"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



segunda-feira, 1 de outubro de 2018

FERROVIA PARA LEVAR E TRAZER

Imagem: TribunaMT

José Antonio Lemos dos Santos
     Ao discutir a ferrovia em Mato Grosso quase sempre, ou sempre, pensamos nela como uma esteira para exportação da produção estadual. Algo como aquelas imensas composições ferroviárias transportando minério dia e noite para ser processado em outras regiões do mundo ou do país. Porém, nada tão diferente. De certo modo o minério está quase pronto na natureza, e produzir é extraí-lo das minas, hoje com máquinas e pouca mão de obra, quase sem qualquer agregação de valor no local de origem. A tendência é esse trabalho seguir até o esgotamento das minas, só deixando cicatrizes como lembrança da riqueza levada com seus benefícios para outras terras.
     A história de Cuiabá do ciclo do ouro é exemplar com toda sua riqueza sendo rapidamente transferida para Portugal e de lá para a Inglaterra onde ajudou a financiar a Revolução Industrial. Exaurido o ouro, a cidade quase virou uma cidade fantasma, o que só não aconteceu por razões estratégicas da coroa portuguesa envolvendo a rediscussão do Tratado de Tordesilhas então definidor dos limites entre as terras da Espanha e Portugal no continente.
     A riqueza agropecuária de Mato Grosso não é extraída de minas, não está pronta. Ela tem que ser produzida com o trabalho exaustivo e cada vez mais competente de muita gente que transforma a terra, a água e o sol em alimentos que ajudam a matar a fome do mundo. E essa gente vive na região produtora nas próprias fazendas ou em cidades, novas ou não, cada vez mais belas e sofisticadas. O grande diferencial é que essa gente que produz e mora em Mato Grosso tem o direito a ascender em qualidade de vida à medida que produzem, e este direito é a razão fundamental para que produzam tanto. Ninguém dá seu suor e de sua família, as vezes o próprio sangue, produzindo só para sustentar a balança comercial do Brasil. O objetivo primeiro é produzir um excedente econômico cada vez maior para ter uma qualidade de vida também cada vez maior. O resto é consequência.
     Asseguradas as condições básicas para a sobrevivência, a qualidade de vida passa a ser a casa nova ou ampliada equipada com as facilidades domésticas modernas, padrões urbanos mais elevados, materiais de construção, o automóvel novo, estradas seguras, alimentos, vestuário, etc. A produção do excedente acontece para ser dada em troca desses benefícios, na maioria das vezes produzidos ou dependentes de insumos produzidos em outras regiões com necessidade de transporte até seu legitimo consumidor. Mesmo para continuar produzindo, e produzir mais e melhor, é preciso importar insumos diversos, combustíveis, máquinas agrícolas, fábricas, etc., que também precisam ser transportados até seus locais de utilização.
     Mais produção, maior a renda per capita e, em consequência, maior o consumo em quantidade e sofisticação, em grande parte com origem fora da região ou do país. Daí que a ferrovia para Mato Grosso não pode ser uma esteira só para levar a produção, mas também, para trazer o desenvolvimento e qualidade de vida com segurança, menores fretes e menores preços. Essa carga que vem, converge para Cuiabá como o maior centro consumidor, produtor e distribuidor do estado e foi estimada pela Rumo, atual sucessora da Ferronorte, em 20 milhões de toneladas/ano, igual em peso a toda produção de grãos de Goiás e bem maior que a de Mato Grosso do Sul. A extensão da ferrovia até Cuiabá e dela aos portos amazônicos e do Pacífico é a mais viável e urgente das ferrovias. Não pode ser avaliada só como exportadora da riqueza de Mato Grosso, mas também como indispensável à promoção da qualidade de vida de quem a produz, sem o que não teria o menor sentido.

Um comentário:

  1. A ferrovia já deveria ter chegado a Lucas do Rio Verde, ou quando nada,a Nova Mutum atendendo a produção de grãos e à grande população. Dizer que isso é inviável, como afirmar a viabilidade da outra a ser construída no sertão.

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