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José Antonio Lemos dos Santos
Meio a sério, meio de brincadeira, comentei aqui algumas vezes que a inesperada Copa do Pantanal teria sido um estratagema do Bom Jesus de Cuiabá para dar uma sacudida no cuiabano forçando-o a assumir sua cidade, seu presente e seu futuro, lutar por ela preparando-a para o Tricentenário aproveitando as oportunidades do mega evento global e de sua centralidade numa das regiões mais produtivas do planeta. Cada vez mais me convenço ser esta impressão mais séria do que pensava, e também mais ampla já que o suposto artifício sacudiu não só Cuiabá, mas todo o Brasil. Esperava que a Copa fosse um elemento perturbador nesse conluio crônico de mal tratos à coisa pública no país, e que puxaria outros assuntos, como a mobilidade urbana, a segurança e a saúde pública, pois os jogos não ocorrem isolados de seus contextos.
Atiraram no que viram e acertaram o que não viram, algo que jamais queriam acertar. Se soubessem, nunca iriam atrás de Copa alguma. Sem querer, ao sediar a Copa o Brasil colocou-se em destaque na imensa vitrine midiática mundial com compromissos grandiosos com data marcada, assumidos não só consigo mesmo, diante de todo o planeta. O grande benefício imediato da Copa para o Brasil foi mostrar ao mundo e aos próprios brasileiros que o país está encalacrado em um modelo político-administrativo enrolado, perdulário, corrupto e incapaz criado ao longo dos anos a pretexto de combater a corrupção – que campeia mais solta do que nunca - incapaz de realizar qualquer projeto com data marcada. Se a Copa pudesse ser prorrogada, por certo já estaria lá por 2038 - provisoriamente, é claro. Para atender datas fixas, como a Copa ou as tragédias urbanas brasileiras de cada verão, a única saída está em soluções bizarras como o Regime Diferenciado de Contratações, que nada mais é do que uma lei autorizando o descumprimento da lei. Triste mas necessária conclusão.
Não se trata apenas de obras. Nada anda no país, a não ser a corrupção e a irresponsabilidade pública. Além da burocracia absurda, o Brasil foi fatiado entre grupos vorazes, na maioria das vezes travestidos em grandes e importantes causas. O bem comum é o que menos importa e quando importa é só às vésperas das eleições. O desrespeito ao público atingiu as raias do deboche cada dia mais ultrajante, como as manobras “pizzaiolas” sobre o julgamento dos mensaleiros, a PEC-37 ou o aumento da remuneração que se deram, na mesma legislatura, os vereadores de Cuiabá, muito bem anulado semana passada pela Juíza Maria Erotides. Ou ainda o escárnio logístico com Mato Grosso, o maior produtor de alimentos do Brasil, responsável por um superávit comercial de US$ 13,0 bilhões para o país ano passado.
Nada anda no país, a não ser contra o interesse público, e o povo enfim saiu às ruas. A tarifa do transporte foi a gota d’água e a Copa ofereceu seu palco midiático internacional onde não há como fugir aos holofotes mundiais. O país carece urgente ser passado inteiro a limpo e tudo é prioritário. A Republica precisa ser reproclamada. O povo em sua maioria tem dado nas ruas demonstrações de que está consciente e preparado para construir essa nova ordem com muita civilidade e respeito ao concidadão e ao bem comum, inclusive repelindo o perigo dos vândalos, caçadores de cadáveres e outras ações oportunistas. O recuo no aumento nas tarifas foi uma primeira vitória. O passe livre pode ser a próxima, uma verdadeira revolução nos conceitos de mobilidade urbana e na qualidade de vida das cidades brasileiras. Logo talvez a tão esperada reforma política, mas que seja verdadeira. E seguir em frente. O Brasil não pode adormecer de novo.
(Publicado em 25/06/2013 pelo Diário de Cuiabá)
Que a Copa traria alguma coisa, isso esperávamos, mas que trouxesse tanta corrupção, isto também esperávamos. O que não se esperava era que o povo se mobilizasse e acordasse o Brasil. Isto sim foi a surpresa, contudo, penso que não dure muito, levando em conta que ha uma infiltração muito grande de partidos políticos no movimento, e no melhor momento que se deve protestar, nas urnas, o movimento estará fraco, desmembrado em seus partidos e individualismos. Mas ontem Pedro Taques fez um pronunciamento até legal, me animou um pouco, apesar que me animo fácil.
ResponderExcluirA Copa não trouxe a corrupção. Ela já existia desenfreada e, pior, sem construir nada. A Copa transformou Cuiabá em um canteiro de obras nunca tão fiscalizadas, seja pelos órgãos oficiais, pelas cidades que perderam para Cuiabá, pela população, pela imprensa nacional e internacional, etc. Mesmo assim não creio que estejam suficientemente protegidas contra a corrupção. Eu também me animo fácil, o que não incluo entre os meus maiores defeitos. Vamos às eleições, para as quais, a meu ver é imprescindível a publicação da lista dos candidatos por partido ou coligação nas eleições proporcionais, sem o que o eleitor pode até escolher um bom candidato e eleger outro (geralmente ruim).
ResponderExcluirJosé, vamos ver se desta vez consigo comentar no seu blog....rsrs.... Ainda não "absorvi" muito bem esta dinâmica forma de comunicação...rsrs.... Mas vamos lá! Adorei este artigo.... sou um pouco suspeita, já que voce é minha grande referência. Penso como voce, "sem a copa", cidades como Cuiabá e Várzea Grande, talvez não fariam, nos próximos 20 anos, sequer 10%, dos projetos de mobilidade urbana em execução. Acredito que TODAS as "trincheiras" em execução, senão me falha a memória, foram planejadas HÁ 20 ANOS CERTO?
ResponderExcluirAdorei a atitude do povo brasileiro, que na sua GRANDE MAIORIA, foi a rua exigir respeito e dizer BASTA! Só senti da imprensa brasileira destacar mais os acontecimentos ocasionados por uma MINORIA!
Enfim tudo isso reafirma a minha certeza de que PODEMOS muito! E de que a mudança só ocorrerá em nosso país a partir do amadurecimento político da nossa população......E isso já está acontecendo!!!!
Parabéns ao POVO brasileiro! Sigamos em frente!!
Viva! Conseguiu Cássia. E hoje é um dia especial para o Blog do José Lemos pois além de receber seu primeiro comentário, hoje o Blog deverá receber su acesso no. 50.000, graças a pessoas como você.
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