"FIRMITAS, UTILITAS et VENUSTAS" (Tríade Vitruviana)



quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

TEXTO PARA PENSAR

NINGUÉM GOSTA DE ARQUITETURA


Arquiteto André Huyer

Exceto nós, arquitetos. Este é nosso maior problema para o exercício da profissão. Como sobreviver fazendo a
lgo que ninguém se interessa? Ninguém se importa? Ninguém conhece? Atendendo às encomendas de nossos clientes, quantos trabalhos resultarão dignos de serem publicados em revistas ou exposições de arquitetura? Mas, porque só há duas ou três revistas de arquitetura no Brasil? E quantas exposições de arquitetura ocorrem regularmente no Brasil, fora a Premiação Anual do IAB do Rio de Janeiro?

Simples: somente arquitetos gostam de arquitetura. Se as pessoas que não são arquitetos apreciassem arquitetura, teríamos muito mais revistas e exposições! Não me refiro a revistas de decoração disfarçadas de arquitetura. Você conhece algum leitor de "Projeto Design” ou de "Arquitetura e Urbanismo"que não seja arquiteto?

Este desinteresse do leigo pela arquitetura talvez possa ser explicado pelo desconhecimento generalizado do que seja arquitetura. Quantas vezes por dia os arquitetos são chamados de engenheiros? Ou de decoradores? Já querer que o leigo saiba quais as atribuições profissionais do arquiteto, bem, aí realmente é querer demais. Mesmo porque tem muito arquiteto que também desconhece, e vai correndo chamar um engenheiro se tiver uma obra para encarar. Por que não procura um colega arquiteto se não tiver segurança de tocar uma obra?

E por aí prosperam os equívocos. Você vai à uma repartição pública, e lá está: "Assessoria de Engenharia'; "Departamento de Engenharia'; "Setor de Engenharia'; etc. Eles por acaso fazem barragens? Fazem pontes? Fazem estradas? Fazem túneis ou portos? Não. Fazem projetos arquitetônicos, fazem edificações/fazem layouts de interiores. Mas a maioria é chamado de departamento de engenharia, poucos são os departamentos de arquitetura.

Bem, daí quando tem um concurso para quadro de pessoal, adivinhem... claro, só tem vaga para engenheiro, como o concurso que o BRDE está fazendo agora. Ou, quando tem vaga para arquiteto, os engenheiros ainda têm o dobro do nosso número de vagas - como no concurso do Ministério Público, ano passado.

Mas a cultura que nos desfavorece não termina aí. Se o enfoque é positivo/o termo empregado é "serviços de engenharia" (lei das licitações 6888/93). Se o enfoque é negativo, aí são "barreiras arquitetônicas”;as grandes vilãs nas normas técnicas de acessibilidade. Por que não barreiras de engenharia ou de decoração?

Então, enquanto o público ainda tiver a expectativa de que façamos engenharia predial decorativa, pouco nos resta. Questões caras para nós, como entorno urbano, coerência, modernismo x pós-modernismo, visão de conjunto, etc., só nos trarão angústias, frente ao desinteresse e repulsa dos nossos clientes.

Só que temos nossa parcela de culpa pela perpetuação deste estado das coisas. Primeiro que, nós arquitetos, não damos a devida importância à "conquista do mercado'; Qual a promoção mais temerária que uma entidade declasse pode querer promover? Um curso de marketing? A frequência é mínima, se não for nula. Cursos e eventos que tratam de questões profissionais congêneres idem.Já outros cursos/de assuntos até banais para qualquer arquiteto, ou o extremo oposto, excessivamente específicos, sempre há pencas de arquitetos para se aprofundarem (ou afundarem), em matérias que pouco retorno prático trarão. Segundo, a falta de auto-estima pela carreira.Quantos colegas trabalham em departamentos de engenharia, que muitas vezes nem engenheiro tem, e nunca fizeram nada para, pelo menos, mudar o nome na placa de identificação na porta? E quantas vezes nos chamam de engenheiros e não corrigimos os interlocutores?

Para que os outros gostem de arquitetura, é preciso que nós, arquitetos, além de gostarmos de arquitetura, também tenhamos orgulho de sermos arquitetos.

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