15.08.2012 | 08h48 - Atualizado em 15.08.2012 | 08h57
Onofre Ribeiro
Ferrovias e nova divisão de MT
Chineses e agronegócio estão fatiando MT por sua conta e risco
O arquiteto José Antonio Lemos acabou de escrever um artigo a respeito do possível isolamento de Cuiabá em termos de logística.
Ele fez uma série de anotações absolutamente corretas. Colocou a Ferrovia de
Integração do Centro-Oeste - Fico, que ligará Campinorte (Goiás), a Lucas do Rio Verde
(Mato Grosso), a Vilhena (Rondônia), numa extensão de 900 quilômetros.
Começa aqui o raciocínio de José Antonio Lemos. Passando 354 km ao norte de Cuiabá, a ferrovia de integração do Centro-Oeste deixaria de integrar a capital do estado,
curiosamente no Centro Geodésico do continente e conexão com o sul do estado.
Quer dizer: toda a orientação de logística do médio-norte de Mato Grosso se orientaria para Santarém, ou para Goiás, onde se integraria com a Ferrovia Norte-Sul e outras.
Para Santarém poderia ser pela BR-163 e depois alcançar os portos de Miritituba,
de Santarém ou de Santana,mais ao norte, sem contar a possibilidade futura de uma
ferrovia, na qual os chineses estão de olho, de Lucas do Rio Verde até Santarém.
Então, qual é a lógica? Isolar Cuiabá! De que forma? A Ferronorte deve morrer em Rondonópolis, porque faz parte dessa conspiração. Com isso, Mato Grosso
teria 3 orientações de logística: pela Fico, nas direções leste e
oeste e, lá na Norte-Sul, com a Ferrovias de Carajás até portos
do Maranhão. Pela Ferronorte, com o Sul e Sudeste.
Traduzido, isso mostra uma clara proposta de nova divisão de Mato Grosso,
desta vez motivada por fatores econômicos. Essa é a realidade posta na mesa.
Mas, cabe aqui uma reflexãohistórica. Os militares que governaram o Brasil
entre 1964 e 1985, implantaram a divisão de Mato Grosso criando Mato Grosso do Sul, baseados em estudos nascidos na Escola Superior de Guerra e amplamente
diluídos dentro de ministérios como o de Interior, de Transportes, da Fazenda e de Planejamento, e nos seus desdobramentos de autarquias como a Superintendência de Desenvolvimento do
Centro-Oeste - Sudeco, por exemplo.
Havia um planejamento que terminava no Ministério do Planejamento e Coordenação Geral,
que era o guardachuva centralizador de todos os projetos e programas do governo. O país possuía um planejamento macro, a partir do qual se desdobrava a gestão.
Hoje, o Ministério do Planejamento só cuida do orçamento e o governo do país não tem um planejamento guarda-chuva. Cada ministério é uma pequena república independente, gastadeira, politizada e de propriedade de partidos políticos que comercializam verbas,
poder e interesses diversos.
Não existe um país previsível. É por isso que falar em ferrovias no Estado de Mato Grosso, significa mexer numa bomba atômica.
As coisas estão acontecendo sem planejamento de nenhuma espécie, o governo
estadual não tem força de articulação para interferir e nem para compreender
todo o processo.
O Estado de Mato Grosso será fatiado geográfica economicamente através da logística,
com gravíssimas consequências futuras, muito maiores do que isolar Cuiabá, sem nenhum planejamento.
As forças políticas e econômicas interessadas se movem sozinhas e por conta própria,
ao sabor de sua própria lógica.
Chineses, o agronegócio, a Valec com seus interesses em minério de ferro e outros não confessos, estão fatiando Mato Grosso por sua conta e risco, sem planejamento
algum além da ambição econômica.
Quem pagará a conta humana, econômica, cultura e geoestratégica no futuro? Quem?
ONOFRE RIBEIRO é jornalista em Mato Grosso.
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