o seu nome), e o novo estádio terá capacidade semelhante ao do antigo, portanto sem agregação significativa de impactância urbana. Ao contrário, os investimentos, por exemplo, no sistema viário, melhorarão a situação atual do tráfego local e além disso deflagrarão uma revolução em todo o sistema viário, pois deverão atender também as vias estruturais e principais de acesso ao bairro, mesmo dos pontos mais distantes da cidade, em Cuiabá e Várzea Grande. Do mesmo modo, esperam-se grandes melhoramentos em todos os demais segmentos da estrutura urbana.
Com custo inferior ao da demolição, a proposta de reaproveitamento integra em um inédito complexo esportivo o ginásio Aecim Tocantins, o novo estádio da Copa e o antigo Verdão, transformado em estádio olímpico de uso ampliado, servindo também ao vôlei de areia, kart, motocross, e outros esportes, com suas sedes de federações e alojamentos para atletas dispostos ao longo do fosso, tudo perfeitamente compatível com área disponível no bairro Verdão e com o novo estádio. Nada a mudar, nada a destruir, só a acrescentar.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 23/06/2009)
terça-feira, 16 de junho de 2009
O VERDÃO DAS TRÊS ARENAS
José Antonio Lemos dos Santos
Descontando a liderança pessoal do governador Blairo Maggi e o apoio de Agripino Bonilha, construtor do Verdão, duas atitudes me transmitiram confiança na proposta da Copa do Pantanal em Cuiabá. Uma foi a contratação de um dos mais renomados escritórios especializados em arquitetura esportiva no Brasil para o projeto do novo Verdão. Outra foi a escolha do local para a nova arena, lá mesmo no bairro Verdão, assegurando que os investimentos beneficiem a cidade atual.
O atual Verdão é um dos mais belos estádios do Brasil, funcional e adequado à topografia local e ao clima da cidade. Sigo o futebol em Cuiabá desde criança, de Fulepa até Rogério Ceni, Hugo Alcântara, Robinho e Buiú. Normalmente sou um daqueles 200 sempre presentes ao Verdão. Assim, mesmo sentido, aceitei o sacrifício do velho estádio pelo novo, pois a superposição das plantas seria essencial ao uso inteligente da declividade do terreno como redutor de custos.
Porém, ainda na euforia da conquista da sub-sede, tremi nas bases ao saber que o primeiro projeto ia ser mudado e o escritório de arquitetura também. Como muitos, temi pelo futuro da sub-sede recém conquistada e pela seriedade com que o assunto estava sendo tratado. Restaram as figuras do governador e de Bonilha inspirando confiança e a espera pela divulgação do novo projeto com as devidas explicações.
Pelo divulgado, o novo projeto traz boas inovações, tais como a inserção da vegetação entre as arquibancadas e a multifuncionalidade – esta ainda carente de maiores explicações. Mas, o novo estádio foi deslocado, deixando a superposição com o velho estádio, cuja demolição ficou então sem sentido. Se desnecessária, seria a perda de um patrimônio arquitetônico de valor imenso, nada desprezível. Lembrando a antiga Catedral e o velho Palácio Alencastro, duplo remorso que ainda fustiga o fundo da alma cuiabana, repito um leitor orgulhoso com a Copa, mas que me pergunta em mal disfarçado lamento: porque em Cuiabá para fazer o novo sempre se tem que destruir o antigo?
Recordista em desenvolvimento, Mato Grosso logo desenvolverá também o atletismo em suas diversas modalidades, com competições de alto nível e muitos atletas locais, do porte de Jorilda e Nadir Sabino, por exemplo. O antigo Verdão atendia estes esportes – embora nunca usado para esse fim - e o novo não; é exclusivo para o futebol. Vamos ter que construir outra praça de esportes para o atletismo?
As imagens divulgadas sugerem que um pequeno deslocamento na locação do novo estádio, sem alterar seu projeto, permitiria o aproveitamento do antigo Verdão como uma praça multi-esportiva, podendo receber, além do atletismo, a prática permanente de diversos esportes do gosto dos mato-grossenses, tais como as várias formas do motocross do nosso campeão Joaninha, o autocross, o bicicross, o skatismo, o aeromodelismo, o volei de praia e outros, em arenas independentes, de acordo com suas possibilidades de compatibilização no espaço. Com a grande vantagem da instalação de suas respectivas federações, alojamentos de atletas, restaurante, ao longo do fosso do velho estádio, como previsto em seu projeto original e não construído, assegurando também sua multifuncionalidade viabilizadora.
Parecem boas as chances de termos um inédito parque esportivo com três arenas, com o aproveitamento do atual Verdão. Caso ainda não tenham sido devidamente avaliadas, valeria a pena fazê-lo. Se comprovadamente inviável, bola para frente. Logo teremos um novo estádio, talvez com um cantinho para as boas lembranças do Verdão, e, importante, sem um remorso a mais a fustigar a alma cuiabana.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 16/06/09)
Descontando a liderança pessoal do governador Blairo Maggi e o apoio de Agripino Bonilha, construtor do Verdão, duas atitudes me transmitiram confiança na proposta da Copa do Pantanal em Cuiabá. Uma foi a contratação de um dos mais renomados escritórios especializados em arquitetura esportiva no Brasil para o projeto do novo Verdão. Outra foi a escolha do local para a nova arena, lá mesmo no bairro Verdão, assegurando que os investimentos beneficiem a cidade atual.
O atual Verdão é um dos mais belos estádios do Brasil, funcional e adequado à topografia local e ao clima da cidade. Sigo o futebol em Cuiabá desde criança, de Fulepa até Rogério Ceni, Hugo Alcântara, Robinho e Buiú. Normalmente sou um daqueles 200 sempre presentes ao Verdão. Assim, mesmo sentido, aceitei o sacrifício do velho estádio pelo novo, pois a superposição das plantas seria essencial ao uso inteligente da declividade do terreno como redutor de custos.
Porém, ainda na euforia da conquista da sub-sede, tremi nas bases ao saber que o primeiro projeto ia ser mudado e o escritório de arquitetura também. Como muitos, temi pelo futuro da sub-sede recém conquistada e pela seriedade com que o assunto estava sendo tratado. Restaram as figuras do governador e de Bonilha inspirando confiança e a espera pela divulgação do novo projeto com as devidas explicações.
Pelo divulgado, o novo projeto traz boas inovações, tais como a inserção da vegetação entre as arquibancadas e a multifuncionalidade – esta ainda carente de maiores explicações. Mas, o novo estádio foi deslocado, deixando a superposição com o velho estádio, cuja demolição ficou então sem sentido. Se desnecessária, seria a perda de um patrimônio arquitetônico de valor imenso, nada desprezível. Lembrando a antiga Catedral e o velho Palácio Alencastro, duplo remorso que ainda fustiga o fundo da alma cuiabana, repito um leitor orgulhoso com a Copa, mas que me pergunta em mal disfarçado lamento: porque em Cuiabá para fazer o novo sempre se tem que destruir o antigo?
Recordista em desenvolvimento, Mato Grosso logo desenvolverá também o atletismo em suas diversas modalidades, com competições de alto nível e muitos atletas locais, do porte de Jorilda e Nadir Sabino, por exemplo. O antigo Verdão atendia estes esportes – embora nunca usado para esse fim - e o novo não; é exclusivo para o futebol. Vamos ter que construir outra praça de esportes para o atletismo?
As imagens divulgadas sugerem que um pequeno deslocamento na locação do novo estádio, sem alterar seu projeto, permitiria o aproveitamento do antigo Verdão como uma praça multi-esportiva, podendo receber, além do atletismo, a prática permanente de diversos esportes do gosto dos mato-grossenses, tais como as várias formas do motocross do nosso campeão Joaninha, o autocross, o bicicross, o skatismo, o aeromodelismo, o volei de praia e outros, em arenas independentes, de acordo com suas possibilidades de compatibilização no espaço. Com a grande vantagem da instalação de suas respectivas federações, alojamentos de atletas, restaurante, ao longo do fosso do velho estádio, como previsto em seu projeto original e não construído, assegurando também sua multifuncionalidade viabilizadora.
Parecem boas as chances de termos um inédito parque esportivo com três arenas, com o aproveitamento do atual Verdão. Caso ainda não tenham sido devidamente avaliadas, valeria a pena fazê-lo. Se comprovadamente inviável, bola para frente. Logo teremos um novo estádio, talvez com um cantinho para as boas lembranças do Verdão, e, importante, sem um remorso a mais a fustigar a alma cuiabana.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 16/06/09)
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terça-feira, 9 de junho de 2009
13 DE JUNHO, COPA E PAZ NO MUNDO
José Antonio Lemos dos Santos
Não vou celebrar a guerra, nem mocinhos ou bandidos, vencedores ou perdedores, e sim falar de vítimas, mártires e heróis, principais produtos em todos os lados de uma guerra. Lembro 13 de Junho, reverenciando o maior martírio sofrido pela gente cuiabana. Antes, matéria escolar obrigatória, hoje, pouco a pouco esquecemos que o maior conflito das Américas ocorreu aqui, e que Cuiabá pagou muito caro por ela. A Guerra do Paraguai reuniu Brasil, Argentina, Uruguai e interesses ingleses contra o Paraguai, na época o país mais poderoso na América Latina. Mato Grosso foi o trágico palco principal.
Entre os diversos episódios vividos pelos cuiabanos na Guerra do Paraguai, um dos mais épicos foi o da Retomada de Corumbá, a 13 de Junho de 1867, cidade então mato-grossense que havia sido tomada pelos paraguaios. Os cuiabanos foram lá, enfrentaram o mais poderoso exército do continente e retomaram para o Brasil aquela importante cidade, num “fato heróico exclusivamente cuiabano”, como nos ensina Pedro Rocha Jucá, organizados pelo Presidente Couto Magalhães e comandados pelo então Capitão Antônio Maria Coelho. Sem reforços externos, só forças militares locais, acrescidas de voluntários.
Mas a história não para por aí. As tropas voltaram à Cuiabá contaminadas com a varíola, pois havia um surto da doença em Corumbá quando da retomada. A epidemia tomou conta de Cuiabá, matando mais da metade de sua população. Segundo Francisco Ferreira Mendes, em cada casa havia pelo menos um doente, e “a cidade ficou juncada de corpos insepultos, atirados às ruas, cuja putrefação empestava mais a cidade com a exalação produzida pela decomposição. Determinou o governo a abertura de valas e a cremação de cadáveres no campo do Cae-Cae, medida que se tornou ineficaz. Não raro eram visto cães famintos arrastando membros e vísceras humanas pelas ruas.”.
13 de Junho, para sempre deve lembrar a epopéia de bravura e dor de um povo humilde, mas determinado. A história de gente de carne e osso, não de livros, de novelas ou filmes, mas que anda aí na Praça Alencastro, no Porto, no Coxipó ou no CPA, sem mais se lembrar que em suas veias corre o valoroso sangue de seus bisavós, o mesmo que vem bravamente construindo e defendendo nosso país por quase três séculos. Hoje, na pracinha do Cae-Cae, nenhuma homenagem. A própria cidade expandiu abraçando o campo santo, outrora afastado. Ainda resta uma cruz, solene, e uma igrejinha ao lado onde as missas dominicais são “pela intenção dos bexiguentos”, ainda que a maioria dos fiéis não saiba mais do que se trata.
Com a escolha de Cuiabá como sub-sede da Copa de 2014, Mato Grosso mais uma vez será palco de um importante evento internacional, agora festivo e promotor da paz entre os povos. No caminho do Verdão, a interseção da Avenida 8 de Abril, com a Ramiro de Noronha e Thogo Pereira configura-se como um estrangulamento viário a ser solucionado como alternativa de fluidez de tráfego entre a Av. Miguel Sutil e a XV de Novembro. Contígua à essa interseção, a Praça do Cae-Cae poderia integrar esse projeto urbanístico, compondo uma nova capela e uma nova praça, na qual seja projetado um monumento à paz, digno e solene, homenageando os heróis e mártires de todas as guerras, em nome dos nossos irmãos e hermanos, vítimas de uma mesma tragédia que precisa ser lembrada para nunca mais ser repetida. Além de mais uma atração turística, um local que possibilite, no dia 13 de junho de 2014, a realização de uma cerimônia de caráter internacional ajudando o futebol na sua nobre tarefa de promover a paz no mundo.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 09/06/09)
Não vou celebrar a guerra, nem mocinhos ou bandidos, vencedores ou perdedores, e sim falar de vítimas, mártires e heróis, principais produtos em todos os lados de uma guerra. Lembro 13 de Junho, reverenciando o maior martírio sofrido pela gente cuiabana. Antes, matéria escolar obrigatória, hoje, pouco a pouco esquecemos que o maior conflito das Américas ocorreu aqui, e que Cuiabá pagou muito caro por ela. A Guerra do Paraguai reuniu Brasil, Argentina, Uruguai e interesses ingleses contra o Paraguai, na época o país mais poderoso na América Latina. Mato Grosso foi o trágico palco principal.
Entre os diversos episódios vividos pelos cuiabanos na Guerra do Paraguai, um dos mais épicos foi o da Retomada de Corumbá, a 13 de Junho de 1867, cidade então mato-grossense que havia sido tomada pelos paraguaios. Os cuiabanos foram lá, enfrentaram o mais poderoso exército do continente e retomaram para o Brasil aquela importante cidade, num “fato heróico exclusivamente cuiabano”, como nos ensina Pedro Rocha Jucá, organizados pelo Presidente Couto Magalhães e comandados pelo então Capitão Antônio Maria Coelho. Sem reforços externos, só forças militares locais, acrescidas de voluntários.
Mas a história não para por aí. As tropas voltaram à Cuiabá contaminadas com a varíola, pois havia um surto da doença em Corumbá quando da retomada. A epidemia tomou conta de Cuiabá, matando mais da metade de sua população. Segundo Francisco Ferreira Mendes, em cada casa havia pelo menos um doente, e “a cidade ficou juncada de corpos insepultos, atirados às ruas, cuja putrefação empestava mais a cidade com a exalação produzida pela decomposição. Determinou o governo a abertura de valas e a cremação de cadáveres no campo do Cae-Cae, medida que se tornou ineficaz. Não raro eram visto cães famintos arrastando membros e vísceras humanas pelas ruas.”.
13 de Junho, para sempre deve lembrar a epopéia de bravura e dor de um povo humilde, mas determinado. A história de gente de carne e osso, não de livros, de novelas ou filmes, mas que anda aí na Praça Alencastro, no Porto, no Coxipó ou no CPA, sem mais se lembrar que em suas veias corre o valoroso sangue de seus bisavós, o mesmo que vem bravamente construindo e defendendo nosso país por quase três séculos. Hoje, na pracinha do Cae-Cae, nenhuma homenagem. A própria cidade expandiu abraçando o campo santo, outrora afastado. Ainda resta uma cruz, solene, e uma igrejinha ao lado onde as missas dominicais são “pela intenção dos bexiguentos”, ainda que a maioria dos fiéis não saiba mais do que se trata.
Com a escolha de Cuiabá como sub-sede da Copa de 2014, Mato Grosso mais uma vez será palco de um importante evento internacional, agora festivo e promotor da paz entre os povos. No caminho do Verdão, a interseção da Avenida 8 de Abril, com a Ramiro de Noronha e Thogo Pereira configura-se como um estrangulamento viário a ser solucionado como alternativa de fluidez de tráfego entre a Av. Miguel Sutil e a XV de Novembro. Contígua à essa interseção, a Praça do Cae-Cae poderia integrar esse projeto urbanístico, compondo uma nova capela e uma nova praça, na qual seja projetado um monumento à paz, digno e solene, homenageando os heróis e mártires de todas as guerras, em nome dos nossos irmãos e hermanos, vítimas de uma mesma tragédia que precisa ser lembrada para nunca mais ser repetida. Além de mais uma atração turística, um local que possibilite, no dia 13 de junho de 2014, a realização de uma cerimônia de caráter internacional ajudando o futebol na sua nobre tarefa de promover a paz no mundo.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 09/06/09)
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terça-feira, 2 de junho de 2009
GANHAMOS A COPA
José Antonio Lemos dos Santos
Cuiabá ganhou a Copa. Mato Grosso ganhou a Copa. E ganhamos muito mais do que a sub-sede do Pantanal. Por antecipação ganhamos a Copa do Mundo de 2014, independentemente da seleção brasileira sair campeã daqui a cinco anos. O valor desta vitória ultrapassa em muito a luta por um projeto de imenso valor urbano, e marca uma importante mudança de postura na vida de uma cidade quase tricentenária.
Cuiabá começou a ganhar a Copa em 2006, com uma visita do presidente da CBF, quando o governador Blairo Maggi decidiu que a capital mato-grossense podia disputar nacionalmente uma das sub-sedes, então apenas 10, do mais importante evento futebolístico mundial, quando nem o Brasil havia sido escolhido como sede da Copa e muito menos que uma das sub-sedes seria no Pantanal. Uma postura de coragem, que nunca faltou ao cuiabano, mas também de atrevimento e audácia, uma novidade para um povo pacato, que, embora sempre tenha sido grande, sempre se viu apequenado, com receio de se elogiar, valorizar suas coisas e de pleitear suas justas reivindicações. Talvez pelos séculos de isolamento, aprendeu que o novo, o bonito, o que devia ser obedecido, sempre vinha de fora, e que seu destino fosse sempre o de seguir atrás, aproveitando as quireras que sobravam da vida na corte.
Com a decisão do governador, a cidade mudou sua postura, ou na língua do futebol, o time mudou seu posicionamento em campo, deixou de jogar só na defesa, só esperando, liberou os alas, dispensou os volantes e partiu para o ataque. O torcedor prefere assim, com o time buscando a vitória. Essa postura faltava para Cuiabá, sempre tão passiva e de boa fé; e mesmo para Mato Grosso, que apesar de alimentar o mundo, vive acuado, acusado de destruidor justo pelos que constróem armas de destruição e morte e se alimentam de nossa produção.
Bastou a decisão corajosa e acertada de pleitear a sub-sede da Copa para que o povo desse integral apoio, a princípio meio desconfiado, mas logo saindo às ruas, discutindo o assunto, descobrindo que sua cidade é uma senhora naturalmente linda, instalada no exato centro geodésico da América do Sul, com muitos atributos exclusivos que podem interessar ao mundo, como sua rica história, sua cultura, seu calor, seus dois rios, seu sítio urbano emoldurado ao norte pela silhueta da Chapada e coroada ao sul pelo imponente Morro de Santo Antonio, o Toroari bororo. Que sua cidade é o centro de uma das regiões mais dinâmicas do planeta e que só precisa ser melhor tratada para explodir em toda sua beleza e qualidade de vida.
Cuiabá ganhou a Copa de 2014, pois por ela recuperou a auto-estima, a visão positiva e a unanimidade por um interesse comum, situação só vista a quase meio século atrás na vitoriosa luta pela Universidade Federal, tão forte que dobrou as vontades dos governos estadual e federal, em pleno autoritarismo. Ganhando a sub-sede aprende que, como capital de um estado campeão nacional de produção, pode e deve ir em busca de tudo aquilo que interessa ao seu desenvolvimento e ao desenvolvimento do estado. Não apenas esperar.
Agora é hora de fazer, de cobrar e principalmente fiscalizar para que a turma do “olho-grande” não desvirtue a conquista, e a sub-sede do Pantanal seja um dos pontos altos da Copa do Mundo de 2014, na terra do tão esquecido presidente Dutra, o cuiabano que lá no passado também teve a coragem de decidir que o Brasil sediaria uma Copa do Mundo, construiu o Maracanã, e fez do Brasil o país do futebol.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 02/06/2009)
Cuiabá ganhou a Copa. Mato Grosso ganhou a Copa. E ganhamos muito mais do que a sub-sede do Pantanal. Por antecipação ganhamos a Copa do Mundo de 2014, independentemente da seleção brasileira sair campeã daqui a cinco anos. O valor desta vitória ultrapassa em muito a luta por um projeto de imenso valor urbano, e marca uma importante mudança de postura na vida de uma cidade quase tricentenária.
Cuiabá começou a ganhar a Copa em 2006, com uma visita do presidente da CBF, quando o governador Blairo Maggi decidiu que a capital mato-grossense podia disputar nacionalmente uma das sub-sedes, então apenas 10, do mais importante evento futebolístico mundial, quando nem o Brasil havia sido escolhido como sede da Copa e muito menos que uma das sub-sedes seria no Pantanal. Uma postura de coragem, que nunca faltou ao cuiabano, mas também de atrevimento e audácia, uma novidade para um povo pacato, que, embora sempre tenha sido grande, sempre se viu apequenado, com receio de se elogiar, valorizar suas coisas e de pleitear suas justas reivindicações. Talvez pelos séculos de isolamento, aprendeu que o novo, o bonito, o que devia ser obedecido, sempre vinha de fora, e que seu destino fosse sempre o de seguir atrás, aproveitando as quireras que sobravam da vida na corte.
Com a decisão do governador, a cidade mudou sua postura, ou na língua do futebol, o time mudou seu posicionamento em campo, deixou de jogar só na defesa, só esperando, liberou os alas, dispensou os volantes e partiu para o ataque. O torcedor prefere assim, com o time buscando a vitória. Essa postura faltava para Cuiabá, sempre tão passiva e de boa fé; e mesmo para Mato Grosso, que apesar de alimentar o mundo, vive acuado, acusado de destruidor justo pelos que constróem armas de destruição e morte e se alimentam de nossa produção.
Bastou a decisão corajosa e acertada de pleitear a sub-sede da Copa para que o povo desse integral apoio, a princípio meio desconfiado, mas logo saindo às ruas, discutindo o assunto, descobrindo que sua cidade é uma senhora naturalmente linda, instalada no exato centro geodésico da América do Sul, com muitos atributos exclusivos que podem interessar ao mundo, como sua rica história, sua cultura, seu calor, seus dois rios, seu sítio urbano emoldurado ao norte pela silhueta da Chapada e coroada ao sul pelo imponente Morro de Santo Antonio, o Toroari bororo. Que sua cidade é o centro de uma das regiões mais dinâmicas do planeta e que só precisa ser melhor tratada para explodir em toda sua beleza e qualidade de vida.
Cuiabá ganhou a Copa de 2014, pois por ela recuperou a auto-estima, a visão positiva e a unanimidade por um interesse comum, situação só vista a quase meio século atrás na vitoriosa luta pela Universidade Federal, tão forte que dobrou as vontades dos governos estadual e federal, em pleno autoritarismo. Ganhando a sub-sede aprende que, como capital de um estado campeão nacional de produção, pode e deve ir em busca de tudo aquilo que interessa ao seu desenvolvimento e ao desenvolvimento do estado. Não apenas esperar.
Agora é hora de fazer, de cobrar e principalmente fiscalizar para que a turma do “olho-grande” não desvirtue a conquista, e a sub-sede do Pantanal seja um dos pontos altos da Copa do Mundo de 2014, na terra do tão esquecido presidente Dutra, o cuiabano que lá no passado também teve a coragem de decidir que o Brasil sediaria uma Copa do Mundo, construiu o Maracanã, e fez do Brasil o país do futebol.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 02/06/2009)
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terça-feira, 26 de maio de 2009
FERRONORTE: UM GOLPE AOS 20 ANOS
José Antonio Lemos dos Santos
Este mês de maio marca o vigésimo ano da concessão da União á Ferronorte, “para o estabelecimento de um sistema de transporte ferroviário de carga abrangendo a construção, operação, exploração e conservação de estrada de ferro entre Cuiabá (MT) e: a) Uberaba/Uberlândia (MG), b) Santa Fé do Sul (SP), na margem direita do rio Paraná, c) Porto Velho (RO) e d) Santarém (PA)”. Destaca-se o objetivo da concessão que é a criação de um sistema de transporte ferroviário centrado em Cuiabá. Bem mais que uma simples ligação entre dois pontos, trata-se de um macro-projeto para a Amazônia meridional brasileira e Cuiabá é o alfa e o ômega desse grande projeto.
A concessão não deixa ao concessionário a prerrogativa de chegar ou não aos pontos citados, decidindo ao sabor de suas conveniências ou de eventuais pressões e interesses provincianos momentâneos de quaisquer espécies. É para ser cumprida na íntegra. Sua objetividade vem de profundos e competentes estudos técnicos, inclusive de viabilidade econômica, feitos entre 1987 e 1988, dando seqüência a numerosos outros estudos, que vem desde Euclides da Cunha em 1901, passando pelo magnífico trabalho feito pelo GEIPOT em 1974, todos apontando não só a viabilidade, mas a necessidade da ligação de Cuiabá ao sistema ferroviário nacional. De lá para cá o desenvolvimento excepcional de Cuiabá e Mato Grosso, superou em muito todas as expectativas, ratificando todos os estudos de viabilidade precedentes.
Em 1989 imaginava-se que logo o trem chegaria a Rondonópolis, Cuiabá e subiria o norte de Mato Grosso rumo a Santarém e Porto Velho, situação esta ainda muito distante, passados 20 anos, infelizmente. Contudo, apesar do atraso, teríamos hoje muito a comemorar, pois a ferrovia já avançou mais da metade de sua distância original até Cuiabá, e venceu seus maiores obstáculos, dentre os quais a travessia do rio Paraná. Seu traçado técnico até Cuiabá até já foi submetido a uma audiência pública, ficando com uma só pendência: a proximidade da Reserva Tereza Cristina (700 metros fora), sendo recomendado um maior afastamento. Só isso. Esse traçado ficou conhecido como “o traçado original” por ter sido defendido pessoalmente pelo próprio “pai” da ferrovia, senador Vicente Emílio Vuolo. Assim, graças a bravura e abnegação pessoal do senador Vuolo, teríamos sim muito a comemorar pois a ferrovia avançou bastante, ainda que menos que o desejado.
Mas, como comemorar se após esse hercúleo trabalho, o projeto da Ferronorte está por sofrer um bem urdido golpe que lhe poderá ser fatal? O traçado original de 200 Km até Cuiabá está sendo substituído por outro de mais de 400 km(!), subindo a serra em Rondonópolis, sob o pretexto de uma falsa ameaça do traçado original à Reserva Tereza Cristina e, se a ferrovia subir a serra lá, não descerá para Cuiabá nem como um ramal. De lá seguirá direto rumo norte, excluindo o Mato Grosso platino do eixo do desenvolvimento e explodindo o estado.
Os problemas criados pela malícia e ambição humanas são bem mais difíceis do que os obstáculos naturais da distância e dos acidentes geográficos. Após 20 anos de concessão é necessário redobrar a luta, deixar de lado a extrema boa-fé do cuiabano e suas luvas de pelica, para que a ferrovia chegue a Santarém e Porto Velho, levando o progresso para todo Mato Grosso, mas passando por Cuiabá, conforme define a lei e o traçado original deixados pelo senador Vuolo, bem como está fixado na vintenária concessão outorgada à Ferronorte.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 26/05/2009)
Este mês de maio marca o vigésimo ano da concessão da União á Ferronorte, “para o estabelecimento de um sistema de transporte ferroviário de carga abrangendo a construção, operação, exploração e conservação de estrada de ferro entre Cuiabá (MT) e: a) Uberaba/Uberlândia (MG), b) Santa Fé do Sul (SP), na margem direita do rio Paraná, c) Porto Velho (RO) e d) Santarém (PA)”. Destaca-se o objetivo da concessão que é a criação de um sistema de transporte ferroviário centrado em Cuiabá. Bem mais que uma simples ligação entre dois pontos, trata-se de um macro-projeto para a Amazônia meridional brasileira e Cuiabá é o alfa e o ômega desse grande projeto.
A concessão não deixa ao concessionário a prerrogativa de chegar ou não aos pontos citados, decidindo ao sabor de suas conveniências ou de eventuais pressões e interesses provincianos momentâneos de quaisquer espécies. É para ser cumprida na íntegra. Sua objetividade vem de profundos e competentes estudos técnicos, inclusive de viabilidade econômica, feitos entre 1987 e 1988, dando seqüência a numerosos outros estudos, que vem desde Euclides da Cunha em 1901, passando pelo magnífico trabalho feito pelo GEIPOT em 1974, todos apontando não só a viabilidade, mas a necessidade da ligação de Cuiabá ao sistema ferroviário nacional. De lá para cá o desenvolvimento excepcional de Cuiabá e Mato Grosso, superou em muito todas as expectativas, ratificando todos os estudos de viabilidade precedentes.
Em 1989 imaginava-se que logo o trem chegaria a Rondonópolis, Cuiabá e subiria o norte de Mato Grosso rumo a Santarém e Porto Velho, situação esta ainda muito distante, passados 20 anos, infelizmente. Contudo, apesar do atraso, teríamos hoje muito a comemorar, pois a ferrovia já avançou mais da metade de sua distância original até Cuiabá, e venceu seus maiores obstáculos, dentre os quais a travessia do rio Paraná. Seu traçado técnico até Cuiabá até já foi submetido a uma audiência pública, ficando com uma só pendência: a proximidade da Reserva Tereza Cristina (700 metros fora), sendo recomendado um maior afastamento. Só isso. Esse traçado ficou conhecido como “o traçado original” por ter sido defendido pessoalmente pelo próprio “pai” da ferrovia, senador Vicente Emílio Vuolo. Assim, graças a bravura e abnegação pessoal do senador Vuolo, teríamos sim muito a comemorar pois a ferrovia avançou bastante, ainda que menos que o desejado.
Mas, como comemorar se após esse hercúleo trabalho, o projeto da Ferronorte está por sofrer um bem urdido golpe que lhe poderá ser fatal? O traçado original de 200 Km até Cuiabá está sendo substituído por outro de mais de 400 km(!), subindo a serra em Rondonópolis, sob o pretexto de uma falsa ameaça do traçado original à Reserva Tereza Cristina e, se a ferrovia subir a serra lá, não descerá para Cuiabá nem como um ramal. De lá seguirá direto rumo norte, excluindo o Mato Grosso platino do eixo do desenvolvimento e explodindo o estado.
Os problemas criados pela malícia e ambição humanas são bem mais difíceis do que os obstáculos naturais da distância e dos acidentes geográficos. Após 20 anos de concessão é necessário redobrar a luta, deixar de lado a extrema boa-fé do cuiabano e suas luvas de pelica, para que a ferrovia chegue a Santarém e Porto Velho, levando o progresso para todo Mato Grosso, mas passando por Cuiabá, conforme define a lei e o traçado original deixados pelo senador Vuolo, bem como está fixado na vintenária concessão outorgada à Ferronorte.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 26/05/2009)
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terça-feira, 19 de maio de 2009
SEJA BEM VINDA A BASE AÉREA
José Antonio Lemos dos Santos
Na semana passada foi noticiado que o Ministério da Defesa e a FAB instalarão em Cáceres uma Base Aérea do CIOPAER, com apoio do governo do estado. Alvíssaras! Tomara que a realização dessa notícia seja imediata. O Diário de Cuiabá me tem permitido discutir este assunto há quase 10 anos em vários artigos destacando a importância do espaço aéreo mato-grossense para a prática dos diversos tipos de tráfico e sua importância fundamental para o equacionamento dos problemas de segurança pública, não só de Mato Grosso – em especial da região de Cáceres e da Grande Cuiabá, mas de todo o Brasil.
É de ressaltar que jamais será suficientemente enaltecido o trabalho que, com todas as dificuldades e riscos, vem sendo feito pelas polícias militar e civil do estado, Polícia Federal, polícias rodoviárias federal e estadual, e pelo Exército, bem como a importância dos governos continuarem incrementando essas ações terrestres na fronteira. Mas, na questão da nossa fronteira é indispensável lembrar que Mato Grosso é um dos únicos estados do Brasil a não dispor de uma Base Aérea. Mato Grosso do Sul tem, Goiás tem, vizinha a de Brasília, e Rondônia tem duas! Considerando os 1.100 quilômetros de fronteira do estado – dos quais 700 em fronteira seca, e que seu território equivale a mais de 10% do território nacional, o absurdo dessa situação salta aos olhos. O problema se agrava na medida em que toda a fronteira nacional esteja protegida, inclusive por Bases Aéreas, e é previsível que as rotas do crime migrem para o único grande “rombo” ainda existente nas fronteiras brasileiras, que fica justamente na nossa fronteira. Como parece estar acontecendo.
Temo que os esforços corajosos e abnegados de nossos policiais não resultem nos resultados que são capazes se não tiverem uma cobertura aérea sistemática e ostensivamente poderosa, a visão do alto, indispensável para uma vigilância eficiente e eficaz que todos esperam. Por mais determinação política, boa vontade e equipamentos de uma estrutura militar terrestre, é fácil entender a impossibilidade de se querer tomar conta só por terra de uma extensão tão ampla como esta, que além da parte seca – mais de 700 quilômetros - tem as áreas do pantanal, com rios, várzeas, e as grandes lagoas e baías.
Este assunto, há quase 10 anos, motivou a Assembléia Legislativa, através de iniciativa do deputado Carlos Brito, a consultar oficialmente o Ministério da Defesa sobre a possibilidade da instalação de uma Base Aérea em Cáceres, tendo recebido uma resposta animadora dependente de maiores estudos, segundo notícias da época, assunto este continuado de forma bem sucedida pelo deputado João Malheiros, que nos traz agora a boa nova da instalação da base. Lúcida decisão, pois Cáceres tem uma posição estratégica privilegiada, à montante do Pantanal, próxima aos maiores núcleos urbanos do Estado, assim como uma localização central em termos da fronteira a ser vigiada, dispondo de uma pista asfaltada de 1.850 x 30 metros, capaz de descer Boeing 737, prontinho para uso imediato... e ocioso, o qual poderá ser cedido, doado, emprestado, ou até, sei lá, dado como contrapartida ao urgente esforço nacional pela segurança pública.
Pena que uma providência aparentemente tão óbvia tenha demorado tanto quando uma das principais prioridades do povo brasileiro e mato-grossense é a segurança pública nas nossas cidades. Além do que penso ser um absurdo, que um estado das dimensões e importância de Mato Grosso, fronteiriço, ser até hoje um dos únicos a não contar com a presença da Força Aérea Brasileira, através de uma Base Aérea.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 19/05/2009)
Na semana passada foi noticiado que o Ministério da Defesa e a FAB instalarão em Cáceres uma Base Aérea do CIOPAER, com apoio do governo do estado. Alvíssaras! Tomara que a realização dessa notícia seja imediata. O Diário de Cuiabá me tem permitido discutir este assunto há quase 10 anos em vários artigos destacando a importância do espaço aéreo mato-grossense para a prática dos diversos tipos de tráfico e sua importância fundamental para o equacionamento dos problemas de segurança pública, não só de Mato Grosso – em especial da região de Cáceres e da Grande Cuiabá, mas de todo o Brasil.
É de ressaltar que jamais será suficientemente enaltecido o trabalho que, com todas as dificuldades e riscos, vem sendo feito pelas polícias militar e civil do estado, Polícia Federal, polícias rodoviárias federal e estadual, e pelo Exército, bem como a importância dos governos continuarem incrementando essas ações terrestres na fronteira. Mas, na questão da nossa fronteira é indispensável lembrar que Mato Grosso é um dos únicos estados do Brasil a não dispor de uma Base Aérea. Mato Grosso do Sul tem, Goiás tem, vizinha a de Brasília, e Rondônia tem duas! Considerando os 1.100 quilômetros de fronteira do estado – dos quais 700 em fronteira seca, e que seu território equivale a mais de 10% do território nacional, o absurdo dessa situação salta aos olhos. O problema se agrava na medida em que toda a fronteira nacional esteja protegida, inclusive por Bases Aéreas, e é previsível que as rotas do crime migrem para o único grande “rombo” ainda existente nas fronteiras brasileiras, que fica justamente na nossa fronteira. Como parece estar acontecendo.
Temo que os esforços corajosos e abnegados de nossos policiais não resultem nos resultados que são capazes se não tiverem uma cobertura aérea sistemática e ostensivamente poderosa, a visão do alto, indispensável para uma vigilância eficiente e eficaz que todos esperam. Por mais determinação política, boa vontade e equipamentos de uma estrutura militar terrestre, é fácil entender a impossibilidade de se querer tomar conta só por terra de uma extensão tão ampla como esta, que além da parte seca – mais de 700 quilômetros - tem as áreas do pantanal, com rios, várzeas, e as grandes lagoas e baías.
Este assunto, há quase 10 anos, motivou a Assembléia Legislativa, através de iniciativa do deputado Carlos Brito, a consultar oficialmente o Ministério da Defesa sobre a possibilidade da instalação de uma Base Aérea em Cáceres, tendo recebido uma resposta animadora dependente de maiores estudos, segundo notícias da época, assunto este continuado de forma bem sucedida pelo deputado João Malheiros, que nos traz agora a boa nova da instalação da base. Lúcida decisão, pois Cáceres tem uma posição estratégica privilegiada, à montante do Pantanal, próxima aos maiores núcleos urbanos do Estado, assim como uma localização central em termos da fronteira a ser vigiada, dispondo de uma pista asfaltada de 1.850 x 30 metros, capaz de descer Boeing 737, prontinho para uso imediato... e ocioso, o qual poderá ser cedido, doado, emprestado, ou até, sei lá, dado como contrapartida ao urgente esforço nacional pela segurança pública.
Pena que uma providência aparentemente tão óbvia tenha demorado tanto quando uma das principais prioridades do povo brasileiro e mato-grossense é a segurança pública nas nossas cidades. Além do que penso ser um absurdo, que um estado das dimensões e importância de Mato Grosso, fronteiriço, ser até hoje um dos únicos a não contar com a presença da Força Aérea Brasileira, através de uma Base Aérea.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 19/05/2009)
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terça-feira, 12 de maio de 2009
MATO GROSSO 261 ANOS
José Antonio Lemos dos Santos
No último dia 9 de maio comemoramos muito discretamente o 261° aniversário de Mato Grosso, data que lembra o ano de 1748, quando o Rei de Portugal, Dom João V, através de Carta Régia determina a criação de duas Capitanias, “uma nas Minas de Goiás e outra nas de Cuiabá”. A Capitania das Minas de Cuiabá virou Capitania de Mato Grosso e para governá-la foi designado Dom Antonio Rolim de Moura, que tomou posse e permaneceu em Cuiabá por cerca de um ano, até que a cidade de Vila Bela fosse construída. Morou no centro histórico de Cuiabá, próximo à praça que tem o seu nome e que é popularmente conhecida como Largo da Mandioca. Depois chegou a ser o Vice-Rei do Brasil, o governante maior do país na época, já que El-Rey ficava em Portugal. Seria possível pensar na restauração da casa de Rolim de Moura, criando uma nova atração turística no centro histórico?
De lá para cá Mato Grosso fez história. “Limitando, qual novo colosso, o ocidente do imenso Brasil”, nas letras de Dom Aquino, Mato Grosso ia do atual Mato Grosso do Sul até os limites do Acre sendo a vanguarda em terras espanholas do território que atualmente é o Brasil, o qual, além de expandir, conseguiu manter e consolidar a peso de muita bravura, heroísmo e sacrifícios. Hoje é uma das regiões mais dinâmicas do planeta, e o principal pólo irradiador e de apoio ao desenvolvimento na Amazônia Meridional. Da grande produção inicial de ouro, Mato Grosso passou a produzir diamantes, borracha, ipecacuanha, carne e hoje desponta como o maior produtor do Brasil em grãos, algodão, gado e biodiesel, posicionando-se como o sétimo estado exportador do país, sendo que sozinho exporta mais que todas as outras unidades federativas do Centro Oeste juntas. No primeiro trimestre deste ano foi o responsável por 57% do saldo comercial do Brasil com o exterior, no valor de US$ 1,73 bilhão, que daria para fazer a ligação ferroviária de Cuiabá a Alto Araguaia, passando por Rondonópolis, e com o troco ainda duplicar a rodovia Rondonópolis/Cuiabá e concluir a obra do Aeroporto Marechal Rondon.
Porém, mais que produtos comercializáveis, o principal produto de Mato Grosso é sua gente – nascidos ou de adoção - cuja qualidade se expressa em expoentes como Antônio João Ribeiro, Barão de Melgaço, Antônio Maria Coelho, Joaquim Murtinho, Rondon, Roberto Campos e os Presidentes Dutra e Jânio Quadros. Dos mais recentes, lembro da figura de Dante de Oliveira, o “Homem das Diretas”, de Ariosto da Riva, Enio Pepino, Norberto Schwantes e Manoel de Barros, o maior poeta brasileiro vivo, entre tantos. Aliás, Mato Grosso já deu ao Brasil dois Presidentes da República eleitos, o que muitos estados mais destacados na federação não fizeram sequer com um de seus filhos.
O aniversário de Mato Grosso é oportunidade para uma grande festa coletiva, com os mato-grossenses em conjunto comemorando nosso estado, com seus símbolos, suas tradições, história, personagens, cultura, ajudando os cidadãos a se identificarem como conterrâneos, como pessoas que têm muitas coisas em comum, promovendo a amizade, a simpatia e generosidade entre eles.
O sucesso de Mato Grosso está no trabalho de sua gente, na diversidade produtiva oferecida por sua extensão territorial e na integração crescente de todas as suas regiões. Mato Grosso unido é forte e supera todas as crises. A sinergia de uma integração cada vez maior construirá aquele Mato Grosso sonhado por todos os mato-grossenses, com menos desequilíbrios regionais e mais qualidade de vida, respeito ambiental e justiça social.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 12/05/2009)
No último dia 9 de maio comemoramos muito discretamente o 261° aniversário de Mato Grosso, data que lembra o ano de 1748, quando o Rei de Portugal, Dom João V, através de Carta Régia determina a criação de duas Capitanias, “uma nas Minas de Goiás e outra nas de Cuiabá”. A Capitania das Minas de Cuiabá virou Capitania de Mato Grosso e para governá-la foi designado Dom Antonio Rolim de Moura, que tomou posse e permaneceu em Cuiabá por cerca de um ano, até que a cidade de Vila Bela fosse construída. Morou no centro histórico de Cuiabá, próximo à praça que tem o seu nome e que é popularmente conhecida como Largo da Mandioca. Depois chegou a ser o Vice-Rei do Brasil, o governante maior do país na época, já que El-Rey ficava em Portugal. Seria possível pensar na restauração da casa de Rolim de Moura, criando uma nova atração turística no centro histórico?
De lá para cá Mato Grosso fez história. “Limitando, qual novo colosso, o ocidente do imenso Brasil”, nas letras de Dom Aquino, Mato Grosso ia do atual Mato Grosso do Sul até os limites do Acre sendo a vanguarda em terras espanholas do território que atualmente é o Brasil, o qual, além de expandir, conseguiu manter e consolidar a peso de muita bravura, heroísmo e sacrifícios. Hoje é uma das regiões mais dinâmicas do planeta, e o principal pólo irradiador e de apoio ao desenvolvimento na Amazônia Meridional. Da grande produção inicial de ouro, Mato Grosso passou a produzir diamantes, borracha, ipecacuanha, carne e hoje desponta como o maior produtor do Brasil em grãos, algodão, gado e biodiesel, posicionando-se como o sétimo estado exportador do país, sendo que sozinho exporta mais que todas as outras unidades federativas do Centro Oeste juntas. No primeiro trimestre deste ano foi o responsável por 57% do saldo comercial do Brasil com o exterior, no valor de US$ 1,73 bilhão, que daria para fazer a ligação ferroviária de Cuiabá a Alto Araguaia, passando por Rondonópolis, e com o troco ainda duplicar a rodovia Rondonópolis/Cuiabá e concluir a obra do Aeroporto Marechal Rondon.
Porém, mais que produtos comercializáveis, o principal produto de Mato Grosso é sua gente – nascidos ou de adoção - cuja qualidade se expressa em expoentes como Antônio João Ribeiro, Barão de Melgaço, Antônio Maria Coelho, Joaquim Murtinho, Rondon, Roberto Campos e os Presidentes Dutra e Jânio Quadros. Dos mais recentes, lembro da figura de Dante de Oliveira, o “Homem das Diretas”, de Ariosto da Riva, Enio Pepino, Norberto Schwantes e Manoel de Barros, o maior poeta brasileiro vivo, entre tantos. Aliás, Mato Grosso já deu ao Brasil dois Presidentes da República eleitos, o que muitos estados mais destacados na federação não fizeram sequer com um de seus filhos.
O aniversário de Mato Grosso é oportunidade para uma grande festa coletiva, com os mato-grossenses em conjunto comemorando nosso estado, com seus símbolos, suas tradições, história, personagens, cultura, ajudando os cidadãos a se identificarem como conterrâneos, como pessoas que têm muitas coisas em comum, promovendo a amizade, a simpatia e generosidade entre eles.
O sucesso de Mato Grosso está no trabalho de sua gente, na diversidade produtiva oferecida por sua extensão territorial e na integração crescente de todas as suas regiões. Mato Grosso unido é forte e supera todas as crises. A sinergia de uma integração cada vez maior construirá aquele Mato Grosso sonhado por todos os mato-grossenses, com menos desequilíbrios regionais e mais qualidade de vida, respeito ambiental e justiça social.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 12/05/2009)
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terça-feira, 5 de maio de 2009
TÚMULOS REVIRADOS
José Antonio Lemos dos Santos
Não sei se é um costume só daqui, mas ainda hoje em Cuiabá se diz que “fulano está se revirando no túmulo” quando acontece alguma coisa no mundo dos vivos que desagrada a um falecido. Indignado, lembro-me muitas vezes desta expressão em relação a alguns homens públicos que já se foram, pelo tratamento dado ao legado que deixaram.
Um deles é Orlando Boni, cuiabano que nunca esqueceu Cuiabá e que ao assumir a presidência da INFRAERO, recusou a reforminha que estava programada para o Aeroporto Marechal Rondon como adaptação à sua recente internacionalização e determinou a construção de uma estação de passageiros à altura de sua importância como um dos principais aeroportos do país. Com a mudança política no governo federal ele deixou a presidência com a obra inconclusa. E inconclusa ficou. Jovem ainda, faleceu sem vê-la concluída.
Pior é a vergonha dos que gostam de falar que nosso estado é campeão disto e daquilo, progresso, modernidade, etc.. Outro dia recebemos uma senhora amiga da família, culta, viajada pelo mundo. Chegou na “ala de desembarque”, ou melhor, naquele muquifo improvisado, todos felizes pelo reencontro, até que ela indagou sobre o banheiro. Constrangidos, mesmo com uma garoazinha tivemos que levá-la à outra ala, separada quase 100 metros. Como desfazer essa primeira péssima impressão, que é a que fica e que milhares estão levando de Mato Grosso? Conta a lenda que foi preciso a então primeira-dama Maria Tereza Goulart passar pelo mesmo constrangimento para que fosse construída a nossa primeira estação de passageiros digna desse nome.
Outro sempre lembrado é o eterno senador Vuolo. Após colocar em lei federal a ligação ferroviária de Cuiabá, conseguiu também a concessão da União para a execução da obra, concessão que neste mês completa 20 anos de existência e nela Cuiabá é mais que apenas o destino de uma ferrovia, mas o centro de um sistema ferroviário, a ser construído e não discutido, interligando Santarém, Porto Velho, Rubinéia e Uberaba/Uberlândia. Muito além disso isso, continuou a luta a tempo de ver o trem chegar a Mato Grosso, impossível sem a ciclópica ponte de quase 1 bilhão de dólares, sobre o rio Paraná, viabilizada por ele. Agora que a ferrovia se encontra praticamente a 200 Km de Cuiabá, sem himalaias ou outros paranás a transpor, tem que assistir lá de cima à criação de falsas dúvidas sobre a economicidade da chegada a Cuiabá, que na verdade é o trecho que viabiliza toda a ferrovia politicamente e também economicamente com cargas de ida e volta. Pior, ante sua ululante viabilidade, pretendem mudar o traçado original passando de 200 para 400 Km, subindo a serra, para depois descê-la e subir novamente, aí sim, inviabilizando-a definitivamente.
E lembro o saudoso Dante de Oliveira, verdadeiro estadista que lançou as bases do extraordinário Mato Grosso que vivemos hoje, com iniciativas e obras estruturantes para o estado, em geral paralisadas ou relegadas, de grandiosidade não entendida por muita gente importante do estado, em especial, de Cuiabá e Várzea Grande. Agora, a Petrobrás diz que neste mês decidirá a localização da fábrica de fertilizantes de 2 bilhões de dólares e que tecnicamente tem tudo para ser em Cuiabá. Ou tinha, já que nossas autoridades, dos governos e da oposição, deixaram sem gás um gasoduto pronto de 250 milhões de dólares, sendo o gás a matéria prima básica para a fábrica, como para muitas outras da indústria química. E agora? Bom, agora é torcer pela força atrativa da economia mato-grossense, principal mercado consumidor da nova fábrica, confiar na boa vontade do presidente Evo e continuar contando com as bênçãos do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 05/05/2009)
Não sei se é um costume só daqui, mas ainda hoje em Cuiabá se diz que “fulano está se revirando no túmulo” quando acontece alguma coisa no mundo dos vivos que desagrada a um falecido. Indignado, lembro-me muitas vezes desta expressão em relação a alguns homens públicos que já se foram, pelo tratamento dado ao legado que deixaram.
Um deles é Orlando Boni, cuiabano que nunca esqueceu Cuiabá e que ao assumir a presidência da INFRAERO, recusou a reforminha que estava programada para o Aeroporto Marechal Rondon como adaptação à sua recente internacionalização e determinou a construção de uma estação de passageiros à altura de sua importância como um dos principais aeroportos do país. Com a mudança política no governo federal ele deixou a presidência com a obra inconclusa. E inconclusa ficou. Jovem ainda, faleceu sem vê-la concluída.
Pior é a vergonha dos que gostam de falar que nosso estado é campeão disto e daquilo, progresso, modernidade, etc.. Outro dia recebemos uma senhora amiga da família, culta, viajada pelo mundo. Chegou na “ala de desembarque”, ou melhor, naquele muquifo improvisado, todos felizes pelo reencontro, até que ela indagou sobre o banheiro. Constrangidos, mesmo com uma garoazinha tivemos que levá-la à outra ala, separada quase 100 metros. Como desfazer essa primeira péssima impressão, que é a que fica e que milhares estão levando de Mato Grosso? Conta a lenda que foi preciso a então primeira-dama Maria Tereza Goulart passar pelo mesmo constrangimento para que fosse construída a nossa primeira estação de passageiros digna desse nome.
Outro sempre lembrado é o eterno senador Vuolo. Após colocar em lei federal a ligação ferroviária de Cuiabá, conseguiu também a concessão da União para a execução da obra, concessão que neste mês completa 20 anos de existência e nela Cuiabá é mais que apenas o destino de uma ferrovia, mas o centro de um sistema ferroviário, a ser construído e não discutido, interligando Santarém, Porto Velho, Rubinéia e Uberaba/Uberlândia. Muito além disso isso, continuou a luta a tempo de ver o trem chegar a Mato Grosso, impossível sem a ciclópica ponte de quase 1 bilhão de dólares, sobre o rio Paraná, viabilizada por ele. Agora que a ferrovia se encontra praticamente a 200 Km de Cuiabá, sem himalaias ou outros paranás a transpor, tem que assistir lá de cima à criação de falsas dúvidas sobre a economicidade da chegada a Cuiabá, que na verdade é o trecho que viabiliza toda a ferrovia politicamente e também economicamente com cargas de ida e volta. Pior, ante sua ululante viabilidade, pretendem mudar o traçado original passando de 200 para 400 Km, subindo a serra, para depois descê-la e subir novamente, aí sim, inviabilizando-a definitivamente.
E lembro o saudoso Dante de Oliveira, verdadeiro estadista que lançou as bases do extraordinário Mato Grosso que vivemos hoje, com iniciativas e obras estruturantes para o estado, em geral paralisadas ou relegadas, de grandiosidade não entendida por muita gente importante do estado, em especial, de Cuiabá e Várzea Grande. Agora, a Petrobrás diz que neste mês decidirá a localização da fábrica de fertilizantes de 2 bilhões de dólares e que tecnicamente tem tudo para ser em Cuiabá. Ou tinha, já que nossas autoridades, dos governos e da oposição, deixaram sem gás um gasoduto pronto de 250 milhões de dólares, sendo o gás a matéria prima básica para a fábrica, como para muitas outras da indústria química. E agora? Bom, agora é torcer pela força atrativa da economia mato-grossense, principal mercado consumidor da nova fábrica, confiar na boa vontade do presidente Evo e continuar contando com as bênçãos do Senhor Bom Jesus de Cuiabá.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 05/05/2009)
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terça-feira, 28 de abril de 2009
INVIABILIZANDO A FERROVIA
José Antonio Lemos dos Santos
No último dia 19 o Diário de Cuiabá trouxe matéria da jornalista Marianna Peres com o amigo Francisco Vuolo, vereador e também presidente do Fórum pela Ferrovia em Cuiabá. Intitulada “Prazo final exige celeridade para o cumprimento do aditivo”, diz um de seus trechos sobre a ferrovia: “Como ao longo dos anos houve interferências políticas sobre o projeto e entraves ambientais, a chegada à Capital sofreu a adição de cerca de mais 200 quilômetros no trecho para se distanciar da reserva indígena Teresa Cristina, como também, da Serra de São Vicente. “Com essas alterações, este outro trecho de Rondonópolis a Cuiabá tem orçamento de R$ 700 milhões também e agora prevê, neste percurso, o transporte de passageiros”. Como explicou Vuolo, esta última alteração ao projeto original, que busca autorização, repercutirá em uma injeção de recursos para cidades como Jaciara, Juscimeira e Barão de Melgaço.”.
Resumindo, querem dobrar a distância e os custos do trecho ferroviário entre Rondonópolis a Cuiabá. Uma proposta absurda que se autodenuncia como tal. No afã de realizar a grande obra para Mato Grosso e sonho do seu pai, o vereador não percebeu a armadilha que lhe prepararam. Esse novo trajeto está sendo proposto justamente para inviabilizar a chegada dos trilhos a Cuiabá/Várzea Grande.
A matéria também confirma a existência das interferências políticas antes tidas apenas como suposições. Que interferências políticas e entraves ambientais foram esses? Por que e quem decidiu abandonar o traçado original? Quando da audiência pública que discutiu o trajeto original até Cuiabá, a que estive presente, o único problema que persistiu foi sua passagem próxima a uma reserva indígena, fora da reserva quase 1 Km, rio abaixo. Seria suficiente para acrescentar mais 200 km ao trajeto, praticamente inviabilizando a ferrovia?
Na verdade um terminal em Cuiabá inviabiliza os planos de alguns grupos de Rondonópolis que querem lá o maior terminal ferroviário de Mato Grosso. Existindo um terminal em Cuiabá, como determina a concessão federal e a lei, esvazia o projeto do maior terminal lá, pois toda a carga originária a oeste da área de influência da BR-163 com destino ao sudeste, para consumo interno ou exportação, será embarcada em Cuiabá, também o maior destino das cargas de retorno.
Especialista em cidades, não em ferrovias, aprendi, porém, alguma coisa sobre elas em mais de 30 anos acompanhando o assunto sob o prisma do desenvolvimento urbano e regional. Uma delas é que se a ferrovia subir a serra, não desce de novo para chegar a Cuiabá, pelos custos desse percurso e pelo Parque Nacional de Chapada. Outro ponto é que a Ferronorte é diferente das antigas marias-fumaças, que passavam em cada vila, cada cidade. Sua lógica prevê terminais a cada 200 a 300 Km, em pontos concentradores de carga. E Cuiabá é o maior pólo concentrador de cargas do estado, de ida e de volta. Assim, a proposta do trem passar em Jaciara e Juscimeira (serra acima) e Barão de Melgaço (serra abaixo), afastando-se também da Serra de São Vicente, é um poço de contradições, incompatível com a seriedade do caso.
Este aberrante “projeto” para o trecho Rondonópolis-Cuiabá revela o desespero daqueles que não querem a ferrovia em Cuiabá ante a iminência do estudo de viabilidade – ainda que desnecessário a meu ver - proposto pelo governador aprovar o traçado original defendido pelo eterno senador Vuolo. Seu aparecimento é apenas mais uma tentativa de inviabilizar a chegada a Cuiabá daquela que é uma das mais modernas ferrovias do mundo e, na atualidade, a mais viável de todas.
(Publicado pelo Diário de Cuiiabá em 28/04/2009)
No último dia 19 o Diário de Cuiabá trouxe matéria da jornalista Marianna Peres com o amigo Francisco Vuolo, vereador e também presidente do Fórum pela Ferrovia em Cuiabá. Intitulada “Prazo final exige celeridade para o cumprimento do aditivo”, diz um de seus trechos sobre a ferrovia: “Como ao longo dos anos houve interferências políticas sobre o projeto e entraves ambientais, a chegada à Capital sofreu a adição de cerca de mais 200 quilômetros no trecho para se distanciar da reserva indígena Teresa Cristina, como também, da Serra de São Vicente. “Com essas alterações, este outro trecho de Rondonópolis a Cuiabá tem orçamento de R$ 700 milhões também e agora prevê, neste percurso, o transporte de passageiros”. Como explicou Vuolo, esta última alteração ao projeto original, que busca autorização, repercutirá em uma injeção de recursos para cidades como Jaciara, Juscimeira e Barão de Melgaço.”.
Resumindo, querem dobrar a distância e os custos do trecho ferroviário entre Rondonópolis a Cuiabá. Uma proposta absurda que se autodenuncia como tal. No afã de realizar a grande obra para Mato Grosso e sonho do seu pai, o vereador não percebeu a armadilha que lhe prepararam. Esse novo trajeto está sendo proposto justamente para inviabilizar a chegada dos trilhos a Cuiabá/Várzea Grande.
A matéria também confirma a existência das interferências políticas antes tidas apenas como suposições. Que interferências políticas e entraves ambientais foram esses? Por que e quem decidiu abandonar o traçado original? Quando da audiência pública que discutiu o trajeto original até Cuiabá, a que estive presente, o único problema que persistiu foi sua passagem próxima a uma reserva indígena, fora da reserva quase 1 Km, rio abaixo. Seria suficiente para acrescentar mais 200 km ao trajeto, praticamente inviabilizando a ferrovia?
Na verdade um terminal em Cuiabá inviabiliza os planos de alguns grupos de Rondonópolis que querem lá o maior terminal ferroviário de Mato Grosso. Existindo um terminal em Cuiabá, como determina a concessão federal e a lei, esvazia o projeto do maior terminal lá, pois toda a carga originária a oeste da área de influência da BR-163 com destino ao sudeste, para consumo interno ou exportação, será embarcada em Cuiabá, também o maior destino das cargas de retorno.
Especialista em cidades, não em ferrovias, aprendi, porém, alguma coisa sobre elas em mais de 30 anos acompanhando o assunto sob o prisma do desenvolvimento urbano e regional. Uma delas é que se a ferrovia subir a serra, não desce de novo para chegar a Cuiabá, pelos custos desse percurso e pelo Parque Nacional de Chapada. Outro ponto é que a Ferronorte é diferente das antigas marias-fumaças, que passavam em cada vila, cada cidade. Sua lógica prevê terminais a cada 200 a 300 Km, em pontos concentradores de carga. E Cuiabá é o maior pólo concentrador de cargas do estado, de ida e de volta. Assim, a proposta do trem passar em Jaciara e Juscimeira (serra acima) e Barão de Melgaço (serra abaixo), afastando-se também da Serra de São Vicente, é um poço de contradições, incompatível com a seriedade do caso.
Este aberrante “projeto” para o trecho Rondonópolis-Cuiabá revela o desespero daqueles que não querem a ferrovia em Cuiabá ante a iminência do estudo de viabilidade – ainda que desnecessário a meu ver - proposto pelo governador aprovar o traçado original defendido pelo eterno senador Vuolo. Seu aparecimento é apenas mais uma tentativa de inviabilizar a chegada a Cuiabá daquela que é uma das mais modernas ferrovias do mundo e, na atualidade, a mais viável de todas.
(Publicado pelo Diário de Cuiiabá em 28/04/2009)
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terça-feira, 21 de abril de 2009
CRESCER PARA DENTRO (II)
José Antonio Lemos dos Santos
A amplitude de um assunto como o controle do desenvolvimento de uma cidade com mais de meio milhão de habitantes, visando o adensamento e a otimização de sua infraestrutura em um horizonte de 10 anos, certamente foge ao escopo de um artigo. O da semana passada recebeu dos leitores bons comentários e questionamentos que ajudam a esclarecer a idéia proposta, e por isso abordo alguns deles.
Primeiro, ao me referir à responsabilidade dos cidadãos, lideranças e autoridades da cidade no processo, referia-me não só ao prefeito, mas também, aos vereadores - co-autores da lei - e mesmo ao Ministério Público, não só o Estadual, mas sobretudo o Federal, pois o respeito ao perímetro urbano é determinado por lei federal.
Outro ponto foi a expressão “crescer para dentro” ter erradamente dado a idéia de trazer toda a futura população adicional da cidade para o seu centro histórico, já congestionado, inviabilizando a qualidade de vida, ao invés de melhorá-la. Diferente disso, a idéia é crescer ocupando os espaços vazios e os milhares de lotes ociosos existentes dentro da macrozona urbana, excessivamente extensa devido a conjuntos oficiais construídos por governos no passado, fora do perímetro urbano da época, forçando sua ampliação para abrangê-los e permitir suas regularizações.
Cuiabá tem uma macrozona urbana com 252 Km² de área, para cerca de 600 mil habitantes, o que dá a baixíssima densidade de 24 habitantes por hectare. Para comparação, a cidade de Nova York, na ilha de Manhattan, tem uma área de 59,5 Km² para 1,6 milhão de habitantes, enquanto que Paris tem 105,4 Km², para 2,2 milhões de habitantes, ambas, portanto, com densidades superiores a 200 hab./ha e, mesmo assim, referências mundiais em qualidade de vida urbana. Uma das razões desse padrão de qualidade é justamente a otimização do espaço urbano, pela qual ambas têm seus custos operacionais per capita 10 vezes menores que os de Cuiabá, por exemplo, podendo oferecer 10 vezes mais benefícios para sua população pelo mesmo preço.
Mesmo que a Carta de Atenas recomende, não dá para chegar a tais padrões, nem se quisesse. Obedecidos os limites do perímetro urbano e mantidas as atuais taxas de crescimento demográfico para os próximos 10 anos, o adicional de população previsto para o período vai girar entre 130 e 150 mil habitantes, ou seja, não chegaríamos nem aos 30 hab/ha. Seria pouco (aparentemente) em termos de redução de custos, porém com a enorme vantagem de evitar seus acréscimos, como os já sofridos por Cuiabá por causa das ampliações urbanas irresponsáveis citadas.
O crescimento demográfico previsto demandaria entre 33 a 38 mil novas moradias e, hoje, Cuiabá conta com 40 a 45 mil lotes ociosos, já com arruamento e alguns serviços urbanos, no mínimo. Então, em tese, toda a população adicional prevista para Cuiabá nos próximos 10 anos poderia ser acomodada em residências unifamiliares sem precisar abrir mais um metro de rua. Se um quadro desse fosse possível, os investimentos a ser feitos em novas áreas seriam aplicados em áreas já ocupadas, melhorando seus padrões de infraestrutura, beneficiando também os moradores atuais, carentes da qualidade urbana.
Distantes dos níveis de Paris ou de Nova York, os 50 hab/ha de São José do Rio Preto são uma boa referência tupiniquim. O respeito aos limites do perímetro urbano é fundamental para que se alcance níveis mínimos de administrabilidade e viabilização urbanas, indispensáveis ao desenvolvimento dos padrões de qualidade da vida que queremos para Cuiabá por ocasião de seu tricentenário.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 21/04/2009)
A amplitude de um assunto como o controle do desenvolvimento de uma cidade com mais de meio milhão de habitantes, visando o adensamento e a otimização de sua infraestrutura em um horizonte de 10 anos, certamente foge ao escopo de um artigo. O da semana passada recebeu dos leitores bons comentários e questionamentos que ajudam a esclarecer a idéia proposta, e por isso abordo alguns deles.
Primeiro, ao me referir à responsabilidade dos cidadãos, lideranças e autoridades da cidade no processo, referia-me não só ao prefeito, mas também, aos vereadores - co-autores da lei - e mesmo ao Ministério Público, não só o Estadual, mas sobretudo o Federal, pois o respeito ao perímetro urbano é determinado por lei federal.
Outro ponto foi a expressão “crescer para dentro” ter erradamente dado a idéia de trazer toda a futura população adicional da cidade para o seu centro histórico, já congestionado, inviabilizando a qualidade de vida, ao invés de melhorá-la. Diferente disso, a idéia é crescer ocupando os espaços vazios e os milhares de lotes ociosos existentes dentro da macrozona urbana, excessivamente extensa devido a conjuntos oficiais construídos por governos no passado, fora do perímetro urbano da época, forçando sua ampliação para abrangê-los e permitir suas regularizações.
Cuiabá tem uma macrozona urbana com 252 Km² de área, para cerca de 600 mil habitantes, o que dá a baixíssima densidade de 24 habitantes por hectare. Para comparação, a cidade de Nova York, na ilha de Manhattan, tem uma área de 59,5 Km² para 1,6 milhão de habitantes, enquanto que Paris tem 105,4 Km², para 2,2 milhões de habitantes, ambas, portanto, com densidades superiores a 200 hab./ha e, mesmo assim, referências mundiais em qualidade de vida urbana. Uma das razões desse padrão de qualidade é justamente a otimização do espaço urbano, pela qual ambas têm seus custos operacionais per capita 10 vezes menores que os de Cuiabá, por exemplo, podendo oferecer 10 vezes mais benefícios para sua população pelo mesmo preço.
Mesmo que a Carta de Atenas recomende, não dá para chegar a tais padrões, nem se quisesse. Obedecidos os limites do perímetro urbano e mantidas as atuais taxas de crescimento demográfico para os próximos 10 anos, o adicional de população previsto para o período vai girar entre 130 e 150 mil habitantes, ou seja, não chegaríamos nem aos 30 hab/ha. Seria pouco (aparentemente) em termos de redução de custos, porém com a enorme vantagem de evitar seus acréscimos, como os já sofridos por Cuiabá por causa das ampliações urbanas irresponsáveis citadas.
O crescimento demográfico previsto demandaria entre 33 a 38 mil novas moradias e, hoje, Cuiabá conta com 40 a 45 mil lotes ociosos, já com arruamento e alguns serviços urbanos, no mínimo. Então, em tese, toda a população adicional prevista para Cuiabá nos próximos 10 anos poderia ser acomodada em residências unifamiliares sem precisar abrir mais um metro de rua. Se um quadro desse fosse possível, os investimentos a ser feitos em novas áreas seriam aplicados em áreas já ocupadas, melhorando seus padrões de infraestrutura, beneficiando também os moradores atuais, carentes da qualidade urbana.
Distantes dos níveis de Paris ou de Nova York, os 50 hab/ha de São José do Rio Preto são uma boa referência tupiniquim. O respeito aos limites do perímetro urbano é fundamental para que se alcance níveis mínimos de administrabilidade e viabilização urbanas, indispensáveis ao desenvolvimento dos padrões de qualidade da vida que queremos para Cuiabá por ocasião de seu tricentenário.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 21/04/2009)
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terça-feira, 14 de abril de 2009
CRESCER PARA DENTRO
José Antonio Lemos dos Santos
A uma década de seu tricentenário e vivendo pela primeira vez em sua história condições locais e regionais impulsionadoras, Cuiabá nesse período pode dar um salto significativo em sua qualidade de vida urbana. As condições existem e esse é o tempo mínimo necessário à construção do que seria o maior e melhor presente na festa de seus 300 anos. Para isso é preciso muito dinheiro, é óbvio. Público e privado. Felizmente, porém o dinheiro é apenas um grande problema que, entretanto, se tornará muito maior se adotado como início de uma empreitada deste tipo. Há outras maneiras mais corretas de iniciar.
Em geral as cidades crescem a partir dos próprios recursos que geram ou que são capazes de atrair. Cuiabá vive um momento positivo, por polarizar uma das regiões mais dinâmicas do planeta, que demanda novos empreendimentos estimuladores do capital local e, principalmente do capital externo. Assim, a cidade hoje tem recursos, notadamente privados, e por isso vem se transformando espontaneamente a olhos vistos. O dinheiro, ou melhor, o capital é atraído pelas suas chances de reprodução e, docilmente, como uma cadelinha amestrada de Nélson Rodrigues, vem lamber as botas das oportunidades que estão surgindo.
Por onde então começar? Uma cidade é antes de tudo uma grande obra, e nela a primeira coisa que temos a fazer é a sua delimitação física. A delimitação de uma cidade é fundamental desde o tempo dos etruscos que tinham na limitatio a primeira das etapas de sua planificação urbana. No nosso urbanismo atual corresponde à definição do perímetro urbano e a conseqüente macrozona urbana, que uma vez estabelecido em lei específica, deve ser obedecido rigidamente.
A delimitação de uma cidade tem a ver diretamente com sua densidade populacional e, daí, com os seus custos operacionais e de construção. Quanto mais espalhada uma cidade, menos densa ela é e mais elevados são os custos de sua infra-estrutura de equipamentos e serviços por habitante. As cidades medievais mantinham densidades acima dos 200 habitantes por hectare para manter principalmente sua muralha, seu principal e mais dispendioso equipamento urbano.
A Carta de Atenas, um dos documentos básicos do urbanismo, recomenda densidades em torno dos 250 habitantes por hectare como o ideal, a expressão do encontro entre as curvas da economicidade e do conforto, ou seja, onde a população pode viver bem com os menores custos urbanos. Cuiabá convive com uma densidade baixíssima, pouco superior a 21 habitantes por hectare, isto é, em tese sua macrozona urbana teria condições de receber 10 vezes mais população do que a que tem hoje, reduzindo 10 vezes seus custos per capita. E quanto menores os custos, evidentemente, maior facilidade para disponibilização dos equipamentos e serviços urbanos. Resumindo, Cuiabá tem hoje, por exemplo, muito mais asfalto, iluminação pública, rede elétrica e de água, escolas, equipamentos de saúde, e seus ônibus e caminhões de lixo rodam muito mais do que seria necessário para atender sua população se estivesse disposta de forma mais compacta.
Fazer a cidade crescer para dentro, evitando a qualquer custo a ampliação de sua macrozona urbana, é fundamental na busca da qualidade de vida urbana. A lei do perímetro já existe, basta cumpri-la nestes 10 anos. Não é preciso dinheiro adicional, só vontade e determinação do poder público e, principalmente, uma população consciente e disposta a cobrar sua execução. O adensamento urbano, otimizando a infra-estrutura e reduzindo os custos operacionais da cidade seria um ótimo começo na preparação da festa do tricentenário de Cuiabá.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 14/04/2009)
A uma década de seu tricentenário e vivendo pela primeira vez em sua história condições locais e regionais impulsionadoras, Cuiabá nesse período pode dar um salto significativo em sua qualidade de vida urbana. As condições existem e esse é o tempo mínimo necessário à construção do que seria o maior e melhor presente na festa de seus 300 anos. Para isso é preciso muito dinheiro, é óbvio. Público e privado. Felizmente, porém o dinheiro é apenas um grande problema que, entretanto, se tornará muito maior se adotado como início de uma empreitada deste tipo. Há outras maneiras mais corretas de iniciar.
Em geral as cidades crescem a partir dos próprios recursos que geram ou que são capazes de atrair. Cuiabá vive um momento positivo, por polarizar uma das regiões mais dinâmicas do planeta, que demanda novos empreendimentos estimuladores do capital local e, principalmente do capital externo. Assim, a cidade hoje tem recursos, notadamente privados, e por isso vem se transformando espontaneamente a olhos vistos. O dinheiro, ou melhor, o capital é atraído pelas suas chances de reprodução e, docilmente, como uma cadelinha amestrada de Nélson Rodrigues, vem lamber as botas das oportunidades que estão surgindo.
Por onde então começar? Uma cidade é antes de tudo uma grande obra, e nela a primeira coisa que temos a fazer é a sua delimitação física. A delimitação de uma cidade é fundamental desde o tempo dos etruscos que tinham na limitatio a primeira das etapas de sua planificação urbana. No nosso urbanismo atual corresponde à definição do perímetro urbano e a conseqüente macrozona urbana, que uma vez estabelecido em lei específica, deve ser obedecido rigidamente.
A delimitação de uma cidade tem a ver diretamente com sua densidade populacional e, daí, com os seus custos operacionais e de construção. Quanto mais espalhada uma cidade, menos densa ela é e mais elevados são os custos de sua infra-estrutura de equipamentos e serviços por habitante. As cidades medievais mantinham densidades acima dos 200 habitantes por hectare para manter principalmente sua muralha, seu principal e mais dispendioso equipamento urbano.
A Carta de Atenas, um dos documentos básicos do urbanismo, recomenda densidades em torno dos 250 habitantes por hectare como o ideal, a expressão do encontro entre as curvas da economicidade e do conforto, ou seja, onde a população pode viver bem com os menores custos urbanos. Cuiabá convive com uma densidade baixíssima, pouco superior a 21 habitantes por hectare, isto é, em tese sua macrozona urbana teria condições de receber 10 vezes mais população do que a que tem hoje, reduzindo 10 vezes seus custos per capita. E quanto menores os custos, evidentemente, maior facilidade para disponibilização dos equipamentos e serviços urbanos. Resumindo, Cuiabá tem hoje, por exemplo, muito mais asfalto, iluminação pública, rede elétrica e de água, escolas, equipamentos de saúde, e seus ônibus e caminhões de lixo rodam muito mais do que seria necessário para atender sua população se estivesse disposta de forma mais compacta.
Fazer a cidade crescer para dentro, evitando a qualquer custo a ampliação de sua macrozona urbana, é fundamental na busca da qualidade de vida urbana. A lei do perímetro já existe, basta cumpri-la nestes 10 anos. Não é preciso dinheiro adicional, só vontade e determinação do poder público e, principalmente, uma população consciente e disposta a cobrar sua execução. O adensamento urbano, otimizando a infra-estrutura e reduzindo os custos operacionais da cidade seria um ótimo começo na preparação da festa do tricentenário de Cuiabá.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 14/04/2009)
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quarta-feira, 8 de abril de 2009
CUIABÁ 300-10
José Antonio Lemos dos Santos
Em um local chamado Ikuiapá, com grandes pedras claras onde se pescava com flecha-arpão e um corguinho desembocava em um belo rio, o ouro fez surgir, corgo acima, uma cidade que floresceu bonita e se chamou Cuiabá. Celula-mater do ocidente brasileiro, gerou muitas outras, inclusive estados. E o pequeno córrego tinha tanto ouro que era chamado Ikuiebo, córrego das estrelas, tantas as pepitas que cintilavam à luz do sol e da lua aos olhos bororos, nativos.
Por breve tempo, Cuiabá foi a mais populosa cidade do Brasil, de onde a Europa levou muito ouro, dinamismo que só durou enquanto durou o ouro. Seu fim seria o das cidades-fantasmas dos garimpos não fosse sua localização mágica, privilegiada, no centro do continente, em terras espanholas na época, cuja perspectiva de riqueza chama a atenção de Portugal. E então o Papa decide que o limite entre as terras dos dois países não seria mais definido pela linha do Tratado de Tordesilhas e sim pelo seu uso. Por ser a vanguarda física da coroa portuguesa nessa disputa, Cuiabá sobrevive ao fim do ouro, dando seu primeiro salto de desenvolvimento – o da sobrevivência, agora baluarte português, apoio e defesa dos interesses lusos.
Logo Portugal criou a Capitania de Mato Grosso cujo primeiro governo foi instalado em Cuiabá, permanecendo como sua sede durante a construção da futura capital, Vila Bela. Por dois séculos sobreviveu à duras penas, com tempos melhores e piores, inclusive, recuperando nesse ínterim o status de capital. Período heróico que forjou uma gente brava, alegre e hospitaleira, capaz de produzir um dos mais ricos patrimônios culturais do Brasil, com vultos e proezas históricas que merecem melhor tratamento da história oficial brasileira. Como um astronauta contemporâneo, vanguarda humana na imensidão do espaço, ligado à nave apenas por um cordão prateado, assim Cuiabá sobreviveu por séculos, solta na imensidão do hinterland continental, ligada à civilização apenas pelo cordão platino dos rios Cuiabá e Paraguai.
Até que na década de 60 a cidade é sacudida novamente, transforma-se no “portal da Amazônia” e em pouco tempo viu sua população decuplicar. Foi o salto da quantidade, era a expansão física necessária como base à ocupação da Amazônia meridional, que se deu sem o preparo adequado nem o devido apoio federal que exigia essa importante função urbana de interesse nacional. Sozinha e sem recursos próprios, no centro de uma região que apoiava e promovia, mas que também não dispunha de recursos, Cuiabá teve que receber seus novos habitantes sem poder oferecer a devida qualidade de vida urbana.
No alvorecer do novo milênio, Cuiabá vive o seu terceiro salto de desenvolvimento, agora o salto da qualidade. Cuiabá não é mais o centro de um vazio. Ao contrário, polariza uma das regiões mais dinâmicas do planeta, que ajudou a construir e que hoje não apenas lhe cobra o apoio, mas também a impulsiona para cima, em um sadio e maduro processo de simbiose regional ascendente.
Formando com Várzea Grande a maior cidade do oeste brasileiro, Cuiabá tem muito a comemorar nos seus 290 anos. Seu maior presente é o próprio presente que vive: dinâmica, moderna, globalizada, sintonizada como o mundo. Mas, mais que um aniversário, 290 anos é o início da última década antes do tricentenário. A responsabilidade da atual geração de cuiabanos, suas autoridades e lideranças, é fazer com que o salto da qualidade do novo tempo se materialize também na qualidade da cidade física em que vivemos, construindo aquele que será o maior presente para os 300 anos. E temos 10 anos para construí-lo.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 08/04/2009, excepcionalmente numa quarta-feira, aniversário da cidade)
Em um local chamado Ikuiapá, com grandes pedras claras onde se pescava com flecha-arpão e um corguinho desembocava em um belo rio, o ouro fez surgir, corgo acima, uma cidade que floresceu bonita e se chamou Cuiabá. Celula-mater do ocidente brasileiro, gerou muitas outras, inclusive estados. E o pequeno córrego tinha tanto ouro que era chamado Ikuiebo, córrego das estrelas, tantas as pepitas que cintilavam à luz do sol e da lua aos olhos bororos, nativos.
Por breve tempo, Cuiabá foi a mais populosa cidade do Brasil, de onde a Europa levou muito ouro, dinamismo que só durou enquanto durou o ouro. Seu fim seria o das cidades-fantasmas dos garimpos não fosse sua localização mágica, privilegiada, no centro do continente, em terras espanholas na época, cuja perspectiva de riqueza chama a atenção de Portugal. E então o Papa decide que o limite entre as terras dos dois países não seria mais definido pela linha do Tratado de Tordesilhas e sim pelo seu uso. Por ser a vanguarda física da coroa portuguesa nessa disputa, Cuiabá sobrevive ao fim do ouro, dando seu primeiro salto de desenvolvimento – o da sobrevivência, agora baluarte português, apoio e defesa dos interesses lusos.
Logo Portugal criou a Capitania de Mato Grosso cujo primeiro governo foi instalado em Cuiabá, permanecendo como sua sede durante a construção da futura capital, Vila Bela. Por dois séculos sobreviveu à duras penas, com tempos melhores e piores, inclusive, recuperando nesse ínterim o status de capital. Período heróico que forjou uma gente brava, alegre e hospitaleira, capaz de produzir um dos mais ricos patrimônios culturais do Brasil, com vultos e proezas históricas que merecem melhor tratamento da história oficial brasileira. Como um astronauta contemporâneo, vanguarda humana na imensidão do espaço, ligado à nave apenas por um cordão prateado, assim Cuiabá sobreviveu por séculos, solta na imensidão do hinterland continental, ligada à civilização apenas pelo cordão platino dos rios Cuiabá e Paraguai.
Até que na década de 60 a cidade é sacudida novamente, transforma-se no “portal da Amazônia” e em pouco tempo viu sua população decuplicar. Foi o salto da quantidade, era a expansão física necessária como base à ocupação da Amazônia meridional, que se deu sem o preparo adequado nem o devido apoio federal que exigia essa importante função urbana de interesse nacional. Sozinha e sem recursos próprios, no centro de uma região que apoiava e promovia, mas que também não dispunha de recursos, Cuiabá teve que receber seus novos habitantes sem poder oferecer a devida qualidade de vida urbana.
No alvorecer do novo milênio, Cuiabá vive o seu terceiro salto de desenvolvimento, agora o salto da qualidade. Cuiabá não é mais o centro de um vazio. Ao contrário, polariza uma das regiões mais dinâmicas do planeta, que ajudou a construir e que hoje não apenas lhe cobra o apoio, mas também a impulsiona para cima, em um sadio e maduro processo de simbiose regional ascendente.
Formando com Várzea Grande a maior cidade do oeste brasileiro, Cuiabá tem muito a comemorar nos seus 290 anos. Seu maior presente é o próprio presente que vive: dinâmica, moderna, globalizada, sintonizada como o mundo. Mas, mais que um aniversário, 290 anos é o início da última década antes do tricentenário. A responsabilidade da atual geração de cuiabanos, suas autoridades e lideranças, é fazer com que o salto da qualidade do novo tempo se materialize também na qualidade da cidade física em que vivemos, construindo aquele que será o maior presente para os 300 anos. E temos 10 anos para construí-lo.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 08/04/2009, excepcionalmente numa quarta-feira, aniversário da cidade)
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terça-feira, 31 de março de 2009
UM MILHÃO DE CASAS
José Antonio Lemos dos Santos
Ótimo o programa nacional de construção de 1 milhão de habitações lançado pelo presidente Lula. Programas fortes de investimentos diretos na promoção da qualidade de vida da população são altamente compensadores, por si mesmos e também indiretamente pelo estímulo à economia e pela redução de custos sociais que promovem. Ou não... como diria Caetano Veloso, já que o Brasil é useiro e vezeiro em perverter ótimas idéias. Com base no Estatuto da Criança temos facínoras usando menores em crimes e estagiários ocupando o lugar de profissionais formados. Dizem que já há aluguel de idosos para serviços bancários, compras em supermercados ou para estacionamento em shoppings.
A habitação popular já foi objeto de pelo menos uma belíssima idéia, como a sugerida nos idos de 64 pela ex-governadora Sandra Cavalcanti ao então presidente Castelo Branco, dando origem ao finado Sistema Financeiro da Habitação. Resolver o já gravíssimo problema da habitação popular alavancando a combalida economia nacional tendo como carro chefe a indústria da construção civil, a maior empregadora do país, era sem dúvida uma ótima idéia. Só que em sua implantação foi sendo pervertida até que extinta, carcomida pela corrupção em edificações superfaturadas e subconstruídas, conjuntos habitacionais longínquos e por um exército de brasileiros condenados a pagar uma dívida sempre crescente. Com o mérito do pioneirismo, foi uma experiência pela qual o brasileiro pagou muito caro e, entre acertos e erros, não pode ser desprezada naquilo que tem a ensinar.
Focando a questão urbanística, é importante frisar que a moradia é a mais importante das funções urbanas. Um programa nacional dessa envergadura será decisivo no quadro da avançada metástase urbana nacional, seja para reconduzi-lo a uma situação mínima de controle, ou para agravá-lo de vez. Assim, dentre seus muitos aspectos, é fundamental o equacionamento da localização dos conjuntos a serem construídos, que não pode ser deixada como responsabilidade exclusiva de estados e municípios. Falidos já naquela época, ficavam a mercê de engenhosas soluções viabilizadoras, tais como terras ao fundo de glebas fora do perímetro urbano, em troca dos benefícios da infra-estrutura que passaria pelas terras intermediárias. Urbanisticamente o resultado foi um desastre, pois as cidades explodiram com imensos vazios e baixíssimas densidades populacionais, elevando os custos operacionais das cidades a níveis impraticáveis, impossibilitando aos municípios arcar com os custos de uma infra-estrutura muitas vezes superior aquela necessária em uma zona urbana mais restrita. O cidadão fica sem os devidos serviços urbanos e ainda tem que arcar com custos da guetificação, das altas tarifas e do tempo perdido no transporte.
Outro aspecto é o atendimento da população de até 3 Salários Mínimos. O presidente já destacou que acima dos 3 Salários Mínimos, o mercado soluciona, indicando que o maior desafio é a faixa abaixo, fora do mercado, sem outra possibilidade que não o subsídio de soluções criativas envolvendo estoques de lotes urbanizados, e o reconhecimento de sistemas construtivos alternativos (individual, autoconstrutivo e de construção solidária) com assistência técnica pública, obrigatória e gratuita. Esta esperada solução é indispensável ao êxito de um futuro controle, mínimo que seja, na evolução urbana.
Nossa grande casa, as cidades têm que crescer para dentro, ordenadas e controladas democraticamente, aumentando suas densidades, otimizando a infra-estrutura existente com redução de seus custos, e o novo programa pode também ser um poderoso instrumento nesse sentido.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 31/03/2009)
Ótimo o programa nacional de construção de 1 milhão de habitações lançado pelo presidente Lula. Programas fortes de investimentos diretos na promoção da qualidade de vida da população são altamente compensadores, por si mesmos e também indiretamente pelo estímulo à economia e pela redução de custos sociais que promovem. Ou não... como diria Caetano Veloso, já que o Brasil é useiro e vezeiro em perverter ótimas idéias. Com base no Estatuto da Criança temos facínoras usando menores em crimes e estagiários ocupando o lugar de profissionais formados. Dizem que já há aluguel de idosos para serviços bancários, compras em supermercados ou para estacionamento em shoppings.
A habitação popular já foi objeto de pelo menos uma belíssima idéia, como a sugerida nos idos de 64 pela ex-governadora Sandra Cavalcanti ao então presidente Castelo Branco, dando origem ao finado Sistema Financeiro da Habitação. Resolver o já gravíssimo problema da habitação popular alavancando a combalida economia nacional tendo como carro chefe a indústria da construção civil, a maior empregadora do país, era sem dúvida uma ótima idéia. Só que em sua implantação foi sendo pervertida até que extinta, carcomida pela corrupção em edificações superfaturadas e subconstruídas, conjuntos habitacionais longínquos e por um exército de brasileiros condenados a pagar uma dívida sempre crescente. Com o mérito do pioneirismo, foi uma experiência pela qual o brasileiro pagou muito caro e, entre acertos e erros, não pode ser desprezada naquilo que tem a ensinar.
Focando a questão urbanística, é importante frisar que a moradia é a mais importante das funções urbanas. Um programa nacional dessa envergadura será decisivo no quadro da avançada metástase urbana nacional, seja para reconduzi-lo a uma situação mínima de controle, ou para agravá-lo de vez. Assim, dentre seus muitos aspectos, é fundamental o equacionamento da localização dos conjuntos a serem construídos, que não pode ser deixada como responsabilidade exclusiva de estados e municípios. Falidos já naquela época, ficavam a mercê de engenhosas soluções viabilizadoras, tais como terras ao fundo de glebas fora do perímetro urbano, em troca dos benefícios da infra-estrutura que passaria pelas terras intermediárias. Urbanisticamente o resultado foi um desastre, pois as cidades explodiram com imensos vazios e baixíssimas densidades populacionais, elevando os custos operacionais das cidades a níveis impraticáveis, impossibilitando aos municípios arcar com os custos de uma infra-estrutura muitas vezes superior aquela necessária em uma zona urbana mais restrita. O cidadão fica sem os devidos serviços urbanos e ainda tem que arcar com custos da guetificação, das altas tarifas e do tempo perdido no transporte.
Outro aspecto é o atendimento da população de até 3 Salários Mínimos. O presidente já destacou que acima dos 3 Salários Mínimos, o mercado soluciona, indicando que o maior desafio é a faixa abaixo, fora do mercado, sem outra possibilidade que não o subsídio de soluções criativas envolvendo estoques de lotes urbanizados, e o reconhecimento de sistemas construtivos alternativos (individual, autoconstrutivo e de construção solidária) com assistência técnica pública, obrigatória e gratuita. Esta esperada solução é indispensável ao êxito de um futuro controle, mínimo que seja, na evolução urbana.
Nossa grande casa, as cidades têm que crescer para dentro, ordenadas e controladas democraticamente, aumentando suas densidades, otimizando a infra-estrutura existente com redução de seus custos, e o novo programa pode também ser um poderoso instrumento nesse sentido.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 31/03/2009)
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terça-feira, 24 de março de 2009
A MAIS VIÁVEL DAS FERROVIAS (II)
José Antonio Lemos dos Santos
Entre as conclusões da última reunião do “Fórum Pró-Ferrovia em Cuiabá” decidiu-se por uma ação conjunta da bancada mato-grossense cobrando do governo federal a imediata inclusão do trecho ferroviário Rondonópolis–Cuiabá no PAC, a exemplo dos trechos Uruaçu-Lucas/Sapezal/Campo Novo-Vilhena, e Alto Araguaia-Rondonópolis. Só esta decisão já valeria a reunião, em momento ímpar que Mato Grosso ocupa altas posições em Brasília, com Totó Parente e Luiz Pagot.
Contudo, as outras conclusões podem ser fatais à conexão ferroviária de Cuiabá, entre estas a falsa necessidade de se provar a viabilidade econômica do trecho até a capital. Ora, há vinte anos existe uma concessão pública da União para execução dessa obra. Concessão é para ser executada pelo concessionário e cobrada pelo concedente. Estudos de viabilidade são feitos antes pelo concedente – e no caso foram - e pelos interessados. Quem achar inviável, desista.
Outra decisão fatal é a de ir ao ministro Minc perguntar se a ferrovia pode ser feita ou não, isto é, ir à raposa pedir para cuidar do galinheiro. No máximo serão obtidas as liberações para o trecho Alto Araguaia-Rondonópolis, obra já incluída no PAC do governo ao qual serve o ministro. Em troca, o trecho até Cuiabá vai ser entregue como gambito. De novo a imensa boa fé cuiabana vai encher a empadinha de outros. Nada demais, já que tudo é Mato Grosso e nesse processo é imprescindível a colaboração entre os conterrâneos. Mas com mão dupla.
A conurbação Cuiabá/Várzea Grande forma o maior pólo concentrador de cargas do estado. Ainda que não produza um grão, passa por ela toda carga a oeste da área de influência da BR-163 destinada ao sudeste brasileiro, para exportação ou consumo interno. Por outro lado, Cuiabá é também o maior centro produtor, consumidor e distribuidor do oeste de Brasil, sendo o principal destino das cargas de retorno de uma ferrovia idealizada não apenas para levar nossa produção, mas também para trazer o desenvolvimento. Cuiabá não só tem carga, como é a única com cargas de ida e de volta, sem as quais nenhum frete se viabiliza. Na verdade alguns grupos de Rondonópolis não querem a ferrovia apenas, querem o maior terminal ferroviário do estado, que se inviabiliza com um terminal em Cuiabá. Daí os problemas surgem.
Na questão ambiental a lei é sábia e determina a realização de audiência publica para avaliação de relatório técnico de impacto ambiental, processo a que já foi submetido uma vez o trajeto até Cuiabá, em audiência a que estive presente, presente também o senador Vicente Emílio Vuolo. O único problema apontado foi o traçado passar próximo à Reserva Tereza Cristina, cerca de 700 metros fora, rio abaixo. Certo que as Reservas Indígenas têm que ser respeitadas em sua integridade, mas não houve aí um excesso de zelo? Assim, como ficará Mato Grosso, orgulhoso de suas tantas reservas, como o Parque Nacional do Xingu ou a Reserva Tadarimana, colada à cidade de Rondonópolis?
A ferrovia em Cuiabá é pelo desenvolvimento de Mato Grosso inteiro, consolidando sua coluna vertebral que é o eixo da BR-163. Não se lutou tanto pela ponte rodoferroviária de quase um bilhão de dólares só para levar grãos para as fábricas de outras regiões do Brasil e do exterior. Foi para levar e trazer soja, materiais de construção, milho, automóveis, carne, fábricas, trigo, madeira, gasolina, algodão, fertilizantes, álcool, açúcar, máquinas agrícolas, etc., com significativa redução de fretes. A ferrovia é para todo o estado e todos os mato-grossenses, afinal, apesar de sua importância e da honra de ser o seu maior produtor, nem só de grão vive Mato Grosso.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 24/03/2009)
Entre as conclusões da última reunião do “Fórum Pró-Ferrovia em Cuiabá” decidiu-se por uma ação conjunta da bancada mato-grossense cobrando do governo federal a imediata inclusão do trecho ferroviário Rondonópolis–Cuiabá no PAC, a exemplo dos trechos Uruaçu-Lucas/Sapezal/Campo Novo-Vilhena, e Alto Araguaia-Rondonópolis. Só esta decisão já valeria a reunião, em momento ímpar que Mato Grosso ocupa altas posições em Brasília, com Totó Parente e Luiz Pagot.
Contudo, as outras conclusões podem ser fatais à conexão ferroviária de Cuiabá, entre estas a falsa necessidade de se provar a viabilidade econômica do trecho até a capital. Ora, há vinte anos existe uma concessão pública da União para execução dessa obra. Concessão é para ser executada pelo concessionário e cobrada pelo concedente. Estudos de viabilidade são feitos antes pelo concedente – e no caso foram - e pelos interessados. Quem achar inviável, desista.
Outra decisão fatal é a de ir ao ministro Minc perguntar se a ferrovia pode ser feita ou não, isto é, ir à raposa pedir para cuidar do galinheiro. No máximo serão obtidas as liberações para o trecho Alto Araguaia-Rondonópolis, obra já incluída no PAC do governo ao qual serve o ministro. Em troca, o trecho até Cuiabá vai ser entregue como gambito. De novo a imensa boa fé cuiabana vai encher a empadinha de outros. Nada demais, já que tudo é Mato Grosso e nesse processo é imprescindível a colaboração entre os conterrâneos. Mas com mão dupla.
A conurbação Cuiabá/Várzea Grande forma o maior pólo concentrador de cargas do estado. Ainda que não produza um grão, passa por ela toda carga a oeste da área de influência da BR-163 destinada ao sudeste brasileiro, para exportação ou consumo interno. Por outro lado, Cuiabá é também o maior centro produtor, consumidor e distribuidor do oeste de Brasil, sendo o principal destino das cargas de retorno de uma ferrovia idealizada não apenas para levar nossa produção, mas também para trazer o desenvolvimento. Cuiabá não só tem carga, como é a única com cargas de ida e de volta, sem as quais nenhum frete se viabiliza. Na verdade alguns grupos de Rondonópolis não querem a ferrovia apenas, querem o maior terminal ferroviário do estado, que se inviabiliza com um terminal em Cuiabá. Daí os problemas surgem.
Na questão ambiental a lei é sábia e determina a realização de audiência publica para avaliação de relatório técnico de impacto ambiental, processo a que já foi submetido uma vez o trajeto até Cuiabá, em audiência a que estive presente, presente também o senador Vicente Emílio Vuolo. O único problema apontado foi o traçado passar próximo à Reserva Tereza Cristina, cerca de 700 metros fora, rio abaixo. Certo que as Reservas Indígenas têm que ser respeitadas em sua integridade, mas não houve aí um excesso de zelo? Assim, como ficará Mato Grosso, orgulhoso de suas tantas reservas, como o Parque Nacional do Xingu ou a Reserva Tadarimana, colada à cidade de Rondonópolis?
A ferrovia em Cuiabá é pelo desenvolvimento de Mato Grosso inteiro, consolidando sua coluna vertebral que é o eixo da BR-163. Não se lutou tanto pela ponte rodoferroviária de quase um bilhão de dólares só para levar grãos para as fábricas de outras regiões do Brasil e do exterior. Foi para levar e trazer soja, materiais de construção, milho, automóveis, carne, fábricas, trigo, madeira, gasolina, algodão, fertilizantes, álcool, açúcar, máquinas agrícolas, etc., com significativa redução de fretes. A ferrovia é para todo o estado e todos os mato-grossenses, afinal, apesar de sua importância e da honra de ser o seu maior produtor, nem só de grão vive Mato Grosso.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 24/03/2009)
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terça-feira, 17 de março de 2009
A DESCOBERTA DO VERDÃO
José Antonio Lemos dos Santos
Independente dos motivos da Fifa para prorrogar a divulgação das sub-sedes da COPA 2014, esse período adicional de 60 dias é uma oportunidade a mais para o desenvolvimento de ações que melhorem as condições de Cuiabá como pleiteante, o que já deve estar sendo programado pela comissão que trata do assunto. Ressalte-se a estratégia positiva e civilizada adotada pelos nossos organizadores, restringindo-se em trabalhar os projetos necessários e as potencialidades de Cuiabá e Mato Grosso para sediar o evento.
Esta luta pela Copa já traz benefícios para Cuiabá, pois já promoveu a união de todos em favor do bem-comum que é a cidade, fato que me lembro só ter acontecido quando da luta pela instalação da Universidade Federal de Mato Grosso. Nem a visita do Papa alcançou essa unanimidade. O outro fato positivo é que, pela primeira vez, vejo nós cuiabanos buscando coletivamente os aspectos positivos da cidade, descobrindo surpresos que a cidade é emoldurada ao norte pela Chapada, coroada majestosamente ao sul pelo morro de Santo Antonio – o Toroari bororo - que tem os rios Coxipó e Cuiabá, o centro geodésico da América do Sul, e que além de suas belezas, Cuiabá é cercada por todos os lados pelas maravilhas de Mato Grosso. Enfim, começamos a trabalhar os pontos positivos da urbe cuiabana, descobrindo que podemos ter quase tudo que invejamos em outras cidades, mas que as outras cidades jamais poderão ter tudo aquilo que invejam em Cuiabá.
O Verdão ressurge nestas descobertas como um dos mais belos estádios do Brasil, tendo sido por algum tempo o melhor gramado do país, trazendo-nos inclusive uma certa culpa por tê-lo relegado. Agora, diante da perspectiva de seu sacrifício em função das exigências da FIFA, o Verdão volta a chamar a atenção para ser conhecido, fotografado, estudado por alunos dos cursos especializados de Cuiabá como um belo exemplo de arquitetura, vanguarda na técnica das construções esportivas na época em que foi construído.
Aliás, aumentar a presença do público no Verdão deveria ser uma das metas para esta prorrogação decisiva. Nesse sentido, ousaria dar uma sugestão de execução fácil e imediata. Como todo torcedor brasileiro acho que entendo muito de futebol, e como torcedor cuiabano desde os tempos de Bianchi e Fulepa até hoje – estou quase sempre entre aqueles 200 a 300 torcedores renitentes que garantem a platéia mínima sempre presente ao Verdão – entendo muito do futebol cuiabano. Pelo menos do ponto de vista do torcedor pagante. Entendo que o preço do ingresso é um dos principais motivos da ausência de torcedores no Verdão. Hoje é quase proibitivo. Muita gente quer ir ao Verdão e não pode. Só existem dois tipos de ingressos, a cadeira e a arquibancada coberta, cobrados a R$ 20,00 e R$ 10,00, respectivamente, muito embora o estádio ainda ofereça a alternativa da arquibancada descoberta, que, a meu ver poderia e deveria oferecida ao torcedor por um preço bem mais em conta, a R$ 2,00, por exemplo. Não seria necessário baixar os preços atuais, apenas voltar a usar a arquibancada descoberta, a um preço diferenciado, justo e mais acessível, afinal nesse setor o torcedor fica exposto ao sol e à chuva. Ao menos nestes 60 dias; se possível, sempre. Só seria preciso consertar duas cancelas na divisória dos setores. Haveria um público muito maior, refletindo melhor a paixão futebolística cuiabana que é muito grande e a ótima qualidade de sempre do nosso futebol, com a vantagem de colocar torcedores de frente para as câmeras de TVs e dos jornais, ocupando aquele imenso pedaço de arquibancada hoje abandonado, geralmente vazio, dando a falsa impressão de que não tem ninguém no estádio.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 17/03/2009)
Independente dos motivos da Fifa para prorrogar a divulgação das sub-sedes da COPA 2014, esse período adicional de 60 dias é uma oportunidade a mais para o desenvolvimento de ações que melhorem as condições de Cuiabá como pleiteante, o que já deve estar sendo programado pela comissão que trata do assunto. Ressalte-se a estratégia positiva e civilizada adotada pelos nossos organizadores, restringindo-se em trabalhar os projetos necessários e as potencialidades de Cuiabá e Mato Grosso para sediar o evento.
Esta luta pela Copa já traz benefícios para Cuiabá, pois já promoveu a união de todos em favor do bem-comum que é a cidade, fato que me lembro só ter acontecido quando da luta pela instalação da Universidade Federal de Mato Grosso. Nem a visita do Papa alcançou essa unanimidade. O outro fato positivo é que, pela primeira vez, vejo nós cuiabanos buscando coletivamente os aspectos positivos da cidade, descobrindo surpresos que a cidade é emoldurada ao norte pela Chapada, coroada majestosamente ao sul pelo morro de Santo Antonio – o Toroari bororo - que tem os rios Coxipó e Cuiabá, o centro geodésico da América do Sul, e que além de suas belezas, Cuiabá é cercada por todos os lados pelas maravilhas de Mato Grosso. Enfim, começamos a trabalhar os pontos positivos da urbe cuiabana, descobrindo que podemos ter quase tudo que invejamos em outras cidades, mas que as outras cidades jamais poderão ter tudo aquilo que invejam em Cuiabá.
O Verdão ressurge nestas descobertas como um dos mais belos estádios do Brasil, tendo sido por algum tempo o melhor gramado do país, trazendo-nos inclusive uma certa culpa por tê-lo relegado. Agora, diante da perspectiva de seu sacrifício em função das exigências da FIFA, o Verdão volta a chamar a atenção para ser conhecido, fotografado, estudado por alunos dos cursos especializados de Cuiabá como um belo exemplo de arquitetura, vanguarda na técnica das construções esportivas na época em que foi construído.
Aliás, aumentar a presença do público no Verdão deveria ser uma das metas para esta prorrogação decisiva. Nesse sentido, ousaria dar uma sugestão de execução fácil e imediata. Como todo torcedor brasileiro acho que entendo muito de futebol, e como torcedor cuiabano desde os tempos de Bianchi e Fulepa até hoje – estou quase sempre entre aqueles 200 a 300 torcedores renitentes que garantem a platéia mínima sempre presente ao Verdão – entendo muito do futebol cuiabano. Pelo menos do ponto de vista do torcedor pagante. Entendo que o preço do ingresso é um dos principais motivos da ausência de torcedores no Verdão. Hoje é quase proibitivo. Muita gente quer ir ao Verdão e não pode. Só existem dois tipos de ingressos, a cadeira e a arquibancada coberta, cobrados a R$ 20,00 e R$ 10,00, respectivamente, muito embora o estádio ainda ofereça a alternativa da arquibancada descoberta, que, a meu ver poderia e deveria oferecida ao torcedor por um preço bem mais em conta, a R$ 2,00, por exemplo. Não seria necessário baixar os preços atuais, apenas voltar a usar a arquibancada descoberta, a um preço diferenciado, justo e mais acessível, afinal nesse setor o torcedor fica exposto ao sol e à chuva. Ao menos nestes 60 dias; se possível, sempre. Só seria preciso consertar duas cancelas na divisória dos setores. Haveria um público muito maior, refletindo melhor a paixão futebolística cuiabana que é muito grande e a ótima qualidade de sempre do nosso futebol, com a vantagem de colocar torcedores de frente para as câmeras de TVs e dos jornais, ocupando aquele imenso pedaço de arquibancada hoje abandonado, geralmente vazio, dando a falsa impressão de que não tem ninguém no estádio.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 17/03/2009)
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terça-feira, 10 de março de 2009
A MAIS VIÁVEL DAS FERROVIAS
José Antonio Lemos dos Santos
Acompanho técnica e apaixonadamente a história da ferrovia em Mato Grosso desde 1975 na Sudeco e, depois no Minter, na Comissão da Divisão do Estado (1977). Há uns anos, porém, falei com o meu amigo Francisco Vuolo que não mais participaria de discussões sobre ferrovia, pois me sentia um idiota, e que o assunto parecia ter virado caso para o Ministério Público Federal, Polícia Federal e comissões parlamentares de inquérito. Como justificar tanta enrolação para se construir uma ferrovia ligando a região maior produtora brasileira de grãos, soja, arroz, milho, algodão, de gado, de carne suína e de aves, de biodiesel, de álcool, em suma, uma das regiões mais dinâmicas do planeta e das que mais produz cargas no mundo, sem himalaias ou araguaias a vencer? Se uma estrada como essa não é viável, qual será?
Sentia que enquanto continuávamos a luta do eterno senador Vuolo, para a empresa – ao menos em suas gestões anteriores - a coisa menos importante era justamente o funcionamento da ferrovia e o transporte de cargas. A impressão é que nossa ferrovia interessava apenas como alavancadora de dinheiro público, e que nossa luta já havia propiciado a renovação de toda a malha da Ferroban em São Paulo, a revitalização da ferrovia em Mato Grosso do Sul e o uso por outros da monumental ponte rodo-ferroviária de mais de meio bilhão de dólares, construída para trazer o trem até Cuiabá. Porém, para avançar um centímetro em Mato Grosso era necessário um verdadeiro parto de engenharia financeira com dinheiro público. Outro centímetro, outra luta, outro parto. E nós de porta-estandarte. Agora, mais 13 km!
Volto ao assunto pela ocasião ímpar de Mato Grosso estar ocupando postos-chave em áreas federais decisivas, com Luiz Pagot chefiando o Dnit, e Totó Parente, como secretário de Desenvolvimento do Centro Oeste, no Ministério de Integração Nacional. E, também, pela reunião do Fórum pela Ferrovia em Cuiabá no próximo dia 16, que me parece ser decisiva para o futuro do Mato Grosso platino, incluindo Rondonópolis, diante da possibilidade da ligação ferroviária de Lucas do Rio Verde/Sapezal/Campo Novo a Goiás, antes de estarem ligadas a Cuiabá também por ferrovia. Seria um verdadeiro seqüestro de cargas mato-grossenses que, na sua grande parcela destinada ao mercado interno e ao Sudeste, deveriam continuar oxigenando a economia de Mato Grosso, antes de seguir seus destinos globais. Com essa carga saindo por Goiás, fica ameaçada a viabilidade da ferrovia chegar a Cuiabá, e até mesmo a Rondonópolis, se os trilhos não chegarem lá rapidinho.
Esta reunião do fórum, na verdade, é decisiva para o futuro de todo Mato Grosso, o estado de maior sucesso de desenvolvimento no país, e que prova ter o tamanho exato na era da internet, avião a jato e comunicações via satélite. Unido e trabalhador, sua dimensão é a maior causa do seu sucesso. Sua espinha dorsal, eixo da integração estadual, é a BR-163, que será fortalecida com a ferrovia ligando Cuiabá a Santarém e Vilhena, conforme a concessão da Ferronorte. A construção de uma ferrovia transversal antes da execução do projeto da Ferronorte, partirá Mato Grosso na medula, ao meio, criando duas economias independentes, a nova centrada em Goiás, ambas fracas, de volta à rabeira da economia nacional, sem voz e sem vez. É tudo que Mato Grosso não precisa. É urgente a imediata inclusão no PAC do projeto da Ferronorte até Cuiabá, e de Cuiabá para Lucas, Nova Mutum, Sinop, indo até Santarém e também Vilhena, por Sapezal, Diamantino ou Tangará. O PAC não acolheu a recém inventada ferrovia do Centro-Oeste, sem nenhum projeto? Vale a retomada dessa luta coletiva não só pelos cuiabanos. Mato Grosso é para ser imitado, não dividido.
(Oublicado pelo Diário de Cuiabá em 10/03/09)
Acompanho técnica e apaixonadamente a história da ferrovia em Mato Grosso desde 1975 na Sudeco e, depois no Minter, na Comissão da Divisão do Estado (1977). Há uns anos, porém, falei com o meu amigo Francisco Vuolo que não mais participaria de discussões sobre ferrovia, pois me sentia um idiota, e que o assunto parecia ter virado caso para o Ministério Público Federal, Polícia Federal e comissões parlamentares de inquérito. Como justificar tanta enrolação para se construir uma ferrovia ligando a região maior produtora brasileira de grãos, soja, arroz, milho, algodão, de gado, de carne suína e de aves, de biodiesel, de álcool, em suma, uma das regiões mais dinâmicas do planeta e das que mais produz cargas no mundo, sem himalaias ou araguaias a vencer? Se uma estrada como essa não é viável, qual será?
Sentia que enquanto continuávamos a luta do eterno senador Vuolo, para a empresa – ao menos em suas gestões anteriores - a coisa menos importante era justamente o funcionamento da ferrovia e o transporte de cargas. A impressão é que nossa ferrovia interessava apenas como alavancadora de dinheiro público, e que nossa luta já havia propiciado a renovação de toda a malha da Ferroban em São Paulo, a revitalização da ferrovia em Mato Grosso do Sul e o uso por outros da monumental ponte rodo-ferroviária de mais de meio bilhão de dólares, construída para trazer o trem até Cuiabá. Porém, para avançar um centímetro em Mato Grosso era necessário um verdadeiro parto de engenharia financeira com dinheiro público. Outro centímetro, outra luta, outro parto. E nós de porta-estandarte. Agora, mais 13 km!
Volto ao assunto pela ocasião ímpar de Mato Grosso estar ocupando postos-chave em áreas federais decisivas, com Luiz Pagot chefiando o Dnit, e Totó Parente, como secretário de Desenvolvimento do Centro Oeste, no Ministério de Integração Nacional. E, também, pela reunião do Fórum pela Ferrovia em Cuiabá no próximo dia 16, que me parece ser decisiva para o futuro do Mato Grosso platino, incluindo Rondonópolis, diante da possibilidade da ligação ferroviária de Lucas do Rio Verde/Sapezal/Campo Novo a Goiás, antes de estarem ligadas a Cuiabá também por ferrovia. Seria um verdadeiro seqüestro de cargas mato-grossenses que, na sua grande parcela destinada ao mercado interno e ao Sudeste, deveriam continuar oxigenando a economia de Mato Grosso, antes de seguir seus destinos globais. Com essa carga saindo por Goiás, fica ameaçada a viabilidade da ferrovia chegar a Cuiabá, e até mesmo a Rondonópolis, se os trilhos não chegarem lá rapidinho.
Esta reunião do fórum, na verdade, é decisiva para o futuro de todo Mato Grosso, o estado de maior sucesso de desenvolvimento no país, e que prova ter o tamanho exato na era da internet, avião a jato e comunicações via satélite. Unido e trabalhador, sua dimensão é a maior causa do seu sucesso. Sua espinha dorsal, eixo da integração estadual, é a BR-163, que será fortalecida com a ferrovia ligando Cuiabá a Santarém e Vilhena, conforme a concessão da Ferronorte. A construção de uma ferrovia transversal antes da execução do projeto da Ferronorte, partirá Mato Grosso na medula, ao meio, criando duas economias independentes, a nova centrada em Goiás, ambas fracas, de volta à rabeira da economia nacional, sem voz e sem vez. É tudo que Mato Grosso não precisa. É urgente a imediata inclusão no PAC do projeto da Ferronorte até Cuiabá, e de Cuiabá para Lucas, Nova Mutum, Sinop, indo até Santarém e também Vilhena, por Sapezal, Diamantino ou Tangará. O PAC não acolheu a recém inventada ferrovia do Centro-Oeste, sem nenhum projeto? Vale a retomada dessa luta coletiva não só pelos cuiabanos. Mato Grosso é para ser imitado, não dividido.
(Oublicado pelo Diário de Cuiabá em 10/03/09)
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terça-feira, 3 de março de 2009
MUDANDO PARA CUIABÁ
José Antonio Lemos dos Santos
Nas últimas eleições municipais escrevi o artigo “Descentralização industrial” contestando a afirmação equivocada, repetida no calor da campanha, de que Cuiabá decrescia economicamente em virtude de algumas indústrias se instalarem no interior. Argumentei que as cidades não são sozinhas, mas estruturam-se em redes urbanas conforme uma hierarquização de funções a cumprir, como as diferentes peças de um motor dependem uma da outra para o sucesso do conjunto - da máquina ou da região que lhes dá origem e sentido.
Assim, as cidades são diferentes entre si não apenas no tamanho, paisagem ou história, mas, diferenciam-se também pelo papel que desempenham na rede urbana, variando desde aquelas que estão próximas à base da produção primária, origem de toda a economia, até aquelas mais distantes, especializadas em níveis crescentes no suporte às atividades da base. Dessa forma, o que estávamos, e estamos assistindo, é conseqüência do extraordinário desenvolvimento de Mato Grosso, com novas cidades e a reconfiguração de sua rede urbana, jovem ainda, mas já em plena consolidação em alguns de seus pontos.
Quando só existia Cuiabá como apoio urbano, todos os empreendimentos aconteciam em Cuiabá. Hoje com um interior que se urbaniza rapidamente, existem várias cidades bem organizadas e preparadas para receber os empreendimentos diretamente relacionados às suas economias locais e das regiões próximas, otimizando custos. Muitas atividades não precisam e nem devem mais se estabelecer em Cuiabá. Porém existe também o sentido inverso: Cuiabá passa a executar novas funções mais sofisticadas e especializadas que o desenvolvimento regional exige e tem que se preparar para abrigá-las em condições de maior eficiência possível. A “máquina” regional ajusta automaticamente seus componentes às necessidades em cada momento. Essa é a saudável verticalização da rede urbana, fruto da verticalização da economia regional, na qual ninguém perde e todos ganham.
Nem bem passados quatro meses daquele artigo, eis que o dinamismo de Mato Grosso apresenta o outro lado da moeda, isto é, uma empresa surgida e desenvolvida no interior desloca sua matriz para o centro regional. Trata-se da mudança da matriz das empresas do Grupo André Maggi, de Rondonópolis para Cuiabá. A empresa inicial cresceu, expandiu seus negócios para todas as regiões do estado, norte do Brasil e quase todo o mundo. Também neste caso o que assistimos é apenas a acomodação natural de uma das peças de um grande grupo econômico na rede urbana do estado, da forma mais racional para todo o grupo. Mais uma vez ninguém perde e todos ganham. Até Rondonópolis, pois a nova instalação da matriz permitirá maior agilidade e fluidez na administração de seus negócios globais, com a saúde plena da empresa garantindo a continuidade e até a ampliação da geração de emprego e renda pelas unidades que permanecerão na cidade.
Embora sem o mesmo porte, casos semelhantes já aconteceram e ainda acontecerão em Mato Grosso. Lembra a história do grupo Citylar, que em sua expansão também teve que fazer esta adaptação transformando-se hoje em uma das maiores redes de lojas do país, presente em quase todo o Brasil, orgulho dos mato-grossenses, como o grupo AMAGGI e várias outras empresas mato-grossenses de sucesso nacional e internacional. O avanço da globalização cobra sustentabilidade, otimização de custos com justiça social, parcerias co-laborativas e versatilidade nas estruturas com respostas rápidas e eficientes, em lugar da velha competição destruidora. É bem Mato Grosso em seu show mundial na busca desses novos caminhos.
(Publicado perlo Diário de Cuiabá em 03/03/2009)
Nas últimas eleições municipais escrevi o artigo “Descentralização industrial” contestando a afirmação equivocada, repetida no calor da campanha, de que Cuiabá decrescia economicamente em virtude de algumas indústrias se instalarem no interior. Argumentei que as cidades não são sozinhas, mas estruturam-se em redes urbanas conforme uma hierarquização de funções a cumprir, como as diferentes peças de um motor dependem uma da outra para o sucesso do conjunto - da máquina ou da região que lhes dá origem e sentido.
Assim, as cidades são diferentes entre si não apenas no tamanho, paisagem ou história, mas, diferenciam-se também pelo papel que desempenham na rede urbana, variando desde aquelas que estão próximas à base da produção primária, origem de toda a economia, até aquelas mais distantes, especializadas em níveis crescentes no suporte às atividades da base. Dessa forma, o que estávamos, e estamos assistindo, é conseqüência do extraordinário desenvolvimento de Mato Grosso, com novas cidades e a reconfiguração de sua rede urbana, jovem ainda, mas já em plena consolidação em alguns de seus pontos.
Quando só existia Cuiabá como apoio urbano, todos os empreendimentos aconteciam em Cuiabá. Hoje com um interior que se urbaniza rapidamente, existem várias cidades bem organizadas e preparadas para receber os empreendimentos diretamente relacionados às suas economias locais e das regiões próximas, otimizando custos. Muitas atividades não precisam e nem devem mais se estabelecer em Cuiabá. Porém existe também o sentido inverso: Cuiabá passa a executar novas funções mais sofisticadas e especializadas que o desenvolvimento regional exige e tem que se preparar para abrigá-las em condições de maior eficiência possível. A “máquina” regional ajusta automaticamente seus componentes às necessidades em cada momento. Essa é a saudável verticalização da rede urbana, fruto da verticalização da economia regional, na qual ninguém perde e todos ganham.
Nem bem passados quatro meses daquele artigo, eis que o dinamismo de Mato Grosso apresenta o outro lado da moeda, isto é, uma empresa surgida e desenvolvida no interior desloca sua matriz para o centro regional. Trata-se da mudança da matriz das empresas do Grupo André Maggi, de Rondonópolis para Cuiabá. A empresa inicial cresceu, expandiu seus negócios para todas as regiões do estado, norte do Brasil e quase todo o mundo. Também neste caso o que assistimos é apenas a acomodação natural de uma das peças de um grande grupo econômico na rede urbana do estado, da forma mais racional para todo o grupo. Mais uma vez ninguém perde e todos ganham. Até Rondonópolis, pois a nova instalação da matriz permitirá maior agilidade e fluidez na administração de seus negócios globais, com a saúde plena da empresa garantindo a continuidade e até a ampliação da geração de emprego e renda pelas unidades que permanecerão na cidade.
Embora sem o mesmo porte, casos semelhantes já aconteceram e ainda acontecerão em Mato Grosso. Lembra a história do grupo Citylar, que em sua expansão também teve que fazer esta adaptação transformando-se hoje em uma das maiores redes de lojas do país, presente em quase todo o Brasil, orgulho dos mato-grossenses, como o grupo AMAGGI e várias outras empresas mato-grossenses de sucesso nacional e internacional. O avanço da globalização cobra sustentabilidade, otimização de custos com justiça social, parcerias co-laborativas e versatilidade nas estruturas com respostas rápidas e eficientes, em lugar da velha competição destruidora. É bem Mato Grosso em seu show mundial na busca desses novos caminhos.
(Publicado perlo Diário de Cuiabá em 03/03/2009)
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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
O AQUÁRIO E A COPA
José Antonio Lemos dos Santos
Tinha pensado em homenagear o Aquário Municipal de Cuiabá que completou 9 anos no último dia 5, agora em situação delicada, subsistindo graças a dedicação diuturna de seu administrador Teruo Izawa, verdadeiro anjo protetor dos peixes daquele querido cartão postal cuiabano, que tratarei em outro artigo. Mas não há como resistir ao tema da Copa em Cuiabá, uma paixão imediata que nos arrebatou, como também aconteceu com o Aquário desde sua inauguração.
O meu último artigo rendeu muitos comentários, a maioria empolgados com a possibilidade de Cuiabá ser uma das sub-sedes da Copa. Mas também houve contrários, uns lembrando que projetos como esses são sempre desvirtuados por políticos espertalhões e empresários oportunistas, e outros que entendem que os recursos seriam melhor aplicados na saúde, segurança, transporte, etc., na suposição de que não sediando a Copa, esses recursos apareceriam. A meu ver, é muito mais provável que tais recursos se viabilizem em um projeto como este, sob o foco e fiscalização da mídia nacional e internacional.
Trata-se de um projeto grandioso e atrevido, capaz de impulsionar urbanisticamente Cuiabá e Várzea Grande, bem como toda a economia do turismo em Mato Grosso aos padrões mais elevados de qualidade. Os riscos existem, é claro, porém, o medo nunca foi bom conselheiro, ainda que cautela e caldo de galinha sempre façam bem.
Urbanisticamente o ponto decisivo é a localização do Verdão, o palco principal da festa, pois em sua função serão desenvolvidos todos os demais projetos. Pelas notícias, neste caso o assunto está bem. Manter o Verdão no seu lugar atual é fundamental para que os investimentos para a Copa se consolidem como benefícios permanentes para a cidade e sua gente, sem o que um projeto como este não se justifica. O Verdão fica em uma das partes da cidade mais servida de eixos viários, ainda que carentes de fortes investimentos para sua adequação ao porte do evento. Ademais, trata-se de uma região cuja ocupação ocorreu em função da instalação do estádio, isto é, a população já convive com os grandes eventos de diversos tipos que acontecem naquela praça esportiva e no Ginásio Aecim Tocantins. Com a permanência do estádio, os investimentos forçosamente acontecerão em uma malha já ocupada, otimizando a infra-estrutura existente.
No início algumas propostas levavam o estádio para “fora” da cidade. Felizmente parecem ter sido todas descartadas. O que estaria sendo discutido agora é se o Verdão seria ampliado e adaptado às exigências da FIFA, ou se seria demolido para em seu lugar ser construído um outro novo. A meu ver a resposta a esta questão está na própria configuração do terreno em que o estádio se situa, uma baixada que não pode ser desconsiderada e que definiu um genial partido arquitetônico, origem de um dos mais belos estádios do Brasil. A solução mais natural e econômica parece ser a da adaptação do Verdão, com a instalação de um anel superior de arquibancadas e todos os demais complementos que se fizerem necessários às exigências da FIFA.
Para Cuiabá é fundamental a estratégia de crescer para dentro de sua estrutura urbana, evitando a ampliação de seu perímetro urbano. Assim, para que os investimentos demandados pela Copa fiquem como benefícios permanentes para a cidade, é decisiva a manutenção da atual localização do Verdão que será o centro polarizador desses investimentos. E que ganhem todos os que contribuírem de fato na construção desse projeto coletivo: autoridades, empresários, políticos, e principalmente a cidade e todos os seus habitantes.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 12/02/2009, excepcionalmente em uma quinta-feira)
Tinha pensado em homenagear o Aquário Municipal de Cuiabá que completou 9 anos no último dia 5, agora em situação delicada, subsistindo graças a dedicação diuturna de seu administrador Teruo Izawa, verdadeiro anjo protetor dos peixes daquele querido cartão postal cuiabano, que tratarei em outro artigo. Mas não há como resistir ao tema da Copa em Cuiabá, uma paixão imediata que nos arrebatou, como também aconteceu com o Aquário desde sua inauguração.
O meu último artigo rendeu muitos comentários, a maioria empolgados com a possibilidade de Cuiabá ser uma das sub-sedes da Copa. Mas também houve contrários, uns lembrando que projetos como esses são sempre desvirtuados por políticos espertalhões e empresários oportunistas, e outros que entendem que os recursos seriam melhor aplicados na saúde, segurança, transporte, etc., na suposição de que não sediando a Copa, esses recursos apareceriam. A meu ver, é muito mais provável que tais recursos se viabilizem em um projeto como este, sob o foco e fiscalização da mídia nacional e internacional.
Trata-se de um projeto grandioso e atrevido, capaz de impulsionar urbanisticamente Cuiabá e Várzea Grande, bem como toda a economia do turismo em Mato Grosso aos padrões mais elevados de qualidade. Os riscos existem, é claro, porém, o medo nunca foi bom conselheiro, ainda que cautela e caldo de galinha sempre façam bem.
Urbanisticamente o ponto decisivo é a localização do Verdão, o palco principal da festa, pois em sua função serão desenvolvidos todos os demais projetos. Pelas notícias, neste caso o assunto está bem. Manter o Verdão no seu lugar atual é fundamental para que os investimentos para a Copa se consolidem como benefícios permanentes para a cidade e sua gente, sem o que um projeto como este não se justifica. O Verdão fica em uma das partes da cidade mais servida de eixos viários, ainda que carentes de fortes investimentos para sua adequação ao porte do evento. Ademais, trata-se de uma região cuja ocupação ocorreu em função da instalação do estádio, isto é, a população já convive com os grandes eventos de diversos tipos que acontecem naquela praça esportiva e no Ginásio Aecim Tocantins. Com a permanência do estádio, os investimentos forçosamente acontecerão em uma malha já ocupada, otimizando a infra-estrutura existente.
No início algumas propostas levavam o estádio para “fora” da cidade. Felizmente parecem ter sido todas descartadas. O que estaria sendo discutido agora é se o Verdão seria ampliado e adaptado às exigências da FIFA, ou se seria demolido para em seu lugar ser construído um outro novo. A meu ver a resposta a esta questão está na própria configuração do terreno em que o estádio se situa, uma baixada que não pode ser desconsiderada e que definiu um genial partido arquitetônico, origem de um dos mais belos estádios do Brasil. A solução mais natural e econômica parece ser a da adaptação do Verdão, com a instalação de um anel superior de arquibancadas e todos os demais complementos que se fizerem necessários às exigências da FIFA.
Para Cuiabá é fundamental a estratégia de crescer para dentro de sua estrutura urbana, evitando a ampliação de seu perímetro urbano. Assim, para que os investimentos demandados pela Copa fiquem como benefícios permanentes para a cidade, é decisiva a manutenção da atual localização do Verdão que será o centro polarizador desses investimentos. E que ganhem todos os que contribuírem de fato na construção desse projeto coletivo: autoridades, empresários, políticos, e principalmente a cidade e todos os seus habitantes.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 12/02/2009, excepcionalmente em uma quinta-feira)
OLHOS DE TIGRE
José Antonio Lemos dos Santos
Depois de muitos anos, neste mês vi ser citada por duas vezes, em ocasiões totalmente diversas, a expressão “olhos de tigre”, do filme já antigo, mas sempre bom, “Rocky, o lutador”. A primeira com o meu filho brincando com um dos netos, e outra com o prefeito Wilson Santos, na posse do novo titular da Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano de Cuiabá (SMADES), Archimedes Lima Neto. Assistindo no Verdão ao ótimo Operário x Mixto do último domingo, deu para ver que apenas um dos times – e não foi o meu - entrou em campo com esse olhar felino imortalizado pelo cinema e indispensável ao sucesso e aos vencedores.
Ao empossar o novo secretário o prefeito lembrou que a SMADES é a secretaria mais complexa do município, pois trata de uma infinidade de temas que vão desde o pequeno camelô ao grande shopping, do barraco ao condomínio horizontal ou vertical, do Aquário ao Horto Florestal, da ordenação e controle do uso do solo urbano, à fiscalização do cumprimento dos códigos de obras, posturas e meio ambiente, passando ainda pela proteção ao patrimônio histórico edificado. Isso, acrescento, em uma Macro-Zona Urbana de 25.200 hectares, ou seja, 252 Km², altamente dinâmica e em plena renovação urbana, com uma população residente próxima de 600 mil habitantes, 150 mil edificações, mais de 40 mil lotes desocupados e a responsabilidade de zelar por dois rios e diversos córregos, sábia contrapartida da natureza às elevadas temperaturas médias diárias com que contemplou Cuiabá.
No próprio nome a SMADES traz gravado seus objetivos-síntese, quais sejam, o meio ambiente e o desenvolvimento urbano, duas faces de uma mesma moeda, os dois principais termos da equação urbana contemporânea, apenas aparentemente contraditórios, mas que são parte indissolúvel do mesmo objeto que é a cidade, cuja qualidade de vida depende fundamentalmente dessa difícil e permanente tarefa de harmonização. Em suma, além de algumas tarefas específicas, a SMADES tem a responsabilidade de cuidar da cidade como um todo, de assegurar que a grande obra urbana se dê de forma coerente e tecnicamente correta, visando sempre como resultado a cidade confortável, segura, sustentável e, sobretudo, justa, desejada por seus cidadãos.
Nos ombros da SMADES pesa também a responsabilidade de ser o instrumento de sucessivas gerações de um povo que, muito antes da grande e bem-vinda onda verde tomar conta do mundo, já havia estabelecido para sua cidade o apelido de Cidade Verde, como paradigma urbano a ser construído. Em torno de tal modelo foi criado um complexo de usos e costumes que ia da arquitetura, vestuário, alimentação e toda uma forma de viver absolutamente compatível com as condições ambientais locais, ecologicamente corretos antes da Ecologia, criando uma composição climática única, que o poeta Carmindo de Campos cantou como “aquele calor sadio, às vezes melhor, muito melhor que o frio”.
O novo secretário da SMADES, engenheiro civil e mestre na área ambiental, que exercita a militância ambiental há muito tempo, já tendo também exercido com competência diversas funções na própria SMADES, conhecendo-a como estilingue e vidraça, mostra-se preparado, técnica e politicamente para assumir esse imenso desafio. Mais que isso, demonstra compromisso pessoal com a cidade, a empatia indispensável a quem quer de fato ajudar a construí-la, e os “olhos de tigre” buscados pelo prefeito Wilson Santos para assessorá-lo no gerenciamento da grande obra quase tricentenária que é Cuiabá.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 12/02/09)
Depois de muitos anos, neste mês vi ser citada por duas vezes, em ocasiões totalmente diversas, a expressão “olhos de tigre”, do filme já antigo, mas sempre bom, “Rocky, o lutador”. A primeira com o meu filho brincando com um dos netos, e outra com o prefeito Wilson Santos, na posse do novo titular da Secretaria do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano de Cuiabá (SMADES), Archimedes Lima Neto. Assistindo no Verdão ao ótimo Operário x Mixto do último domingo, deu para ver que apenas um dos times – e não foi o meu - entrou em campo com esse olhar felino imortalizado pelo cinema e indispensável ao sucesso e aos vencedores.
Ao empossar o novo secretário o prefeito lembrou que a SMADES é a secretaria mais complexa do município, pois trata de uma infinidade de temas que vão desde o pequeno camelô ao grande shopping, do barraco ao condomínio horizontal ou vertical, do Aquário ao Horto Florestal, da ordenação e controle do uso do solo urbano, à fiscalização do cumprimento dos códigos de obras, posturas e meio ambiente, passando ainda pela proteção ao patrimônio histórico edificado. Isso, acrescento, em uma Macro-Zona Urbana de 25.200 hectares, ou seja, 252 Km², altamente dinâmica e em plena renovação urbana, com uma população residente próxima de 600 mil habitantes, 150 mil edificações, mais de 40 mil lotes desocupados e a responsabilidade de zelar por dois rios e diversos córregos, sábia contrapartida da natureza às elevadas temperaturas médias diárias com que contemplou Cuiabá.
No próprio nome a SMADES traz gravado seus objetivos-síntese, quais sejam, o meio ambiente e o desenvolvimento urbano, duas faces de uma mesma moeda, os dois principais termos da equação urbana contemporânea, apenas aparentemente contraditórios, mas que são parte indissolúvel do mesmo objeto que é a cidade, cuja qualidade de vida depende fundamentalmente dessa difícil e permanente tarefa de harmonização. Em suma, além de algumas tarefas específicas, a SMADES tem a responsabilidade de cuidar da cidade como um todo, de assegurar que a grande obra urbana se dê de forma coerente e tecnicamente correta, visando sempre como resultado a cidade confortável, segura, sustentável e, sobretudo, justa, desejada por seus cidadãos.
Nos ombros da SMADES pesa também a responsabilidade de ser o instrumento de sucessivas gerações de um povo que, muito antes da grande e bem-vinda onda verde tomar conta do mundo, já havia estabelecido para sua cidade o apelido de Cidade Verde, como paradigma urbano a ser construído. Em torno de tal modelo foi criado um complexo de usos e costumes que ia da arquitetura, vestuário, alimentação e toda uma forma de viver absolutamente compatível com as condições ambientais locais, ecologicamente corretos antes da Ecologia, criando uma composição climática única, que o poeta Carmindo de Campos cantou como “aquele calor sadio, às vezes melhor, muito melhor que o frio”.
O novo secretário da SMADES, engenheiro civil e mestre na área ambiental, que exercita a militância ambiental há muito tempo, já tendo também exercido com competência diversas funções na própria SMADES, conhecendo-a como estilingue e vidraça, mostra-se preparado, técnica e politicamente para assumir esse imenso desafio. Mais que isso, demonstra compromisso pessoal com a cidade, a empatia indispensável a quem quer de fato ajudar a construí-la, e os “olhos de tigre” buscados pelo prefeito Wilson Santos para assessorá-lo no gerenciamento da grande obra quase tricentenária que é Cuiabá.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 12/02/09)
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terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
A COPA NO CORAÇÃO DA AMÉRICA
José Antonio Lemos dos Santos
Esperada hoje em Cuiabá, a comissão de vistoria da FIFA chega ao coração da América do Sul, seu centro geodésico, marcado pelo Marechal Rondon quando da execução do primeiro mapa moderno do Brasil e do continente sul-americano, no início do século passado. Para aqueles que amam o futebol e seguem com atenção sua expansão pelo mundo, trata-se de uma data significativa, que bem poderia simbolizar a conquista dos cinco continentes pelo futebol, com a presença oficial de sua entidade máxima no ponto exato mais interior de um continente.
Porém o simbolismo da presença da FIFA no centro da América do Sul vai além da planetarização do futebol, referindo-se também de forma específica à sua consolidação na totalidade de um continente onde até bem pouco tempo duvidava-se se o futebol arranjaria seu espaço em alguns países então dominados por esportes como o beisebol e outros. Hoje a vitória é plena, com o futebol arrebatando cada vez mais as paixões em todos os países sul-americanos.
A comissão da FIFA chega hoje também à terra de um dos maiores responsáveis, senão o maior, pela realização em 1950 da primeira Copa do Mundo no Brasil, o Presidente da República da época, Eurico Gaspar Dutra. Seu governo queria mostrar ao mundo um Brasil novo, que deixava de ser predominantemente rural para entrar na era da industrialização, com grandes cidades, a Companhia Siderúrgica Nacional recém inaugurada, Paulo Afonso sendo construída e a Rio-São Paulo em pavimentação. Assim apoia a realização da Copa e determina a construção do Maracanã, que foi por muito tempo o maior estádio de futebol do mundo, justo orgulho nacional, uma das maiores razões para a fixação do futebol como a maior paixão esportiva nacional.
No Aeroporto Marechal Rondon a comissão chega a Várzea Grande que forma com Cuiabá a maior cidade do oeste do Brasil, metropolitana, com quase um milhão de habitantes. Surgida no início do século XVIII, foi a pioneira no ocidente brasileiro, celula mater dos estados e municípios entre os limites do Acre e o extremo de Mato Grosso do Sul. Às vésperas de completar seu terceiro século de existência, Cuiabá tem seu centro tombado como patrimônio histórico nacional ao mesmo tempo em que é uma cidade moderna, dinâmica e globalizada, polarizadora de uma das regiões mais dinâmicas do planeta, em condições plenas de pleitear a sub-sede pantaneira da Copa de 2014.
Fora estas considerações preliminares, que parecem menos importantes aos que não podem contar com elas, Cuiabá é uma cidade situada no pantanal propriamente dito, em suas franjas, e pode aliar o conforto da vida urbana com as maravilhas do santuário ecológico bem próximas. Através de diversos acessos curtos e confortáveis o turista pode conhecer o pantanal em ângulos variados, seja o pantanal das grandes baias e das velhas usinas de açúcar de Barão de Melgaço e Leverger, o pantanal da transpantaneira de Poconé, ou ainda o pantanal das antigas charqueadas e da ecovia do Paraguai em Cáceres.
Mais importante ainda é que, junto ao divisor de águas amazônicas e platinas, Cuiabá é uma plataforma de acessos a todas as atrações naturais de Mato Grosso que além do pantanal, oferece as belezas do cerrado, da floresta amazônica, e - por que não? - das plantações e criações tecnicamente mais desenvolvidas no mundo, em viagens panorâmicas, com o apoio de outras cidades bem estruturadas, confortáveis e hospitaleiras. Em Cuiabá, e só em Cuiabá, a Copa do Mundo homenageará o pantanal e toda a natureza marcando para sempre o coração sul-americano.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 03/02/09)
Esperada hoje em Cuiabá, a comissão de vistoria da FIFA chega ao coração da América do Sul, seu centro geodésico, marcado pelo Marechal Rondon quando da execução do primeiro mapa moderno do Brasil e do continente sul-americano, no início do século passado. Para aqueles que amam o futebol e seguem com atenção sua expansão pelo mundo, trata-se de uma data significativa, que bem poderia simbolizar a conquista dos cinco continentes pelo futebol, com a presença oficial de sua entidade máxima no ponto exato mais interior de um continente.
Porém o simbolismo da presença da FIFA no centro da América do Sul vai além da planetarização do futebol, referindo-se também de forma específica à sua consolidação na totalidade de um continente onde até bem pouco tempo duvidava-se se o futebol arranjaria seu espaço em alguns países então dominados por esportes como o beisebol e outros. Hoje a vitória é plena, com o futebol arrebatando cada vez mais as paixões em todos os países sul-americanos.
A comissão da FIFA chega hoje também à terra de um dos maiores responsáveis, senão o maior, pela realização em 1950 da primeira Copa do Mundo no Brasil, o Presidente da República da época, Eurico Gaspar Dutra. Seu governo queria mostrar ao mundo um Brasil novo, que deixava de ser predominantemente rural para entrar na era da industrialização, com grandes cidades, a Companhia Siderúrgica Nacional recém inaugurada, Paulo Afonso sendo construída e a Rio-São Paulo em pavimentação. Assim apoia a realização da Copa e determina a construção do Maracanã, que foi por muito tempo o maior estádio de futebol do mundo, justo orgulho nacional, uma das maiores razões para a fixação do futebol como a maior paixão esportiva nacional.
No Aeroporto Marechal Rondon a comissão chega a Várzea Grande que forma com Cuiabá a maior cidade do oeste do Brasil, metropolitana, com quase um milhão de habitantes. Surgida no início do século XVIII, foi a pioneira no ocidente brasileiro, celula mater dos estados e municípios entre os limites do Acre e o extremo de Mato Grosso do Sul. Às vésperas de completar seu terceiro século de existência, Cuiabá tem seu centro tombado como patrimônio histórico nacional ao mesmo tempo em que é uma cidade moderna, dinâmica e globalizada, polarizadora de uma das regiões mais dinâmicas do planeta, em condições plenas de pleitear a sub-sede pantaneira da Copa de 2014.
Fora estas considerações preliminares, que parecem menos importantes aos que não podem contar com elas, Cuiabá é uma cidade situada no pantanal propriamente dito, em suas franjas, e pode aliar o conforto da vida urbana com as maravilhas do santuário ecológico bem próximas. Através de diversos acessos curtos e confortáveis o turista pode conhecer o pantanal em ângulos variados, seja o pantanal das grandes baias e das velhas usinas de açúcar de Barão de Melgaço e Leverger, o pantanal da transpantaneira de Poconé, ou ainda o pantanal das antigas charqueadas e da ecovia do Paraguai em Cáceres.
Mais importante ainda é que, junto ao divisor de águas amazônicas e platinas, Cuiabá é uma plataforma de acessos a todas as atrações naturais de Mato Grosso que além do pantanal, oferece as belezas do cerrado, da floresta amazônica, e - por que não? - das plantações e criações tecnicamente mais desenvolvidas no mundo, em viagens panorâmicas, com o apoio de outras cidades bem estruturadas, confortáveis e hospitaleiras. Em Cuiabá, e só em Cuiabá, a Copa do Mundo homenageará o pantanal e toda a natureza marcando para sempre o coração sul-americano.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 03/02/09)
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terça-feira, 27 de janeiro de 2009
O TREM A JATO
José Antonio Lemos dos Santos
A gente já conhecia o trem a vapor, a velha “maria-fumaça”, o trem a diesel, o trem elétrico e até o trem bala, mas jamais soube de um trem a jato. Pois surgiu. E aqui em Mato Grosso, despercebido, meio escondido, sem retrato ou foguete, como diria Noel, sem manchetes nos jornais, bandas de música, como sugere um fato como este. Ainda mais na política, onde não se pinta um meio-fio sem comício e foguetório.
Refiro-me a proposta de ferrovia rasgando horizontalmente o médio-norte de Mato Grosso, ligando Lucas do Rio Verde a Uruaçu (GO), e posteriormente, a Vilhena (RO) – com Sapezal bem no meio do caminho. Nem inteirou dois anos das primeiras notícias sobre a idéia, já entrou no Plano Nacional de Viação (PNV). Rapidíssimo! Lembro da festa quando em 1976 o senador Vuolo incluiu nesse mesmo Plano a ligação ferroviária de Rubinéia (SP) a Cuiabá, após uma difícil luta que era de conhecimento de todos. Agora, um enorme projeto envolto no desconhecimento público total.
E mais, com velocidade supersônica, nem bem entrou no PNV, sem nenhum estudo, já foi incluído no PAC, desbancando o trecho de 200 Km entre Rondonópolis a Cuiabá, isto é, a ligação ao sistema ferroviário nacional das duas maiores cidades de Mato Grosso, sua capital e Várzea Grande, que juntas formam o maior centro produtor, consumidor, distribuidor e concentrador de cargas do estado. É bom lembrar que este trecho já foi submetido na década passada a uma Audiência Pública, a qual estive presente, com seu traçado técnico questionado por passar próximo – não dentro - da Reserva Tereza Cristina, 700 metros rio abaixo, e bastava essa correção. Hoje o trânsito rodoviário nesse trecho supera 15 mil veículos diários, a maioria carretas e treminhões, com alto impacto negativo econômico, ambiental e humano. Mas foi trocada por uma ferrovia cuja descrição técnica no PAC diz apenas “obra em fase de estudo”. Será que Lula sabe? Tudo sob o olhar atento e convicto do cumprimento do dever de nossos congressistas.
Desde dezembro passado, quando o PAC foi noticiado de forma mais compreensível, o assunto é uma pulga atrás da orelha de muitos cuiabano/varzea-grandenses. Afinal foram abertas as cartas desse estranho jogo de interesses que virou a ferrovia, confirmando antigas suspeitas que a extrema boa-fé cuiabana sempre recusou a acreditar? Da forma como se combinam a absurda exclusão do PAC do trecho Cuiabá-Rondonópolis com a proposta da nova ferrovia e o conseqüente seqüestro de cargas de Mato Grosso para Goiás, trata-se muito mais do que um projeto ferroviário, e sim de um audacioso e questionável plano geopolítico para Mato Grosso, que precisa ser muito bem conhecido e discutido por todos os mato-grossenses antes de ser implementado.
Não seria mais lógica e prática a inclusão no PAC do trecho Rondonópolis/Cuiabá/Lucas do Rio Verde, já, inclusive, objeto de concessão da União? Percorrendo uma área antropizada, com menores impactos ambientais ou sobre reservas indígenas, sem necessidade de novas grandes obras de arte, esta solução sem dúvida agilizaria uma ferrovia de fato necessária não apenas para levar a produção estadual, mas também para trazer os insumos necessários ao progresso do estado, através de seus maiores centros urbanos consumidores e distribuidores. Uma ferrovia não é feita só para ir, mas para ir e voltar com cargas de ida e vinda, disseminando o desenvolvimento. Se o que se quer é o desenvolvimento equilibrado e sustentável de Mato Grosso, sem exclusões regionais ou mais agressões ambientais, nada mais correto e urgente que a execução do projeto já outorgado à Ferronorte em 1989.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 27/01/2009)
A gente já conhecia o trem a vapor, a velha “maria-fumaça”, o trem a diesel, o trem elétrico e até o trem bala, mas jamais soube de um trem a jato. Pois surgiu. E aqui em Mato Grosso, despercebido, meio escondido, sem retrato ou foguete, como diria Noel, sem manchetes nos jornais, bandas de música, como sugere um fato como este. Ainda mais na política, onde não se pinta um meio-fio sem comício e foguetório.
Refiro-me a proposta de ferrovia rasgando horizontalmente o médio-norte de Mato Grosso, ligando Lucas do Rio Verde a Uruaçu (GO), e posteriormente, a Vilhena (RO) – com Sapezal bem no meio do caminho. Nem inteirou dois anos das primeiras notícias sobre a idéia, já entrou no Plano Nacional de Viação (PNV). Rapidíssimo! Lembro da festa quando em 1976 o senador Vuolo incluiu nesse mesmo Plano a ligação ferroviária de Rubinéia (SP) a Cuiabá, após uma difícil luta que era de conhecimento de todos. Agora, um enorme projeto envolto no desconhecimento público total.
E mais, com velocidade supersônica, nem bem entrou no PNV, sem nenhum estudo, já foi incluído no PAC, desbancando o trecho de 200 Km entre Rondonópolis a Cuiabá, isto é, a ligação ao sistema ferroviário nacional das duas maiores cidades de Mato Grosso, sua capital e Várzea Grande, que juntas formam o maior centro produtor, consumidor, distribuidor e concentrador de cargas do estado. É bom lembrar que este trecho já foi submetido na década passada a uma Audiência Pública, a qual estive presente, com seu traçado técnico questionado por passar próximo – não dentro - da Reserva Tereza Cristina, 700 metros rio abaixo, e bastava essa correção. Hoje o trânsito rodoviário nesse trecho supera 15 mil veículos diários, a maioria carretas e treminhões, com alto impacto negativo econômico, ambiental e humano. Mas foi trocada por uma ferrovia cuja descrição técnica no PAC diz apenas “obra em fase de estudo”. Será que Lula sabe? Tudo sob o olhar atento e convicto do cumprimento do dever de nossos congressistas.
Desde dezembro passado, quando o PAC foi noticiado de forma mais compreensível, o assunto é uma pulga atrás da orelha de muitos cuiabano/varzea-grandenses. Afinal foram abertas as cartas desse estranho jogo de interesses que virou a ferrovia, confirmando antigas suspeitas que a extrema boa-fé cuiabana sempre recusou a acreditar? Da forma como se combinam a absurda exclusão do PAC do trecho Cuiabá-Rondonópolis com a proposta da nova ferrovia e o conseqüente seqüestro de cargas de Mato Grosso para Goiás, trata-se muito mais do que um projeto ferroviário, e sim de um audacioso e questionável plano geopolítico para Mato Grosso, que precisa ser muito bem conhecido e discutido por todos os mato-grossenses antes de ser implementado.
Não seria mais lógica e prática a inclusão no PAC do trecho Rondonópolis/Cuiabá/Lucas do Rio Verde, já, inclusive, objeto de concessão da União? Percorrendo uma área antropizada, com menores impactos ambientais ou sobre reservas indígenas, sem necessidade de novas grandes obras de arte, esta solução sem dúvida agilizaria uma ferrovia de fato necessária não apenas para levar a produção estadual, mas também para trazer os insumos necessários ao progresso do estado, através de seus maiores centros urbanos consumidores e distribuidores. Uma ferrovia não é feita só para ir, mas para ir e voltar com cargas de ida e vinda, disseminando o desenvolvimento. Se o que se quer é o desenvolvimento equilibrado e sustentável de Mato Grosso, sem exclusões regionais ou mais agressões ambientais, nada mais correto e urgente que a execução do projeto já outorgado à Ferronorte em 1989.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 27/01/2009)
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terça-feira, 20 de janeiro de 2009
A CONSTRUÇÃO DA CIDADE
José Antonio Lemos dos Santos
O artigo anterior lembrando o tricentenário de Cuiabá e a necessidade da preparação da cidade desde já para a grande festa, rendeu vários comentários entusiasmados, com um destacando a importância da subsede da Copa 2014, e alguns com dúvidas quanto ao grau de sucesso possível. A desconfiança viria do que alguns chamam de “falta de cultura urbana do povo”, da qualidade dos nossos políticos e da dificuldade de obtenção de recursos públicos para investimentos.
Não creio que estes argumentos possam reduzir o entusiasmo por uma empreitada comum pelos 300 anos. O importante é que existe uma forte motivação pela cidade, ainda que latente, como confirmada pelos comentários ao artigo, e que pode muito bem convergir em um esforço coletivo desse tipo. As dificuldades alegadas são falsos problemas, tradicionalmente alimentados em todo o Brasil como “álibis” para as mazelas a que sempre são relegadas as coisas públicas.
Na verdade, o cerne da questão encontra-se na qualidade da nossa gestão urbana, que ainda se encontra nos tempos de “El-Rey” - o dono de tudo, inclusive das cidades, as vilas-reais - aguardando que as coisas aconteçam vindas de cima. Quando vem, bem, quando não vem, amém, repetimos hoje o que diziam os antigos. O ano que abre a última década do terceiro século de existência de Cuiabá marca também os 120 anos da proclamação da República, e apesar de todo esse tempo, até hoje o brasileiro ainda não assumiu como sua a coisa pública, a res-publica. Continua esperando as coisas virem de cima. E o salto na qualidade urbana no Brasil, e não apenas em Cuiabá, só acontecerá quando a cidadania assumir a cidade como de fato sua, não apenas quando da escolha de seus governantes, mas na participação efetiva em todos os momentos de sua gestão, colaborando, fazendo a sua parte, mas também cobrando, exigindo institucionalmente ou não das autoridades a execução das ações estabelecidas em favor do bem-comum.
Quanto aos recursos, Cuiabá é uma cidade de muitos recursos, muitos ainda inexplorados, como as potencialidades do centro geodésico continental. Uma cidade dinâmica e saudável é um organismo vivo, que cresce e se transforma o tempo todo através dos recursos que gera e que atrai do ambiente econômico externo, bem como através da renovação urbana, que salta aos olhos em Cuiabá, com residências que viram comércio, pequenas lojas que viram centros comerciais, vazios urbanos que viram indústrias, conjuntos residenciais, shoppings, etc. Dessa forma as cidades são construídas e estão em constante construção. Bastaria o controle público firme dessa grande obra para se alcançar padrões urbanos superiores para nossas cidades, evitando os processos de metástase urbana que as afligem e fazem sofrer seus habitantes.
A atual estrutura produtiva instalada aliada a projetos fundamentais que precisam ser concretizados ou reativados (gasoduto, ferrovia, aeroporto, etc.) assegura a vitalidade de Cuiabá e a continuidade de sua evolução, para o bem ou para mal. O rumo será ditado pela qualidade de sua gestão urbana, nela envolvidos o planejamento, o gerenciamento urbano, e, principalmente a participação pró-ativa da população. Sem esta última, os sistemas de gestão municipais funcionam apenas precariamente, produzindo este quadro local e nacional caótico e trágico. Além da motivação latente, mais do que esperar é preciso participar consciente e positivamente da construção da cidade. O que interessa para nós é que essa grande obra coletiva siga o rumo da melhoria da qualidade de vida urbana e que Cuiabá possa comemorar seu tricentenário não apenas como uma cidade grande, mas como a grande cidade que todos queremos.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 20/01/2009)
O artigo anterior lembrando o tricentenário de Cuiabá e a necessidade da preparação da cidade desde já para a grande festa, rendeu vários comentários entusiasmados, com um destacando a importância da subsede da Copa 2014, e alguns com dúvidas quanto ao grau de sucesso possível. A desconfiança viria do que alguns chamam de “falta de cultura urbana do povo”, da qualidade dos nossos políticos e da dificuldade de obtenção de recursos públicos para investimentos.
Não creio que estes argumentos possam reduzir o entusiasmo por uma empreitada comum pelos 300 anos. O importante é que existe uma forte motivação pela cidade, ainda que latente, como confirmada pelos comentários ao artigo, e que pode muito bem convergir em um esforço coletivo desse tipo. As dificuldades alegadas são falsos problemas, tradicionalmente alimentados em todo o Brasil como “álibis” para as mazelas a que sempre são relegadas as coisas públicas.
Na verdade, o cerne da questão encontra-se na qualidade da nossa gestão urbana, que ainda se encontra nos tempos de “El-Rey” - o dono de tudo, inclusive das cidades, as vilas-reais - aguardando que as coisas aconteçam vindas de cima. Quando vem, bem, quando não vem, amém, repetimos hoje o que diziam os antigos. O ano que abre a última década do terceiro século de existência de Cuiabá marca também os 120 anos da proclamação da República, e apesar de todo esse tempo, até hoje o brasileiro ainda não assumiu como sua a coisa pública, a res-publica. Continua esperando as coisas virem de cima. E o salto na qualidade urbana no Brasil, e não apenas em Cuiabá, só acontecerá quando a cidadania assumir a cidade como de fato sua, não apenas quando da escolha de seus governantes, mas na participação efetiva em todos os momentos de sua gestão, colaborando, fazendo a sua parte, mas também cobrando, exigindo institucionalmente ou não das autoridades a execução das ações estabelecidas em favor do bem-comum.
Quanto aos recursos, Cuiabá é uma cidade de muitos recursos, muitos ainda inexplorados, como as potencialidades do centro geodésico continental. Uma cidade dinâmica e saudável é um organismo vivo, que cresce e se transforma o tempo todo através dos recursos que gera e que atrai do ambiente econômico externo, bem como através da renovação urbana, que salta aos olhos em Cuiabá, com residências que viram comércio, pequenas lojas que viram centros comerciais, vazios urbanos que viram indústrias, conjuntos residenciais, shoppings, etc. Dessa forma as cidades são construídas e estão em constante construção. Bastaria o controle público firme dessa grande obra para se alcançar padrões urbanos superiores para nossas cidades, evitando os processos de metástase urbana que as afligem e fazem sofrer seus habitantes.
A atual estrutura produtiva instalada aliada a projetos fundamentais que precisam ser concretizados ou reativados (gasoduto, ferrovia, aeroporto, etc.) assegura a vitalidade de Cuiabá e a continuidade de sua evolução, para o bem ou para mal. O rumo será ditado pela qualidade de sua gestão urbana, nela envolvidos o planejamento, o gerenciamento urbano, e, principalmente a participação pró-ativa da população. Sem esta última, os sistemas de gestão municipais funcionam apenas precariamente, produzindo este quadro local e nacional caótico e trágico. Além da motivação latente, mais do que esperar é preciso participar consciente e positivamente da construção da cidade. O que interessa para nós é que essa grande obra coletiva siga o rumo da melhoria da qualidade de vida urbana e que Cuiabá possa comemorar seu tricentenário não apenas como uma cidade grande, mas como a grande cidade que todos queremos.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 20/01/2009)
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terça-feira, 13 de janeiro de 2009
DE 2009 A 2019
José Antonio Lemos dos Santos
Para Cuiabá o ano de 2009 é especial pois abre a última década de seu terceiro século de existência. Não é pouca coisa para uma cidade que teve que enfrentar inúmeras dificuldades para manter-se viva. Sem nunca ter o apoio nacional nos investimentos necessários à sua promoção ou sobrevivência - a não ser na gente das mais diversas origens que veio para formar o povo cuiabano - primeiro serviu como bastião da coroa portuguesa em meio ao território espanhol de então, depois, vanguarda ocidental na defesa e ocupação do território brasileiro e, hoje, como cidade moderna e dinâmica, centro polarizador e articulador de uma das regiões mais dinâmicas do planeta.
Qual o presente para uma cidade que completa 300 anos? Como para qualquer pessoa, o principal é que o aniversário reflita um momento saudável, feliz, com amplas perspectivas de realizações com todos os seus. O presente é apenas uma lembrança física desse momento. Para uma cidade isto significa o funcionamento de suas atividades com sustentabilidade, conforto, segurança e, sobretudo, justiça, isto é, a utopia do Urbanismo, uma situação não realizada por qualquer cidade no mundo e a ser buscada constantemente por elas. A década que iniciamos é o que nos resta para a construção dessa utopia em Cuiabá, o melhor presente para seu tricentenário, em 2019.
Em 1999, faltando 20 anos para os 300 anos da cidade, o IPDU propôs a adoção do tricentenário como foco das ações do desenvolvimento urbano a partir daquela data, lançando a expressão “Cuiabá 300”. Com o mesmo objetivo, o prefeito Wilson Santos, em sua primeira administração concebeu o projeto “Cuiabá 300 Anos”. Tanto agora, como a 10 anos atrás, a proposta não conseguiu sensibilizar a cidadania a ponto de envolvê-la em um grande projeto comum.
Sabemos que Cuiabá está distante da utopia urbana e 10 anos é um tempo curto para uma empreitada de tal porte, o que deve ser compensado com o envolvimento e a participação de toda a cidadania, a verdadeira dona e construtora da grande obra comum que é a cidade. A motivação coletiva é o primeiro desafio a ser superado e, uma vez conseguido, há quer mantido crescente de forma a explodir na festa de 2019. Um desafio supra-partidário a ser encarado sobretudo pela parte da sociedade civil organizada que já se preocupa com o assunto, e pela prefeitura, que não pode desistir de seu grande projeto, indispensável como instrumento de catalisação e controle de todos os esforços.
No meio do caminho, a Copa do Mundo de 2014 pode ser o grande exercício desse esforço coletivo por um objetivo comum. Assim também a realização anual da Corrida de Reis, cada ano mais bela e importante no cenário esportivo. Desde já, porém, não se pode pensar a festa de 2019 com o aeroporto do jeito que está, com o gasoduto e a termelétrica desativados, a rodovia Cuiabá-Rondonópolis em pista única e, principalmente, sem os trilhos da ferrovia. A história não perdoará esta geração de cidadãos e de políticos.
Motivação é matéria prima abundante a ser despertada, exigindo para isso, entretanto, competência, persistência e, principalmente, confiabilidade permanente. Todo mundo quer uma cidade melhor. O problema é que muitos entendem que essa cidade melhor é obrigação dos outros e não sua também. A cidade é uma obra de todos, e mais se aproximará do ideal, quanto mais a cidadania assumi-la como sua, de seu interesse, com obrigações a cumprir e a cobrar junto aos governos, aos demais moradores e a si própria enquanto conjunto de cidadãos.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 13/01/2009)
Para Cuiabá o ano de 2009 é especial pois abre a última década de seu terceiro século de existência. Não é pouca coisa para uma cidade que teve que enfrentar inúmeras dificuldades para manter-se viva. Sem nunca ter o apoio nacional nos investimentos necessários à sua promoção ou sobrevivência - a não ser na gente das mais diversas origens que veio para formar o povo cuiabano - primeiro serviu como bastião da coroa portuguesa em meio ao território espanhol de então, depois, vanguarda ocidental na defesa e ocupação do território brasileiro e, hoje, como cidade moderna e dinâmica, centro polarizador e articulador de uma das regiões mais dinâmicas do planeta.
Qual o presente para uma cidade que completa 300 anos? Como para qualquer pessoa, o principal é que o aniversário reflita um momento saudável, feliz, com amplas perspectivas de realizações com todos os seus. O presente é apenas uma lembrança física desse momento. Para uma cidade isto significa o funcionamento de suas atividades com sustentabilidade, conforto, segurança e, sobretudo, justiça, isto é, a utopia do Urbanismo, uma situação não realizada por qualquer cidade no mundo e a ser buscada constantemente por elas. A década que iniciamos é o que nos resta para a construção dessa utopia em Cuiabá, o melhor presente para seu tricentenário, em 2019.
Em 1999, faltando 20 anos para os 300 anos da cidade, o IPDU propôs a adoção do tricentenário como foco das ações do desenvolvimento urbano a partir daquela data, lançando a expressão “Cuiabá 300”. Com o mesmo objetivo, o prefeito Wilson Santos, em sua primeira administração concebeu o projeto “Cuiabá 300 Anos”. Tanto agora, como a 10 anos atrás, a proposta não conseguiu sensibilizar a cidadania a ponto de envolvê-la em um grande projeto comum.
Sabemos que Cuiabá está distante da utopia urbana e 10 anos é um tempo curto para uma empreitada de tal porte, o que deve ser compensado com o envolvimento e a participação de toda a cidadania, a verdadeira dona e construtora da grande obra comum que é a cidade. A motivação coletiva é o primeiro desafio a ser superado e, uma vez conseguido, há quer mantido crescente de forma a explodir na festa de 2019. Um desafio supra-partidário a ser encarado sobretudo pela parte da sociedade civil organizada que já se preocupa com o assunto, e pela prefeitura, que não pode desistir de seu grande projeto, indispensável como instrumento de catalisação e controle de todos os esforços.
No meio do caminho, a Copa do Mundo de 2014 pode ser o grande exercício desse esforço coletivo por um objetivo comum. Assim também a realização anual da Corrida de Reis, cada ano mais bela e importante no cenário esportivo. Desde já, porém, não se pode pensar a festa de 2019 com o aeroporto do jeito que está, com o gasoduto e a termelétrica desativados, a rodovia Cuiabá-Rondonópolis em pista única e, principalmente, sem os trilhos da ferrovia. A história não perdoará esta geração de cidadãos e de políticos.
Motivação é matéria prima abundante a ser despertada, exigindo para isso, entretanto, competência, persistência e, principalmente, confiabilidade permanente. Todo mundo quer uma cidade melhor. O problema é que muitos entendem que essa cidade melhor é obrigação dos outros e não sua também. A cidade é uma obra de todos, e mais se aproximará do ideal, quanto mais a cidadania assumi-la como sua, de seu interesse, com obrigações a cumprir e a cobrar junto aos governos, aos demais moradores e a si própria enquanto conjunto de cidadãos.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 13/01/2009)
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
VIVA 2009!
José Antonio Lemos dos Santos
Bem antes de seu início, o ano de 2009 já foi taxado como um ano de crise, crise que pode vir como um tsunami ou uma simples marola. Aliás, em nome da tal crise muitos grupos poderosos já levantaram bilhões de dólares de diversos governos pelo mundo afora, ainda que muitos deles responsáveis pela própria crise. Nenhuma surpresa, pois aprendemos na vida e na história que crise é uma mistura de riscos, oportunidades e também oportunismo, o qual chega sempre na frente. Ainda que atentos aos oportunistas, contra quem aparentemente pouco podemos fazer, melhor nos importar com as oportunidades, já que os riscos vêm junto destas como seus limites, sinalizadores de até onde podemos ir para aproveitá-las.
As crises expressam situações que não são mais adequadas e que precisam ser mudadas, são prenúncios de mudanças necessárias. Todos sabemos que o mundo vinha se consumindo ambientalmente e que vivia pendurado em ficções financeiras especulativas danosas a todos, inclusive à economia produtiva. Um quadro insustentável e era esperada a explosão. Só nesse duplo corretivo já teríamos um lado bom da crise. Mais ainda, como Mato Grosso em geral não vive de papéis, mas da sua produção real baseada na agropecuária, mesmo com essa crise dá para antever, ao menos na visão leiga, boas perspectivas para o estado, desde que se agregue a indispensável sustentabilidade à sua economia.
Com ou sem crise, o mundo vai continuar demandando alimentos e energia de forma crescente. A inviabilização dos combustíveis fósseis e a alternativa dos biocombustíveis, bem como as preocupações mundiais com a preservação dos últimos redutos naturais do planeta, também parecem conspirar a nosso favor. Seja para alimentos ou combustíveis, a última grande fronteira agrícola global está aqui, na otimização produtiva da área já ocupada pela agropecuária de alguns estados do Brasil, em especial, em Mato Grosso.
Outra defesa de Mato Grosso contra a crise está na sua extensão territorial, envolvendo uma multiplicidade de oportunidades produtivas. Já se disse, há algum tempo, que em Mato Grosso, terra que não servia para agricultura dava ouro ou diamante. Agora dá também o calcário, o fosfato, e já estão procurando até petróleo e gás. Brincadeiras à parte, essa mosaico de alternativas permite um certo equilíbrio, com um setor produtivo compensando outro que eventualmente vá mal. Ao mesmo tempo, apresenta um custo otimizado da administração pública. Mato Grosso pode não ser do tamanho dos estados americanos criados nos tempos das diligêcias e das comunicações por tambores ou fumaça, mas certamente tem o tamanho certo para os tempos do avião a jato, das estradas asfaltadas, das comunicações via satélite e da internet, com um só Executivo, Legislativo e Judiciário em condições racionais de governo. Mato Grosso unido é maior que todas as crises.
Para Mato Grosso, 2009 pode ser o ano das oportunidades. Oportunidade de adequar-se ambientalmente e assim consolidar-se como grande produtor de alimentos e de energia para o mundo; oportunidade de desenvolver, interna e externamente, a colaboração produtiva dos tempos globais, ao invés da velha competição predadora que a atual crise questiona; oportunidade de resgatar projetos fundamentais paralisados como o gasoduto, a termelétrica, o aeroporto Marechal Rondon, a chegada dos trilhos da ferrovia até Cuiabá e a oportunidade de continuar exercitando a união laboriosa entre seus cidadãos. Um ano novo com Mato Grosso amadurecendo suas relações ambientais, com seus municípios e cidades integrados solidariamente em uma sinergia regional multiplicadora de suas potencialidades. Feliz 2009!
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 06/01/2009)
Bem antes de seu início, o ano de 2009 já foi taxado como um ano de crise, crise que pode vir como um tsunami ou uma simples marola. Aliás, em nome da tal crise muitos grupos poderosos já levantaram bilhões de dólares de diversos governos pelo mundo afora, ainda que muitos deles responsáveis pela própria crise. Nenhuma surpresa, pois aprendemos na vida e na história que crise é uma mistura de riscos, oportunidades e também oportunismo, o qual chega sempre na frente. Ainda que atentos aos oportunistas, contra quem aparentemente pouco podemos fazer, melhor nos importar com as oportunidades, já que os riscos vêm junto destas como seus limites, sinalizadores de até onde podemos ir para aproveitá-las.
As crises expressam situações que não são mais adequadas e que precisam ser mudadas, são prenúncios de mudanças necessárias. Todos sabemos que o mundo vinha se consumindo ambientalmente e que vivia pendurado em ficções financeiras especulativas danosas a todos, inclusive à economia produtiva. Um quadro insustentável e era esperada a explosão. Só nesse duplo corretivo já teríamos um lado bom da crise. Mais ainda, como Mato Grosso em geral não vive de papéis, mas da sua produção real baseada na agropecuária, mesmo com essa crise dá para antever, ao menos na visão leiga, boas perspectivas para o estado, desde que se agregue a indispensável sustentabilidade à sua economia.
Com ou sem crise, o mundo vai continuar demandando alimentos e energia de forma crescente. A inviabilização dos combustíveis fósseis e a alternativa dos biocombustíveis, bem como as preocupações mundiais com a preservação dos últimos redutos naturais do planeta, também parecem conspirar a nosso favor. Seja para alimentos ou combustíveis, a última grande fronteira agrícola global está aqui, na otimização produtiva da área já ocupada pela agropecuária de alguns estados do Brasil, em especial, em Mato Grosso.
Outra defesa de Mato Grosso contra a crise está na sua extensão territorial, envolvendo uma multiplicidade de oportunidades produtivas. Já se disse, há algum tempo, que em Mato Grosso, terra que não servia para agricultura dava ouro ou diamante. Agora dá também o calcário, o fosfato, e já estão procurando até petróleo e gás. Brincadeiras à parte, essa mosaico de alternativas permite um certo equilíbrio, com um setor produtivo compensando outro que eventualmente vá mal. Ao mesmo tempo, apresenta um custo otimizado da administração pública. Mato Grosso pode não ser do tamanho dos estados americanos criados nos tempos das diligêcias e das comunicações por tambores ou fumaça, mas certamente tem o tamanho certo para os tempos do avião a jato, das estradas asfaltadas, das comunicações via satélite e da internet, com um só Executivo, Legislativo e Judiciário em condições racionais de governo. Mato Grosso unido é maior que todas as crises.
Para Mato Grosso, 2009 pode ser o ano das oportunidades. Oportunidade de adequar-se ambientalmente e assim consolidar-se como grande produtor de alimentos e de energia para o mundo; oportunidade de desenvolver, interna e externamente, a colaboração produtiva dos tempos globais, ao invés da velha competição predadora que a atual crise questiona; oportunidade de resgatar projetos fundamentais paralisados como o gasoduto, a termelétrica, o aeroporto Marechal Rondon, a chegada dos trilhos da ferrovia até Cuiabá e a oportunidade de continuar exercitando a união laboriosa entre seus cidadãos. Um ano novo com Mato Grosso amadurecendo suas relações ambientais, com seus municípios e cidades integrados solidariamente em uma sinergia regional multiplicadora de suas potencialidades. Feliz 2009!
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 06/01/2009)
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