"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 30 de janeiro de 2018

SEGURA O VOTO

Opinião e Notícias
José Antonio Lemos dos Santos
     Nem bem iniciando o ano eleitoral de 2018 já começam a ser esboçadas algumas candidaturas, muitas das quais nem serão concretizadas. Mesmo assim surgem ainda discretos os primeiros adesivos nos carros. A regra principalmente para os novatos é começar cedo para “beber água limpa”, isto é chegar nos eleitores antes que eles se comprometam com outros eventuais candidatos. De um modo geral começam buscando familiares, colegas de trabalho, velhos colegas até então esquecidos dos bancos escolares, amigos, em suma, aquele conjunto de pessoas potencialmente formador do que seria seu capital político pessoal. Com base nesses laços pessoais de diversos tipos acabam arrancando compromissos amarrados em “fios de bigode” de difícil escapatória futura. Com as eleições ainda distantes, muitos desses compromissos são sacramentados em frases ditas sem muito pensar sobre assunto tão longínquo, muitas vezes para encurtar uma conversa chata, ou para não ser desagradável. Aí mora o perigo.
     Ano passado houve a tão necessária reforma política esperada para ser a mãe de todas as reformas, mas que afinal acabou parindo um rato. Em relação ao voto em si quase tudo ficou como antes, e este ano abrange a escolha para os cargos de deputados estaduais e federais, senador, governador e presidente da república em eleições majoritárias e proporcionais, que continuam do mesmo jeito só que com o registro do voto no papel, paralelo à votação eletrônica. Outras mudanças mais significativas só em 2020. Como sabemos, os dois tipos de eleição são necessários e existem nas democracias mais avançadas do mundo, uma privilegiando o candidato individual e a outra a proporção em que se distribui no eleitorado as diversas correntes ideológico-partidárias.
     O voto majoritário é simples, vence o candidato que tiver mais votos, mais confiável agora com o registro do voto em papel. Já o voto proporcional não é tão simples assim. Nelas vota-se em listas por partido ou coligação através dos votos dados aos candidatos nelas constantes. Assim, o cidadão escolhe um candidato e seu voto pode eleger outro. Nas eleições proporcionais busca-se a distribuição das cadeiras parlamentares na proporção do poder político dos partidos no universo eleitoral. Tais cadeiras são ocupadas pelos candidatos mais votados em cada corrente, a maioria dos quais não é escolhida diretamente pelo eleitor. Esta é a beleza das eleições proporcionais, mas também seu grande mal entre nós pois as listas não são publicadas.
     Votando em listas desconhecidas o eleitor pode escolher um bom candidato e eleger sem querer outro do mesmo partido ou coligação. O eleito pode até ser um que o eleitor quisesse banir da vida pública. Assim são mantidos aqueles de sempre. E assim o povo é enganado no seu próprio voto, elegendo e legitimando muitos daqueles que não gostaria de ver eleitos ou reeleitos. Fica com a fama de não saber votar. O coitado é ludibriado, paga a conta e ainda leva a culpa.
     O sentido de consciência e responsabilidade do eleitor na hora de votar deve então ser multiplicado nas eleições proporcionais. Antes de nos comprometer com o candidato parente, amigo, colega ou compadre é importante aguardar a oficialização das candidaturas e torcer para que a Justiça Eleitoral publique as listas das eleições proporcionais, o que ajudaria muito a aperfeiçoar a legitimidade e a representatividade das eleições. As listas mostrarão quais os outros candidatos que você poderá eleger ao votar naquele que hoje postula o seu voto. Entre eles pode estar um ou mais candidatos que não se queira eleito, nem pintado de ouro. O verdadeiro amigo entenderá. Importante é não se precipitar em compromisso muito cedo com algum pré-candidato. Segure o seu voto.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

O VOO INTERNACIONAL

exame.abril
José Antonio Lemos dos Santos
     No final da semana o superintendente da Infraero em Mato Grosso informou que a Receita Federal deu seu aval para o Aeroporto Marechal Rondon operar voos internacionais podendo atender até 200 passageiros por hora, o que na prática significaria que do ponto de vista deste órgão Mato Grosso ganhou salvo conduto para voos ainda mais distantes pelo mundo afora através de seu principal aeroporto. Alvíssaras! Porém no momento o foco deve ser a concretização do primeiro voo da linha Cuiabá-Santa Cruz de La Sierra e sua consolidação. A notícia ainda diz que agora só falta a anuência da Polícia Federal. Como sempre, falta ainda alguma coisa para a realização deste antigo e importante projeto mato-grossense. Ainda bem que desta vez está avançando.
     Nas entrelinhas da excelente notícia vem uma outra fundamental indicando a existência de autoridades tanto no estado como no governo federal, em especial na Infraero, realmente interessadas no assunto, tomando providências, reivindicando, cobrando e agilizando as burocracias. Certamente será uma das maiores conquistas para a Grande Cuiabá e Mato Grosso, mas não basta esperar, tem que continuar correndo atrás e vencer obstáculos, alguns inesperados. Ainda falta um passo, prometido como o último antes da efetivação da linha.
     Uma cidade não é um ponto isolado no espaço. Elas funcionam como lugares centrais em redes hierarquizadas produzindo bens e serviços consumidos por uma região de abrangência chamada tecnicamente de hinterlândia. Quanto maior sua hinterlândia maior sua “centralidade” e sua importância regional, que nos casos extremos pode ser o planeta, como no caso de Nova York por exemplo. Sua capacidade de produção de bens e serviços para atendimento das demandas regionais evidentemente dependerá da infraestrutura instalada e em especial de modernas conexões transportadoras de cargas, passageiros, capitais, conhecimentos, notícias, etc. não só com sua hinterlândia mas com o restante da rede de hierarquia superior. Daí se explica tanta disputa por rodovias, aeroportos, ferrovias, etc., pois são determinantes na configuração da rede urbana e do grau de importância de cada cidade. Isso significa trabalho, emprego, renda e qualidade de vida.
     Quando como urbanista tratamos da urgência da ligação de Cuiabá e Mato Grosso ao sistema ferroviário nacional, ou insistimos na ampliação do Aeroporto Marechal Rondon e a implantação da linha aérea Cuiabá-Santa Cruz de La Sierra estamos tratando de fundamentos da sustentabilidade urbana de Cuiabá e do estado. As redes urbanas são dinâmicas e uma posição favorável hoje poderá ser diferente no futuro em função do que se fizer ou não hoje. Corumbá o mais importante centro industrial, comercial e bancário do estado quando Mato Grosso era uno, hoje busca recolocar-se de maneira sustentável na rede urbana de Mato Grosso do Sul. Na época não foi dada atenção aos fatores que lhe dava a hegemonia estadual. Voos internacionais reforçarão a centralidade da Grande Cuiabá e as potencialidades de Mato Grosso.
     O superintendente da Infraero e o secretário estadual de Turismo esperam uma reunião com a Polícia Federal ainda nesta semana para tratar do último passo para a efetivação da internacionalização do Marechal Rondon. Contando desde agosto passado com a autorização do governo boliviano, contando também com a liberação do Ministério da Agricultura e da Anvisa e o que é mais importante, contando com o interesse de uma das maiores empresas da aviação comercial do Brasil, tudo promete para muito breve o início da operação da linha aérea Cuiabá–Santa Cruz de La Sierra, de onde partem voos internacionais diretos de longo alcance. Um grande presente para o Tricentenário.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

DE 88 A 2018

MansoAquicultura

José Antonio Lemos dos Santos
     Em artigo do início de 1989 avaliei o ano de 1988 como “talvez o mais positivo da história recente” de Cuiabá tendo por base o deslanche de alguns macroprojetos fundamentais para o desenvolvimento da cidade e do estado. Enfim tinha sido iniciada a construção da APM de Manso, a Sudam havia aprovado o projeto da ligação de Cuiabá ao sistema ferroviário nacional e havia sido proposta com grande otimismo e alarde a saída rodoviária para o Pacífico via San Matias. Passados trinta anos e iniciando a quarta década pós 88, valeria fazer uma avaliação do que de fato aconteceu com estes projetos e a quantas andaram as expectativas tão positivas. Talvez sirva para alguma coisa.
     Idealizada com a cheia de 1974 visando a proteção da Grande Cuiabá contra novas enchentes, a barragem de Manso teve seu projeto ampliado em fins dos anos 70 para uma barragem multifinalitária destinada à geração de energia, ao abastecimento de água de Cuiabá e Várzea Grande, à irrigação de 50 mil hectares na Baixada Cuiabana, e ao desenvolvimento de projetos nas áreas de turismo e aquicultura. A obra foi de fato iniciada em 88, mas paralisada em 89 e só retomada em 1998 com grandes prejuízos dentre os quais a perda do canteiro de obras inclusive com maquinário pesado. Inaugurada em fins do ano 2000 cumpre hoje seu principal objetivo assegurando níveis mínimos de água e evitando picos de vazões superiores à de 74, como em 15 de janeiro de 2002. Empurrado só por seu próprio potencial Manso está avançando com grandes projetos de piscicultura, a instalação de condomínios de lazer, pousadas de alta sofisticação, e já vive a expectativa da legalização dos jogos com seu grande potencial turístico. Poderia ter avançado muito mais, inclusive no abastecimento de água e irrigação, até hoje sequer prospectados em termos de viabilidade.
Mansomtolx
     A ferrovia também vem avançando, considerando que em 88 seus trilhos estavam nas barrancas do Paraná, em São Paulo. Hoje está em Rondonópolis onde foi instalado o maior terminal ferroviário da América Latina. Em 1989 teve sua concessão outorgada à Ferronorte, concessão que foi repassada diversas vezes, sem ainda cumprir seu primeiro objetivo que era chegar a Cuiabá, depois prosseguir em direção aos portos amazônicos e do Pacífico, levando e trazendo o desenvolvimento para todo Mato Grosso. Inexplicavelmente em 2010 a então concessionária devolveu a concessão a partir de Rondonópolis. Por coincidência ou não, ao mesmo tempo surgia o projeto da FICO, com 1200 km levando a produção de Mato Grosso para Goiás. Depois surgiu outro ligando o leste do estado ao porto de Espadarte no Pará, ainda em construção. E a ferrovia em Mato Grosso virou então ferramenta de geopolítica em vez de logística, envolvendo exageradas ambições regionais e políticas. Encerrando 2017 a óbvia ligação Rondonópolis-Cuiabá–Nova Mutum de apenas 460 Km voltou a ser prioridade para o estado, BNDES, Nova Mutum e a própria atual concessionária (RUMO), resgatando o bom senso nesse assunto fundamental e tão urgente para o estado. Enquanto demora, produção, meio ambiente e vidas são perdidas.
     A saída rodoviária para o Pacífico encontrou forte alento no primeiro governo Maggi, com o governador liderando uma caravana até ao Chile. Mas ficou por aí. Hoje as ligações do Brasil ao Pacífico saíram por Mato Grosso do Sul e Acre. Por aqui nem pela linha aérea entre Cuiabá e Santa Cruz, outrora existente. Agora em dezembro de 2017 uma nova esperança pois autoridades bolivianas disseram em Cuiabá estar negociando com o Banco Mundial a pavimentação entre San Matias e San Inácio. Querem exportar ureia e gás de cozinha para Mato Grosso. Aí finalmente Mato Grosso estaria ligado diretamente ao Pacífico. Será?

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

2018, A ENCRUZILHADA

Resultado de imagem para encruzilhada
pipocasalpimenta.blogspot.com
José Antonio Lemos dos Santos
     Os anos geralmente chegam trazendo ótimas ou no mínimo boas expectativas de futuro. 2018, contudo, chega com a cara um pouco diferente prevendo alguns gargalos sérios para o mundo e principalmente para o Brasil. O mundo com a volta da perspectiva de um confronto nuclear de terríveis consequências para a humanidade, já o Brasil com dois eventos desafiadores para suas instituições nacionais que terão que dar provas de grande maturidade ou, no mínimo, de um grande esforço de amadurecimento, indispensável à consolidação do país como nação civilizada e democrática.
     O risco do confronto nuclear não seria de atemorizar tanto, ainda que seja muito grande o risco da proximidade entre botões nucleares e dedos guiados por cabeças de sanidade duvidosa. Botões são antigos, hoje talvez baste uma tecla “enter” para dar início a um apocalipse pós-moderno. Não haveria o que temer como prognosticou Mao Tsé-Tung na primeira Guerra Fria, diante da ameaça dos EUA e Rússia se engalfinharem com suas bombas nucleares e destruírem o mundo junto. Nessa época eu era adolescente e o medo que pairava no planeta era real quando Mao chamou os “machões” nucleares de “tigres de papel”. Na época a maioria não entendeu, nem eu. Só entendi agora com os poderosos EUA sendo desafiados pela Coreia do Norte, esta naturalmente também montada em um arsenal, ou digamos, em um estoque não tão grande assim de mísseis atômicos. Bomba atômica só é poderosa contra adversários que não as têm. Quando o outro também tem, aí a história é outra. O arrogante nuclear coloca o rabo entre as pernas e a perspectiva da hecatombe se reduz a um “galinhaço” acovardado como o que estamos assistindo. Ainda bem, pois assim temos assegurados os 365 dias de 2018 para cuidarmos de nossos próprios gargalos.
   Já no Brasil os riscos são mais iminentes. Ainda em janeiro haverá o julgamento em segunda instância do ex-presidente Lula, que poderá ou não liberar sua candidatura à presidência da República, em pleito marcado para outubro próximo. São dois momentos que exigirão não só das instituições nacionais, mas de todo povo brasileiro grande maturidade cívica e elevada consciência democrática e republicana para que sejam viabilizadas as decisões constitucionalmente corretas sendo aceitos civilizadamente quaisquer que sejam os resultados advindos dos tribunais e das urnas. A radicalização de posições no qual o país se embrenha pode leva-lo ao caos, isto é, nem para um lado nem para outro, mas para sua destruição enquanto nação. Uma encruzilhada.
     Para Mato Grosso renova-se o grande desafio das eleições majoritárias para governador e senador, bem como as ardilosas eleições proporcionais que exigem especial atenção do eleitor para não votar em um bom candidato e eleger um outro indesejável, ajudando assim a reproduzir este nefasto quadro político que envergonha a nação e sacrifica seu povo. Quanto a Cuiabá a agenda deveria ser a preparação para o seu Tricentenário com projetos que permitam à cidade alcançar melhores padrões urbanos e maior qualidade de vida. O que resta, porém é concluir as obras da Copa, em especial o aeroporto, as trincheiras, os COT’s e a Arena Pantanal, mesmo sem o VLT, e outras obras também inconclusas tais como o novo Aquário Municipal, o novo Pronto Socorro Municipal, a UPA do Verdão, os hospitais Júlio Muller e o Regional da UFMT, as duplicações para Guia, Chapada e São Vicente. Seria um bom pacote. Aproveitando o ano eleitoral, o grande desafio será a viabilização de uma cobrança forte e efetiva da cidadania organizada pois o tempo é curto e os órgãos responsáveis lentos, mesmo para a conclusão de obras que já deviam estar concluídas a muito tempo.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

INESQUECÍVEL, MAS ESQUECIDO II

Como nossa memória é curta. Veja o link abaixo (copie e cole, vale a pena):

https://www.youtube.com/watch?v=z12SRlH-RPQ