MEUS CAROS ELEFANTES II
José Antonio Lemos dos Santos
O artigo “Meus caros elefantes” da semana passada rendeu comentários simpáticos, a maioria lembrando alguma obra não citada. A satisfação dos leitores comentando aqueles equipamentos que viraram rotina, mostra o risco das condenações precoces e o quanto de fato hoje eles são importantes e queridos. Aliás, um exemplo mundial desse risco é a Torre Eiffel. Quando de sua construção alguns dos maiores intelectuais locais (do porte de um Zola, Maupassant, Gounod) escreveram veemente manifesto contrário à “monstruosa” torre que seria uma “odiosa coluna de ferro cheia de rebites”. Para alguns técnicos a torre cairia pelo “ceder de suas estruturas ou fundações”. Era um monumento comemorativo aos 100 anos da Revolução Francesa, a ser depois desmontada e vendida como sucata. A invenção do rádio e a Primeira Guerra Mundial prorrogaram o desmanche e nesse tempo a Torre Eiffel conquistou o coração dos franceses e do mundo.
Agora baixando a bola, em respeito aos comentários dos leitores registro alguns dos ex-futuros elefantes brancos citados por eles. Como pude me esquecer da Avenida do CPA, ou Rubens de Mendonça como é oficialmente denominada? Lembro do saudoso professor Sátyro Castilho (que ainda não é lembrado em nenhuma rua no CPA) debruçado sobre sua escrivaninha, projetando caprichosamente a lápis e borracha cada ponto da futura avenida, que seria a mais larga de Cuiabá com 50 metros de caixa. Para muitos naquele longínquo 1974 era apenas o delírio de alguns jovens arquitetos sonhadores ligando o Baú a nada. O CPA em si era uma loucura: “Nem no ano 2000 vai ter 60 mil habitantes!”, diziam os críticos. Hoje, já engarrafada, a avenida é um orgulho urbanístico cuiabano e uma das imagens de Cuiabá preferidas na internet.
Foi lembrado o Shopping Popular, no Porto, certamente não tanto por sua plástica. Criado em 1994 numa rua abandonada para ser um espaço provisório descoberto com instalações de apoio, destinado a cerca de 200 barracas dos então ocupantes das praças centrais de Cuiabá que acreditaram no projeto da prefeitura. Após implantado foi crescendo, depois coberto e de puxadinho em puxadinho virou esse querido centro popular de compras. Falavam que os “camelôs” logo voltariam ao centro e o galpão seria abandonado. Um elefantão branco. Mas foi muito bem pensado em um plano coordenado pelo IPDU para o comércio alternativo de Cuiabá. No plano foram criados também os Mini-Shoppings e as Galerias Populares para os que quisessem continuar no centro histórico. Difícil convencer que aquele ponto do Shopping Popular seria economicamente viável ainda sem a implantação do binário da XV de Novembro/Cel. Duarte, mesmo com as juras da prefeitura de que seu plano era sério e que nenhum outro grupo voltaria ao centro com o comércio ilegal (e estão voltando). Acreditaram e deu certo.
Podiam ser citados outros ex-futuros elefantes brancos. O Sesc Arsenal, que maravilha! Para muitos ia além da civilidade cuiabana e logo estaria todo quebrado, rasgado, sujo e abandonado. Qual o que, está lá como uma jóia amada e visitada por todos. Concluo com o belíssimo Terminal Rodoviário de Cuiabá, exemplo de dimensionamento correto, fruto de um prognóstico perfeito e corajoso sobre o futuro de Cuiabá na época. Com mais de três décadas, funciona belo em toda sua elegância tardo-modernista, apropriado ao clima, contrariando aqueles que viam naquela imensa obra apenas mais um lance de irresponsabilidade com o dinheiro público. Uma aula de arquitetura, um patrimônio a ser tombado urgente. Mas isso é outro assunto.
(Publicado no Diário de Cuiabá em 30/11/12)
José Antonio Lemos dos Santos, arquiteto e urbanista, é professor universitário aposentado . Troféu "João Thimóteo"-1991-IAB/MT/ "Diploma do Mérito IAB 80 Anos"/ Troféu "O Construtor" - Sinduscon MT Ano 2000 / Arquiteto do Ano 2010 pelo CREA-MT/ Comenda do Legislativo Cuiabano 2018/ Ordem do Mérito Cuiabá 300 Anos da Câmara Municipal de Cuiabá 2019.
"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
MEUS CAROS ELEFANTES II
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