"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 12 de junho de 2018

COPA DO PANTANAL, 4 ANOS

Foto EsportesTerra
José Antonio Lemos dos Santos
     O cuiabano sempre foi amante do futebol. Na minha infância jogava-se bola em qualquer lugar com qualquer objeto de aparência esférica que aparecesse, um papel amassado, uma laranja e às vezes até uma tampinha de garrafa abandonada no pátio da escola, com dois “bambolês” de traves. Porém nem mesmo o mais apaixonado cuiabano amante do futebol havia sequer pensado que um dia Cuiabá pudesse sediar uma Copa do Mundo, o olimpo mundial de tão querido esporte. E não é que aconteceu? No próximo dia 13 de junho já se completam 4 anos do primeiro jogo da Copa do Pantanal, evento que foi até o dia 24 do mesmo mês, abrindo com Santo Antônio e fechando com São João. Contudo, um triste processo de desconstrução política a faz parecer bem mais distante, já quase esquecida. Mas não dá para esquecê-la fácil.
     Junho de 2014 chegou com os primeiros turistas. O primeiro, Cristian Guerra, chileno, chegou depois de 4 meses de viagem de bicicleta. E logo chegaram aos milhares, alegres, dando aula de como torcer aos brasileiros. Os chilenos uníssonos com seus “chi-chi-lê-lê”, os australianos de cangurus e coalas. E também vieram os russos, nigerianos, coreanos, os bósnio-herzegovinos, colombianos e os japoneses ensinando civilidade ao limpar a Arena após o jogo, lição usada pela torcida do Cuiabá no primeiro jogo de seu time após a Copa, mas ficou só nesse primeiro e depois esqueceram. Podiam relembrar.
FotoJoséLemos
     Os colombianos trouxeram sua rainha, a bela Shakira e deixaram a lembrança do gol de James Rodriguez, escolhido por ele como o seu mais bonito, ele que depois foi eleito o Craque das Américas e que chegara como mero substituto do então astro maior colombiano machucado. Veio Bachelet, a presidente do Chile, Wolverine, o príncipe da Austrália e outras personalidades globais que nem foram percebidas em meio a turba alegre e festiva que lotou a Arena, o Fan Park, a Arena Cultural e a Praça Popular ponto de encontro de todas as torcidas. Fora dos jogos e das festas, o Centro Geodésico foi lugar de visitação constante, com os turistas sul-americanos procurando suas capitais no piso do marco.
     Ao final as pesquisas noticiadas constataram que 91,6% dos visitantes aprovaram Cuiabá e recomendariam Mato Grosso como destino turístico. Em pesquisa do Ministério do Turismo 99% dos visitantes escolheram Cuiabá como a sede mais hospitaleira e a Arena Pantanal foi a preferida entre os jornalistas estrangeiros pelo site UOL, logo a UOL, sempre tão dura com Cuiabá. Até o New York Times se rendeu àquela que chamou de “a menor das cidades-sede”. Quer mais?  Mais importante, cerca de três quartos da população local aprovaram as transformações trazidas pela Copa e acham que a cidade não passou vergonha, isso a 4 anos atrás, quando bem menos obras estavam concluídas ou em uso.
Foto José Lemos
     Mas para Cuiabá a Copa vai além dessa festa tão bonita. Ela elevou sua autoestima e ensinou o cuiabano a cobrar pelas obras e serviços públicos a que tem direito pressionando-o a continuar cobrando a conclusão de todo o legado prometido de obras públicas e que ainda estão a exigir muita atenção e cobrança pela população. Mas, uma vez aprendido, no rastro da cobrança das obras da Copa, que sejam cobradas também as demais obras públicas, muitas das quais vêm de bem antes da Copa e ainda se arrastam sem perspectivas de conclusão.
    O importante é que a Copa do Pantanal, o evento em si, aconteceu com enorme sucesso em todos os sentidos, superando as expectativas dos maiores otimistas. Para aqueles que apostavam que a cidade seria o “patinho feio” da Copa no Brasil, Cuiabá acabou se mostrando como um belo tuiuiú serenando bonito no alto, para depois se assentar vitorioso no chão, como na letra do siriri tão conhecido.

terça-feira, 5 de junho de 2018

LIÇÃO DO ESGOTO

Esgoto sendo concretado Imagem Portal Tratamento de Água
José Antonio Lemos dos Santos
     O arquiteto é um profissional que tem no otimismo e na esperança, com pés no chão, suas principais condições de trabalho. Principalmente o urbanista. Trabalhando com aquilo que ainda não existe, mas visando sua futura existência ele tem que acreditar na possibilidade concreta daquilo que projeta. Assim, está sempre entre aqueles que acreditam que os problemas trazem em si o germe de sua própria solução e que quanto maiores as dificuldades, maiores as chances de grandes resultados, grandes não necessariamente no tamanho ou complexidade, mas também no seu inusitado ou simplicidade. Na maioria das vezes é preciso de coragem para expor a cara à tapa propondo algo singular, jamais visto, não por desejo de aparecer, mas apenas por ser aquela a solução cabível para aquele problema específico, também singular.
     No último artigo tratei da paralisação nacional dos caminhoneiros e da possibilidade dessa grande crise forçar a solução para a grande questão da logística nacional dos transportes em especial para Mato Grosso, com o avanço da ferrovia e o desenvolvimento de outros modais de imensos potenciais no estado como o hidroviário, o dutoviário, o aeroviário e mesmo o rodoviário que sempre será necessário, mas sem ser o único como é agora. Possibilidades também para o uso da energia solar abundante e dos biocombustíveis como o biodiesel e o etanol com amplas vantagens ambientais e logísticas, com farta produção no estado, geradores locais de emprego e renda. Um grande problema visto como perspectiva para grandes soluções. Não desespero, mas esperança.
     Este artigo é dedicado ao esgoto da lagoa do Parque das Águas em Cuiabá, problema antigo agravado com a criação do Parque, espaço urbano que cativou de pronto o coração dos cuiabanos. Antes já caía na lagoa e já era um grande problema, mas com o Parque a situação se expôs aos olhos do público também como agressão a um dos equipamentos mais queridos pela cidade. A propósito do Parque das Águas idealizado e implantado pelo prefeito Mauro Mendes, lembro lá por 1974 o engenheiro Sátyro Castilho projetando quatro lagoas para o futuro CPA buscando elevar a umidade do ar e proporcionar áreas públicas de qualidade para o lazer social urbano. Castilho, um bom nome a ser homenageado no local como um dos criadores do CPA. Das quatro lagoas só uma vingou, ainda que tenha precisado de mais de quatro décadas para vir enfim cumprir seu destino. O saudoso ex-prefeito coronel Meirelles, dizia que a boa arquitetura e o bom urbanismo precisam ter alma para se realizarem. E a alma do Parque das Águas se fortalece com a felicidade diária de seus usuários e, assim, não será fácil ser desleixado pelos gestores públicos. Tem muita gente zelando por ele.
     Voltando ao esgoto, este era intocável pois tinha origem nos órgãos máximos da administração estadual. Com receio de afrontar excrementos de tão altos escalões, o problema foi enrolado por várias administrações. Até que depois de muitas notificações, autuações e TACs malsucedidos, e com os usuários reclamando, o atual secretário municipal de Serviços Urbanos José Roberto Stopa no fim do mês de abril concretou os tubos que despejavam o esgoto na lagoa, fazendo retornar os efluentes aos palácios de onde originavam. No mesmo dia as providências fluíram e hoje o tão querido Parque das Águas está livre da poluição para felicidade de seu jacaré, seus peixes, capivaras e outros usuários bípedes ou não que compõem sua alma. Simples assim. Basta um gestor republicano decidido a resolver. Que a corajosa decisão sirva de inspiração para outros graves problemas que se arrastam circulando pelas repartições do Brasil afora.