"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



quinta-feira, 13 de maio de 1999

OS ELEFANTES BRANCOS


José Antonio Lemos dos Santos

     A etapa do Campeonato Brasileiro de Futebol de Salão, recentemente disputada em Cuiabá, permitiu que a gente pudesse rever o ginásio esportivo da UFMT lotado, servindo à função para a qual foi destinado. Não bastasse a beleza dos jogos em si e os brilhantes desempenhos das nossas equipes, em especial a do Gercafi, campeão da Chave, que bonito ver aquela magnífica praça de esportes funcionando, devidamente reformado, servindo em noites de gala à comunidade que lhe tem como motivo de orgulho. 

     Tomara que o ginásio da UFMT volte a oferecer frequentes espetáculos como este, mirando-se no exemplo do Teatro Universitário que vem se constituindo numa verdadeira praça de cultura, com espetáculos daqui e de fora, eruditos e populares, que se sucedem à miúde, integrando-se na agenda de comunidade como compromisso "imperdível". Pelo que sou informado, existiria uma comissão trabalhando especificamente com a programação do Teatro com a obrigação de mantê-lo em funcionamento. Será que o mesmo tratamento não poderia ser dado ao ginásio, com a programação de eventos nacionais, regionais e até mesmo internacionais nos mais diversos esportes que suas instalações permitem?

     Cuiabá dispõe de alguns outros equipamentos urbanos que, pelos mais diversos motivos, encontram-se completamente abandonados ou no mínimo, subutilizados, constituindo-se em autênticos "elefantes brancos", ainda que muito queridos. Podiam iniciar uma pequena lista exemplar, com o próprio rio Cuiabá, nosso maior equipamento urbano, dado de graça pela natureza, sobre o qual tanto se fala, e que cada vez mais se restringindo a um simples obstáculo a ser transposto rapidamente, a um canal para lançamento do esgoto da cidade, ou ainda a uma área de extração mineral, afastando o povo de seu uso mais adequado e democrático, qual seja o lazer público nas suas mais diversas formas.

     À margem do Cuiabá existe ainda o cais flutuante, uma estrutura cuja utilidade original é hoje desconhecida de muita gente. Alguns falam de uma ponte inacabada... Essa estrutura poderia servir melhor à cidade. Por exemplo, como suporte para a instalação de um aquário público, como propôs a arquiteta Fernanda Martins por ocasião da II Mostra Mato-grossense de Arquitetura. Ou então como base para um restaurante panorâmico que poderia ser implantado pela iniciativa privada através de licitações pública. Ou ainda outras ideias que possam ser viabilizadas. É grande desperdício o estado de abandono em que se encontra assim como seria desperdício maior a sua simples implosão.  

    Ainda à beira do rio Cuiabá existe a "Casa de D. Aquino", como é conhecida. Por trás da singeleza daquela construção encontra-se abandonado um patrimônio da cultura de nossa gente. Aliás o mesmo que acontece com o Arsenal de Guerra, este com arquitetura bem mais imponente e significativa para a cidade. A Federação do Comércio de Mato Grosso assumiu com extrema coragem a responsabilidade pelo Arsenal. Mas o prédio continua caindo. Será que a Federação não precisaria de uma ajuda da Prefeitura, do Governo do Estado ou mesmo da União? 

     Nessas condições teríamos ainda o estádio do Liceu Cuiabano e o Verdão, este o maior e mais caro dos equipamentos públicos construídos em nossa cidade. Não seria possível a criação de uma comissão que estudasse alternativas de ocupação para o estádio, responsabilizando-se por uma programação esportiva cultural, continuada e compatível com a prática do futebol que continuaria sendo sua mais nobre função? Uma comunidade que vem se achando carente de recursos não pode abrir mão dos que dispõe, deixando-os subutilizados, ociosos ou mesmo abandonados. 

(Publicado pelo Jornal do Dia em 13/05/1999)