"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



segunda-feira, 18 de setembro de 2023

SEGURA SEU VOTO

 

Charge: prof. José Maria Andrade

José Antonio Lemos dos Santos

 Praticamente a um ano das eleições de 2024, começam a aparecer os esboços de candidaturas, tanto para os executivos como para os legislativos municipais em todo o Brasil. Muitas nem serão concretizadas, mas, mesmo assim os nomes começam a ganhar espaço nas ruas, em especial, em adesivos nos carros, seguindo a tradicional regra do começar cedo para “beber água limpa”. Isto é, chegar nos eleitores antes que eles se comprometam com outros eventuais candidatos. De um modo geral começam buscando familiares, colegas de trabalho, velhos colegas dos bancos escolares (até então esquecidos), amigos, em suma, aquelas pessoas potencialmente formadoras do que seria um capital político pessoal. Com base nesses laços pessoais de diversos tipos acabam arrancando compromissos amarrados em “fios de bigode” de difícil escapatória futura. Com as eleições ainda a um ano, muitos desses compromissos são sacramentados em frases ditas sem muito pensar, muitas vezes ditas para encurtar uma conversa chata, ou para não ser desagradável. Aí mora o perigo.

     Em 2017 houve umas alterações eleitorais vindas do que se esperava ser uma reforma política substanciosa, “a mãe de todas as reformas”, mas que acabou não passando de uma “reforminha”, tal qual a que pretendem fazer agora, às pressas ainda antes de outubro. Contudo, do jeito como as regras estão até agora, as próximas eleições serão funcionalmente semelhantes a última, só mudando os cargos em disputa. Em relação ao voto em si quase tudo ficou como antes, só que as de 2024, abrangerão apenas a escolha para prefeitos e vereadores em eleições majoritárias e proporcionais, respectivamente. 

     Como nas democracias mais avançadas do mundo, temos no Brasil dois tipos de eleições, majoritárias e proporcionais, uma privilegiando o candidato individual e outra a proporção em que se distribui no eleitorado as diversas correntes ideológico-partidárias.  Ambas necessárias, pois se complementam. Só que o voto majoritário é simples, vence o candidato que tiver mais votos, enquanto o voto proporcional não é tão simples assim. Nestas vota-se no conjunto – listas - de candidatos por partido ou federação (antiga coligação) através dos votos dados aos candidatos nelas constantes. Os mais votados em cada “lista” são eleitos em número de cadeiras de acordo com o “coeficiente eleitoral” alcançado por cada partido ou federação. Nas eleições proporcionais busca-se a distribuição das cadeiras parlamentares na proporção da preferência dos partidos no universo eleitoral. Tais cadeiras são ocupadas pelos candidatos mais votados em cada corrente, a maioria dos quais não é escolhida diretamente pelo eleitor. Assim, o cidadão escolhe um candidato e seu voto pode eleger outro. Esta é a beleza das eleições proporcionais, mas também seu grande mal entre nós, já que, apenas em 2022 as listas passaram a ser publicadas por partido ou federação, porém, só no site da Justiça Eleitoral, ainda sem muita divulgação e penetração entre os eleitores. De qualquer forma um grande avanço no sentido de maior legitimização e representatividade para as eleições.

      Acompanho este assunto no mínimo desde 2010, quando o STF decidiu que a cadeira conquistada numa eleição proporcional é do partido ou coligação e não do candidato, confirmando ser esta uma eleição coletiva. Aprendi nesse tempo que votando em listas desconhecidas o eleitor podia escolher um bom candidato e eleger sem querer outro, às vezes indesejado, ainda que do mesmo partido ou coligação. Deste modo são reeleitos aqueles de sempre, com o povo enganado no seu próprio voto, elegendo e legitimando muitos daqueles que não gostaria de ver eleitos ou reeleitos. O coitado é ludibriado, paga a conta e ainda leva a culpa e a fama de não saber votar, situação esta que certamente deve ser minorada com a continuidade da iniciativa da publicação das listas pela Justiça Eleitoral, aguardando-se novas medidas no sentido de fazê-las chegar ao maior número possível de eleitores.

     O sentido de consciência e responsabilidade do eleitor na hora de votar deve então ser multiplicado nas eleições proporcionais. Antes de nos comprometer com o candidato parente, amigo, colega ou compadre é importante aguardar a oficialização das candidaturas. Na eleição passada a Justiça Eleitoral deu um grande passo no sentido da legitimidade e representatividade das eleições, publicando em seu site a lista dos candidatos não apenas em ordem alfabética, mas também por partido ou coligações. Talvez em alguma das próximas eleições estarão nas telas das próprias urnas. As listas mostrarão ao eleitor quais os outros candidatos que poderá eleger ao votar naquele que hoje postula o seu voto. Entre eles pode estar um ou mais candidatos que não se queira eleito, nem pintado de ouro. Nesta condição, aquele que é seu verdadeiro amigo entenderá ao negar-lhe seu voto. Importante é não se precipitar em compromisso muito cedo com algum pré-candidato. Segure o seu voto.


4 comentários:

  1. Benedito Carlos Teixeira Seror18 de setembro de 2023 às 08:22

    Prezado José Lemos,
    Concordo com a sua recomendação para o eleitor agir com cautela antes de anunciar seu compromisso com algum candidato a vaga proporcional, dada a real possibilidade de votar em um candidato e terminar elegendo outro, embora do mesmo partido ou federação partidária. Isso não seria tão indesejável, acaso houvesse identidade ideológica entre o eleitor e o programa do partido/federação por ele escolhido, todavia isso praticamente inexiste no Brasil, ainda mais quando se nota a existência de 30 partidos políticos registrados no TSE. Na prática, dada essa distorção primordial em nosso sistema eleitoral (majoritário ou proporcional), o eleitor termina por votar, geralmente, não em partido/federação, mas em pessoas que com ela têm alguma afinidade. Acredito que o grande desafio eleitoral brasileiro está em exigir dos partidos fidelidade para com seus programas partidários e assim conferir legitimidade às eleições.

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  2. Benedito Carlos Teixeira Seror18 de setembro de 2023 às 08:28

    Prezado José Lemos,
    Concordo com a sua recomendação para o eleitor agir com cautela antes de anunciar seu compromisso com algum candidato a vaga proporcional, dada a real possibilidade de votar em um candidato e terminar elegendo outro, embora do mesmo partido ou federação partidária. Isso não seria tão indesejável, acaso houvesse identidade ideológica entre o eleitor e o programa do partido/federação por ele escolhido, todavia isso praticamente inexiste no Brasil, ainda mais quando se nota a existência de 30 partidos políticos registrados no TSE. Na prática, dada essa distorção primordial em nosso sistema eleitoral (majoritário ou proporcional), o eleitor termina por votar, geralmente, não em partido/federação, mas em pessoas que com ela têm alguma afinidade. Acredito que o grande desafio eleitoral brasileiro está em exigir dos partidos fidelidade para com seus programas partidários e assim conferir legitimidade às eleições.

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    1. Entendo que a não publicação das listas está justamente na origem da maior parte dos problemas nas nossas proporcionais. Com a lista publicada e nela constando por exemplo um candidato que uma vez foi pego transportando dinheiro da cueca, tendo ficado como um dos ícones da corrupção no Brasil, certamente que outros membros do partido vão resistir a incluí-lo na lista para manchar a imagem e tirar votos de todos. Com a publicação das listas, acho que em pouco tempo os maus candidatos sumiriam das eleições. Aliás, é por isso mesmo que eles naõ são publicadas.

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  3. Concordo plenamente. Primeiro, deveria ser reduzido o numero de partidos, nao ha tantas ideologias partidarias tao diversas, ha partidos quecestao ai apenas para servir de laranjas no 2. Turno das eleicoes . Segundo e mais importante, os programas dos partidos para poder optar com consciência.

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