"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



terça-feira, 25 de setembro de 2018

ASCENSÃO DOURADA


José Antonio Lemos dos Santos
     Sou do tempo em que futebol era coisa de “malandro”, de quem não queria estudar, matador de aulas e coisas assim. Maldade, era apenas paixão pela bola, seja ela qual fosse, uma laranja, tampinha de garrafa, bolinha de meia ou de papel. Apesar de gostar muito de futebol era muito ruim de bola e só jogava com os vizinhos nas ruas próximas, descalços em piso de chão batido, as vezes em descida, com alguns afloramentos de cristal que de quando em quando arrancavam uma tampa de dedão do pé, dor e sangramento logo curados com um jato certeiro de urina no local. E seguia o jogo, até não ver mais a bola pois as ruas das redondezas não dispunham de iluminação. A não ser que as mães chamassem antes já com cinto na mão para tomar banho e jantar. Em época de provas, a intimação vinha ainda mais cedo para estudar.
     O esporte é uma das formas mais elevadas de manifestação da vida saudável. Todos os esportes, mas no caso do Brasil, em especial o futebol. Longe daquela equivocada ideia da malandragem, hoje o futebol envolve um dos mais ricos mercados de trabalho no mundo e sem dúvidas deve ser incentivado junto com outros esportes, como uma alternativa de vida à juventude brasileira, tão assediada e atraída pelas aparentes facilidades dos descaminhos. O esporte é a melhor e mais natural direção para o jovem. Basta soltar uma bola na frente de uma criança mal sabendo andar (menino ou menina) para ver o que acontece.
     A ascensão do Cuiabá Esporte Clube à série B do campeonato brasileiro, tendo como palco a ainda extraordinária Arena Pantanal (apesar dos esforços de seus responsáveis em contrário) é um alento nesse sentido. O público presente com civilidade e alegria em enorme quantidade nas partidas finais demonstra a paixão que pode despertar um trabalho bem organizado em torno do esporte, não só em Cuiabá, mas também em outras cidades, como já existe o belo exemplo do Luverdense. Junto com os pais vêm as crianças e adolescentes. Logo estão com a camiseta de seus clubes adotando seus ídolos locais, palpáveis, não aqueles feixes televisivos de elétrons inatingíveis, distantes, mas gente daqui, algumas vezes de seus bairros, ou que veio para trabalhar em clubes daqui, de carne, osso e sangue como cada um deles. Dá a ideia de que podem ser iguais a eles desde que dedicados, esforçados e zelosos com o próprio corpo. São modelos locais possíveis de serem seguidos e alcançados tais como o pioneiro Traçaia e os atuais Jael, Valdívia, ou David Moura no judô e Felipe Lima na natação, dentre outros. Mato Grosso pode ter muitos mais, basta apoio e estímulo que a meninada vai atrás, desguiando-se das trilhas do mal.
     A ascensão do Cuiabá e seu sucesso com o público subitamente apaixonado pelo Dourado aponta uma direção não desprezível. Investir no esporte é essencial para os tempos de hoje, é o caminho mais curto, barato e seguro para a salvação da juventude hoje exposta à atração dos belos portais sem retorno das drogas, tráfico, roubo, assassinatos e também do suicídio, a mais nova praga. Uma vez construída a Arena Pantanal com o dinheiro de todos os mato-grossenses, não pode mais ser considerada como um peso para os governantes, mas como alavanca para uma política esportiva estadual envolvendo a Educação e Saúde com importantes reflexos positivos nas áreas da Segurança Pública e Turismo. A Arena como um Palácio dos Esportes, privatizado ou não, com espaços para salas de aulas e treinamento das diversas modalidades esportivas, destinadas aos promissores atletas selecionados em todo o estado. Uma fábrica de medalhistas e cidadãos. Em plena eleição para o governo estadual, seria demais que algum dos candidatos, ou todos eles incorporassem um audacioso projeto nesse sentido?

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