"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 19 de setembro de 2017

UMA FACULDADE NO CENTRO HISTÓRICO

                                                                       Foto José Lemos
José Antonio Lemos dos Santos
     Recordo o ex-prefeito de Cuiabá, o saudoso coronel José Meirelles, militar por formação, seguidor de Pietro Ubaldi e kardecista convicto. Nada tinha a ver com o atual estilo de política que já se manifestava àquela época, e por isso nela não deixou herança. Quando prefeito tive o privilégio de ser seu assessor direto como secretário. Com ele aprendi muitas coisas, dentre estas, que os edifícios e as cidades precisam ter alma capaz de lhes assegurar vida contínua e bom funcionamento em comunhão com seus usuários, lição fundamental que me faltou dos bancos de graduação profissional. A vida de um espaço manifesta-se pelo interesse de seus usuários por ele.
     Semana passada comentei sobre a possibilidade do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Mato Grosso (CAU-MT) ocupar a atual sede do Tribunal de Contas da União (TCU) em Cuiabá, edifício icônico para os arquitetos brasileiros por se tratar de um projeto de João da Gama Filgueiras de Lima, o Lelé, um dos formadores do trio de implantadores do modernismo na arquitetura brasileira, ao lado de Niemeyer e Lúcio Costa. Este edifício mantem-se íntegro e em boas condições de uso graças a compreensão do TCU de que eles usavam uma obra de arte e não uma simples edificação, assim preferiram trocá-lo por um outro espaço mais adequado ao invés de mutilá-lo ou conspurcá-lo com aqueles “puxadinhos” tão comuns em nossa terra. O TCU assegurou-lhe a vida até hoje, e será preservada pelo interesse uníssono dos arquitetos e urbanistas de Mato Grosso.
     Ao mesmo tempo em que o professor doutor José Afonso Portocarrero soube da disponibilidade do edifício do Lelé, soube também da disponibilidade da antiga sede da Delegacia da Receita Federal (DRF) na Getúlio Vargas, edifício que já foi sede da Câmara Municipal de Cuiabá e esteve disponibilizado a um órgão federal que não teve recursos para fazer as adaptações necessárias e o devolveu à Superintendência do Patrimônio da União (SPU). De imediato contatou a Reitoria da UFMT sugerindo o requerimento do prédio à SPU para uso da Universidade em princípio como sede da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, proposta autorizada e providenciada.
     E o que tem de importante este edifício para Cuiabá e para a arquitetura? Trata-se de um puro exemplar do “neoclássico estadonovista” construído na década de 40 compondo o belo conjunto arquitetônico de edifícios públicos com a antiga sede do Tribunal de Justiça do Estado, da antiga Secretaria Geral do Estado e a antiga sede do INSS, coroando nos altos da Batista das Neves, a Avenida Getúlio Vargas também construída àquela época. O edifício da antiga DRF tem como irmão em estilo a antiga sede do Banco do Brasil, também na Getúlio Vargas, próximo ao Jardim Alencastro. Tal qual o edifício do Lelé no CPA, a antiga sede da DRF também precisa ser preservada como um patrimônio arquitetônico de Mato Grosso, mas preservado com vida útil e o interesse da UFMT aponta para sua revitalização.
     Mais importante, a revitalização desse edifício marcando a presença da UFMT no centro da cidade, será importante ferramenta para revitalização do próprio centro de Cuiabá, objetivo que vem preocupando a muito tempo a cidadania cuiabana. A presença da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFMT com seus estudantes e sua cadeia de atividades correlatas que será atraída para seu entorno, reanimará essa parte tão importante da cidade que começa a ser marginalizada. Nada mais apropriado para a comemoração dos trezentos anos de Cuiabá do que a reanimação de seu centro, o coração da cidade.
(Publicado em 18/09/17 pela FolhaMax, em 19/09/17 pelo Diário de Cuiabá, MidiaNews, Página do Enock, ...)

3 comentários:

  1. Parabéns para cidade, morei nesta querida região,infância,adolescência e depois que retornei a cidade, belas recordações> Graças a Deus tive o prazer de trabalhar contigo,com Jose Afonso Botura Portocarrero e com nosso querido e inesquecível Júlio Delamonica Freire dentre outras belas pessoas.A universidade alem de ser uma referencia trás sim a vida de volta, o caminhar o perceber da vida,trás o aquecimento da alma e do coração,Graças a Deus tive na FAU UFRJ belos exemplos de humanidade em todos os departamentos,grandes mestres. la aprendi em meu primeiro PA projeto de arquitetura que a cidade é um individuo e precisa de trato,respeito e cuidado.Esse edifício sempre me emocionou, minha prima trabalhava ali eu era muito pequena e já achava linda a sua proporção,os seus elementos, faz parte de minha memoria afetiva, a minha grande gratidão a tao bela iniciativa.Tenho certeza que este sentimento de gratidão é de todos que fizeram parte desse cenário vivo que reconheço por Cidade!

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  2. O centro já a algum tempo merece a atenção do poder público. Está derrubado e necessita de apoios. Parabéns pela idéia. Vamos ver se a reitora se sensibiliza com a idéia.

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  3. Mais incrível que a ideia, seria ver o prédio em funcionamento e a reanimação do centro histórico a pleno vapor. Tomara que essa ideia vá para frente.

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