"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

CORAÇÃO DA AMÉRICA DO SUL


José Antonio Lemos dos Santos
Imagem: José Antonio

Aprendemos com o Pequeno Príncipe, leitura obrigatória dos tempos do antigo Científico, que a gente fica responsável pelo que cativamos. Vai daí que Cuiabá e os cuiabanos assumimos um imenso, um lêpa de compromisso depois que apresentamos ao mundo através da Mangueira nossa cidade como a “capital da natureza”, um “paraíso no centro da América”. A magia do carnaval e da televisão levadas por esse mundo afora pela maravilha dos satélites e da internet com certeza despertou em muita gente, no caso milhões de pessoas espalhadas pelo planeta, no mínimo a curiosidade em conhecer esta terra cheia de história, lendas, causos e exuberante natureza, natureza esta que todos pensavam destruída ao cruel som das motosserras de ouro ou não. A fantasia carnavalesca levou ao mundo que esse lugar ainda existe, e é Cuiabá. Pareceu ser essa a intenção e foi realizada com brilhantismo. 
     Fizemos a propaganda, o produto existe de fato e é de grande qualidade. Agora, o que resta é entregar a mercadoria alardeada e entregá-la de maneira digna ao comprador, no caso o turista atraído pela exibição na Sapucaí. Agora é que a porca torce o rabo. A história, as lendas, os “causos”, a exuberante natureza e o centro do continente estão aí, ainda que mal cuidados, desprezados e até mesmo desconhecidos de parte dos cuiabanos. Como prepará-los para o consumo pelo turista? Como transformá-los, minimamente que seja, em produtos turísticos que agradem ao visitante dando a ele vontade de voltar e até fazê-lo um propagandista positivo daquilo que viu? Ou pelo menos não voltar falando mal? Importante reparar que este turista gerado na Sapucaí não está preso à Copa, e pode resolver vir amanhã, depois, ou ficar a vida inteira arrumando condições para um dia visitar aquele paraíso que viu um dia pela televisão, como muitos brasileiros já sonham um dia conhecer antes de morrer a Capadócia da novela e lá ver as belas cavernas high-tech e aquele céu sempre colorido por balões, maravilhas televisivas recém-embutidas em seus imaginários. 
     Faltando pouco mais de 450 dias para o início da Copa o que pode ser feito? Quem sabe não dá ao menos para iniciar entre nós, governantes e governados, uma rápida mudança de postura para com essas maravilhas que temos, passando a vê-las com carinho e cuidado, como joias cada vez mais raras e procuradas no mundo, das quais fomos escolhidos pela natureza como seus fieis depositários? Para começar as autoridades poderiam criar patrulhas permanentes para limpeza urgente dos lixões instalados no nosso paraíso e os cidadãos poderiam assumir o compromisso de não mais produzi-los. Embalados pelo sonho carnavalesco, daria para começar agora e nunca mais parar? 
     Não havendo prazo para abarcar todas as possibilidades e nem como pensar em obras de grande porte de imediato, o importante é que aquilo que for preparado, seja bem feito, confiável e funcione bem. Por exemplo, arrisco a rever a antiga proposta pontual de trabalhar junto à rede hoteleira um serviço de visitas agendadas ao obelisco do Centro Geodésico da América do Sul, com fotografias e diplomas personalizados, assinados pelo prefeito e pelo presidente da Câmara, cobrados a preços de custo. É claro que demandaria um rápido tratamento arquitetônico no local, aproveitando o projeto do escritório de Jaime Lerner e a estrutura do próprio edifício hoje existente, com implantação de um sistema de iluminação cenográfica e algumas complementações de apoio ao turista. Deste tipo, muitos outros. Como com a Copa, de novo Cuiabá foi posta em uma vitrine global, a Sapucaí, outra oportunidade de ouro a ser aproveitada e transformada em emprego, renda e qualidade de vida para sua gente. 
Imagem: José Antonio

(Publicado em 26/02/2013 pelo Diário de Cuiabá)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

CUIABÁ EM VERDE E ROSA

www.sidneyrezende.com

José Antonio Lemos dos Santos

     Gosto não se discute, já é dito pelo menos desde a Idade Média. Ou, gosto se discute, como dizemos os pós-modernistas, includentes. Aparentemente discordantes, as duas afirmações querem dizer a mesma coisa, isto é, cada um tem o direito de gostar ou não gostar de qualquer coisa. As duas frases contrapõem-se à posição modernista, que em sua pretensão racional descambou para um determinismo prepotente, autoritário e excludente, convicta de que a beleza e a verdade eram sua exclusividade. A beleza e a verdade estão ao alcance de todos, cada um com seu jeito, caminho, modo de expressar e essa rica diversidade deve ser respeitada e assimilada, ainda que discordada. 
     O desfile de cada uma das Escolas de Samba do Rio de Janeiro é um espetáculo artístico monumental compondo com os desfiles das outras escolas aquele que é o maior show da terra. Nesse contexto o desfile da Mangueira deste ano foi belo como sempre, ganhando inclusive o Estandarte de Ouro como a melhor das escolas, e teve Cuiabá como enredo. Claro que pelo Brasil e mundo afora houve quem gostasse mais de outras, o que é normal. Para a gente de Cuiabá, cuiabanos natos ou não, essa apreciação é mais complicada, pois para nós entram em jogo fatores adicionais tais como o afeto citadino (ou desafeto), a ligação direta com as pessoas, as coisas, a cultura, etc. Tem ainda a politicagem abominável com sua crença idiota de que o êxito de uma iniciativa pública é vitória do adversário e deve ser “neutralizada”. 
     Acompanhei o desfile por uma rádio do Rio e depois pela TV na expectativa de assistir a um espetáculo de carnaval preparado para ser visto como tal, e não a um relatório técnico-científico sobre Cuiabá. Neste caso buscaria o importante “Perfil Socioeconômico de Cuiabá”, produzido pelo extinto IPDU da prefeitura, que espero continue sendo editado todos os anos. Na minha avaliação de cuiabano, suspeita portanto, fiquei maravilhado com o desfile, na forma e conteúdo. Carnaval é fantasia e eu vi uma bela interpretação carnavalesca de Cuiabá a partir da visão da Mangueira sobre a cidade. O artista era a Mangueira e ela chegou a um resultado da maior qualidade, inclusive com propostas audaciosas como a exitosa dupla-bateria ou o belo carro de fechamento, maior que devia. Cantando a “capital da natureza”, lá estavam a história, a fauna, a flora e a cultura cuiabanas, em especial a exaltação em alto e bom som ao sonho da ferrovia, portanto, exaltação à continuidade da luta de Cuiabá por ela, já tão perto. 
     Vejo a Escola de Samba como a Ópera moderna inventada no Rio de Janeiro, tendo na Sapucaí seu principal palco e a Mangueira como a maior, mais tradicional e uma das mais queridas intérpretes. Foi comovente ver Cuiabá como enredo da Mangueira com quase 100 mil pessoas no Sambódromo cantando seu nome com alegria e empolgação para o Brasil e todo o mundo por mais de hora e meia: “Bendita sejas terra amada, o coração da América do Sul”. É pouco? Baixada a emoção dá para perguntar, podia ser melhor? Podia, é claro. Podia ter alguns ajustes? Podia. Mas mesmo assim foi belo e importante para Cuiabá.
     Enfim, como a Copa com Maggi, a corajosa iniciativa do ex-prefeito Chico Galindo trouxe e trará ainda mais resultados positivos para a cidade, elogio de um crítico constante de sua administração, seja pela extinção do IPDU, a truculência na alteração da Lei do Uso do Solo ou pela quase venda da Policlínica do Verdão. A propósito, uma pessoa conhecida, aquidauanense residente aqui - que não é o meu irmão super cuiabano nascido em Aquidauana,(MS) - me disse que tão logo terminou o desfile seus familiares ligaram empolgados dizendo que lá estavam até soltando fogos, alegres com a homenagem prestada a Cuiabá. 
(Artigo publicado pelo Diário de Cuiabá em 19/02/2013)


terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

CUIABÁ, A PÉROLA E OS PORCOS

José Antonio Lemos dos Santos



      Desde que Cuiabá ganhou a sede da Copa do Pantanal repeti algumas
vezes que esse privilégio e responsabilidade teria sido um estratagema
do Senhor Bom Jesus de Cuiabá para dar uma sacudida nos cuiabanos,
governantes e governados, para que se liguem no momento especial que a
cidade vive, agora polo de uma das regiões mais dinâmicas e produtivas
do planeta, visando a festa do Tricentenário em 2019, esta sim a maior
efeméride cuiabana no século. E parece que esse plano começa a dar
certo. A Copa resgatou o futuro no imaginário cuiabano, virando sua
cabeça cidadã para a frente e para o alto.
     O que ainda resta alcançar é a distinção entre a cidade e os
problemas que a cidade enfrenta. Na verdade ela é vítima de um
sistema de gestão urbana defasado, ilegal e corrupto, por isso
incompetente. A má gestão pública fez a cidade deficitária em
infraestrutura, equipamentos e serviços urbanos que deixaram de
acompanhar seu dinamismo. As novas administrações municipais de
Cuiabá e Várzea Grande trazem esperança de superação para esta
situação crítica. A cidade embora tricentenária revitalizou-se e
está em pleno desenvolvimento como uma adolescente saudável que não
pode ser criticada por necessitar de vestuário novo e maior a cada
momento. Cuiabá está viva e moderna como atestam os avanços trazidos
pela iniciativa privada em empreendimentos de grande porte e alta
sofisticação no ramo imobiliário, no comércio, saúde, educação, lazer
e indústria de um modo geral, que não podem passar despercebidos.
     A Grande Cuiabá é sim uma velha e linda senhora muito maltratada,
mas que rejuvenesceu-se no desenvolvimento regional que ajudou a
construir. Só precisa ser tratada de forma digna por aqueles a
quem cabe cuidá-la, suas autoridades públicas, em especial as dos
municípios que a compõem. Cuiabá é como uma pérola que escapou às
mãos da cidadania e ficou à mercê dos porcos. Há que ser resgatada
e trabalhada em todas as suas facetas de potencialidades e beleza.
Nela está o centro da América do Sul, por exemplo. Uma noite dessas
passei lá e nem a luminária do poste de rua em frente estava acesa.
Tem seu centro histórico tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional,
com um peculiar traçado urbanístico e belos exemplares arquitetônicos,
também desprezado e abandonado. Tem em seu sítio urbano o privilégio
de 2 rios e 21 córregos, riqueza florística, faunística, paisagística
e de composição climática para os quais demos as costas, assim como
também nem notamos que a cidade é caprichosamente emoldurada pelas
silhuetas da Chapada e do Morro de Santo Antonio. Nas proximidades
Cuiabá potencializa ainda o Pantanal, a Chapada dos Guimarães, as
termas de São Vicente, as grutas de Nobres e o lago de Manso.
     Além das belezas e potencialidades naturais a cidade desfruta
de posição estratégica em termos da logística continental e nacional.
É o encontro natural dos caminhos. Cuiabá viabilizou a chegada e o
avanço das rodovias, aerovias e da ferrovia em Mato Grosso e tem
tudo para centralizar o moderno sistema intermodal de transportes 
que o estado tanto precisa. Tem Manso como equipamento de proteção
urbana contra as maiores cheias e sua grande caixa d’água a 100
metros de altura permitindo-lhe um abastecimento por gravidade seguro
e contínuo, mas desprezada. Como também está desprezada a energia
abundante, limpa e barata do gás trazido por um gasoduto que custou
US$ 250,0 milhões. Todas essas maravilhas, naturais ou construídas,
compõem a beleza e a potencialidade real de Cuiabá. Desprezadas aqui,
seriam exploradas por qualquer cidade minimamente gerida como fonte de
emprego, renda e qualidade de vida para sua população. Mas, que fazer?

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

MÁRTIRES DA NOVA CIDADE

José Antonio Lemos dos Santos

     A cada ano as tragédias urbanas de verão se repetem em nosso país. Ultimamente envolvendo desmoronamentos, deslizamentos, inundações, enxurradas, todas tecnicamente previsíveis e evitáveis, este ano choramos condoídos e impotentes ao incêndio em uma boate em Santa Maria (RS) que ceifou a vida de mais de 230 jovens, tragédia também evitável, ao menos nas proporções alcançadas, caso todas as normas legais fossem obedecidas. Qual a causa? Quem são os culpados? O que fazer para que não se repitam acontecimentos como estes? 
     As cidades são objetos artificiais dinâmicos, construídos e em constante construção e reconstrução pelo homem. Cabe às prefeituras a coordenação dessa obra imensa e constante bem como organizar e garantir seu funcionamento seguro, confortável e sustentável. Como objeto construído, a cidade tem uma dimensão técnica que lhe é inalienável. Por outro lado ela é um objeto que tem múltiplos donos, os cidadãos, todos com direitos sobre ela, o que lhe acrescenta uma outra dimensão, a dimensão política, que também lhe é inalienável. Estas duas dimensões, a técnica e a política têm que funcionar juntas. A técnica sem a política dá na tecnocracia de triste memória no Brasil. Já a política sem a técnica como parceira e parâmetro, vira politicagem. A política que deveria sempre ser a nobre arte de disputar o poder em função da realização do bem comum, acaba se pervertendo numa competição do poder pelo poder, ao sabor de interesses pessoais ou de grupos. E o bem comum vai para o beleléu.
     Ocorre que as cidades brasileiras foram dominadas pela política que foi marginalizando aos poucos até praticamente suprimir a participação técnica em seus processos de gestão. Sem a técnica, a politicagem campeia e a ela só interessa ganhar as eleições. Salvo umas 5 ou 6, as cidades brasileiras passaram a ser entendidas como grandes butins eleitorais a serem exploradas de acordo com os interesses das eleições. As leis e normas que eram de execução obrigatória pelas autoridades das prefeituras passaram a ser tratadas como prerrogativas, e aplicadas ou não de acordo com as vantagens ou prejuízos no número de votos. Nessa situação o planejamento urbano é só para cumprimento das obrigações legais, pois limita o espaço das negociações, as leis e outras formas de controle urbanístico ou edilício também não são aplicadas, pois são antipáticas, portanto, prejudiciais em termos de votos. Os cargos técnicos também viram objeto das barganhas eleitorais, e daí nunca existirem técnicos nos quadros municipais em quantidade suficiente para a gestão urbana com a competência técnica que a complexidade do assunto exige.
     Nesse quadro fica mais fácil entender porque nossas cidades matam tanto e matam cada vez mais. Não foi o isopor nem a porta que matou os jovens. Em 2010, numa greve de funcionários vazou a informação de que a prefeitura de Cuiabá tinha em seus quadros apenas 34 engenheiros e arquitetos. Um absurdo! E hoje quantos seriam? Seguramente muito menos do que precisa uma cidade das dimensões de Cuiabá. Cuiabá é uma amostra do Brasil. Gerenciar tecnicamente as cidades não é prioridade, ao contrário, só atrapalha os verdadeiros interesses que se escondem por trás dos belos discursos da politicagem. Só há esperança de uma nova cidade voltada de fato para o bem estar e a promoção da qualidade de vida dos cidadãos quando a cidadania retomá-la como sua e não dos prefeitos ou vereadores. Que os mártires de Santa Maria, Morro do Bumba, Petrópolis e de tantas outras tragédias nos forcem a acordar para essa cruel realidade que precisa ser mudada. 

(Publicado em 05/02/2013 pelo Diário de Cuiabá)

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A ARENA DE MINHA JANELA


Chegando à marca dos 62% das obras, veja como está a Arena Pantanal vista de minha varanda hoje, dia nublado, 4 de fevereiro de 2013:

Foto: José Antonio

Para melhor compreensão daquilo que avançou na obra, veja trecho de matéria de ontem de GazetaDigital:

"Os operários da Arena Pantanal, palco da Copa do Mundo de 2014 em Cuiabá, trabalham na reta final da montagem das arquibancadas. Até meados de fevereiro a superestrutura do estádio, que envolve lajes, vigas-jacaré e arquibancadas, estará 100% concluída. Com a implantação do trabalho noturno e aceleração do processo de montagem da superestrutura, o índice de conclusão da obra subiu para 62%. “Resta apenas finalizar a fixação das arquibancadas do setor sul, pois os setores oeste, leste e norte estão montados. Com exceção do gramado, que deve começar em maio deste ano, todas as frentes de trabalho necessárias para construção do estádio estão em andamento, como instalação hidrossanitárias, elétricas, pórticos da cobertura, alvenaria das áreas VIP e camarotes”, disse o secretário extraordinário da Copa do Mundo, Maurício Guimarães.
Outra novidade é o início do assentamento de pisos das rampas de acesso à Arena Pantanal, avançando a fase de acabamento. Pontos estratégicos da área de lazer tiveram o cronograma antecipado, como as estruturas metálicas do restaurante e da chopperia, que serão importantes equipamentos para o uso de toda a comunidade. “Estamos dentro do cronograma e vamos entregar a obra em outubro deste ano, 2 meses antes do prazo final exigido pela Fifa. A construção da Arena Pantanal tem o total acompanhamento dos órgãos de controle, é monitorada diariamente pela Fifa e os pagamentos à empreiteira são realizados regularmente”, explicou o governador Silval Barbosa ao comentar o andamento da principal obra da Copa do Mundo em Cuiabá."
(Matéria de Gazeta Digital de ontem 03/01/2013 - Ler mais no site www.gazetadigital.com.br).

Dá para comparar com a situação no mês passado (04/01/13):



Foto: José Antonio

Ou a um ano atrás, no início do ano passado (14/01/12):

Foto: José Antonio


É para ficar pronta em outubro de 2013. Confira com a maquete para ver se está indo tudo certo:

Reveja a reportagem do Bom Dia Mato Grosso do dia 4 do mês passado sobre as obras:

http://g1.globo.com/videos/mato-grosso/bom-dia-mt/t/edicoes/v/novo-turno-de-trabalho-e-implantado-na-construcao-da-arena-pantanal/2326756/