Gustavo Oliveira*
Realizar o censo demográfico é considerado, mesmo para os padrões atuais, algo bastante complexo. Imaginem em 1872, quando foi feito o primeiro levantamento populacional com sucesso no Brasil, como parte das políticas inovadoras do reinado de dom Pedro II.
Naquela época o país possuía menos de 10 milhões de habitantes (9.930.478 para ser exato) era uma nação essencialmente rural, de população negra e mestiça, com uma parcela ainda significativa de escravos – cerca de 15%.
Nossa quase tricentenária cidade – fundada em 1719 – era a sétima maior cidade do Brasil, hoje é a 35ª. Naquele tempo, Cuiabá contava com 35.987 habitantes. A maior cidade do país era o Rio de Janeiro, a então capital do império, que possuía menos de 300 mil habitantes. Salvador era a segunda maior cidade, seguida por Recife, Belém, Porto Alegre e Fortaleza. São Paulo, que hoje é a maior metrópole do hemisfério sul, há 141 anos tinha apenas 31.385 moradores.
No fim do século XIX, aponta o levantamento, quase 60% dos residentes em Cuiabá se declaravam “pardos ou pretos”, contra 26% que se diziam brancos. Havia na então província 524 estrangeiros, dos quais 162 eram africanos, os portugueses somavam 47 “almas”, seguidos por paraguaios, italianos, bolivianos, franceses e espanhóis. Cuiabá da época contava com um argentino, uma belga, um grego, um suíço e um holandês. Os mineiros respondiam pela maior corrente migratória na cidade, era 263, seguido por goianos e paulistas. Do Sul do Brasil havia apenas 31 paranaenses e 6 gaúchos.
O censo do império chegava a contar o número de deficientes e Cuiabá possuía 75 cegos, 84 surdos-mudos, 177 aleijados e 37 pessoas consideradas dementes. Os solteiros da cidade eram a maioria, quase 25 mil. Os casados somavam 9.289 pessoas e ainda haviam 1.855 viúvos. A população masculina era maior que a feminina, era 16.691 homens para 15.217 mulheres.
Quando o censo foi realizado, faltava ainda 16 anos para a filha de dom Pedro II, a princesa Isabel, abolisse a escravidão no país. E, em 1872, Cuiabá contava com 4.079 escravos, 2.217 homens e 1.862 mulheres.
A população da cidade era jovem, a maior faixa etária da população estava entre os 6 e 10 anos. Mais de 80% dos residentes em Cuiabá não possuíam 30 anos de idade. 80% da população era analfabeta e apenas 7.413 pessoas sabiam ler e escrever. Os estudantes não chegavam a duas mil pessoas.
Os agricultores e lavradores era o maior contingente profissional de Cuiabá, com 11.952 trabalhadores. Na cidade havia 358 pescadores, 796 capitalistas e proprietários, 40 industriais e comerciantes. Os militares somavam um contingente de 728 pessoas na cidade que ainda tinha 8 advogados, 5 médicos, 8 farmacêuticos e um juiz.
Cabia ao chefe da família preencher o formulário e entregar a comissão criada pelo império para fazer o censo de 1872, quem não respondesse era multado. Os questionários foram enviados para 1.440 paróquias de todo o país e depois retornavam para o Rio de Janeiro. Nos últimos 30 anos, professores da Universidade Federal de Minas Gerais se debruçaram sobre estes números - que foram tabulados a mão - e agora terminaram a sua digitalização. Os dados estão disponíveis em www.nphe.cedeplar.ufmg.br/pop72.
* Gustavo Oliveira é diretor de Redação do Diário.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 24/03/13)
Naquela época o país possuía menos de 10 milhões de habitantes (9.930.478 para ser exato) era uma nação essencialmente rural, de população negra e mestiça, com uma parcela ainda significativa de escravos – cerca de 15%.
Nossa quase tricentenária cidade – fundada em 1719 – era a sétima maior cidade do Brasil, hoje é a 35ª. Naquele tempo, Cuiabá contava com 35.987 habitantes. A maior cidade do país era o Rio de Janeiro, a então capital do império, que possuía menos de 300 mil habitantes. Salvador era a segunda maior cidade, seguida por Recife, Belém, Porto Alegre e Fortaleza. São Paulo, que hoje é a maior metrópole do hemisfério sul, há 141 anos tinha apenas 31.385 moradores.
No fim do século XIX, aponta o levantamento, quase 60% dos residentes em Cuiabá se declaravam “pardos ou pretos”, contra 26% que se diziam brancos. Havia na então província 524 estrangeiros, dos quais 162 eram africanos, os portugueses somavam 47 “almas”, seguidos por paraguaios, italianos, bolivianos, franceses e espanhóis. Cuiabá da época contava com um argentino, uma belga, um grego, um suíço e um holandês. Os mineiros respondiam pela maior corrente migratória na cidade, era 263, seguido por goianos e paulistas. Do Sul do Brasil havia apenas 31 paranaenses e 6 gaúchos.
O censo do império chegava a contar o número de deficientes e Cuiabá possuía 75 cegos, 84 surdos-mudos, 177 aleijados e 37 pessoas consideradas dementes. Os solteiros da cidade eram a maioria, quase 25 mil. Os casados somavam 9.289 pessoas e ainda haviam 1.855 viúvos. A população masculina era maior que a feminina, era 16.691 homens para 15.217 mulheres.
Quando o censo foi realizado, faltava ainda 16 anos para a filha de dom Pedro II, a princesa Isabel, abolisse a escravidão no país. E, em 1872, Cuiabá contava com 4.079 escravos, 2.217 homens e 1.862 mulheres.
A população da cidade era jovem, a maior faixa etária da população estava entre os 6 e 10 anos. Mais de 80% dos residentes em Cuiabá não possuíam 30 anos de idade. 80% da população era analfabeta e apenas 7.413 pessoas sabiam ler e escrever. Os estudantes não chegavam a duas mil pessoas.
Os agricultores e lavradores era o maior contingente profissional de Cuiabá, com 11.952 trabalhadores. Na cidade havia 358 pescadores, 796 capitalistas e proprietários, 40 industriais e comerciantes. Os militares somavam um contingente de 728 pessoas na cidade que ainda tinha 8 advogados, 5 médicos, 8 farmacêuticos e um juiz.
Cabia ao chefe da família preencher o formulário e entregar a comissão criada pelo império para fazer o censo de 1872, quem não respondesse era multado. Os questionários foram enviados para 1.440 paróquias de todo o país e depois retornavam para o Rio de Janeiro. Nos últimos 30 anos, professores da Universidade Federal de Minas Gerais se debruçaram sobre estes números - que foram tabulados a mão - e agora terminaram a sua digitalização. Os dados estão disponíveis em www.nphe.cedeplar.ufmg.br/pop72.
* Gustavo Oliveira é diretor de Redação do Diário.
(Publicado pelo Diário de Cuiabá em 24/03/13)
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