Terminal de Containeres da Brado-Rondonópolis (Foto José Lemos)
José Antonio Lemos dos SantosOs números são claros e impressionantes: 20 milhões de toneladas/ano de cargas diversas dirigidas do Sudeste para Cuiabá para redistribuição regional, consumo ou processamento local. Para se ter uma ideia, esse número é igual ao total da produção de grãos em Goiás no ano passado e bem superior aos 16 milhões de toneladas produzidas em Mato Grosso do Sul no mesmo período. Este dado sobre carga veio à luz no ano passado pela Rumo, empresa sucessora da Ferronorte na concessão da ferrovia até Rondonópolis e dona da Brado, empresa dedicada ao transporte de cargas conteinerizadas. A próxima parada da ferrovia só pode ser Cuiabá, para o bem deste Mato Grosso íntegro, campeão nacional de produção, exemplo para o Brasil e o mundo dos milagres que o trabalho sério e a tecnologia de ponta podem fazer, ainda que com muita coisa importante a ser corrigida. Não cabem mais desculpas esfarrapadas ou justificativas pseudotécnicas enrolativas.
A situação hoje é a seguinte: Cuiabá tem carga mais que suficiente para viabilizar sua conexão ferroviária ao Brasil e existe uma poderosa empresa nacional, a Rumo, disposta a investir na extensão da ferrovia até Cuiabá e seu prosseguimento até Sorriso. Nos mesmos moldes como foi feito outro dia com a Vale para construção da Fico, o que a Rumo quer em troca é a ampliação por 30 anos da concessão de sua malha paulista e a outorga ou retomada da antiga concessão do trecho até Cuiabá e de Cuiabá até Sorriso, estranhamente devolvido pela ALL em 2010. Se já não fosse real, esta seria uma situação a ser pedida aos céus por um país carente em recursos para investimentos e travado pela falta de ferrovias. Será que o presidente Bolsonaro sabe disso?
Ao invés do que alguns ainda pensam, a ferrovia não trará benefícios só para os grandes produtores do agronegócio. Além de ser projetada como uma ferramenta de exportação para grandes e pequenos produtores do campo e da cidade, uma ferrovia é também entendida como um equipamento para trazer o desenvolvimento com fretes e custos ambientais reduzidos permitindo mais segurança nas rodovias e a oferta à população dos mais variados produtos e mercadorias a menores preços nas prateleiras, gôndolas e vitrines dos varejistas e atacadistas.
Mas nem tudo são flores. Existem poderosos grupos internos e externos ao estado que desejam o isolamento de Cuiabá, mesmo que isto venha causando atraso na solução logística para Mato Grosso, com tantos prejuízos ao mato-grossense em geral e aos produtores em especial em termos de perdas econômicas, ambientais e de vidas nas rodovias. A consciência de tais forças impõe o firme e organizado engajamento da sociedade mato-grossense na cobrança das autoridades federais, estaduais e municipais em favor do importante projeto que definitivamente deixou de ser sonho, quimera ou piada para se tornar uma perspectiva bem concreta, viável sob todos os aspectos.
Impõe também desde já a articulação das prefeituras da Região Metropolitana de Cuiabá com os setores competentes dos governos estadual e federal e a Rumo no sentido da criação de grupo técnico especial para definição das melhores alternativas de aproximação ferroviária e a localização do futuro terminal logístico metropolitano visando o desenvolvimento dos projetos específicos e os de conexão às diversas malhas da infraestrutura rodoviária e urbana, além das adequações de uso e ocupação do solo, dentre outros. Pela magnitude de seus impactos urbanos, estas são providências a serem pensadas técnica e politicamente nos campos social, urbanístico, econômico e ambiental com antecedência para que sejam otimizados os benefícios e minimizados os eventuais aspectos negativos do empreendimento.
Triste realidade que o interesse do investimento não seja no progresso de nossa capital, e sim, na longevidade da estagnação, Cuiabá poderia estar sendo empurrado por outros ventos...
ResponderExcluirParabéns pelo texto bastante esclaredor. Nós, cuiabanos, temos que comprar essa briga para que nossa capital não fique isolada do restante do estado e do país.
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