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José Antonio Lemos dos Santos
Ainda tentando ressuscitar da forte gripe que me impediu redigir este artigo na semana passada, retorno à denúncia que inadvertidamente fez o chefe da B&F em sua afamada gravação no Jaburu quando pediu a interferência presidencial junto ao CADE em uma suposta discriminação de preços do gás da Petrobrás contra a Termelétrica de Cuiabá usina hoje de propriedade do grupo. Preferia vê-lo aprisionado, mas, mesmo sem querer expôs um grave fato até então desconhecido dos mato-grossenses. O CADE ao afirmar que não cedeu ao pleito da J&F confirma a discriminação e o pior é que agora o assunto virou cavalo de batalha política porque qualquer correção nos preços seria vista como comprovação de uma negociata corrupta e não como uma questão de justiça para com um estado injustamente discriminado, afinal o gás é para impulsionar diversas atividades no estado, não só a termelétrica.
A Petrobrás não é brasileira e Mato Grosso não é Brasil? O mato-grossense só serve na hora segurar a onda do PIB nacional ou de gerar superávits na balança comercial do país? E por que o silêncio de nossos líderes políticos e empresariais? Certamente esse fato grave era do conhecimento de muita gente graúda aqui do estado que por anos não mexeu uma palha sequer para denunciar o assunto, permitindo-nos ao menos o exercício do justo direito de espernear.
No mundo todo onde chega o gás torna-se logo poderoso indutor de desenvolvimento. Por isso foi trazido para Mato Grosso, em especial para viabilizar a verticalização da economia estadual tendo na Baixada Cuiabana um de seus principais polos. Sugiro ao leitor buscar no Google pelo gás de Mato Grosso do Sul. Sentirão o mesmo que senti: inveja! Nos mapas a distribuição por quase toda a Campo Grande, indo a Três Lagoas e Corumbá, para uso veicular, residencial, comercial, industrial e cogeração. Esse mesmo gás da Petrobrás, inutilizado aqui.
Por que nosso desprezo a esse importante recurso, já disponibilizado através de uma infraestrutura caríssima? Sequer usado por taxis. Pelo “método das ilações”, tão em voga nos dias de hoje, no artigo anterior deduzi que um dos motivos da sabotagem contra o gás de Mato Grosso teria sido a disputa com Mato Grosso do Sul por uma fábrica de fertilizantes da Petrobrás destinada a atender as demandas do Centro-Oeste, cuja instalação em Cuiabá era vantajosa por sua posição central na região. Porém, Mato Grosso do Sul tinha seu governo afinado ideologicamente com os governos do Bolívia e do Brasil. Assim, nosso gás foi cortado e a fábrica foi para Três Lagoas. Perdemos.
Sobre o silêncio de nossos líderes, políticos ou não, uso de novo o famoso “método das ilações”. Entre estes existem os que ainda se ligam a um atrevido projeto de divisão do estado que se objetiva na interrupção da Ferronorte, na construção da Fico e no enfraquecimento da região de Cuiabá, gerando duas economias isoladas ao norte e ao sul. O gás atrapalharia. Existem outras lideranças fornecedoras de energia através de PCHs, outros que não estão “nem aí” para nada e ainda os que prefiro não comentar. Meras ilações. Ajudam a entender?
Outro dia o governador Pedro Taques esteve na Bolívia abordando o assunto, e agora assume a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico o ex-deputado Carlos Avalone, secretário no governo Dante de Oliveira quando da instalação do gasoduto e da termelétrica. Poderia ser uma esperança maior do que de fato é. Como deputado também não mexeu uma palha em favor do nosso gás. Porém, a esperança é a última que morre. A favor ainda tem o projeto da ZPE de Cáceres, prioritário para o atual governo. O gás passando ao lado é um diferencial positivo. Talvez a questão agora caminhe novamente. Espero.
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