Crise de infraestrutura porque passa a cidade pode acabar impulsionando mudanças e correções de rumo
José Antônio Lemos, arquiteto: a hora de mudar é agora
Geraldo Tavares/DC
Da Reportagem
Em 2014, a Copa do Mundo. Em 2019, a festa dos 300 anos. Idas, vindas e atropelos no caminho já demonstraram que, em termos de planejamento urbano, Cuiabá não estava preparada para aproveitar ao máximo as oportunidades do primeiro evento.
Resta tempo, porém, para escrever uma nova história em direção ao tricentenário. A opinião é do arquiteto e urbanista José Antônio Lemos dos Santos, que vê na crise atual como um marco impulsionador de mudanças e correções de rumo.
Segundo ele, a percepção das carências de infraestrutura e a necessidade de planejamento, hoje generalizada na população, já pode ser contabilizada como um dos legados da Copa. “Eu sou animado com a Copa, acho que irá dar certo, mas o grande benefício foi fazer a gente discutir o futuro, cobrar projetos e pensar a cidade”, afirma.
Santos avalia que a escolha da cidade entre as 12 sedes pela Fifa ocorreu em um momento em que a estrutura de planejamento urbano da era “desmantelada institucionalmente”. “A cidade real, pujante e dinâmica, que vive o melhor momento econômico de sua história, descolou-se da cidade institucional, que está num estágio absolutamente incompatível e arcaico”, avalia.
O símbolo deste momento, diz o arquiteto, foi a extinção do Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano (IPDU), determinada pelo prefeito Chico Galindo no ano passado. “Toda a cidade do porte de Cuiabá tem que ter um órgão de planejamento específico para tratar do desenvolvimento urbano e do futuro da cidade”, avalia. A transferência das funções do antigo instituto para a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (SMDU) foi, na opinião de Santos, um “retrocesso de 35 anos”.
“Um órgão de planejamento não pode ser da administração direta. O dia-a-dia fica mordendo o pé do secretário, cobrando soluções imediatas. O futuro é sempre empurrado para depois”.
O engenheiro civil Archimedes Pereira Lima Neto, assessor do Crea/MT e diretor da seccional mato-grossense da Associação Brasileira da Engenharia Civil (Abenc/MT), concorda com a avaliação. Segundo ele, o planejamento urbano de Cuiabá foi “sucateado”. “Com a Copa, tivemos a oportunidade de ter acesso a grandes investimentos. Mas, como não havia planejamento integrado, o que vemos até agora são ações pontuais, desvinculadas de um plano de desenvolvimento”, diz.
O engenheiro cita o caso do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), cuja ausência de um projeto detalhado não permite prever como o sistema irá se integrar à política de transporte público de Cuiabá e Várzea Grande. Lima Neto diz “acreditar muito” na possibilidade de avanços até a Copa, mas avalia que os resultados ficarão aquém do que era possível. “O caminho correto é planejar, fazer bons projetos e só então buscar o dinheiro. Por aqui, infelizmente, ocorreu o inverso”.
Segundo o arquiteto Lemos dos Santos, quando se planejava o futuro da cidade na década de 1980, o horizonte era apenas o marco dos 300 anos. A vinda da Copa do Mundo, diz ele, “foi um estratagema de Bom Jesus de Cuiabá”. “A Copa veio para nos dar um choque de adrenalina. Um empurrão necessário para que possamos preparar a cidade para o tricentenário. Este é o grande benefício que a Copa já fez”.
REFORMA PROFUNDA - Recém-conduzido à pasta do Desenvolvimento Urbano, o secretário Sílvio Fidélis nega que a estrutura de planejamento urbano da Capital tenha sido prejudicada com a extinção do IPDU. “Não houve perdas, e sim a continuidade em um bom trabalho de planejamento urbano. A SMDU possui toda a estrutura que o IPDU possuía, com todos os técnicos, cargos e funções e ganhou mais uma diretoria, a de gerenciamento urbano”, diz.
Segundo ele, o antigo instituto foi de “extrema importância na reformulação do planejamento urbano” e cumpriu seus propósitos, apesar de um problema crônico de estrutura física e de equipamentos.
“[Isso] levou a atual gestão a reestruturar o setor até que uma reforma mais profunda pudesse ser implementada”, afirma o secretário.
O corpo técnico da SMDU tem atualmente 43 arquitetos e engenheiros. Fidélis diz que um concurso público abriu 10 novas vagas no setor e que a prefeitura fará ainda um “cadastro de reserva” para futuras contratações. “Com as ações atuais de ampliação da estrutura e número de técnicos haverá, sim, avanços a serem percebidos pela sociedade”, diz o secretário.
Sobre as atuais dificuldades de Cuiabá em termos de infraestrutura, Fidélis diz ver avanços na política de planejamento urbano. "O planejamento urbano vem evoluindo em Cuiabá e, a cada gestão, a função do urbanista ou do planejador da cidade vem se fortalecendo”. (LEIA MAIS SOBRE ESSE ASSUNTO NA PÁGINA B3)
Realmente, lamentável a extinção do IPDU. A cidade ficou sem rumo, pena que não se respeita o trabalho bem feito dos técnicos do IPDU extinto. Gostaria de entender como e por que os dirigentes extinguem os órgãos, principalmente os que deram certo. O secretário pode dizer que tem muitos arquitetos e engenheiros, que aumentos as vagas mas o que se vê é uma cidade deixada, descuidada, feia. Cuiabá não tem a sorte de ser agraciada com bons governantes que se importam com ela, os vereadores não apresentam nenhum projeto sério para esta antes Cidade Verde, só fazem mudar nome de rua em interesse próprio. Moro num bairro de classe média alta, com excelentes casas e que tem um asfalto de fazer dó, buraco é o que não falta na cidade como um todo. As árvores das praças e das ruas são mal cuidadas, as podas ocorrem quando as mesmas estão para cair, com os galhos deteriorados. A erva de passarinho toma conta de tudo e destrói as árvores. De vez em quando alguém se lembra e uma ou outra árvore do Barbado é retirada porque está morta. Árvore que se fosse cuidada ainda estaria no seu lugar, dando sombra nesta quente e querida cidade. Parece que não há profissionais tomando conta, pois plantam as árvores e se esquecem que as mesmas têm que sr podadas. Quero a minha cidade de volta!
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